Fátima Oliveira
– E aí Dindinha, conte um pouco do sumiço da santa... Do que andou astuciando...
– Quem anda astuciando é Dilma, pois não?– De certo modo, sim...
– Gente, vamos deixar conversa séria de lado porque hoje é carnaval e estamos aqui para esperar a Beija-flor passar homenageando o Maranhão e também Joãosinho Trinta, né não? E promete porque o título é por demais bonito: “São Luís - O Poema Encantado do Maranhão”.
Joãosinho Trinta como gari, na ala dos mendigos do desfile "Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia", de 1989
– É isso mesmo Dindinha, mas não vou sossegar enquanto não souber por que saiu lá da Matinha de Dona Lô no dia 9 de dezembro e somente telefonou do aeroporto quando já estava pegando o avião. E ainda dizendo que estava bem, mas que iria virar lenda por uns dois meses. E o pior, virou! Pense numa agonia, pois foi a que vivi até o dia em que nos convidou para inaugurar a morada nova no Carnaval!
Pedro entrou na deixa: “E só telefonava para nós quando não estávamos em casa para dizer que estava tudo bem. Ora Dona Lô! Aí tem!”
– Tem o quê Pedro? Deixe de salamalaque, mestre! Sou batizada, vacinada, de maior e mando na minha semana! Queria fazer uma surpresinha pra vocês, só isso! Gostaram da casa? Pois isso não cai do céu. Passei dois meses inteirinhos cuidando dos detalhes finais do meu loft praiano... Gostaram da vista?
– Só não entendi pucardiquê resolveu querer um loft e não uma casa de praia... Bem, até compreendi. Uma casa na praia para quem não ficar o tempo todo nela, não é uma boa ideia, além dos gastos com vigilância... Optar por morar num prédio tem muitas vantagens... Ainda mais quando você pode transformar uma cobertura num loft duplex, como foi o caso aqui.
– Menino inteligente esse Pedro, viu Estela! Mas enfim, minha gente... Cadê as crianças Estela?
– Cadê? Já se entonaram na praia e ainda dizendo: “Dindinha agora acertou! Isso aqui é bem melhor do que a Matinha...” Já ganhou a netaiada, viu? Daqui pra frente, haja dinheiro para andar de avião de lá pra cá e daqui pra lá! Sei não se vou “guentar” isso não! Tá pensando em viver como agora, se dividindo entre quatro casas?
– Como quatro, Estela?
– Ora Pedro, vejamos. A da Matinha de Dona Lô; a da Chapada do Arapari; a da cidade e agora aqui na praia. São ou não quatro? Dindinha gosta mesmo é de folia, isso sim e ainda inventa de morar tão longe de mim...
– Ela deve ter seus motivos Estela. Ainda mais que parece que não está morando sozinha aqui. Ou me enganei Dona Lô? Há uma espécie de escritório na área de serviço, que é um misto de uma pequena suíte com local de trabalho. Há roupas de homem no guarda-roupa...
– Pedro, se acalme! Há hora pra tudo, mas você é um xereteiro de marca maior... Já andou vistoriando tudo, increduincruz, êh, êh, viiiixe Maria! Nem esperou a hora do resto das novidades. Estava esperando Bernardo chegar para fazer as apresentações devidas. Mas já que deu na batida, vamos lá! Bernardo é médico e está trabalhando hoje.
“Mas que mané Bernardo é esse Dindinha?!”, emendou Estela já ouriçada e levantando da cadeira, com ar espantado.
“Sente-se Estela!”, esbravejou Dona Lô, tentando aparentar a maior calma do mundo. Estela obedeceu na hora.
– Bernardo é um médico que conheci quando estive aqui no último São João. É mais novo do que eu vinte anos. Como podem ver, não é um rapazinho, só que é mais novo do que eu. Engatamos um namoro e resolvi investir na relação... Aproveitar um dia de cada vez, enquanto der... Daí porque decidi ter um pouso por cá. Então fiz o loft na beira da praia. É o meu canto aqui, pra quando estiver aqui. Ele tem a casa dele e eu a minha, mas quando eu estiver aqui ele me fará companhia.
–...
– Está trabalhando hoje e deve chegar depois das 19:00. Está num pé e noutro pra conhecê-los. Espero que o recebam bem. É meu namorado. Quase um namorido... O homem que eu quero e amo no momento. Entendido?
– Um namorido da idade do Pedro?! Quêquisso Dindinha? Cadê o senso de loção? Valei-me meu São José de Ribamar!
Caiu um silêncio sepulcral e quando Pedro falou, já foi introduzindo outro assunto...
– Em meio ao tisunami da paixão arrasadora tem tido espaço pra acompanhar a política?
– Óbvio, né Pedro! Tá querendo saber o quê? Mas antes, cadê as notícias lá de casa?
– Notícias de lá da Matinha e da Chapada, veja com Estela, que já se apoderou de tudo por lá ehehehhehehe... Foi pro aniversário de Dilma, que suas mulheres comemoraram no dia 14 de dezembro... Viiiiiiiixe, fizeram um baita Caussoulet da Dilma, coisa fina que só vendo; também fomos pros festejos de Natal, com direito à Novena de Natal de Dona Celestina que, segundo Estela, que assistiu um dia, foi das mais bonitas... Passamos por lá o Ano-Novo, o Dia de Reis, com Ladainha do Menino Jesus, queima de palhinhas... Estela também recebeu o reisado em sua casa, tal qual fazia Donana e a senhora faz... Cesinha de burrinha do meu amo foi um sucesso total! Essa aí é a Dona Lô Segunda agora, iscritim... Criou ela pra isso, não foi? Pois saiba que deu certo!
–...
– Muito bem, minha gente! Quanto a Dilma, eu estava muito preocupada com as coisas meia-bocas saídas do Ministério da Saúde, essa tal de MP 557, mas com as voltas que o mundo dá e as lutas das feministas de nosso país, acho que Dilma deu um aceno de bandeira branca ao indicar Eleonora Menicucci pra ministra da mulher.
No que Estela aproveitou pra dar um pitaco, embora parecesse estar no mundo da lua, por ter ficado azuada com a história da paixão de sua madrinha, que ela acreditava já ter dobrado o Cabo da Boa Esperança em matéria de sexualidade...
– É aguardar um pouco, né não Dindinha? Eleonora não é mulher de deixar nada passar em brancas nuvens. E tem apoio das feministas! E Dilma sabe, pois a conhece de longa data. Acho que Dilma a escolheu a dedo! Estou mais tranquila agora, embora muito preocupada ainda. Mas enfim, Dilma precisa se desvencilhar das amarras conservadoras fundamentalistas que estão na base aliada do seu governo. Como eu não, mas não pode só ficar matando a pau o setor mais avançado. Porque só tem dado pau em nós desde a RedeCegonha. Um desassossego!
Ao que Dona Lô, meio sorridente, retrucou: “É saber dosar as coisas. Certo que não espero de Dilma nada além dos direitos possíveis para as mulheres nos limites da Repúlica burguesa. Acontece que ela não está conseguindo nem chegar nos tais limites! E o nosso papel enquanto sociedade civil é fazer a disputa, pois do ponto de vista ideológico o governo Dilma ainda é um governo em disputa!
–...
– Bem, minha gente, vamos agora ao que interessa ao Pedro: comida! Eu e Bernardo contratamos um bufet que vai nos servir um jantar de degustação de frutos do mar à moda de São Luís, desde casquinha de caranguejo, de siri, camarão de vários tipos, sim, fritada de camarão também; pescada, meu peixe serra frito não pode faltar... Por aí! Começando às nove da noite e encerrando quando o desfile da Beija-flor terminar...
(Peixe serra frito)
Pedro, não se aguentando mais emendou: “Isso quer dizer que... teremos de tudo um pouco, não é? De lamber os beiços, viu Dona Lô?! Marrapá já estou amigo desse Bernardo, êpa!”
São Luís, 19 de fevereiro de 2012
"São Luís - O Poema Encantado do Maranhão"
Autores: J. Velloso, Adilson China, Carlinhos do Detran, Samir, Serginho Aguiar, Jr. Beija-Flor, Silvio Romai, Hugo Leal, Gilberto Oliveira, Ricardo Lucena, Thiago Alves e Romulo PresidenteIntérprete: Neguinho da Beija-flor
Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão
O homem nativo da terraResiste em bravura
A dor da invasão
Do mar vem três coroas
Irmão seu olhar mareja
No balanço da maré
A maldade não tem fé sangrando os mares
Mensageiro da dor
Liberdade roubou dos meus lugares
Rompendo grilhões em busca da paz
Na força dos meus ancestrais
Na casa nagô a luz de Xangô, axé
Mina Jêje um ritual de fé
Chegou de Daomé, chegou de Abeokutá
Toda magia do vodun e do orixá
Ê rainha o bumbá-meu-boi vem de lá
Eu quero ver o cazumbá, sem a serpente acordar
Hoje a minha lágrima transborda todo mar
Fonte que a saudade não secou
Ó Ana assombração na carruagem
Os casarões são a imagem
Da história que o tempo guardou
No rádio o reggae do bom
Marrom é o tom da canção
Na terra da encantaria a arte do gênio João
Meu São Luís do Maranhão
Poema encantado de amor
Onde canta o sabiá
Hoje canta a Beija-Flor
Receita do Cassoulet da Dilma (de fava e carne-de-sol sertaneja), in Recadim de Guimarães Rosa pra Dilma: “Sapo não pula por boniteza, mas porque precisa”
Pucardiquê chama esse cozidão de caçulê, hein Dona Lô?
Por Deus, Dona Lô apaixonada, saiam de baixo!
ResponderExcluirFiquei abando. Dona Lô sae pra que lado o vento sopra, sempre
ResponderExcluirFiquei babando. Gostoso de ler e muito político também
ResponderExcluirDona Lô está na dela e não está prosa. Gostei
ResponderExcluirDra. Fátima, tenho acompanhado as peripécies de Dona Lô na política. Ela é dez. Creia-me, acho que a senhora realmente sabe quem é a Dilma e a entende em suas limitações impostas pela política
ResponderExcluirFátiam, acho a Dona Lô um mimo. Maravilhosa
ResponderExcluirDona Lô é política das matreiras. Perfeita ao dizer que o governo Dilma ainda é um governo em disputa!
ResponderExcluirUm artigo que corrobora Dona Lô:
ResponderExcluirDILMA COM DILMA
Eliane Cantanhêde | Colunista da Folha e da Folha.com, é colaboradora do jornal Em Pauta da Globonews e comentarista da rádio Metrópole da Bahia.
24/2/2012
Um gesto pode dizer mais do que mil palavras, sobretudo palavras jogadas ao vento em palanques eleitorais. Dilma sabia exatamente o gesto que estava fazendo ao nomear a velha companheira de lutas e de prisão Eleonora Menicucci para a Secretaria de Políticas para as Mulheres. O recado foi dado.
Menicucci é uma mulher de ideias fortes e de vanguarda quanto a aborto, relações homoafetivas e investigações sobre a tortura durante a ditadura militar. Por que Dilma escolheria alguém com esse perfil e essas ideias? Adivinha?!
Na vida, mas muitíssimo mais na política, é preciso engolir em seco, medir palavras, acomodar interesses. Dilma não quis nem poderia perder votos, como não quis nem poderia, já no seu primeiro ano de mandato, perder apoios e simpatias entre evangélicos e militares.
A nomeação de Menicucci, porém, sinaliza claramente que a primeira presidente mulher da história brasileira, torturada pela ditadura militar, tem um encontro marcado, em algum momento à frente, entre restrições políticas e convicções, entre palavras e atos. É quando fará sua foto oficial para a história.
Não é fácil. O caminho é tortuoso, cheio de obstáculos e armadilhas. Uma delas foi a nota impertinente dos clubes militares, na qual oficiais de pijama se deram ao direito de criticar a presidente e comandante em chefe das Forças Armadas e exigir que ela desautorizasse duas ministras -Menicucci e Maria do Rosário (Direitos Humanos)- por defenderem a verdade sobre ditaduras.
Tal como a presença de Menicucci "diz" o que Dilma não pode dizer, militares da reserva muitas vezes verbalizam o que os da ativa pensam, mas não podem falar. Tal como Menicucci mede as palavras para não expor a amiga presidente, os da reserva tiveram de recuar por conveniência dos da ativa. E a luta continua. Que o encontro de Dilma com a Dilma presidente seja firme, mas pacífico.
elianec@uol.com.br
Eita que quando eu crescer quero ser assim que nem dona LÔ
ResponderExcluirEhehheheheeh achei especial, espetacular e da hoa. Em tudodona Lô
ResponderExcluirMuito lindo Fátima. Fiquei muito emocionada
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