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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Brasil tem compromisso muito baixo com a erradicação do racismo

racismo8547 (Louise Stefany Garcia Gaunt, a australiana racista)
Herança da cultura escravista que urge ser erradicada
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_

Estou a matutar com meus botões, após ler duas matérias sobre o racismo nosso de cada dia: “‘Não vou sujar minha mão com umaraça ruim’, disse australiana presa por racismo em Brasília” – fato ocorrido em um salão de beleza, local que tem aparecido de vez em quando na mídia como feudo de racismo, da clientela ou de trabalhadores; e “Racismo explica 80% dascausas de morte de negros no país”, que é um saber público, denunciado inúmeras vezes.
 
manicure-alvo-de-racismo-fala-sobre-o-que-passou-quot-me-senti-muito-humilhada (A manicure Thássia, que foi alvo de racismo por Loise Stefani Garcia Gaunt em Brasília: "Me senti muito humilhada, nunca tinha passado por isso. Não achei direito ela chegar no meu trabalho e me humilhar. Nunca pensei que fosse passar por isso").
dona  [A dona do salão de beleza onde houve o caso de racismo, Eliete Lima de Carvalho (Foto: Raquel Morais/G1)]
 
Eu mesma já disse em “O racismo mata, às escancaras, todo dia”, minha segunda crônica neste jornal, em 10 de abril de 2001! Então, disse: “Na Conferência das Américas, em Santiago do Chile (2000), preparatória da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, fui à tribuna dizer que, em meu país, o Brasil, as crianças negras morrem mais que as brancas e, para mim, tal fato é prova de racismo”.
 
 
               “Mencionei evidências do racismo na pesquisa em dois estudos feitos nos Estados Unidos. O estudo Canto, coordenado por John Canto, Universidade do Alabama (2000), mostra que negros, independentemente do sexo, têm probabilidades bem menores que brancos de receber tratamento de grande eficácia para ataques cardíacos. O caso Tuskegee, história clássica de racismo descrita no filme/vídeo “Cobaias”, revela que, de 1932 a 1972, o Serviço de Saúde Pública dos EUA pesquisou, em Tuskegee, no Alabama, 600 homens negros – 399 com sífilis e 201 sem a doença (...). Nos anos 50, chegou a cura para a sífilis, com a penicilina – proibida para as cobaias do estudo Tuskegee. Após 40 anos, 74 sobreviventes. Mais de cem faleceram de sífilis ou de suas complicações. Em 1997, quando Bill Clinton pediu desculpas pelos erros e abusos cometidos pelo governo dos EUA, os sobreviventes eram apenas 8!”.
 
 
Seppir precisa ser mais
arrojada em exigir do
governo uma medida
que diga que é uma
política de Estado a
tolerância zero
contra o racismo
 
 
  (Avenida Prudente de Morais , 1038 , Cidade Jardim, Belo Horizonte - MG)   
 
 
E fui aos meus guardados. Escrevi “Bete, a manicure que se ufana de ser uma preta racista” (O TEMPO, 4.12.2012). Mais de um ano depois, a delegacia nem sequer convocou a manicure Elizabete da Conceição Vaz Soares, a Bete, para ouvi-la! E ela continua lépida, fagueira e racista no Dell Cabeleireiros da avenida Prudente de Morais. E a coordenadoria municipal de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte nunca conseguiu um horário para ouvir-me, embora eu tenha tentado inúmeras vezes durante dois meses! A coordenadora estava sempre sem agenda! Eu não queria nada além de dizer que estava à disposição para ajudar a pensar “ações de tolerância zero contra o racismo” nos salões de beleza.
 
 
 
 
 
 Quantos séculos ainda teremos pela frente até uma nação livre de racismo? Não atino o que o governo brasileiro está esperando, pelo menos, para escrever uma “Carta de Compromissos do Estado Brasileiro para a Erradicação do Racismo” – algo capaz de dizer que o Brasil abomina práticas racistas, para além das pequeninas políticas públicas, quase cosméticas, para minorar os efeitos do racismo, posto que elas são necessárias, mas insuficientes, atuam sobre fatos consumados e nada possuem de pedagogia antirracista.
O racismo vige no Brasil sob a batuta de uma cultura racista, herança da cultura escravista que urge ser erradicada. Não suplantaremos uma cultura racista secular sem que o governo queira erradicar as bases ideológicas da cultura racista. Entendo que a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) precisa ser mais arrojada em exigir do governo uma medida que diga com todas as letras que é uma política de Estado a tolerância zero contra o racismo. Penso que o caminho é por aí... Ou a Seppir discorda?


01  (Duke)
PUBLICADO EM 25.02.14cortebsb  FONTE: OTEMPO

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A “pequena política” no Maranhão e em Minas Gerais

Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
 
A “pequena política”, como sinônimo de política local, é um enredo de pequenez infinita na qual os donos do lugar, os aboletados no poder, só aspiram permanência ad eternum. Ela não é apenas provinciana, é bem menor: é paroquiana, bairrista e interessa aos donos do poder que seja restrita, fora do mundo da grande política – aquela que discute os grandes temas da cidadania, a universalização do bem-estar social e o futuro da Nação, com foco nas necessidades e demandas locais – porque facilita a manutenção do poder local. A pequena política tem como objetivo maior encabrestar a consciência e assim entrava o aflorar da consciência crítica, que é libertadora!
 
 
     Um caso exemplar da pequena política é o Maranhão, onde a peleja eleitoral será entre Flávio Dino (PCdoB) e qualquer preposto do clã Sarney (PMDB). O do momento é Luís Fernando. Há dúvidas. Pouco importa. Vale analisar a representação da aspiração do continuísmo do clã Sarney, que festeja Bodas de Ouro de mando no Maranhão, cujo PIB per capita é de US$ 4.300 – comparável ao de Cabo Verde (país insular africano), que é de US$ 4.200. E Sarney blefando: “O Maranhão está bombando, eufórico e cheio de esperança. O cavalo está selado” (Cavalo selado, O Estado do Maranhão – 16.02.2014). Hemhem...
 
 
Roseana pretende usar entrega de sementes de arroz e milho para alavancar imagem de Luis Fernando. Foto: Divulgação
 O Fusca de Antônio Carlos foi rebocado na última quarta-feira (12), por agentes da SMTT em cumprimento a determinação do Ministério Público    (O Fusca de Antônio Carlos, o Pirata da Litorânea, estacionado na orla há mais de três anos, foi rebocado dia 12 de fevereiro por agentes da SMTT em cumprimento a determinação do Ministério Público)
 
Basta que miremos dois dos assuntos que mais bombaram na mídia maranhense, incluindo blogs, nos últimos oito dias. O primeiro, o Pirata da Litorânea (12.02); e o segundo está centrado na última pesquisa divulgada pela DataM (18.02). Os dois, com reverberações midiáticas na web, na TV e jornais impressos, parecem questões de vida ou de morte para o povo do Maranhão. Em ambos, os blogueiros da Branca moveram mundos e fundos para atacar o candidato a governador da oposição mais bem situado nas pesquisas. Nenhum efetivamente discute o Maranhão que queremos, mas tentam passar a certeza que sim! E assim segue a procissão eleitoral com seus fetiches...
Tomemos também como exemplo da pequena política, Minas Gerais, onde dois ex-prefeitos de Beagá são os candidatos viáveis do ardido duelo: Pimenta da Veiga (PSDB, 1º.01.1989-1º.04.1990) X Pimentel (PT, 02.11.2002-1º.01.2009)
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Aecismo e sarneysmo são estados mentais similares
120411JC1296v
 
O cenário da pequena política nos dois estados possui singularidades, todavia há em comum a figura da herança biológica na política – cargos eletivos como profissão hereditária e o férreo controle da grande mídia local.
Sarney controla porque é dono, Sistema Mirante de Comunicação, onde dá ordens no chamado coronelismo eletrônico, situação bem analisada em "'CORONELISMOELETRÔNICO?' – a construção política do Grupo Sarney e o uso do aparelhamento da mídia no Maranhão", de César Viega Arruda.  E Aecim controla pelo poder de pressão das verbas governamentais para publicidade.
 
Segundo o diretor do documentário, Aécio Neves não interferiu no filme   Em Minas, o ex-presidente Tancredo Neves foi governador e o seu neto Aecim foi governador por dois mandatos e ainda elegeu sucessor um homem de sua absoluta confiança (Antônio Anastasia).
 
  No Maranhão, o ex-presidente Sarney também foi governador (1966) e manda no Maranhão diretamente do Palácio dos Leões há quase meio século, além de a filha ter sido governadora por quatro mandatos. À exceção do curto mandato de Jackson Lago (1º.01.2007-16.04.2009), os demais governadores são crias da criatura Sarney!  Tancredo e Sarney foram ungidos, respectivamente, presidente e vice-presidente da República na transição da ditadura militar de 1964 para a democracia (15 de janeiro de 1985).
 
 
Minas é “dentro e fundo”, como disse Carlos Drummond de Andrade
 
 
Pimenta da Veiga (PSDB), deputado federal pelo MDB (1978-1998), fundador do PSDB, 1º. prefeito de uma capital eleito pelo PSDB, deixou a prefeitura com pouco mais de um ano de mandato (1º.01.1989-1º.04.1990) para ser candidato a governador. Perdeu. A doce filosofia da rocice, donde derivam a mineirice e a mineiridade, não tem o dom do perdão!  É ex-ministro das Comunicações de FHC (1998-2003) e também  é filho de político – o nome dele é João Pimenta da Veiga Filho, o seu pai foi advogado criminal de larga reputação e  deputado estadual por várias legislaturas em Minas. Pimenta da Veiga saiu diretamente do colete de Aécio Neves para ser candidato a governador, segundo as boas línguas, por ser o político  do PSDB menos "queimado" em Minas! 
 
  (Pimentel, Lacerda e Aécio Neves)
 
 
Fernando Pimentel (PT), economista, professor da Economia da UFMG, lutou contra a ditadura militar de 1964, desde estudante secundarista no Colégio Estadual Central, no grupo VAR-Palmares; viveu a clandestinidade e ficou preso de 1970 a1973.
Homem forte do PT na prefeitura de Beagá desde 1993: secretário Municipal da Fazenda (1993-1996), gestão de Patrus Ananias; no primeiro mandato de Célio de Castro, continuou na Fazenda até junho de 2000, quando foi candidato a vice-prefeito de Célio de Castro (já no PT). Em janeiro de 2001, foi empossado como vice-prefeito de Célio de Castro, tendo assumido o cargo de prefeito em novembro do mesmo ano por licença para tratamento de saúde do prefeito; em 8 de abril de 2003, com a aposentadoria do prefeito Célio de Castro, assumiu o cargo de prefeito.
Pimentel foi reeleito em 2004 – foi prefeito quase sete anos, com uma gestão internacionalmente premiadíssima, embora não tenha sido assim nenhuma Brastemp, pois na área de saúde, principalmente, não avançou em nada, nem na ampliação da municipalização da saúde (ainda há muito por fazer, pois a turma do Aecim não entrega para a gestão da PBH os equipamentos públicos de saúde que a Secretaria de Estado da Saúde mantém em Belo Horizonte!), tanto que em termos de estrutura, manteve à duras penas o que foi deixado por Patrus Ananias, o resto é conversa fiada!
O site inglês Worldmayor, que analisa o trabalho mais impactante de prefeitos do mundo para as comunidades e elabora uma lista dos dez melhores prefeitos, designou Pimentel  o oitavo melhor prefeito do mundo, em 2005, sobretudo pelos programas “Orçamento participativo”; “Vila Viva”, urbanização de vilas e favelas, pelo qual foi o 1º. colocado mundial do “prêmio Metropolis Awards, título concedido a cada três anos pela Rede Metropolis, em reconhecimento às melhores práticas públicas desenvolvidas nas cidades com mais de um milhão de habitantes”; pelo “Nascentes”, recuperação e preservação de cursos d’água, Beagá “foi escolhida para representar a América Latina na criação do Fundo Global para o Desenvolvimento de Cidades, medida integrante da Rede Metropolis”.
 
 
aécio neves fernando pimentel  No entanto, tem como maior feito na memória coletiva ter ensaiado trocar “balaim” de votos com seu “coleguinha de infância” (olha aí a Síndrome de Estocolmo na política!): elegeu prefeito um indicado de Aecim, Márcio Lacerda (PSB), não com meu voto, em troca do apoio do PSDB para elegê-lo governador! Quer dizer, entregou uma eleição certa de mais um prefeito do PT em Beagá por absolutamente nada, agindo como um coronel de votos!  Esqueceu o que disse Drummond: “Minas é dentro e fundo...” e levou uma rasteira de Aecim. 
Pimentel é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Governo Dilma e está saindo para ser candidato a governador de Minas Gerais, pelo PT. Vai provar da doce filosofia rocice interna do PT mineiro que também, como eu já disse, não tem o dom do perdão. Dilma terá dificuldades em Minas para carregar Pimentel nas costas. É esperar pra ver...
 
 
 Liberdade, essa palavra...
 
2-Anastasia-Aecio-Alfenas-2  (Aécio Neves e Anastasia)
        Aécio Neves foi governador de Minas de 1º.01.2003-31.03.2010, mas manda aqui até hoje, tendo como marca maior o horror à liberdade, do tipo “Liberdade, essa palavra”... – seu  vice, Anastasia, virou governador para Aécio virar senador, foi reeleito, é o governador desde 2011. Incluindo o governo de Eduardo Azeredo (1995-1999) – que estão esconjurando por conta do “mensalão tucano”, mas ele, abandonado pelos seus pares do PSDB, ensaia seus pulos: renunciou, sabiamente, como bem constatou Guimarães Rosa: “Sapo não pula por boniteza, mas por precisão”. É esperar para ver se em sua esperteza Azeredo fez um giro ou um jirau...
Eis o PSDB governando Minas por quase 20 anos, sem conseguir imprimir uma marca que faça diferença no cenário nacional, fora o imaginário “choque de gestão”, que gerou o tal do “déficit zero”, de há muito desmascarado. Mas se Minas é grande e rica demais para ser esquartejada em 20 anos,  o povo usufrui cada vez menos de suas riquezas!
Mas o herdeiro eleitoral de Tancredo ainda quer mais do manto de uma figura mítica tão forte e impregnada no imaginário mineiro. A publicidade subliminar, bem trabalhada por marqueteiros, é que o Brasil deve a Minas a presidência da República que a morte roubou!
Por fim, a pequena política é execrável em todos os sentidos porque, repito, entrava no nascedouro o aflorar da consciência crítica e rouba do povo direito de sonhar! E quanto mais pobre o lugar, pior e mais terra-a-terra é a pequena política, pois assume ares de Fla-Flu e nada mais interessa, a não ser o grito de gol! A pequena política é um arcaísmo no qual os donos do poder aprisionam consciências.
 

  Beagá, 20.02.14

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O que pensa o ministro Arthur Chioro sobre a saúde da mulher?

12 (DUKE) 
Por que tanto dinheiro não dá visibilidade às ações?
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
 
Preocupada com o silêncio sepulcral do novo ministro da Saúde, Arthur Chioro, que assumiu dia 3 passado, sobre a saúde da mulher, e também porque não ouvi nenhum sussurro nos becos de que há alguma conversa da militância pela saúde da mulher agendada com o novo ministro, já que com seu antecessor nada foi fácil e muito menos civilizado no tocante à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (2003, governo Lula, ministro Humberto Costa), resolvi fazer uma busca em meus guardados. Encontrei um arquivo datado de 2003, uma “fala” que fiz no 2º Fórum Mundial de Saúde (3° Fórum Social Mundial), realizado em Porto Alegre, em 21 de janeiro de 2003, denominada “Saúde e políticas de gênero: o papel do movimento social”.
Escrevi que “Lutar pela saúde da mulher é a arte de fazer inimigos. Parece, e é um paradoxo. Mas por que será que governantes e executores de políticas de saúde são intolerantes quando nos referimos à saúde da mulher? Ouvi de um secretário de Saúde: ‘As feministas são muito abusadas, exigentes demais e nunca nada está bom para elas’. Enfim, somos umas chatas. Vai ver que somos. Mas qual é o cerne da questão mesmo?
 
 
 
 
Para responder, faço minhas as palavras de Betânia Ávila: ‘A crítica tem sido tomada por muitos governantes como atitude inapropriada, como se, além de conviver com as injustiças, tivéssemos ainda que renunciar ao direito conquistado de expressar nossas opiniões. Conquista, aliás, muito recente em nosso país’ (‘Políticas sociais para mulheres pobres: o caso da Bolsa Alimentação’, ‘Jornal Fêmea’, outubro/2001)”.
 
 Reli com atenção. Rememorei a luta titânica contra o fundamentalismo religioso que enfrentamos na gestão do ministro Padilha: problemas pertinentes à Rede Cegonha (por onde será que ela anda voando?) e, logo em seguida, com a famigerada Medida Provisória 557 (MP 557) e seu nascituro, de que nunca descobrimos o pai nem a mãe, que a presidente Dilma, felizmente, compreendeu que era um absurdo, além de inconstitucional, e deixou que caducasse no Congresso Nacional (31 de maio de 2012)! Vencemos no papel. Somente no papel.
 
 
 
 
O ministro não
mencionou nenhuma
vez a palavra "mulher"
- e pensar que somos
um pouco mais da
metade da população
brasileira!
 


 
O fato é que o que existia antes como saúde da mulher no âmbito das secretarias estaduais e municipais de Saúde parece que encolheu; em muitas, tomaram um chazinho de sumiço e a realidade é medonha. Era esperado, já que no Ministério da Saúde também nada avançou como área técnica. O que é de algum modo inexplicável, na medida em que parece que há dinheiro a rodo para a saúde. Então, a pergunta é por que tanto dinheiro não serve para dar visibilidade às ações em saúde da mulher enquanto tal? Há um descompasso a ser superado para que a dívida histórica do Estado brasileiro para com saúde da mulher seja minimamente reparada.
Em seu longodiscurso de posse, o ministro Arthur Chioro não mencionou nenhuma vez a palavra mulher – e pensar que somos um pouco mais da metade da população brasileira! Saúde da mulher apareceu de passagem quando ele se referiu à mortalidade materna e, não sendo muito cricri, ele mencionou a palavra câncer.
 Vejamos: “O que me move para enfrentar problemas como a mortalidade infantil e materna ou prevenir e combater o câncer, a dengue, a Aids ou as hepatites não é a simples glória de apresentar indicadores mais satisfatórios. O que me move a enfrentar esses desafios é o desejo de produzir mais vida (...). Me movo, como disse, pelo desejo de produzir mais vida e, defender a vida, mais saúde mais democracia e mais liberdade”. E daí?
 
 (Femme Crucifiée - Louis Joseph Raphaël Collin )
PUBLICADO EM 18.02.14
 FONTE: OTEMPO

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A ‘síndrome de Estocolmo’ na política e o clã dos Sarney

(Extraído de Clã Sarney no fio da navalha)
Uma prisão emocional, como no conto "A Bela e a Fera"
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
 

José Sarney e Roseana Sarney são responsáveis por governos que melhoraram a qualidade de vida no Maranhão  Por que o clã Sarney ganha eleições? Sabe-se que quem vota no opressor não o vê como tal; ou vê e o prefere! É a “síndrome de Estocolmo” na política – em si, a síndrome é um transtorno psicológico em vítimas de diferentes processos de dominação, decorrente da falta de visão correta da realidade, cujo mecanismo de proteção é a defesa do opressor.


 “Gasto meu Bolsa Família pra comprar revistas que tem foto de Sarney
Ficheiro:Anne Anderson05.jpg  (A Bela almoçando com a Fera, ilustração de Anne Anderson)
 
 Na prática, uma prisão emocional, como no conto “A Bela e a Fera”, de Gabrielle-Suzanne, Dama de Villeneuve (1740), que na política é perpetuada com o apoio de um marketing político embotador de consciências. Vide a campanha publicitária em curso com poder extraordinário de vincar no imaginário as bodas de ouro do “amor” dos Sarney pelo Maranhão!

 

 image
 

Diante do que urge ampliar a percepção popular de quão nefasto tem sido para o Maranhão e seu povo o domínio político do clã Sarney desde janeiro de 1966, quando o patriarca da família, José Sarney, sob a moldura eleitoral das Oposições Coligadas, assumiu o governo com um discurso contra a oligarquia de Vitorino Freire (1908-1977) – pernambucano que mandou no Maranhão entre 1946 e 1965, sem nunca ter sido candidato a governador! Quando Sarney se elegeu, os dois outros candidatos foram Renato Archer e Costa Rodrigues. Os três, crias do vitorinismo.
 
 
   (Senador Vitorino Freire. Foto: Cece/CB/D.A Press)
 Vitorino e Sarney sempre foram rivais  (Vitorino Freire e José Sarney)
 
Presos serram celas e fogem da Penitenciária de PedrinhasPresos filmam decapitados em penitenciária no Maranhão; veja vídeo
pedrinhas  [O Complexo Penitenciário de Pedrinhas, originalmente Penitenciária de Pedrinhas, é uma prisão brasileira, situada a 15 km de São Luís, à margem da BR-135, integrando Presídio feminino, Centro de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), Casa de Detenção (Cadet), Presídio São Luís I e II, Triagem, o Centro de Detenção Provisória (CDP)] 

foto: reprodução Internet 

Por paradoxal que possa parecer, a Penitenciária de Pedrinhas é o que Sarney e seus prepostos, ao longo dos anos, fizeram dela, pois, embora inaugurada pelo governador Newton Belo, em 12.12.1965, é a obra dos Sarney no poder que exibe as vísceras dos desmandos do clã, além dos indicadores que revelam a extrema vulnerabilidade social do nosso povo, vítima de desamor contínuo por 50 anos!

sarava_sarney 

A campanha publicitária
em curso tem poder
extraordinário de vincar no
imaginário as bodas de ouro
do “amor” dos Sarney
pelo Maranhão!


 
Paulo César D’Elboux, em “A Trajetória Comunicacional de José Sarney”, afirma que “para se manter por tanto tempo assim no poder, o político deve ter um bom trabalho de marketing político”. Sarney é tido como o pioneiro do marketing político no Maranhão. Ele disse: “Talvez eu possa dizer que, no Maranhão, pela primeira vez, nós introduzimos uma campanha planificada... Para isso utilizamos também, pela primeira vez no Estado, a comunicação musical, com jingle”. Trata-se do “Meu voto é minha lei” (letra de Miguel Gustavo, na voz de Zezé Gonzaga). Em suma, de comunicação Sarney entende muito e é dono do maior grupo privado de comunicação do Maranhão, o Sistema Mirante de Comunicação (TVs, rádios e o jornal “O Estado do Maranhão”).
 
 
Governadora Roseana Sarney  (Governadora Roseana Sarney)
José Sarney e sua filha, Roseana, em 29 de abril de 1995. Foto: Edivaldo Ferreira / AE 
(José Sarney e sua filha, Roseana, em 29 de abril de 1995. Foto: Edivaldo Ferreira / AE)
 
 
Indagado por D’Elboux sobre marketing político, Sarney declarou: “É imprescindível. Primeiro, a ação política, 50% ou mais dela é feita pela palavra. A maneira de se massificar as ideias que as palavras têm é através dos instrumentos que se tem. A imprensa é o mais antigo de todos, depois os meios que a gente dispõe hoje. Ninguém pode fazer política, a não ser no anonimato, se não tiver condições dela ser do conhecimento, ser massificada. É uma obrigação do político, é quase que uma extensão da personalidade. Ninguém pode ter sucesso político se não for capaz de expor suas ideias para que os outros possam comungar delas... Todas as campanhas, esses marqueteiros sabem que sou muito palpiteiro e muito rigoroso em matéria de criticar. Tenho coragem de dizer a eles o que está certo e o que está errado”.
 

 
 
O desafio de derrotar Sarney é monumental. Exige travar a luta de ideias num campo em que ele não é apenas experiente e detém os principais meios de comunicação do Estado, mas também considera decisivo, tanto que ruma para o “tudo ou nada” nas próximas eleições.
 
 
FS 
14  (DUKE)
PUBLICADO EM 11.02.14
FONTE: OTEMPO



MARANHÃO 66 - Glauber Rocha
www.youtube.com/watch?v=t0JJPFruhAA