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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Da Matinha de Dona Lô ao Circuito Elizabeth Arden até à posse de Dilma

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Modelo fashion: a estilista Carolina Herrera inspirou o corte de cabelo que
Celso Kamura fez em Dilma Rousseff
Fátima Oliveira

Eu era uma jornalista sentada no alpendre da Fazenda Matinha de Dona Lô, encantada com a sua dona, a agilidade mental e física, além da elegância que ela exibia com seus sessenta e tantos anos, e percebi que ela adorava conversar. E cá com meus botões, pensei: também, ali rodeada da peãozada, devia gostar quando aparecia alguém com quem conversar de igual para igual, isto é, em português de letrados.
– Então a senhora já viajou muito?
– Humhum... Tanto que nem quero mais arredar o pé daqui. Fico zanzando daqui da fazenda para a minha morada no povoado. Vou à cidade de vez em quando. Agora menos ainda, até o cinema de lá acabou. Imagina uma cidade sem cinema! Pois é. Virou Igreja evangélica há uns dois anos. Já disse que até 2005 eu fazia o Circuito Elizabeth Arden anualmente...

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  Ohhhhhhh... que chic! Roma, Paris, Londres e Washington...
  Chic no último, mas enjoei. Wasghinton, em termos. O Circuito Elizabeth Arden diplomático é mesmo Roma, Paris, Londres e Washington... Isto é, porque se refere na diplomacia a um conjunto de embaixadas que estão em capitais de tradicional prestígio cultural, político e socioeconômico, que fazem os olhos das embaixatrizes revirarem. Mas em termos de moda, de glamour, de cosmetologia e de turismo de elegância em si, o Circuito Elizabeth Arden é Roma, Paris, Londres e Nova Iorque, cidades nas quais encontramos as grifes mais poderosas do mundo, tanto de roupas quanto de sapatos, de cosméticos e de perfumes! A-dooo-ro perfumes!
– Legal a distinção. Muito legal!

Elizabeth Arden
  Aliás, eu conheci Elizabeth Arden pessoalmente!
  Ohhhhhhhhhhhhhh, não diga!
 Hem-hem! Pena ela ter morrido em 1966, aos 82 anos, pois estava programada uma vinda dela para um mês na Matinha de Dona Lô. Ela desejava ver nossas orquídeas nativas...

Na II Guerra Mundial Elizabeth Arden criou um batom vermelho, o Montezuma Red, especial para mulheres das forças armadas, para dar vida aos uniformes e um toque de feminilidade



Foi em meados da década de 1960. Mamãe, a Donana, era quem a conhecia mesmo. E eu a conheci por tabela, por ser filha de Donana. Coisa de admirar, não é? Pois mamãe era daqui mesmo dessas brenhas. Mas é que dinheiro dá asas às pessoas, você sabe. Elizabeth Arden demonstrou interesse no óleo de babaçu para seus cosméticos – se bem que aqui na Chapada praticamente não há babaçu, como você vê, é mais lá da região dos cocais maranhenses – coisa que foi feita depois por Anita Roddick, da Bad Shop. Sabe do que estou falando, não? Elizabeth estava certa em sua intuição quanto ao óleo de babaçu para a cosmetologia. Anita Roddick demonstrou que sim.



Babaçuarte

– E Carolina Herrera, a senhora também a conhece?
– Médio. Tenho umas coisinhas da lavra dela. Ela mora nos Estados Unidos desde a década de 1980. Vestiu Jacqueline Kennedy, quando já era Onassis, nos últimos 12 anos de sua vida.
– É verdade que o visual da presidenta eleita Dilma Rousseff foi inspirado nela?
– Oh, claro! Quando a estilista venezuelana era mais jovem, ehehehehe... É o que chamamos no popular de “escarrado e cuspido”, mas como você bem sabe o certo é: “Em carrara esculpido”, que nós aqui na roça chamamos de “iscritim”.  Uma imagem de sobriedade e elegância, inegáveis. Ouvi dizer que até a própria Carolina Herrera aprovou, oxente!
– Foi mesmo! Ela esteve recentemente no Brasil, logo após as eleições, não apenas para inaugurar sua primeira loja no Brasil, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, mas para dar uma mãozinha na Campanha contra o câncer de mama, que ela é apoiadora convicta e destacada.  No Rio ela participou da iluminação rosa do Cristo Redentor, uma performance parte do Outubro Rosa (movimento mundial de prevenção ao câncer de mama)...
– Geeeente, pois eu não soube!
– A jornalista Flávia Guerra, do Estado de São Paulo, indagou a Carolina Herrera: “E como se sente com o gesto do cabeleireiro Celso Kamura levar uma foto sua para inspirar a presidenciável Dilma Rousseff a mudar o estilo de cabelo?”
– Ela respondeu: “Honrada. Se ela está feliz com o novo visual é o que importa. Sei que ela também lutou contra o câncer, ainda que de outro tipo, e que ela vai entender o que estou falando. Ela é a continuação de Lula, não? Ele fez coisas boas para a economia brasileira. Desejo que, seja quem for o próximo presidente, o Brasil continue crescendo. Espero que a democracia brasileira ajude toda a América do Sul a ser mais democrática, incluindo a Venezuela que, bem, você sabe... não falo sobre política. Só sobre moda."
– ...
– E então, o que me diz dessa metamorfose da presidenta eleita no visual?
– Você é contra minha filha? Para todas as mulheres ou só para Dilma?
– ...
– Pois bem, eu acho a vaidade, o desejo de ser bela, elegante e tudo mais, uma coisa muito boa para todo mundo. O belo é para ser apreciado, de acordo?
– ...
– Eu fico azeda com essa conversa mole e discriminatória sobre o novo visual de nossa presidenta. Nós, as mulheres, não devemos cair nessa esparrela, não! Esse é um discurso contra nós. Digo: contra todas as mulheres. Mulher que gosta de andar arrumada, nos trinques, esbanja autoestima. Sabia disso? Mas por que sempre acham que é frivolidade? Desde quando o belo é sinônimo de frívolo?
– ...
– Só uma coisa eu não concordo hoje em dia, que é uma pessoa velha não assumir a sua velhice e fazer plásticas e mais plásticas para aparentar uma idade que não tem, querendo manter uma eterna juventude. Isso não! Mas umas ajeitadinhas nos despencados, porque a força da gravidade é uma certeza em nossos corpos, logo em nossa aparência, não vejo nada demais. Todavia, eu não desejei até hoje fazer plástica alguma. Isso hoje, no amanhã eu não sei. Gosto da idade que tenho. Dos meus cabelos brancos eu sinto um orgulho imeeeeeenso...
– A senhora é fashion demaaaaaaaaaaais... Mas Dona Lô, a minha visita aqui, conforme falamos por telefone, nem é para uma entrevista em si, mas para ver como combinamos de a TV e o jornal nos quais eu trabalho terem exclusividade das imagens e das entrevistas da viagem das mulheres da Chapada do Arapari para a posse da presidenta Dilma Rousseff em Brasília, porque realmente consideramos interessante essa decisão de vocês... Sem falar que soubemos também que as mulheres endinheiradas dessa região estão aqui, graças ao seu trabalho junto a elas. E que todas apoiaram Dilma Rousseff. Estamos dispostos a ter um carro acompanhando o ônibus...
– Vamos tomar um café com bolo frito ali na cozinha. E lá a gente conversa mais. Está bem?

Chapada do Arapari, 30 de novembro de 2010

 

BOLO FRITO DO SERTÃO

Ingredientes:
1 kg de polvilho (doce ou o azedo)
1 copo (requeijão) de água
1 copo (requeijão) de óleo
Sal a gosto
1 pitada de açúcar
4 a 6 ovos, dependendo do tamanho deles

Modo de fazer:
Coloque o polvilho numa bacia, adicione o açúcar e o sal e misture. Reserve.
Leve para ferver a água junto com o óleo; quando estiver fervendo coloque o polvilho e misture bem com uma colher (chama-se escaldar o polvillho).
Retire do fogo.
Coloque numa bacia
Adicione os ovos um a um, amassando bem com as mãos até que a massa desgrude das mãos e não fique pegajosa (chama-se sovar a massa).
Fazer os bolinhos com as mãos untadas em óleo em formato de dedo e frite em gordura bem quente.

DICA: em uma vasilha limpa e com tampa a massa pode ficar na geladeira até cinco dias! Se a massa endurecer um pouco depois de gelada é só untar bem as mãos com óleo para moldá-la. Não precisa descongelar para fritar, então pode congelar os bolinhos no formato de fritá-los.

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Cocô babaçu pronto para extração de óleo 
Pedreiras, Maranhão, 2005.
Palmeira que produz o côco babaçu.Pedreiras, Maranhão, 2005
 

As quebradeiras do Maranhão




As quebradeiras do Maranhão













Babaçuarte



VI Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu
Dias 16,17,18 de Junho


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dilma esturricou o Blocão & A festa é nossa, oxente!

Fátima Oliveira


Quando Dona Lô, Gracinha e Cesinha se aproximaram do alpendre, Estela, que voltara um pouco antes do goiabal, sorridente recebeu a madrinha com uma jarra de suco de goiaba: “Dindinha, prove a gostosura do suco que fiz especial para a senhora!”
– Ih Dona Lô, a Estela lhe mima demais. Nem deixou a gente provar o suco ainda, dizendo que enquanto a Dindinha não der o primeiro gole ninguém bebe!  Beba logo senhora, que estamos aqui mortos de sede, não é meninada?
– Ela é assim mesmo Pedro. Estão casados há tanto tempo e ainda não se conformou que para ela é Deus no céu e eu na Terra? E aí o que achou do tranco nocauteante que Dilma deu naqueles lesados do PMDB? Estela, minha querida, arrume aí uma cervejinha estupidamente gelada pra sua dindinha... Quero umazinha depois do suco.
– O que isso Dona Lô, não fale assim do meu partido senhora! O PMDB tem historia.
– Perfeitamente, mestre! Mas hoje em dia há uma tropa de gente lesada, lesada... Ainda bem que Ulisses Guimarães, a quem eu tanto admiro e guardo no fundo do peito, já morreu para não ter de passar tanta vergonha! Todo fisiológico na política eu ponho na prateleira dos lesados, dos sem jeito, que vão morrer assim...
– Brinca assim com a gente não, Dona Lô! Assim nos deixa mais baixo do que escada de tirar maxixe, senhora!
E rindo, ela continuou: “Esse PMDB, esse PMDB, ô povo que gosta duma biqueira de poder! Claro, nem todos. Quase todos. Parte dessa gente está do lado de cá, digo: com Dilma, mas combina mesmo muito mais é com o povo da ‘Óia’ e daquele jornal que quer porque quer encontrar um sinalzinho de que Dilma era chefe de bando de cangaceiros. Ô gentinha, viu Pedro! Olha as companhias meu filho! Já disse que tu pagas pelas más companhias. Claro, pois compra tanto a revista quanto o jornal. Eu, hein? Faz tempo que não folheio nem uma e nem outro... 
 
Para Presidente do Brasil Ibop aponta dilma Roussef

Estela, com a bandeja na mão, ria que se engasgava, tentando falar, quando por fim conseguiu: “Lembra do que eu te falei Pedro? Dilma foi quentura. Fritou os caras. Fritou não, esturricou! Botou aqueles marmanjos no devido lugar quando bateu o martelo, direta e certeira, esfacelando o suposto Blocão: ‘As indicações para as pastas que considero de Estado serão exclusivamente minhas’. Achei foi bom. E foi pouco! O Blocão era uma articulação política com vistas à chantagem! Que falta de desconfiômetro, eu hein? Com amigos assim quem precisa de inimigo?
Dona Lô gargalhava gostosamente e, olhando para o marido da afilhada, não se conteve: “E demonstrou o esperado do estilo dela: osso duro de roer. Ou não foi Pedro? Não vão roer não! Ficou a lição pra quem duvidava quem mandaria no governo Dilma. Será ela! Só tenho uma preocupação: a presença das mulheres no primeiro escalão do governo. Pra mim Dilma deveria ter ido pelo caminho da paridade de gênero, você não acha?
– Dindinha, não é fácil. Nem assessoria feminista ela tem. Pelo menos não é público que tenha. Portanto, paridade de gênero nem a fórceps!
– Mas não posso deixar de constatar que ela bateu fofo na paridade de gênero no primeiro escalão. Poderia ter ousado, pelo menos no discurso, minha rosa! Não usou ousar! Esse negócio que falam por aí que ela quer 1/3 do ministério de mulheres, é “mincho, mincho”. Michelle Bachelet, a primeira presidenta chilena (2006), que nem era feminista de carterinha, tascou a paridade de gênero em sua primeira composição ministerial: dez ministros e dez ministras! E explicou que assim cumpria seu compromisso com os direitos das chilenas à paridade de gênero no poder. Foi raçuda, pois foi o primeiro governo do mundo a fazer dessa maneira. Fez bonito pra cacete! Acho que Dilma pode ficar mal na foto. Vai justificar como por que não adotou um ministério paritário, depois de Michelle Bachelet ter provado que é possível?

Michelle Bachelet
– ...
– Pois bem. Ela precisa pensar. E muito. Há tempo. Bem curto, é certo. Mas que há, há! A atitude de Michelle Bachelet marcou tanto que na hora da criação da ONU-Mulher, agora recentemente em 2010, ela se tornou imbatível para chefiá-la e a assumiu em 14 de setembro passado.
Espantado, Pedro, levantando-se da cadeira, indagou: “ONU-Mulher?”
Impaciente Dona Lô não se fez de rogada: “Sim, Pedro! Uma nova agência da ONU, com a finalidade de melhorar as condições de vida das mulheres e buscar a igualdade de gênero. Ela foi composta por outros órgãos que já existiam que cuidavam do tema mulher: o Fundo da ONU para o Desenvolvimento da Mulher (Unifem); a Divisão da ONU para o Avanço da Mulher’; o Instituto Internacional de Pesquisas e Capacitação para a Promoção da Mulher (Instraw, na sigla em inglês)’; e o Escritório do Assessor Especial para Assuntos do Gênero (Osagi, na sigla em inglês)”.

Mestre Vitalino
– Ô Dindinha o negócio é o seguinte: Dilma se quiser enfrentar as barreiras de gênero ao seu governo, que serão zilhões, das descobertas às camufladas, precisa botar a massa cinzenta em ação... Primeiro, esquecer os machos palpiteiros, a começar pelos 3 porquinhos, que de certeza serão do contra, ou no mínimo grunirão muitos poréns... E, segundo, adotar o lema da paridade de gênero na política e no governo como essencial para a democracia. Martelar nisso. Ancorada no discurso e na prática da paridade de gênero ela já garante ter ao seu lado, de saída, metade da população, as mulheres. São favas contadas. Será que ela vai querer perdê-las?

Michelle Bachelet
– Que diacho de linguajar é esse de paridade de gênero pra ministérios?
– Olhe Estela, minha conversa com esse seu marido chegou no limite. Como pode ser marido da Estela e nem saber os conceitos que são elementos de trabalho de sua mulher?
– Ora Dona Lô, a socióloga feminista da família é ela. Por que eu teria de saber?
– Pra dar conta de conversar com ela, meu filho! Que coisa! Casamento não é só cama, não! Vez por outra é preciso abrir a boca pra conversar também... Chega de arengar, vamos ao trabalho, esse doce tem de sair. E aí Estela, como vai o almoço? 
            – Tá no jeito. Estamos fazendo uma comidinha boa.
– A de sempre: maria-isabel, não é? De carne seca ou de carne de sol?
– É! Alguma coisa contra, senhor lesado? Aqui na casa da Dindinha nós preservamos as tradições familiares. Tia Donana sempre fez maria-isabel de carne seca e salada de tomate com alface na Festa da Goiabada. E todo mundo não só gosta como espera comer maria-isabel nesse dia. É ou não é, Gracinha?
             Gracinha apenas balançou a cabeça afirmativamente. Cesinha, que prestava atenção a tudo, aproveitou que a conversa saiu de entre os três – Dona Lô, Pedro e Estela – foi logo se metendo:
– Doutora Estela, pucardiquê o Dia da Imaculada Conceição de Maria, o 8 de dezembro, é dia santo de preceito?
– Ih, responda logo Estela que esse aí veio do goiabal até aqui fazendo essa pergunta...
– E daí?
– E daí que não respondi. É que não sei mesmo. Não sei essas coisas dos troncos do catolicismo. Só sei o suficiente pra ajudar a fazer essa festa de mamãe, que tem de ser feita. Ela fez a vida toda e o povo espera que eu faça também. Até gosto. Acho bonito. Só não gosto do padreco, quer ser mais realista que o rei! Mas acabo tendo de engolir por causa da festa. Toda vida teve missa, desde o tempo em que os padres faziam desobrigas. Uma das paradas era aqui. Sempre no dia 8 de dezembro. Então...
Dona Lô decidiu contar a conversa que teve com Cesinha.
– Dona Lô pucardiquê o Dia da Imaculada Conceição de Maria, ou como é mais chamado Dia de Nossa Senhora da Conceição, o 8 de dezembro, é dia santo de preceito?
– Cesinha, tu és um perguntador de marca maior, bem que mamãe pediu que eu tivesse paciência contigo... Ela estava absolutamente certa. Afe! É preciso paciência de Jó! Tu não te cansas de tanta perguntação besta, não?
– ...
– O que foi Cesinha que tá me olhando atravessado, oxente?!
– Tô aqui pensando no quanto Donana era engraçada.
– Purcardiquê?
– Pucardiquê ela também me pediu a mesma coisa...
– Como assim?
– Que eu tivesse muita paciência com a senhora, principalmente quando a gente fosse fazer a festa da capela. Ela dizia que a senhora era...
– Era o que Cesinha?
–...
– Marrapá, diga!
– He-re-ge... Pra Donana a festa da Imaculada começava com a colheita da goiaba de novembro. Então, era pra gente ir lhe ensinando os costumes da festa da capela, que era pra ela não se acabar nunca, nunquinha...
– Ah, e fooooooi?
– Pois foi...
– E o que mais que aquela velha danada lhe falou a meu respeito, hein?
E ambos riram.




 Enquanto ouvia Dona Lô relatar a conversa que tiveram quando voltavam do goiabal, que ficava nos fundos da casa, Cesinha rememorava que empurrava um carinho de mão cheio de baldes de goiaba, que seriam os primeiros a ocupar a turma das descascadoras. Mas ele sabia que ainda teria umas cinco viagens carregando goiaba. Eita mulheres fominhas, parecendo o povo da Seca de XV, pois não deixavam sequer uma goiabinha madura nos pés!
A trabalheira festiva era organizada em 4 turmas: a da coleta das goiabas; a que lavava, descascava, cortava as goiabas ao meio e retirava, com uma colher, o miolo com as sementes, deixando só as duas cuias para o doce em calda, que também pesava as goiabas; as que passavam o miolo na peneira e preparavam a massa; e as 3 duplas de “tacheiras”, que faziam, respectivamente, a goiabada cascão, a goiabada em calda e a geléia de goiaba, as três especialidades que surgiam no fim de um dia de alegria e trabalho. Tudo feito no fogão de lenha e no tacho de cobre, que garante que a goiaba fique bem vermelhinha e brilhante.
Estela resolveu saciar a curiosidade daquele garoto esperto: “Ora Júlio César, Dia Santo de preceito é aquele em que os católicos guardam, como se fosse um feriado. Você não aprendeu no catecismo, pois eu aprendi, que é preciso guardar dias santos?”
“Viiiixe Maria, de todos os santos? É muito, não?” Ponderou Cesinha.
– Claro, nem de todos os santos. Mas a Igreja Católica fixou alguns que, dependendo do país, é feriado ou não. Por exemplo, no Brasil, temos quatro que são feriados: a Solenidade da Santíssima Mãe de Deus, em 1º. de janeiro; o Dia de Corpus Christi, em data móvel; o Dia da Imaculada Conceição de Maria, em 8 de dezembro; e o Natal, em 25 de dezembro.
Gracinha disse que do que se lembrava nos tempos antigos os “dias de guarda” eram muitos.
– Verdade Gracinha. Mas alguns dias de santos nunca foram feriados. Só os de patentes mais altas. Mas não perguntem por que há santos de alta e de baixa patente, pois não sei responder. As outras quatro datas que não são feriados no Brasil têm suas solenidades transferidas para o domingo seguinte à data. Isso porque é exigido dos católicos que “guardem” a data. Não sendo feriado, comemora-se no domingo seguinte. São elas: a Solenidade da Epifania do Senhor, que era em 6 de janeiro; a Ascensão do Senhor, que antigamente era na primeira quinta-feira seguinte aos 40 dias depois da Páscoa; a Assunção de Maria, que era em 15 de agosto; e o Dia de Todos os Santos, que todo mundo ainda acha que é no dia 1º de novembro. E não é! Passou para o primeiro domingo de novembro.
– Então “guardar” é não trabalhar naquela data?
– É, Cesinha! Mas não só, tem de ir à Igreja, rezar, fazer qualquer coisa em homenagem a Deus, e aos santos também, assim como fazemos no 8 de dezembro. Falando nisso, ô Dindinha, como estão os preparativos?
– Nos trinques. Com Memélia à frente, que agora é tesoureira da capela. Novena, seguida de ladainha, prevista pra começar dia 30 de novembro até o 7 de dezembro, data do levantamento do mastro, da procissão, à tarde; e do arraial, com barraquinhas de tudo quanto é tranqueira, na noite do dia 7, que prossegue durante o dia todo no último dia da festa, no largo da capela. Aquelas “coiseiras” de sempre, desde leilão. Olhe Memélia alí, pergunte mais a ela.
Memélia, que se aproximava, disse que ouvira tudo e só tinha a acrescentar que havia uma novidade, que era a decisão de haver um local para os romeiros terem onde armar uma redinha pro descanso, com um quarto de guardar as coisas de cada um; e que decidiram fazer uma coberta de palha, tipo um galpão, no terreno ao lado da capela, numa distância que desse pra aproveitar também os banheiros que Dona Lô fizera no ano passado.    
– Mas não é pra ser dado de graça, não! Vamos cobrar pelo pernoite e pela guarda dos teréns dessa gente. Mais um dinheirinho pra santa, né não?
– E você acha que tem freguesia pra isso Memélia?
– Ora se tem! Minha filha, aqui desde a noite do último da novena, começa a entupir de gente. Lugar de dormir por essas bandas, só tem a pensão, que é pequena e nem cabe muita gente, e o cabaré de Lalá, o Peixeira no Bucho, que só vai homem dormir com mulher, pois não? Entonce, freguesia vamos ter. Já soltamos aviso pra tudo quanto é lado. Vamos dividir o galpão, dum lado dorme homem; e do outro, mulher. Vai ter lugar para armar pra mais de duzentas redes. Isso é um melhoramento grande demais pra nossa festa e um conforto pros romeiros. É preciso, né "mermo"? Nossa festa é afamada.
Estela, que estava prestando bastante atenção, indagou: “E não tem problema que a festa aconteça no meio da semana, não? Por exemplo, esse ano o dia 8 cai numa quinta-feira...”
– Não, pois o 8 de dezembro é feriado. Então o povo daqui das redondezas vem na véspera, que é pra pegar as missas, que são três: a das seis horas da manhã; a das oito e a das dez, que é quando são feitos os batizados e os casamentos. Muita gente prefere a assistir a missa das seis ou das oito, que demoram menos, pois são sem batizados e sem casamentos.
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Mestre Vitalino
Dona Lô e Gracinha estavam na fazenda há três dias preparando as coisas para uma festança no sábado. Na sexta-feira à noite chegou sua afilhada Estela, com o marido e os três filhos à tiracolo, e ainda Cesinha na rabichola, que não perdiam a Goiabada de Novembro por nada no mundo. Chegaram soltando foguete, um antigo costume do pai de Dona Lô, do tempo em que as estradas eram ruins, para avisar que estava chegando em casa. 
A Goiabada de Novembro, nada mais é do que um ajuntamento de mulheres do povoado para a última colheita de goiaba do ano, ocasião em que fazem doces de goiaba para as festas da capela, do Dia do Nascimento (Dia de Natal) e do Dia de Ano (Ano-Novo). Mais uma das tradições que Dona Lô herdou de sua mãe Donana.
Na região era o único lugar onde havia “goiaba antes do tempo”, como dizia o povo. É sabido que a colheita normal de goiaba por essas bandas começa em janeiro e vai até abril, mas na “Matinha de Dona Lô” – nome dado por seu pai, que desde criança a chamava de Dona Lô – havia um imenso goiabal nativo, que começa a frutificar em meados de novembro, desde quando Donana implantou o procedimento de poda das goiabeiras em diferentes épocas, há muitos e muitos anos. Atualmente o goiabal é uma das fontes de renda da Fazenda Matinha de Dona Lô, cuidado segundo os cânones agronômicos.  


Escutemos Mãe Zefinha, a mais velha parteira do lugar: “Desde a primeira vez que deu goiaba em novembro, faz tanto tempo que nem me ‘arrecordo’ bem, causou tanta admiração que Donana pegou toda a mulherzada amiga dela da Chapada do Arapari pra fazer doce na Matinha. Era uma farra; vinha mulher, criança e cachorro de tudo quanto é lado; parecia uma procissão na estrada. Tudinho ‘de a pés’; quando muito se ‘botava’ os ‘mais pequenos’ no carro de boi de Seu Zé de Dona Toinha, que  levava os ’teréns’ de todo mundo. Aí virou costume! Dona Lô também faz a mesma coisa todo ano”.
Dona Toinha ainda se lembra que na Matinha havia até a pessoa encarregada de fazer o “dicumé” da cachorrada, já que os cachorros acompanhavam a comitiva das doceiras. E que nunca viu gente gostar tanto de cachorro como aqui na Chapada do Arapari, até parece que em cada casa há no mínimo um. Acrescentou que depois que fizeram a estrada boa, todo mundo vai de carro e os cachorros não acompanham mais.
Depois de beber duas cervejas “véu de noiva”, acompanhada por Estela e Pedro, Dona Lô parecia cochilar em sua cadeira de balanço. Ouviu Estela dizer: “Gente, vamos saindo. Ela precisa repousar agora porque hoje ela não terá sossego enquanto os doces não estiverem prontos. Pedro, vamos ao bananal escolher as folhas de bananeira para forrar as caixinhas de madeira da goiabada cascão, né mesmo?  Vamos prepará-las agora para dar tempo delas murcharem bem antes de receberem o doce”.
Dona Lô em seu cochilo maquinava como não dar de cara com o padre durante os festejos. Ah, vou inventar que estou com gota! Uma gota daquelas serenas, que me impede de andar... Riu só de pensar na artimanha que preparava.
Tudo pra não cruzar com o padre! Estava dando um boi pra não entrar naquela briga, porque se entrasse, daria uma boiada para não sair. Como disse rindo às suas amigas: “Agora não era hora de se dar boi pra Seu Ninguém, que carne subiu de preço”. Pra quem compra é uma lástima, mas pra quem labuta criando, é o sétimo céu, ela bem sabia!
“Quero que todo mundo veja e saiba que estou insatisfeita. Mas que sou mulher de palavra! Não deixo a peteca cair e no que dependeu de mim, a festa saiu! Só de birra no dia do encerramento dos festejos vou sentar na calçada de minha casa desde bem cedo. E de lá apreciarei o movimento até quando tocaram os foguetes para o último casal de noivo que sair da capela”.
Ai, ai... Cochilinho bom e gostooooso! Hora de descansar o esqueleto, Lô! Parece que sua mãe está ali em sua frente... “Tai mamãe, só canseira alegre que você me deixou, não foi? Quem disse que festa não cansa, hein?” Acabando os festejos da santa quero dormir dias inteiriços até negociar a porcada. Natal vem aí! Outra canseira. Viiiixe, depois vem Brasília. Um puxadão. Tudo grudadinho um no outro... Mas a posse de Dilma não vou perder, mesmo! Ver ao vivo Dilma receber a faixa presidencial, não há quem pague...

.. tacho de cobre com capacidade para 200 litros de leite!! Bichinho ..
Foto de André Luís Vieira


ARROZ DE MARIA ISABEL DE CARNE SECA

Ingredientes
1 Kg de arroz
1 Kg de carne seca gorda, dessalgada e cortada em pequenos cubos
4 dentes de alho
1 cebola, óleo, pimenta-do-reino e cheiro verde

Modo de fazer
Refogar e dourar a carne seca com alho e cebola. Depois que estiver cozida, coloca-se o arroz misturando bastante com os temperos e a carne, acrescentando-se em seguida a água quente e a pimenta de cheiro cortada ao meio. Abafa-se a panela e aguarda-se um pouco, até que o arroz fique solto.



ARROZ MARIA ISABEL DE CARNE DE SOL

Ingredientes
1 Kg de carne de sol gorda, dessalgada cortada em pequenos cubos
1 xícara (chá) de toucinho de fumeiro, cortado em cubos
1 Kg de arroz
4 dentes de alho
2 cebolas médias
3 tomates maduros
1/2 xícara (chá) de óleo
1 pitada de louro em pó
1 colher (chá) de cominho moído
Pimenta-de-cheiro, cheiro verde a gosto
2 colheres (sopa) de manteiga de garrafa

Modo de fazer
Afervente a carne, depois de dessalgada, para amolecer um pouco. Escorra.
Em uma panela grande aqueça o óleo e frite ligeiramente a carne e o toucinho de fumeiro. Tempere com o louro, o cominho, o alho e a cebola picada.
Continue refogando até que a cebola esteja alourada.
Acrescente os tomates, a pimenta de cheiro e o arroz, previamente lavado, escorrido e seco. Refogue tudo muito bem e adicione água fervente suficiente para cobrir o arroz.
Retifique o sal se precisar, tampe a panela, abaixe o fogo e cozinhe até o arroz ficar macio e úmido. Retire do fogo, junte a manteiga de garrafa, polvilhe o cheiro verde picadinho, misture e transfira para o prato de serviço de preferência de barro ou cerâmica. Sirva em seguida.
Refogar e dourar a carne seca no óleo com alho e cebola. Frite separadamente o toucinho de fumeiro. Acrescentar o louro e o cominho. Deixe cozinhar.
Depois de cozida, acrescente os tomates picados, a pimenta de cheiro e o arroz, previamente lavado, escorrido e seco. Refogue tudo muito bem e adicione água fervente suficiente para cobrir o arroz e misture bem. Acrescentar água quente suficiente para cobrir o arroz  Retificar o sal se precisar.
Retire do fogo, junte a manteiga de garrafa, polvilhe o cheiro verde picadinho, misture e transfira para um prato, preferencialmente de barro ou de cerâmica. Sirva em seguida.

 



COMPOTA DE GOIABA

Ingredientes
1 Kg de goiaba vermelhas maduras
½ Kg de açúcar
2 xícaras de água
10 cravos-da-índia

Modo de fazer
Descasque as goiabas, corte-as ao meio e elimine as sementes.
Reserve.
Coloque em uma panela a água e o açúcar, leve à fervura até obter um ponto de fio.
Adicione as goiabas e os cravos-da-índia e cozinhe em fogo baixo até que as goiabas estejam macias.
Retire-as com uma escumadeira e coloque em uma compoteira.
Continue cozinhando a calda até o ponto desejado.
Quanto mais reduzida a calda mais doce ficará a compota.
Despeje a calda sobre as goiabas e deixe esfriar.
Guarde na geladeira.


GELEIA DE GOIABA

Ingredientes
1 Kg de massa de goiaba
½ Kg de açúcar

Modo de fazer
1. Para obter a massa de goiaba, bata as goiabas inteiras, ou as cascas e caroços, no liquidificador e passe na peneira ou coador grosso.
2. Misture o açúcar e leve ao fogo brando, mexendo sem parar até ficar no ponto
3. Deixe esfriar na panela e acondicione em vidros
Para
saber se já esta no ponto, pingue um pouco da geléia num pires “gelado” e observe a geleia não deve escorrer e ao ser tocada com o dedo a superfície dela deve “enrugar”.
* Para fazer esta geleia pode-se usar a goiaba inteira ou aproveitar as cascas e caroços que sobraram do preparo da goiabada e da compota

GOIABADA CASCÃO

Ingredientes
1 Kg de goiabas vermelhas (maduras, pesadas com casca)
600g de açúcar cristal

Modo de fazer
1. Abra as goiabas ao meio, conservando as cascas. Retire e reserve as sementes.
2. Coloque as goiabas em uma balança. O peso deve ser de um quilo.
3. Em seguida, lave-as e deixe-as escorrer.
4. Passe as sementes numa peneira e aperte bem, para sair toda a polpa. Descarte as sementes.
5. Num tacho de cobre junte as goiabas, o açúcar e a polpa passada pela peneira.
6. Leve ao fogo forte, mexendo de vez em quando com uma colher
de pau, durante os primeiros minutos.
7. À medida que a goiaba vai amolecendo e destilando, vá
passando a colher de pau, sem parar, no fundo do tacho, para não  grudar, sempre em fogo forte.
8. Continue mexendo por uns 30 a 40 minutos, aproximadamente, até dar o ponto, o que acontece quando o doce começa a ganhar consistência, ficando bem grosso e soltando do fundo do tacho.
9. Passe o doce de goiaba para um recipiente e deixe esfriar.
Esse é o ponto de se comer com colher.


GOIABADA CASCÃO

Ingredientes
6 Kg de goiaba
3 Kg de açúcar

Modo de fazer
Lavar bem as goiabas e retirar os pontinhos pretos. O doce é feito apenas com a casca da goiaba. Colocar na panela as cascas e todo o açúcar. Mexer sempre. São 2 horas de fervura em fogo baixo. Depois de 4 horas a massa fica consistente.
Fazer o teste para saber o ponto. Colocar um pouquinho do doce na água, retirar em seguida e tente fazer uma bolinha consistente. Deixar o doce esfriar e está pronto.


GOIABADA CASCÃO TÍPICA

Ingredientes
3 Kg de goiaba bem maduras
2 Kg de açúcar
Manteiga para untar

Modo de fazer
Corte a goiaba ao meio e tire as sementes.
Passe as sementes numa peneira e reserve a polpa.
Corte as goiabas com casca em pedaços menores ou passe no moedor.
Coloque a polpa e a goiaba numa panela grande com o açúcar.
Misture bem e cozinhe em fogo brando, mexendo de vez em quando até soltar do fundo da panela.
A goiabada estará no ponto, quando você colocar uma faca molhada no doce e a mesma sair limpa.
Retire do fogo e bata um pouco com uma colher de pau (cerca de 5 minutos).
Despeje a goiabada em 2  formas forradas com papel alumínio untado.
Deixe esfriar e desenforme.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A dona Lô que aparece em meus escritos da Chapada do Arapari

Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com.br


Era irmã do meu avô Braulino uma tia muito querida, a tia Lô, que me chamava de "Fátia". Era uma sendeira "quieta" - mulher separada do marido que não tem homem. Era uma Bodô (nome do pai dela), mulher de respeito, sem filhos, mas criou a Maria das Graças e o Dé, vaqueiro do meu avô; e eu era uma espécie de adoração dela.
Na casa da tia Lô, havia um copo de alumínio, um prato esmaltado, uma colher e um talher de metal que só eu podia usar. Ai, ai de quem "bulisse" neles, pois tia Lô não deixava e ainda alfinetava: "Não bole nas coisas da Fátia que ali é menina puro entojo!". Naquele tempo, usava-se colheres de cobre, lindamente amareladas, da cor de ouro, mas elas azinhavravam. Eu as odiava, pois, quando não bem lavadas e esfregadas na areia de tabatinga, davam um gosto ruim à comida. Como ela morava na fazenda do meu avô, bem perto do curral, ficava em sua casa também um "copo de asa" (de alumínio) para beber leite mungido, que era só meu.
Eu adorava a comida da tia Lô e nas férias zanzava muito na casa dela. Era costume, em casa de muitas crianças, a comida ser servida numa bacia grande; uma colher pra cada uma, que comiam ali, sentadinhas no chão forrado com uma esteira de palha de palmeira de coco babaçu. Ela fazia assim com os netos, os filhos do Dé, que naquela época eram uns quatro. Mas eu não comia daquele jeito em minha casa. Então, ela fazia o meu prato e o colocava na mesa. De vez em quando, o Rompe-ferro, um cachorro do meu avô, avançava na bacia e devorava a comida das crianças! Pense na choradeira...
Era adolescente quando ela morreu em meus braços. Ela é uma doce e inspiradora recordação. Tia Lali, do meu livro "Reencontros na Travessia: a tradição das carpideiras", é a sua imagem. Ainda sob sua inspiração, criei a dona Lô, em "Tá lubrinando - Escritos da chapada do Arapari", um blog literário: um ponto de publicação de "coisas" escritas em momentos de grandes inspirações, pois a chapada do Arapari é um lugar que existe, mas, ao mesmo tempo, é meu imaginário... http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogspot.com
Nunca desejei ter um blog e resistia, apesar das cobranças de muita gente que não entendia como uma escritora e livre-pensadora com produção intelectual enorme e intensa não mantivesse um, nem que fosse para ser depositário de crônicas, artigos e ensaios de minha autoria - exatamente uma característica que jamais me fascinou.
Todavia, durante a campanha das últimas eleições presidenciais, aprendi que é vital saber "dar o pulo do gato" para ocupar possíveis vazios da política, dada a receptividade de dois textos meus - "especiais" para o "Viomundo", o popular "blog do Azenha", cujo editor é o jornalista Luiz Carlos Azenha - que dialogavam com um momento político misógino, por haver uma mulher libertária candidata à Presidência da República. Ali foi forte a percepção de que uma presidente com a feição política de Dilma não pode prescindir de demonstrações de apreço das mulheres em luta.
              Tia Lô, que "mandava em sua semana", dizendo que mulher que dá conta de si pode tudo, explodiu em minha memória com sua graça. Sem dúvida, ela seria uma dilmista juramentada. Assim, surgiu o "Tá Lubrinando - Escritos da chapada do Arapari", como um espaço literário de ficção, abrilhantado por dona Lô, que apareceu no episódio "Dona Lô vai a Brasília" colocando na platibanda de sua casa a faixa: "Eu sou é Lula até debaixo d'água! Viva Dilma Rousseff, a primeira presidenta do Brasil!".




O Pé-Duro é o primeiro animal a ser reconhecido como patrimônio cultural
O Pé-Duro é o primeiro animal a ser reconhecido como patrimônio cultural
O Pé-Duro e o vaqueiro fazem parte do universo cultural ligado à caatinga
O Pé-Duro e o vaqueiro fazem parte do universo cultural ligado à caatinga

Gado Pé-Duro vira patrimônio cultural do Piauí



Vacas mestiças EMBRAPA-Brasil

Publicado em O TEMPO, em 26.11.2010
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=13519

* Foto de Graça Aranha extraída de: Maranhão Notícias
http://maranhaonoticias.zip.net/
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CIDADE DE GRAÇA ARANHA

Primitivamente, seu topônimo era Centro dos Periquitos [que muitos chamavam de Centro do "Priquitos" ou Baixão dos "Priquitos"*], entretanto, com a vinda do padre Eurico Bogéia para celebrar a 1º missa, faz-se uma plebiscito para alteração do nome, cujo resultado foi favorável, procedendo-se, de imediato, a modificação para Palestina.
O cearense Francisco Alves de Oliveira ao se fixar no território, ali encontrou alguns moradores, pioneiros do povoamento que trabalhavam na lavoura, tendo os mesmos informado que localizaram vestígios da presença dos silvícolas na região, sem saberem, contudo, para onde emigraram.
A povoação cresceu bastante, passando a despertar o interesse dos políticos que começaram a pensar na sua emancipação. Tanto é que, em 1959, pela lei nº 06, de 10 de outubro, foi elevado à categoria de município, com o nome de Graça Aranha, desmembrado de São Domingos do Maranhão.


O município recebeu o topônimo de Graça Aranha, em homenagem ao grande poeta maranhense, nascido em São Luís a 20 de julho de 1868. Bacharelando-se aos 18 anos, foi romancista, dramaturgo, jornalista e diplomata e fez parte da Academia no Rio de Janeiro, a 26 de janeiro de 1931.

Formação administrativa
Elevado à categoria de município com a denominação de Graça Aranha, pela lei estadual nº 6, de 10-10-1959, desmembrado de São Domingos do Maranhão. Sede no atual distrito de Graça Aranha ex-povoado. Constituído do distrito sede. Instalado em 18-11-1962.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.
Gentílico: graçaranhense
Aniversário da Cidade: 10 de Outubro

História da cidade
Em 1944, quando ainda estava sob a jurisdição de Caxias, a atual sede do município de Graça Aranha era conhecida como Centro dos Periquitos, em razão da numerosa presença dessas aves nas matas em sua volta. Mais tarde, provavelmente incentivados pelo Padre Eurico Bogéa, seus moradores realizaram plebiscito com vistas à escolha de um novo topônimo, sendo mais sufragado o de Palestina, que lembrava a Terra Santa, enquanto o anterior podia ser interpretado com duplo sentido*. Posteriormente subordinado a Presidente Dutra e São Domingos do Maranhão, tornou-se município a 10 de outubro de 1959, pela Lei Nº 6, com o nome de Graça Aranha, sugerido pelo deputado Manoel de Oliveira Gomes.


* "Priquito" em linguagem chula no Maranhão significa vagina

Atualizado às 12:25 de 23.11.2010