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terça-feira, 29 de setembro de 2015

O dalai-lama é uma superlua em eclipse total definitivo

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Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Conheci o dalai-lama em 1992, no salão nobre da Prefeitura de São Paulo, convidado da prefeita Luiza Erundina – à época, eu era coordenadora de saúde da Coordenadoria Especial da Mulher da prefeitura, cuja sede era no parque do Ibirapuera.
Foi uma solenidade encantadora e marcante como só Clara Charf, que chefiava as relações internacionais, é capaz de fazer: uma recepção impecável para um líder religioso e um Prêmio Nobel da Paz (1989).



         O dalai-lama exala simpatia, simplicidade e tem uma imponência ímpar e indescritível: olha nos olhos, sorri por inteiro, e a gente se sente especial por estar em sua presença.


Resultado de imagem para Dalai Lama   o papa francisco  Apenas à guisa de breve comparação entre dois chefes de duas diferentes religiões patriarcais. O papa Francisco, que virou xodó de meio mundo e que tenta imitar o carisma do dalai-lama, quando sorri, parece o ser humano terreno que é; já o dalai-lama possui aura divinal que espraia ternura.
            Depois de ter recebido um sorriso “olhos nos olhos” naquela tarde em Sampa, busquei conhecê-lo mais. Aprendi que “dalai-lama é o título de uma linhagem de líderes religiosos da escola Gelug do budismo tibetano, tratando-se de um monge e lama, reconhecido por todas as escolas do budismo tibetano”.


 (O 14° dalai-lama, considerado a reencarnação de Buda, é fotografado quando criança, em data não conhecida)


            E mais: “Tenzin Gyatso, Sua Santidade o 14º dalai-lama, nasceu em 6 de julho de 1935, numa família de camponeses da pequena vila de Taktser, na província de Amdo, nordeste do Tibete. Seu nome era Lhamo Dhondup até quando, aos 2 anos, Sua Santidade foi reconhecida como sendo a reencarnação de seu predecessor, o 13º dalai-lama, Thubten Gyatso. Os dalai-lamas são tidos como manifestações de avalokiteshvara ou chenrezig, o bodhisattva da compaixão e patrono do Tibete. Um bodhisattva é um ser iluminado que adiou sua entrada no nirvana e escolheu renascer para servir à humanidade” (resenha de “A Arte da Felicidade”, por Bruna Heloísa).
            Anos depois, ganhei o livro “A Arte da Felicidade – Um Manual para a Vida/Um Guia para a Vida”, do dalai-lama em co-autoria com o psiquiatra norte-americano Howard C. Cutler, reconhecido como autoridade mundial em estudos da felicidade. Trata-se de uma longa entrevista e observação do cotidiano do dalai-lama.


  (Howard C. Cutler)


            É uma obra densa e de difícil leitura, que reli várias vezes para entender a ética budista do não julgamento. Em vão. Hoje, considero o dalai-lama um filósofo charmoso. Quando ganhei o livro, já sabia bastante sobre a vida dele, mais do que o suficiente para não cair mais em seus encantos de frases de efeito. É um anticomunista militante 24 horas por dia!

    Para quem não está se lembrando, ele encarna o Tibete, para alguns, independente até 1959, quando foi anexado à China pelo líder comunista Mao Tse-Tung. Todavia, desde o século XVII é território chinês! O dalai-lama se exilou na Índia, onde vive desde 1959, e tem o Tibete livre como a sua principal causa política, com apoio incondicional dos Estados Unidos, que, como muitos afirmam, bancam suas despesas, públicas e clandestinas!


(Palácio de Potala, em Lhasa, no Tibete - Atualmente é um museu estadual da China.  Foi a principal residência do Dalai Lama, até que o 14º dalai-lama fugiu para Dharamsala, Índia)


  (O Mosteiro Namgyal, em Dharamsala, Índia, próximo à residência do dalai-lama)


    Resultado de imagem para Dalai lama no festival de música de Glastonbury, na Inglaterra       De modo que, embora saiba que o dalai-lama já tenha alardeado para os quatro costados do mundo que é feminista, não recebi com surpresa a declaração sem noção e machista dele no festival de música de Glastonbury, na Inglaterra, em junho passado, quando questionado se sua sucessora poderia ser uma mulher. Respondeu: “Há muitos problemas no mundo de hoje – é um mundo problemático. Penso que as mulheres devem assumir um papel mais importante. Se vier um dalai-lama mulher, seu rosto deveria ser muito atraente, senão não seria de muito uso”. Quer dizer: um biscuit! Sem mais palavras...


 hhhh
PUBLICADO EM 29.09.15
Brasília -Superlua e eclipse total ocorrem ao mesmo tempo, o fenômeno conhecido como 'Lua de sangue', é observado na praça dos três poderes na capital federal (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)  FONTE: OTEMPO

 
Dalai Lama ou dalai-lama?
Por Laércio Lutibergue

De acordo com os dicionários, escreve-se “dalai-lama”, com hífen e iniciais minúsculas. O plural é “dalai-lamas”.
"Dalai-lama" é o título dado ao chefe espiritual do budismo tibetano. Formada por “dalai”, “oceano” em mongol, e por “lama”, “guru” em tibetano, a palavra significa “oceano de sabedoria”.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Bebês sob encomenda: o caso Payton Cramblett Zinkon

12  (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Jennifer Cramblett e Amanda Zinkon são casadas e residem em Uniontown, cidade com cerca de 3.000 habitantes, dos quais 98% são brancos, no Condado de Stark, Ohio (EUA). Há três anos decidiram ter filhos. Em setembro de 2011 foram ao Midwest Sperm Bank, em Grove Downers, em Ohio, e compraram seis frascos de esperma do doador escolhido por elas: branco, olhos azuis e cabelos louros. Era o lote de número 380.
Jennifer foi inseminada em uma clínica em dezembro de 2011 e no Natal já comemorou a gravidez. Em abril de 2012 decidiram que Amanda deveria engravidar também. Encomendaram oito frascos do doador 380: queriam gerar irmãos biológicos por parte de pai.


Jennifer Cramblett's lawsuit alleging wrongful birth and breach of warranty against Midwest Sperm Bank was dismissed on Thursday (Cramblett pictured with her three-year-old daughter, Peyton)A judge told her she could refile her lawsuit under a negligence claim (Amanda Zinkon pictured with their daughter, Peyton)
 (Jennifer Cramblett,  Amanda Zinkon e a filha  Payton Cramblett Zinkon)


Foram surpreendidas pelo comunicado de um “engano” no banco de esperma! Consta no processo judicial: “O erro ocorreu porque o banco de esperma mantém escrita à mão em vez de registros eletrônicos. Um funcionário da clínica fez confusão e utilizou o frasco número 330”, cujo doador é um afro-americano!
O Midwest Sperm Bank enviou uma carta pedindo desculpas e anexou “um cheque correspondente ao reembolso para os seis frascos de esperma incorretos enviados em setembro de 2011”! O advogado de Jennifer é taxativo: “Eles cometeram um erro que um banco de esperma não pode cometer. Ela não estava pedindo uma pizza”.


Cramblett also said that she was raised around stereotypical attitudes toward minorities and that she has 'limited cultural competency' with African-Americans  “Em 21 de agosto de 2012, Jennifer deu à luz Payton, uma bela, e obviamente mestiça, ‘baby girl’”. Como não recebeu corretamente o que comprou e pagou, um bebê branco e louro, a mãe está processando o banco de esperma. Ressalta que ama muito a filha, mas está cobrando os danos morais (violação de garantia) porque “vive cada dia com medos, ansiedades e incertezas sobre o seu futuro e o de Payton”.


Resultado de imagem para Payton Cramblett Zinkon    Um exemplo das dificuldades arroladas por Jennifer de ter uma filha negra é que “até mesmo o corte de cabelo da filha é algo não muito fácil de ser feito, já que deve ir até um salão de beleza de um bairro onde vivem mais pessoas negras, e não se sente bem-vinda no local”.


In a lawsuit filed last year, Cramblett said Midwest Sperm Bank sent her several vials of a black man's sperm by mistake because the clinic keeps paper records and accidentally transposed numbers on her order     Na justificativa do processo a mãe informa que antes de ir para a universidade “nunca tinha tido contato com pessoas negras”, que ela e a filha sofrem preconceitos dos intolerantes habitantes de Uniontown (98% de brancos) e que o grande temor do casal é que Payton seja estigmatizada porque será a única criança negra da escola.
Jennifer teme também que Payton seja rejeitada por sua família, que é racista e conservadora em temas morais, pois nunca aceitou o fato de ela ser lésbica. E conclui que sofre ao pensar que o conjunto das circunstâncias possa “ter um efeito negativo sobre a sua filha”. Foi aconselhada por terapeutas que, “para ela e para o bem-estar psicológico da filha, ela deve mudar-se para uma comunidade racialmente diversificada, com boas escolas”.
É um imbróglio em que danos já são incomensuráveis na vida de Payton, cujo enredo dá um “romance triste” sob o signo do racismo, que é o eixo do processo que está sendo movido, embora a mãe não tenha coragem de admitir!


The mother said she loves her daughter (pictured) O caso Payton, que será julgado em 17.12.2015, merece abordagem de múltiplas faces, pois envolve outras questões bioéticas de vulto, além do racismo, pertinentes aos bebês sob encomenda. As Novas Tecnologias Reprodutivas Conceptivas (NTRc), incluindo a inseminação artificial com esperma comprado em balcões de bancos, tornaram obsoletos os bebês feitos em casa e trouxeram problemas com os quais é difícil de lidar e para os quais é complicado emitir juízo de valor.
Como você se sentiria se soubesse que a sua mãe comprou uma briga judicial porque você não é exatamente aquilo que ela desejou e escolheu para a sua aparência?


   PUBLICADO EM 22.09.15
 FONTE: OTEMPO

Fotos extraídas do Boston Newstime

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A jardinagem como terapia e um modo de fazer política

02  (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Não entendo quem não tem uma plantinha para cuidar. A sensação é de aridez ao entrar em uma casa na qual não há nem uma jiboia num vidrinho com água dando um toque de verde, nem sequer onze-horas florindo num vasinho...



A mais remota lembrança que tenho cuidando de plantas ornamentais é de minhas latinhas no saguão da casa da vovó, onde pontificava um caramanchão com uma frondosa videira de uvas roxas – fui criada comendo uvas no médio sertão do Maranhão, lá em Graça Aranha. Um luxo!




Ainda gosto de plantar em latinhas de conservas, até de sardinha, massa de tomate, leite em pó, por aí. Hoje está na moda ter jardim de latas – há uma parede de latinhas em meu jardim; e outra de vasinhos de caixas de leite, de suco e de garrafas PET – lindezas recicladas!


Resultado de imagem para lata de querosene antiga   Uma lata no sertão de minha meninice era uma raridade, a não ser as de querosene, de 20 litros, bem comuns, pois não havia luz elétrica. Nas vendas, entrava-se numa fila para obter uma lata vazia de querosene ou de biscoito. Eu estava na fila de vários quitandeiros, e, quando chegava em casa com uma lata, vovó bradava: “Fátima, olha a água!”. Traduzindo: eu teria de puxar água no poço para minhas plantas. Era assim a vida no sertão: para ter um jardinzinho, o trabalho era pesado!


 [bonsais "Buganvile" (8anos) e romã (6anos)]


Como escrevi em “A filosofia da arte e o valor terapêutico de cuidar do bonsai”: “Não vivo sem um jardinzinho todo meu. É um conforto mental regar minhas plantas. Relaxo, renovo... Ora, como não ter uma planta para cuidar? Eu não consigo. Tê-las é uma terapia, um relax... Na época do modismo das samambaias, cheguei a ter muito mais de 50 xaxins num caramanchão diante da minha casa, de fachada mediterrânea, na Quinta de Ouro, em Imperatriz (MA), sombreados pela trepadeira lágrima-de-cristo. Era um oásis estender a rede debaixo delas e ficar lendo, lendo... até dormir. Pena que aproveitei pouco, pois era uma época em que eu trabalhava demais...


(Lágrima-de-cristo branca e lilás)


“Não gosto de comprar plantas ‘prontas’; o meu prazer é fazer mudas e vê-las crescer, florescer... Não entendo alguém não ter um vasinho em casa! Casa sem plantas é a imagem do deserto. Acho que, de tanto furdunço de plantas em casa, fiquei atônita quando fui pela primeira vez às casas de minhas filhas: nenhum verdinho! Ah, reclamei, pois achei um absurdo! ‘Ah, mãe, aqui é tão minúsculo, e a senhora ainda quer entupir de plantas? Ô mania de roça!’.
“Não é propriamente mania de roça. Por outro lado, é mania sertaneja... E as minhas filhas não são sertanejas... Não sabem quanto as sertanejas correm léguas atrás de qualquer latinha para plantar, ter um pé de ‘fulô’... ‘Mamãe, meus brinquedo/ Meu pé de fulô?/ Meu Deus, meu Deus/ Meu pé de roseira/ Coitado, ele seca...’ (Patativa do Assaré, na voz de Luiz Gonzaga)”(O TEMPO, 8.12.2012).


 
(Fátima Oliveira, Lívia Cristina Oliveira e Rafael C. Barbuto)


Um jardim meu é sempre mutante, porque o meu dom de paisagista é inquieto demais. Amo jardins com plantas antigas, com ares rústicos. Agora, em meu cafofo, estou mexendo mais com suculentas e cactos, dos mini ao mandacaru, e tentando cultivar bonsais, uma paixão!


 (Minibliblioteca Livre/Inacim e Clarinha)

[Heucilleny (sentada), Valnice (blusa branca) e Nívea] 

Pratico jardinagem revolucionária. Criei um jardim em minha rua, quase meio quarteirão – onde era um lixão e fiz uma matinha de girassóis. Virou um oásis, onde há desde uma pérgula de amor-agarradinho e lágrima-de-cristo à Minibiblioteca Livre Inacim & Clarinha – sem falar na recuperação do ecossistema com abelhas, borboletas, beija-flores e uma infinidade de passarinhos, até pipira azul! Não há o que pague ouvir crianças chamando de “pracinha da tia Fátima” e jovens fotografando num lugar tão belo e aconchegante.


 (Fátima Oliveira e Clarinha)  
PUBLICADO EM 15.09.15
 (Kézia)
FONTE:OTEMPO