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terça-feira, 30 de abril de 2013

O secularismo e o laicismo contra a intolerância religiosa


QUANDO RELIGIOSOS ACALENTAM O SONHO DE DITAR REGRAS A TODOS

Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
 
 
O fundamentalismo religioso cristão no Brasil, de extração católica e evangélica, adquiriu fôlego na última década, centrado na abolição dos direitos reprodutivos e dos direitos sexuais, vincando interferência perturbadora e preocupante, em todos os sentidos, em nome da defesa da família na vida política nacional.
Tanto evangélicos (dia e estatuto do nascituro, cura de gays, projetos de lei da grife "Estuprobrás", as recentes infelicidades felicianas satanizadoras...) quanto católicos (concordata Brasil-Vaticano, obra de Lula, ai, meus sais!) acalentam o sonho de ditar regras de comportamento de suas visões de mundo para todo o povo. Lembremo-nos da interferência do Vaticano nas últimas eleições presidenciais, indicando o voto no beato Serra! Vide "Eleições presidenciais 2010: em leilão, os ovários das mulheres!" ("Viomundo", 8.10.2010). Os fundamentalistas cristãos brasileiros lutam por leis que transformem a nossa República democrática e laica numa teocracia!
 
 
 
 
 
E, ao mesmo tempo, as manifestações de intolerância religiosa não param de crescer, seja intramuros nas religiões ou nas seitas - caso da desassociação de Testemunhas de Jeová - ou na vida pública, sobretudo de algumas igrejas evangélicas contra as religiões de matrizes africanas. Além da perplexidade causada pela lassidão do governo brasileiro diante dos fatos, não avancei muito na compreensão de tais nefastos fenômenos, sobretudo porque a responsabilidade maior de garantir a liberdade de religião e de assegurar os princípios da República laica é da Presidência do Brasil, que, dolorosa e praticamente, tem silenciado, mas tem cedido muito, em especial para o intuito da Igreja Católica de satanizar as mulheres.

Diz-se Estado
secular ou laico ou
não confessional como
significando o Estado
que não professa
religião e protege quem
 tem ou não uma fé
 
  Imagem: Divulgação Se a Presidência da República cede quanto aos direitos reprodutivos, como registrei em "Governo Dilma submete corpos das brasileiras ao Vaticano" ("Viomundo", 5.1.2012), assiste à carruagem da intolerância religiosa passar e avançar sobre os princípios da República e faz de conta que não lhe diz respeito, estamos a pé mesmo... Todavia, sou teimosinha, teimosinha e continuo firme em meu propósito: "Quero o aconchego de uma República laica e nada mais" (O TEMPO, 31.5.2011). Então, urge enfrentar quem mina os alicerces da República!
 Em tal peleja, tenho refletido sobre o papel do secularismo e do laicismo diante da intolerância religiosa. Compreendo secularismo, grosso modo, como o princípio de separação entre Estado e religiões de qualquer naipe, garantindo e defendendo a liberdade religiosa. E laicismo é "uma visão filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e das comunidades religiosas, bem como a neutralidade do Estado em matéria religiosa"; tem como valores a liberdade de consciência; a igualdade entre cidadãos em matéria religiosa e a origem humana - todos, pilares da liberdade em questões de fé. Na prática, e é uso consagrado, se diz Estado secular ou Estado laico ou Estado não confessional como significando a mesma coisa: o Estado não professa religião e protege quem tem ou não uma fé, como agnósticos e ateus.

 
 
 
 
O que fazer? Ampliar a consciência da sociedade. Dou muito valor ao debate incansável, assim é que atividades como o "1º Seminário nacional multidisciplinar de diálogo inter-religioso contra a intolerância religiosa no Brasil", de 9 a 11 de maio de 2013, no Centro Cultural da UFMG (avenida Santos Dumont, 174, Centro), em Belo Horizonte, são valiosas, contam com o meu apoio e devem ser exaustivamente divulgadas.

estadolaico3.jpgEdição Publicado no Jornal OTEMPO em 30.04.2013

Sobre o tema, leia + de Fátima Oliveira:
Os tentáculos da santíssima violação de leis e direitos (10.03.2009)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=8005,OTE
Caminhada Cultural pela Liberdade Religiosa e pela Paz (12.05.2009)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=8514,OTE
Afinal, o que é uma democracia sem direitos humanos? (19.01.2010)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=10657,OTE
A riqueza da diversidade na experiência do sagrado (04.05.2010)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=11563,OTE
Um lembrete: no Brasil, nenhuma religião se encontra acima da lei (24.08.2010)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=12661,OTE
Perdi a paciência: quero a República terrena de volta! (12.10.2010)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=13127,OTE
Quero o aconchego de uma República laica e nada mais (31.05.2011)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=15323,OTE
A intolerância religiosa é um atentado aos direitos humanos (09.08.2011)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=16015,OTE
Myrian Rios e sua visão de dupla moral sobre a pedofilia (28.06.2011)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=15592,OTE
Um governo jogando na retranca e a gota d´água, no oceano (20.12.2011)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=17310,OTE
O poder maligno da carolice da deputada Myrian Rios (29.01.2013)
Marco Feliciano tira sarro da cara de todo mundo porque pode  (02.04.2013)
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=21692,OTE

terça-feira, 23 de abril de 2013

Interdição racista: banheiros luxuosos não são para negros

Joaquim Barbosa: estrela de Trancoso  (Ministro Joaquim Barbosa)
ELE BATEU NA ESPOSA. LULA SOUBE E MANTEVE O NOME
 Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_ 


 


Depois que o dr. Joaquim Barbosa foi sagrado ministro do STF, não escrevi sobre ele. Reconheço seus méritos intelectuais, conquistados com sacrifícios impensáveis. No concernente à moralidade e à ética, ele não deveria estar lá. Os motivos, relatarei abaixo.
Na aventada imoralidade dos banheiros de luxo ("STF gasta R$ 90 mil em reforma para Joaquim Barbosa", Andreza Matais e Rubens Valente, FSP, 20.4.2012), vou defendê-lo. Entendo que a base do achincalhamento é de cunho racista. A mensagem subliminar é que é interditado a uma pessoa negra atender às suas necessidades fisiológicas em banheiros decentes - negros não devem sair do tempo do penico de latão (para a aristocracia, era de porcelana) -, já que dizem que "negro, quando não caga na entrada, caga na saída". Dispensa banheiro.


 


A mensagem
subliminar é que são interditados a uma pessoa negra
banheiros decentes -
negros não devem sair do penico
do latão

 
O governo federal mantém habitações funcionais. Posso discordar da regalia, mas ela é legal. Cuidar, com dinheiro público, para que não se deteriorem, é dever do governo. Quando a ministra Ellen Grace instalou uma hidromassagem, a mídia tentou dar faniquitos. Ela, tranquilamente, disse: "É claro que vou colocar uma banheira lá. E tem de ser paga com dinheiro público porque ela vai estar num apartamento público". Assunto encerrado. Era 2005, e a reforma do apartamento custou R$ 133 mil.
O estopim curto do ministro JB, sobre reforma similar e mais barata, sete anos depois, explodiu ao ser perguntado, por Felipe Recondo, do "Estadão". Perdendo a compostura, o chamou de "palhaço" e mandou que fosse chafurdar no lixo. O "Estadão" silenciou, mas a FSP, em 20.4.2013, estampou: "STF gasta R$ 90 mil em reforma para Joaquim Barbosa". Para JB? Ora, me compre um bode! O assunto caiu na web, e muita gente insuspeita caiu na armadilha racista. Contraditoriamente, os dois jornais elevaram JB à posição de Deus no julgamento do mensalão, mas ele ter direito de usar banheiros de luxo é inaceitável!
Na indicação de JB ao STF, eu e umas três feministas negras fomos contra nas "listas raciais". Primeiro, ele bateu na esposa, à época, funcionária do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, inclusive com registro de BO no DF. Lula soube e manteve o nome, argumentando que a ex-esposa enviara carta inocentando-o, com o mesmo teor dito à imprensa, que "apanhou de meia": "Na verdade, houve uma agressão mútua. Isso aconteceu num dia de ânimos acirrados. Somos amigos até hoje" ("Enfim, um negro chega lá", "Veja", 14.4.2003).
 

  Lula foi cúmplice, corroborando o dito pelo saudoso poeta negro Arnaldo Xavier: "O único espaço de cumplicidade efetiva existente entre o homem negro e o homem branco é o machismo". Exigíamos que JB declarasse arrependimento. Ele e Lula não deram a menor pelota pras ziquiziras das feministas!
 
 
  (Dr. Hédio Silva Jr).

O segundo motivo: sou testemunha dos ânimos violentos do ministro. Em Santiago do Chile, na Preparatória Latino-americana de Durban (2000), JB, por motivo fútil, partiu pra cima do hoje jurista e ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo Hédio Silva Jr. Quem foi pro sopapo foi JB, o outro se defendeu. Imaginem como fiquei tentando separá-los! Um espetáculo deprimente visto por várias negras brasileiras. Ali, soube que JB havia batido em sua mulher. Ali, selei a opinião do destempero dele, portanto, achei a sua indicação para o STF inadequada.
Não tenho motivos para louvá-lo, pois compactuar com violência de gênero e índole violenta fere meus princípios, mas ele tem a minha solidariedade contra o racismo, base da suposta denúncia dos banheiros de luxo.
 
jogos de decorar banheiros de luxo  Publicado no Jornal OTEMPO em 23.04.2013



Declaraçaõ de DurbanA III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas foi realizada em setembro de 2001, em durban, na África do Sul e contou com mais de 16 mil participantes de 173 países. A conferência resultou em uma Declaração e um Plano de Ação que expressam o compromisso dos Estados na luta contra os temas abordados.

terça-feira, 16 de abril de 2013

O prazer do convívio com calopsitas mansas, dóceis e sensitivas


  Foto DUKE
 
 
APRENDEM A CANTAR MÚSICAS QUE OUVEM MAIS AMIÚDE!
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Tesourinho da Vovozinha e Fofolete da Vovozinha são calopsitas, macho e fêmea, de minha neta Clarinha, que estão comigo desde dezembro passado, esperando que a dona possa um dia cuidar delas com uma compreensão maior do que chamá-las de "psita" e saiba apreciar a companhia delas sem assustá-las.
A ideia era que, tão logo estivessem mais mansinhas, fossem levadas para a casa de Clarinha, em São Luís do Maranhão. Mas permanecem em Beagá, e eu virei cuidadora de calopsita! Sim, aquela avezinha originária da Austrália, com cerca de 30 centímetros de comprimento, que pesa entre 80 e 150 gramas, vive em média 20 anos e possui um topete de dar inveja a Elvis Presley, segundo João Mathias.


 

A ideia de comprar calopsitas para Clarinha tem a ver com o desejo dela de ter um animal todo dela - um cachorro, um gato - e de ter pedido para meio mundo: "Compra um gato pra mim!", sem que alguém da família tenha se sensibilizado. Na casa da mamãe, não havia cães nem gatos por causa da "asma das crianças". Em minha casa, idem! Somos uma família sem tradição de cuidar de gatos e de cachorros.
Cães e gatos para quem mora em apartamento significam um adicional de empenho de tempo, energia, dinheiro e o hábito incrível de não sentir o mau cheiro que cães e gatos deixam em ambientes pequenos, mesmo aqueles tratados a pão de ló e com direito a "cabeleireiro" semanal.
 

Clarinha era uma tristeza que fazia dó, mas a convencemos de que bonitinhos são os cães e os gatos das casas dos outros. Eu tremia de pavor só de pensar que ainda não foi inventado o produto que retire a inhaca de cães e gatos de uma casa. Evidente que os donos nem percebem; acostumam-se ao fedor de tal modo que ainda se irritam quando a gente reclama do odor estranho da casa, por mais limpa que esteja.
Embora tenha o propósito de não engaiolar pássaros, decidi domesticar calopsitas para Clarinha. Elas podem viver em gaiolas, mas Tesourinho e Fofolete passam a maior parte do tempo em meu quintal-jardim, na área de serviço e passeando e assoviando pela casa atrás de mim.
Nativa da Austrália, a calopsita "é a menor da família das cacatuas. Seu nome científico é Nynphicus hollandicus, que significa `Deusa da Nova Holanda´, nome da Austrália até 1804". Em 1838, John Gould, ornitólogo inglês, esteve pesquisando a fauna australiana. Ao retornar em 1840, levou calopsitas, contribuindo assim para a disseminação delas na Europa.
 
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Há calopsitas de várias cores: cinza ou normal (a cor original); canela; arlequim; pérola; lutino; cara branca; albina; fulvo; prata recessivo; e prata dominante. No entanto, só depois do surgimento da variedade arlequim, uma mutação, antes de 1950 e de outros padrões de cores, que a calopsita adquiriu "enorme popularidade, sendo hoje um dos pássaros mais criados do mundo. É o pássaro perfeito e o mais indicado para quem quer uma relação mais íntima com uma ave. São divertidos e leais ao bando, do qual o dono passa a fazer parte".
As calopsitas são aves de estimação muito disputadas e adquiriram o status de "aves de toque", embora sejam naturalmente assustadas e arredias, porque "podem ser tocadas, acariciadas e respondem a esses estímulos". Possuem uma inteligência extraordinária: aprendem a cantar músicas que ouvem mais amiúde! "Sentem fome, medo, frio, alegria, dor, tristeza, aceitação, rejeição. Aceitam carinho e o retribuem", além da percepção do estado de espírito de quem cuida delas. Às vezes, tenho medo de calopsitas, pois parecem gente!
  Publicado no Jornal OTEMPO em 16.04.2013
 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Lima-da-pérsia é a doce lima do sertão de minha meninice

Basket with six oranges, 1888, Vincent van Gogh  
É COMO SE ESTIVESSE NO POMAR DA CASA DA VOVÓ...

Fátima Oliveira
 Médica –
fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_

Não sei exatamente quando, mas não faz muito tempo, fiquei emocionada ao ver, no sacolão, umas limas amarelinhas. Virei menina no quintal da casa da vovó Maria... Peguei uma e cheirei. Era mesmo lima!




 Comprei mais ou menos uma dúzia. Em casa, depois de lavá-las e enxugá-las, fiquei apreciando uma bacia cheia delas. Comecei a descascar a primeira. Resumo da ópera da bacia de lima: comi todas, gomo por gomo, degustando aquela refrescante fruta da infância e da adolescência que não saboreava havia muitos anos.




A lima, hoje vendida com o pomposo nome de lima-da-pérsia, em alguns lugares, conhecida como lima-doce, no sertão onde nasci, era apenas lima, fruta comum em quase todos os quintais - frutificava tanto que os galhos, às vezes, se quebravam. A lima floresce e frutifica durante todo o ano, com mais abundância de maio a setembro. Graça Aranha, nos anos 1960/70, era importante município produtor de lima. Originária da Índia e do sul da Ásia, nem sequer imagino por que era tão apreciada em nossa região. Apenas descobri que o vocábulo "lima é derivado do nome persa (?) ‘Limu’, quando da introdução da fruta na Europa durante as Cruzadas", e que, na culinária tailandesa, a fruta é uma mascote.

A limeira se parece com a laranjeira, só que cresce menos, pois é um arbusto, e o cheiro das folhas tende ao adocicado; a lima é muito parecida com a laranja, até no tamanho, mas a casca é fina e de cor amarelo-clara; a polpa - doce, suavemente amarga, uma delícia - fica dentro de gomos esbranquiçados, uma pele amarga, daí porque, diferentemente da laranja, para se comer a lima, é necessário abrir os gomos ou então chupá-la, mas não dá para comer o bagaço porque amarga demais!
Os valores medicinais da lima estão suficientemente demonstrados: o suco é auxiliar da digestão, daí dizerem que a fruta previne e trata "doenças do estômago" em geral; é diurético, por tal motivo, "entrou na moda" como "o suco que combate a celulite e emagrece"! Evidentemente, tais propriedades milagrosas carecem de respaldo científico.
Pense num diurético potente: é a lima! Tanto que, no sertão, criança não podia comer a fruta à noite para não fazer xixi na cama! Lembro-me, também, da história de que "lima quente dá dor de barriga". Por tal motivo, a gente só podia colhê-la para "comer na hora", pela manhã ou no fim da tarde, mesmo assim, colocando-as delicadamente dentro de um balde de água para esfriá-las.

UM PÉ DE LIMA!  (Limeira, )


A sabedoria sertaneja
diz que criança muito
danada deve chupar
lima e tomar um
chazinho de casca
da fruta de vez em quando
para se acalmar



Além disso, "a cultura popular diz que o chá feito de casca de lima, quando tomado regularmente após as refeições, ajuda a prevenir as palpitações cardíacas". Ou seja, é um tranquilizante. A sabedoria sertaneja diz que criança muito danada deve chupar lima e tomar um chazinho de casca da fruta de vez em quando para se acalmar. Vovó era incansável em "receitar" lima e chá da casca dela para crianças inquietas e arreliadas.


 Meu avô Braulino dizia que "lima tem ciência" e só era boa "pegada com a mão" e chupada debaixo do pé, por ser uma fruta fina: se machucar, fica amargosa. Estava coberto de razão! Tanto que as limas de sacolão nem sempre são docinhas, algumas possuem um sabor de doce-amargo. Não há do que duvidar: são frutas machucadas, muito manuseadas, porque lima colhida e transportada com cuidado é doce, doce, doce...
Comer lima é voltar à minha infância. Cada vez que como a fruta é como se estivesse no pomar da casa da vovó... São recordações de manhãs de brisa aconchegante debaixo do nosso pé de lima, pegando uma por uma no pé.

Ficheiro:Pedro Weingärtner - Fundo de quintal com menina - 1913.jpg 
(Fundo de quintal com menina, Pedro Weingärtner, 1913)
Publicado no Jornal OTEMPO em 09.04.2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Marco Feliciano tira sarro da cara de todo mundo porque pode

 DUKE
A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NÃO PERDE BALCÃO DE NEGÓCIOS

Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_

Quando apareceu a manchete "Pastor homofóbico deve presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara" (27.02), ele declarou: "Se tem alguém que entende o que é direito de minorias e que sofreu na pele o preconceito e a perseguição, é o PSC; o cristianismo foi a religião que mais sofreu até hoje na Terra"; complementou que a Comissão se resumia a defender "privilégios" de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais; e que ele defendia um "maior equilíbrio".



 Falo do deputado Marco Antônio Feliciano - empresário, pastor evangélico, conferencista e sócio-proprietário da Kakeka - Comércio Varejista de Brinquedos, Artigos do Vestuário Ltda., da Marco Feliciano Empreendimentos Culturais e Eventos Ltda. e do Tempo de Avivamento Empreendimentos Ltda. Todos em Orlândia (SP). É também pastor presidente da igreja Assembleia de Deus de Orlândia - Ministério Catedral do Avivamento. Ele também crê na "cura gay", pois vê a homossexualidade como uma doença e a Aids como um câncer gay. Sobre negros disse: "A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, as pestes, as doenças e as guerras étnicas" (2011).



Lendo as notícias, entendi que tê-lo na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) era da responsabilidade da Câmara. O movimento social nunca teve força política para definir quem preside uma comissão. O pastor recebeu apoios eloquentes do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e do deputado Garotinho (PR-RJ).
"A CDHM é uma das 20 comissões permanentes da Câmara dos Deputados, onde atua como órgão técnico constituído por 18 deputados membros e igual número de suplentes, apoiada por um grupo de assessores e servidores administrativos". A principal atribuição da CDHM, criada em 1995, como uma ressonância da Conferência da ONU sobre Direitos Humanos, em Viena (1993), é "contribuir para a afirmação dos direitos humanos". Com poder deliberativo desde 2004, cabe a ela a "formulação de propostas e programas governamentais ligados à cidadania e aos direitos humanos".

"Esse é o resultado
do presidencialismo
de coalizão". Tiremos
as viseiras da
hipocrisia: o PSC
jamais reivindicou a
presidência da CDHM




 [O deputado federal eleito Feliciano (PSC) dá entrevista em sua casa, em Orlândia]

 Para Wyllys, Malafaia é “falso profeta” e um “vendilhão do templo homofóbico”  Nilmario Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo, durante entrevista A má notícia, de que presidiria a CDHM uma pessoa sem as qualificações necessárias para o cargo, mereceu o seguinte comentário, no Twitter, do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ): "Ele é confessadamente homofóbico e fez declarações racistas sobre africanos. Está claro que o objetivo do PSC, ao escolher a CDHM, deve ser barrar a extensão da cidadania plena às minorias. É lamentável". Nilmário Miranda (PT-MG), primeiro presidente da CDHM, soube ser magistralmente grande no Twitter, sem dourar a pílula: "Esse é o resultado do presidencialismo de coalizão. Nosso PT optou por outras comissões mais importantes" (7.3.2013).
Sem mais hipocrisias, tratemos do assunto como ele é e merece. Nos marcos da ética da responsabilidade. O governo cometeu um erro monumental ao abrir mão do que sempre foi "a joia da coroa" do petismo: a CDHM; o PT dormiu no ponto; e os partidos da base aliada, idem. Todos têm culpa no cartório. Não escapa um! Tiremos as viseiras da hipocrisia: o PSC jamais reivindicou a presidência da CDHM; ela sobrou para ele, como o patinho feio das comissões!
A dureza é ter de assistir às escaramuças da esquerda, partidos e militantes de movimentos sociais, agora que "Inês é morta", fazendo de conta que o pastor é um usurpador (o que não é!) ao expor as vísceras partidárias da esquerda e do governo, tirando o maior sarro da cara de todos nós! Erramos, e a teologia da prosperidade não perde balcão de negócio.
 

 Publicado no Jornal OTEMPO em 02/04/2013