Visualizações de página do mês passado

quinta-feira, 31 de março de 2011

Fátima Oliveira sofreu o pão que o diabo amassou para defender Alencar como vice



Fátima Oliveira escreveu este artigo, em 2002, “quando quase todo mundo que  se considerava divindade da esquerda, ficava ‘esquesita’ quando se falava no nome de José Alencar para vice de Lula.”
Em 3 de julho de 2002, com o título, “Coisas de Minas: o caminho da perdição”, foi publicado no Caderno Magazine do jornal OTEMPO. Muita gente torceu cara para ela. Sofreu o pão que o diabo amassou. “Só não fui chamada de bonita rsrsrsrs…”, relembra Fátima numa conversa por e-mail. “Não dei pelota!” 
“Só escrevo o que quero. E quando escrevo digo o que penso. Sempre. Foi como está escrito no artigo que compreendi José Alencar vice de Lula”, orgulha-se. “E não me arrependi. Também não errei em minha análise.” (Conceição Lemes)



BH, MG, 3 de julho de 2002
Coisas de Minas: o caminho da perdição
por Fátima Oliveira, em OTEMPO

Compartilho um monólogo imaginário com o senador José Alencar. Ele mesmo, o vice de Lula. O cenário é a lagoa da Pampulha. Fedida, porém bela. Quando estou “pê” da vida, é para lá que vou. Quando estou zen, também. Uma, duas, três voltas respirando Niemeyer, Portinari… arte e beleza. Desconfie de quem não se encanta com a Pampulha. Sempre levo para “dar uma volta na Pampulha” as pessoas que conheço quando vêm a BH. É um lugar de rara beleza, aprazível e ideal para conversas sérias, definitivas.

Antes, vi o governador Itamar, que precisa pedir perdão ao povo mineiro por ter se alinhado a FHC na defesa dos transgênicos. Até entendo sua postura na sucessão, embora não concorde com parte de sua decisão. É burrice duvidar das lendas. Ainda mais das mineiras. Lenda é lenda. E Itamar Franco é uma. Virar lenda não é para qualquer pessoa. Só as especiais viram lenda. Talvez seja sua missão destucanar “Aecinho”. Uma canseira governador, mas conforme Tancredo: “a gente tem a eternidade para descansar”.

Cara a cara com o senador. O que as feministas esperam de um governo que pretende ser nacional, popular e democrático? Respeito. É bom e nós gostamos. Respeito à pluralidade, à diversidade e ao status laico do Estado brasileiro. Não precisa ser um feminista, apenas referendar a milenar luta das mulheres. Exige-se que seja declaradamente anti-racista. O resto a gente toca. E dança. E bem. Somos decididas. Sabemos o que queremos. Não há o quê negociar. Está escrito na Plataforma Política Feminista. Leia-a e reflita sobre ela. Não temos um projeto de futuro a longo prazo a compartilhar com o senador. Nem ilusões. A luta de classes não acabou. Ficou mais complexa e entremeada por gênero, raça e etnia. Compartilhamos o hoje. Explico-me.

Jamais cogitei um dia ser sua eleitora. Prezo muito o meu voto e o entendo como uma arma de altíssima precisão, definidora de futuro, de vida e de felicidade, mas tenho de falar da minha emoção de vê-lo dizer, repetidas vezes, que mesmo se não fosse o vice de Lula votaria nele e faria campanha. Senti firmeza. Comecei a indagar o que faria um homem das elites, apesar do jeitão de homem simples do povo, um rico industrial de Minas, enfrentar seus pares de classe e de um partido dito liberal, contraditoriamente, abrigo de conservadores de diferentes matizes, dos fundamentalistas aos nem tanto?

O que move um homem do seu naipe dizer “estou com Lula”? É pieguice evocar a sua origem humilde. Cá prá nós, pobre é pobre e rico é rico. O bloco PT-PCdoB-PL não é uma fusão, mas uma aliança que envolve interesses de classes contraditórios (povo versus podres de ricos), logo é pontual e conjuntural – uma coalizão contra a indignidade. E aqui cai como uma luva o que disse o Dr. Caio Rosental: “Abaixo da linha do Equador, para ser um grande estadista, é preciso primeiro tratar as águas, canalizando os córregos e os esgotos, fornecer água potável e trocar o barro das casas pelo tijolo” (A saúde anda para trás. FSP, 28-06-02). Iluminada frase, que em si é uma agenda que prima pela decência ao desnudar o “risco-Brasil real” e consegue, com uma tacada de pena, reduzir a pó a alardeada excelência do senador José Serra no comando do Ministério da Saúde, cuja capacidade até para matar mosquito ficou aquém do necessário.

Via José Dirceu defendendo a aliança com o PL e dizia aos meus botões: “quem te viu e quem te vê”… Madeixas ao vento, megafone em punho… Era belo, radical e inesquecível! O que diria Iara? Iara de Dirceu, assassinada pelo braço fascista da burguesia, a ditadura militar de 1964. Fiquei expectando as encruzilhadas da política senador! Confesso: parecia algo sem eira e nem beira a adesão do PL a uma proposta de governo nacional, popular e democrático. Enxerguei que nem tanto, já que, “no fundo no fundo”, o chamado “projeto do PT” (nacional, popular e democrático) consiste em reformas cabíveis nos marcos capitalistas, pois o “modo petista de governar” nada mais é que execução de políticas de redução de danos da crise do capital. Que seja. Sem ilusões.

Nos basta, nas eleições 2002, que vença a perspectiva de um Estado de bem-estar social. Tolerância zero com o continuísmo de “migalhas ao povo”. Lula não é exatamente TUDO o que o povo sonha e precisa, porém é o que mais se aproxima: a mais completa tradução das necessidades de um país que deve romper com os grilhões da indignidade. Como o Planalto vê uma aliança PT-PCdoB-PL? Como o “caminho da perdição”. Jogaram duro para inviabilizar, ao estilo “veneno para matar Roseana”. Ponderei. Para que serve a radicalidade feminista se não se abre ao novo e ao inusitado? “Nada como um dia depois do outro e uma noite no meio”. Nós e nossas circunstâncias.

A arte da política consiste em entender as circunstâncias e saber fazer alianças. Por que o senador cabe como convidado de um projeto de governo popular e democrático? Porque, como é de domínio público, é um homem de bem. Grande credencial! Ser “pessoa de bem” na política do Brasil de hoje é um atributo valioso e raro. Exige-se dele solidariedade e respeito. Não é o mesmo que pensar igual. Senador, seja bem-vindo à cena da luta contra todas as formas de dominação! Não será fácil. Provará do sal da terra: a dureza e a ternura da luta popular, democrática e feminista.

E-mail: fatimaoliveira@ig.com.br










Corpo de Alencar é transportado em avião da FAB com honras de chefe de Estado. Foto: Agência Brasil

“Eu tenho que fazer isso, porque quero elegê-la” [José Alencar]







Republicado em 31 de março de 2011 às 7:29
Você escreve:
Fátima Oliveira sofreu o pão que o diabo amassou para defender Alencar como vice
Coisas de Minas, o caminho da perdição
FONTE: www.viomundo.com.br/voce-escreve/fatima-oliveira-sofreu-o-pao-que-o-diabo-amassou-para-defender-alencar-como-vice-de-lula.html

Veja vídeos sobre José Alencar

terça-feira, 29 de março de 2011

A vaquejada tradicional é diversão que não maltrata os animais


Exibição de vaqueiro e festa de fazendeiro, de ano em ano

Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br


Amo cavalgar, tanger boi pro curral, tocar boiada e aprecio vaquejada - prazeres da vida simples de cultura vaqueira, do tipo franguinho na panela: "Eu tenho um burrinho preto/ Bão de arado e bão de sela/ Pro leitinho das crianças/ A vaquinha cinderela/ Galinhada no terreiro/ Papagaio tagarela...".
Ao escrever sou inundada por uma explosão de saudade de quando a vaquejada era só brincadeira anual nos pátios das fazendas: exibição de vaqueiro e festa de fazendeiro.
A "pega de bezerro", ou "pega de boi", nos anos 1970, no meu sertão natal, virou vaquejada: um esporte, fora da apartação de gado, como atração nas exposições agropecuárias: imitando o rodeio, mimetizando o estilo country estadunidense e os clichês da filmografia western, com distorções que renegam a vaqueirice. Hoje é esporte rentável, que atrai multidões, mas de reputação polêmica, devido às acusações de maus-tratos a bois e cavalos.
Sem falar na confusão entre vaquejada e rodeio constante em lei - "Entende-se como prova de rodeios as montarias em bovinos e equinos, as vaquejadas e provas de laço, promovidas por entidades públicas ou privadas, além de outras atividades dessa prática esportiva" - que dividiu a atividade vaqueira tradicional em duas: peão de boiadeiro (trabalhador rural: empregado que cuida e treina cavalos e bois) e peão de rodeio (atleta profissional).
A "pega de bezerro" era no dia da apartação, prática da pecuária extensiva, antes da chegada do arame farpado (por volta de 1940, embora inventado em 1873, em Illinois, EUA). O vaqueiro ia "pegar o gado" que pastava solto nas capoeiras, onde gados de vários donos se misturavam. Uma labuta de dias e dias. O vaqueiro não era assalariado. Tinha parte na bezerrada que nascia entre uma apartação e outra, logo tinha "olho de dono", de amor aos bichos e não maltratava seus animais. Os vaqueiros das redondezas se juntavam para ajudar um colega de ofício a receber a parte que lhe tocava.
Após a "partilha", os vaqueiros brincavam de "pegar bezerro". Era uma celebração. Na pecuária extensiva, muitas vacas davam cria no mato, então a bezerrada era selvagem e de difícil captura, exigindo maestria do vaqueiro para enfrentar a caatinga, o cerrado, o carrasco ou a mata fechada, perseguindo e laçando a "bezerrama" para prendê-la no curral. Era uma epopeia! Muitos vaqueiros viravam lendas ambulantes do sertão, inspirando as vaquejadas como diversão: exibição de vaqueiro e festa de fazendeiro, de ano em ano, com comilança, violeiro e sanfoneiro.
O vaqueiro escolhia sua parte no "dois pra uma": dois machos e uma fêmea. Meu avô Braulino ferrava uma "garrota" pé-duro, hoje em extinção, para cada neto que nascia. Dizia que era uma "sementinha de gado". Meu ferro de gado era MF, de Maria de Fátima. Numa partilha, Dé, o vaqueiro, escolheu uma cria da minha vaca Margarida. Aprontei a maior choradeira. Neta mimada e no dizer de vovó, com ar de recriminação, "cheia de gostos" - e era! -, na porteira do curral só bebia leite mungido de minhas vacas.
De certeza uma menina puro entojo, como dizia a tia Lô. Resumo da ópera: o pai velho deu dois bezerros ao Dé pela minha bezerrinha.
Hoje registro uma promessa ao compadre Dé (sou madrinha de um filho seu) e ao pai velho, que, tementes a Deus, decerto estão aboiando e laçando bezerro no céu: volto aos circuitos das vaquejadas pelo resgate da vaqueirice, uma cultura que não maltrata animais, e pela preservação do gado pé-duro, um patrimônio genético do Brasil.

Publicado no Jornal OTEMPO em 29/03/2011
FONTE: www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=14707

Gado pé-duro

Tocando uma boiada de gado pé-duro

http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogspot.com/2011/01/tocando-uma-boiada-de-gado-pe-duro.html







domingo, 27 de março de 2011

Entrevista da Ministra Luiza Bairros ao jornal Fêmea


BRASIL - Ministra Luiza Bairros (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) deu uma entrevista ao jornal FÊMEA (edição 168) onde falou um pouco de sua trajetória militante, política, intelectual, acadêmica e de trabalho. Falou também sobre as políticas que pretende coordenar na SEPPIR e sobre o racismo no Brasil.

Entrevista gravada em janeiro de 2011 em Brasília. Jornalista Daniela Lima, com o apoio de Ana Claudia Jaquetto Pereira.
Universidade Livre Feminista - 2011
http://vimeo.com/21387900

Luiza Bairros em entrevista ao jornal Fêmea from Universidade Livre Feminista on Vimeo.

Dilma tieta e é tietada em encontro com cineastas no Alvorada

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA



A presidenta da República, Dilma Rousseff, recebeu na noite da última sexta-feira (25) um grupo de atrizes e mulheres cineastas no cinema do Palácio da Alvorada. Durante o evento, foi exibido o filme "É Proibido Fumar", de Anna Muylaert. Após o longa, houve um jantar em comemoração ao mês da mulher.
www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/894469-dilma-tieta-e-e-tietada-em-encontro-com-cineastas-no-alvorada-veja.shtml




sábado, 26 de março de 2011

Louvação de São Luís...




Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi
http://maranharte.blogspot.com/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html

LOUVAÇÃO DE SÃO LUÍS
Bandeira Tribuzi


Ó minha cidade
Deixa-me viver
que eu quero aprender
tua poesia
sol e maresia
lendas e mistérios
luar das serestas
e o azul de teus dias

Quero ouvir à noite
tambores do Congo
gemendo e cantando
dores e saudades
A evocar martírios
lágrimas, açoites
que floriram claros
sóis da liberdade

Quero ler nas ruas
fontes, cantarias
torres e mirantes
igrejas, sobrados
nas lentas ladeiras
que sobem angústias
sonhos do futuro
glórias do passado




Fernando de Carvalho interpretando Louvação de São Luís, de Bandeira Tribuzi, hoje hino oficial da cidade de São Luís-MA











São Luís do Maranhão, ilha de encantos...

Dilma Rousseff e suas ministras: veja a primeira foto da presidenta ao lado das nove mulheres que ocupam a chefia de ministérios em seu governo

Por Redação Marie Claire com foto de Roberto Stuckert Filho


IMAGEM INÉDITA: A PRIMEIRA FOTO DE DILMA ROUSSEFF AO LADO DE SUAS MINISTRAS FOI TIRADA EM DIA DE SESSÃO DE FOTOS PARA A MARIE CLAIRE
Pela primeira vez na história do Brasil, 10 mulheres fazem parte do alto escalão do governo federal. A imagem acima, inédita, é o primeiro registro desse fato e traz a presidenta Dilma Rousseff com suas nove ministras. Da esquerda para a direita: Helena Chagas (Comunicação Social), Luiza Bairros (Igualdade Racial), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Ideli Salvatti (Pesca), Dilma, Miriam Belchior (Planejamento), Maria do Rosário (Direitos Humanos), Ana de Hollanda (Cultura), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Iriny Lopes (Políticas para Mulheres).

Leia mais: confira a entrevista exclusiva de Marie Claire com as ministras do governo Dilma em "A mudança começa com elas"
A imagem foi feita pelo fotógrafo da presidência Roberto Stuckert Filho, no dia 15 de março, no Palácio do Planalto, em Brasília. As ministras estavam reunidas para o ensaio de fotos que ilustra a reportagem "A mudança começa com elas", publicada na edição de abril, comemorativa do aniversário de 20 anos de Marie Claire.


Reportagem / Mulheres no poder - 25/03/2011

A mudança começa com elas


A primeira presidenta eleita da história do país, Dilma Rousseff, trouxe com ela um time de nove ministras para a cúpula do governo. Nunca a presença feminina no alto escalão foi tão ampla. Há 20 anos, quando Marie Claire foi lançada, a chegada da mulher ao poder era uma aspiração, um sonho. Esse retrato histórico e as entrevistas exclusivas celebram essa conquista.



Por Marina Caruso e Maria Laura Neves. Fotos: Anderson Schneider


Ideli está em clima de lua de mel com o segundo marido, 12 anos mais novo. Maria do Rosário tem uma filha de 10 anos que, ao levar bronca, ameaça ligar para o disque-denúncia. Izabella não quis ter filhos. Ana lembra com orgulho o dia em que seus pais a levaram para conhecer Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Luiza dedicou a vida a um ideal e não fala da vida pessoal. Tereza luta contra um câncer de mama e a extrema pobreza do Brasil. Helena tinha o telefone de casa grampeado na infância. Iriny foi ameaçada de morte após denunciar crimes. Miriam teve o ex-marido assassinado e nem por isso desistiu da batalha.
No dia 15 de março, todas essas histórias se cruzaram no quarto andar do Palácio do Planalto. Foram dois meses de negociações e entrevistas exclusivas até que as nove ministras topassem posar juntas para a foto acima. A primeira a chegar, às 8 h, foi Ana de Hollanda, da Cultura. "Ai, estou toda amassada." O clima, à despeito dos cargos, era de descontração. "Cadê Tereza, láialaiá, laiá, laiá", cantou Ideli Salvatti, da Pesca, ao notar o atraso da ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello. "Ajeita a saia Miriam [Belchior, do Planejamento]. A foto não é para a revista masculina", disse Izabella Teixeira, do Meio Ambiente. Entre retoques na maquiagem e escovadas de cabelo, as ministras despacharam umas com as outras, por telefone ou com seus assessores. Como resumiu Ideli: "Foi a melhor reunião ministerial do governo".

FONTE: http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/1,,EMI220216-17737,00.html

terça-feira, 22 de março de 2011

Dilma está virando o quindim de Iaiá do povo...



Fátima Oliveira

Ao chegar ao desembarque Dona Lô avistou Pedro com Estela e as crianças. Todos sorridentes. E pensou quão aconchegante é chegar em casa. No aeroporto de chegada, a gente já se sente em casa... Ô terrinha boa!
– Huuuuuuum, as crianças estão cheirosas que nem filhos de barbeiro...
– Ih, pensei que tivesse ido pro Chile na comitiva de Obama!
– Se quer saber mesmo Pedro, convidada até fui, mas estou na maior canseira, meu nego! Quis ir não! E também, não tinha tanta roupa pra trocar, como a Michelle Obama. Por Deus, como ela trocou tanta roupa num dia só! Increduincruz, Ave-Maria! Como é que estando com ela, ficaria com a mesmíssima roupa, enquanto ela exibia um modelito por hora? Humilhação demais pra mim, não acha Estela?
– Ave-Maria Pedro, nem deixa Dindinha chegar direito, vai logo caçando conversa...
– Que mané caçar conversa, mulher! Como não vou poder ir com ela pra Matinha, não estou aguentando esperar o próximo fim de semana para saber por que Lula não foi ao almoço com Obama. Até o turrão do Itamar Franco estava lá com seu topete nos trinques... Juro que pensei que ele declinaria do convite.
– E tu achas Pedro que Itamar perde um pão de queijo? A turronice dele, cheia de rompantes, é um estilo que ele cultiva com desvelo. No trato pessoal, Itamar Franco é uma pessoa afável até demais.
Até as crianças riram.
– Dindinha quer ir logo pra Matinha ou vai dar uma passadinha lá em casa pra tomar um café?
– Seeeeeeeeeeeei! Se engane não Dona Lô, Estela nunca perde a mania de nem dormir direito quando a senhora vai chegar de viagem. Quer mais é ver os presentes, oxente! É isso que ela quer...
– Nada de novo Pedro. Estelinha sempre foi assism. Acho que eu a acostumei muito mal, sempre dando muitos presentes. Mas não me arrependo. Notícias lá de casa, minha gente? Contem aí... E Mãe Zefinha, vai bem de saúde?
– Fora a lua de mel daqueles dois, que parece que não vai acabar nunca, sem sobressaltos por lá. Ali é um amor roxo, viu Dona Lô! Cesinha está se roendo de ciúmes. Estela está até pensando em arrumar uma psicóloga para ele...
– “Quêquisso” Pedro? Deixe de “inticar” com Gracinha e Zé Vaqueiro! Xamego é coisa boa. Ou você não acha? E Cesinha precisa mesmo é de uma “psitaca”, isso sim. O moleque tá achando que é dono da mãe dele, é? Pois vai ouvir poucas e boas. Jazim fica bom. Vou tolerar isso, não! Assim ele faz Gracinha sofrer. Isso nunca, jamais, em tempo algum, vou permitir! Sabe o que é isso? Falta de sarna pra se coçar! Se mamãe fosse viva já teria dado uma boa sova nele.
–...
E Pedro ria até quase se engasgar...
– Então pucardiquê fica nesse lero todo?
– Está bem. Mas, senhora, digaí por que Lula não foi almoçar com Obama? Tá o maior tititi... Especulações das mais cabeludas... Sei não, aí tem!
– Ah, é? Lembra da resposta dele quando foi convidado para a festa da Veja e esnobou? Vale pra Obama também! Com aquele ar bonachão Lula também sabe fazer desfeitas. É humano. Ele sabe que a vingança é um prato que se come frio. Obama bateu, levou o troco agora. Não sei exatamente porque ele não foi. Mas a sua ausência foi muito notada. E ainda vai render muito. Deve ter seus motivos e eu os respeito. Parece coisa de menino birrento, né não? Mas acredito que não é só birrinha, não! Falam que Obama antes de almoçar ordenou o ataque à Líbia. Lula é daqueles políticos, que eu diria, sensitivos... E marrento também!
–...
– Vai que ele pressentiu que a ordem para o início da Operação Aurora da Odisseia seria dada daqui, hein? Tudo indicava que sim. Espia só: a votação no Conselho de Segurança da ONU foi no dia 17... Brasil, China, Índia, Rússia e Alemanha se abstiveram. Os outros dez membros do Conselho de Segurança – EUA, França, Reino Unido, Líbano, Bósnia, Nigéria, Gabão, Portugal, África do Sul e Colômbia, votaram pelo ataque à Líbia. A Coalizão Internacional é constituída pelos EUA, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Qatar, Noruega, Bélgica, Dinamarca e Espanha.
– Assim, nos termos da senhora, com essa coisa de décimo sentido, não é possível conversar...
– E por que não? E chega, né Pedro? Lula é “de maior”, manda na semana dele e pode fazer o que bem entender, até ficar quebrando a cabeça tentando botar Santaninha na Sé. No mais, pergunte a ele. Ah, a Dilma também deve saber...
“Mas claro que não vai contar, nunca, nunquinha...”, alfinetou Estela, acrescentando: “E o Carnaval Maranhense?”





– Ah, querida, levarei um mês inteirinho para contar tudo que vi. Esbaldei-me no meio da folia... O carnaval de São Luís é quente. Mudou muito e pra melhor. Está mais organizado. Muitos pontos de folia, o que dá um ar festivo à cidade inteira. É um carnaval diferente, centrado nos foliões, que a maioria do Brasil desconhece...
– Andei vendo pela TV. Valeu o tema de 2011: “Carnaval da Tradição – É você quem brilha. E faz brilhar”.




– Também é um carnaval que cresceu muito, mas está bem organizado. Fiquei admirada. Há a Passareal do Samba do Anel Viário, ali pros lados da Barragem do Bacanga, local para desfiles noturnos de Escolas de Samba, que quando eu era jovem eram chamadas de Turmas (Turmas de Samba) que promoviam arrastões por onde passavam. Coisa linda de se ver. Acabou. Trocaram pela imitação das escolas do Rio de Janeiro. Por exemplo, era Turma do Quinto... Era Turma da Flor do Samba. O que sei é que nos últimos vinte anos as Turmas de Samba viraram Escolas de Samba que, embora tenham crescido muito, não são a melhor parte do Carnaval de São Luís. Fui ver a Passarela do Samba apenas uma noite. E tive o desprazer de ver Sarney lá, de colar de havaiana no pescoço, é mole?



– ...
– Há os Circuitos da Litorânea, que é por onde trafegam os grandes trios elétricos e as grandes bandas e os grandes blocos; e os Circuitos do Centro, que a partir das 17:00 contam com muitas apresentações. Temos então os circuitos da Deodoro/Cajazeiras; do Portal do Ceprama; do Beco das Minas; da Vila Gracinha; da Praça da Saudade; do Ponto do Gavião, do Ponto de Fuga; do Ponto do Meio; e o Viva Maiobão, num conjunto habitacional popular. E entre o Portal do Ceprama e a Praça da Saudade, fica a Madre Deus, onde o bicho, tradicionalmente, pega. Coisa mais linda e fervilhante. A Madre Deus é a Madre Deus... Não há melhor lugar pra gente sentir o Carnaval da Ilha. Ali é o berço. E ponto final!

Madre Deus
– ...
– Quer dizer, em todos os circuitos cada dia você pode apreciar um pouco de tudo e pular seu carnalvazinho numa boa. Sem falar que os blocos de sujo são da mesma beleza dos de antigamente. Assim como a Casinha da Roça. Tambor de Criola também pra todo lado. Tribos de Índios e Blocos Afros pra todo lado. Ah, também algumas Brincadeiras de Ursos! E os Cordões de Fofões, nem se fala! Tudo um encanto! Estou de alma lavada e perfumada. E pernas moídas, uma semana depois...
– Que extravagância, Dindinha! Realmente tem coisa demais... Tudo muito bonito. Diferente! Sem falar na decoração dos corredores, que estava linda.



– E as comidas? Por Deus! Comi que só uma porca cevada. De caranguejada a camarão de tudo a quanto é jeito, sururu no leite de coco, peixe serra, pescada, tracei de tudo! Engordei mesmo que só uma porca no chiqueiro. Mas como não se empanturrar de caldeirada de camarão naquele lugar? Acho que nesses dias todos lá só comi carne umas duas vezes.
–...
– Comadre Fabiana, você bem sabe que é uma foliã de quatro costados. Fiquei naquela pousada do Olho D’Água que você gosta. Ali pertinho da casa dela. Foram cinco dias de farra.
“Viiiiiiixe, eu só queria ter metade desta sua energia”, murmurou Estela...




– Era assim: depois do café da manhã, ali pelas nove a dez horas, um banhozinho de mar. A gente se encontrava na praia. Sempre aparecia uma colega nossa dos tempos de escola. Na hora do almoço em geral íamos pra casa dela. Comilança. Depois eu ia pra pousada dar a minha cochiladinha da tarde. Lá pelas 16:00 Fabiana estava a postos.
– ...
– Andávamos com a programação do carnaval na mão. Andei por tudo quanto era lugar que tinha algum baticum de carnaval. Voltávamos lá pela meia-noite. Às vezes encontrávamos com compadre Claudionor, com aquela turma dele, quase todos bêbados bostas. Mas sem riscos. Claudionorzinho há anos aluga uma van pro pai pular o carnaval, as 24 horas. Muda de motorista a cada oito horas. Menino esperto, não? Minha comadre, não bebe nada, fora Guaraná Jesus, então eu estava bem servida de motorista.



– Ave-Maria Dindinha, ainda bem que não fui. Não daria conta mesmo!
– Sabia que podemos pensar em fazer um Carnaval da Tradição na Chapada do Arapari, um pouco nos moldes do de São Luís? Quero dizer, uma pequena imitação. E ainda ganhar dinheiro? Estou pensando aqui com meus botões... Nunca é demais trazer um dinheirinho pra cá... No primeiro ano a gente investe, bancando tudo. No ano seguinte já dá pra ganhar uma graninha. Vou conversar com a menina da minha agência de viagem. Ela é muito competente pra essas coisas de publicidade. Aliás, Ducarmo é publicitária de formação. Pode ser que role... Estou pensando em associar a ideia de um carnaval fora de época com a Vaquejada de Dona Lô. Fiz isso com o bumba-meu-boi e deu certo, não foi? Daqui pra junho eu resolvo.




– É, foi mesmo uma feliz ideia a de colocar uma apresentação de bumba-meu-boi abrindo a sua vaquejada. Chama muito a atenção e deu vida nova à vaquejada. Um toque mais cultural. Assim acho. E você Estela?
– Sei direito, não Pedro! Dindinha vive de inventar e reiventar coisas. Fico cansada só em pensar no tanto de coisa que ela vive maquinando. E ainda diz que festeira era tia Donana... rsrsrsrsrsr...

Alcione
– Senhora, mas que história é essa que alguns esquerdinhas que a senhora carrega no peito fizeram o maior furdunço com a historia de que Obama era persona non grata no Brasil?
– Ora Pedro, deixe de besteirada, sô! Isso aqui é uma democracia. Há liberdade de pensamento. Ora, por que todo mundo haveria de idolatrar Obama? Ora sim, senhor! Agora eu vi! Tempo do pensamento único já acabou, entendeu? Dilma recebe quem ela quiser desses mandatários com quem o Brasil mantém relações diplomáticas e comerciais: não faz mais do que a obrigação enquanto presidenta. Simples assim. E o povo também pode dizer o que desejar, oxente!
– ...
Embaixadora Maria Luiza Viotti
– Leu sobre a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, na reunião do Conselho de Segurança? Foi precisa: “As medidas adotadas podem causar mais danos do que benefícios (...) Isso não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio”. Eu, particularmente, acho que o Itamaraty é excepecionalmente bom mesmo é nos palcos da ONU. Dá gosto de ver...
– Como assim Dona Lô?
– Aqui dentro o Itamaraty patina de vez em quando. Acho que meteu o pé no jacá na visita de Obama que, aqui deveria ter sido recebido dando destaque à questão racial, mostrando que o governo brasileiro tem o propósito de combater o racismo. Dilma fez um breve menção em seu discurso, ao falar sobre o valor simbólico do encontro dos dois: “Os povos de nossos países ergueram as duas maiores democracias das Américas. Ousaram também levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas”.
–...
– Mas foi pouco! Principalmente porque sendo Obama o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, teria sido uma grande jogada de marketing aproveitar a presença dele como um marco da celebração brasileira do Ano Internacional para Descendentes de Africanos. Você viu a ministra Luiza Bairros por lá? Nem eu! Pois acho que foi uma escorregada do Itamaraty, que deveria ter dado um destaque ao aspecto racial/étnico, já que o racismo está na base dos grandes problemas que o nosso país tem de resolver se quiser ser a nação inclusiva que nossa presidenta tem compromisso de fincar cada vez mais as bases... O resto é perfumaria. Ou catinga.
–...
– Fora ser um exemplo positivo de superação dos entraves do racismo, Obama é presidente dos Estados Unidos, cujo grande feito até agora foi expurgar George W. Bush da Casa Branca. De resto, cumpre o ritual colonialista e bélico da Casa Branca, que se pauta pela cultura do faroeste, ainda! Foi eleito para tanto. Tem de cumprir à risca a liturgia do cargo. Ou alguém tinha a ilusão que seria diferente? Ele é presidente e não imperador dos Estados Unidos! E como presidente tem poucos poderes e também não possui base social efetiva de apoio. E agora nem maioria parlamentar tem. Não é falta de boas ideias e nem de vontade política. É falta de poder mesmo. É o homem mais poderoso do mundo que internamente pode pouco.
–...
– Nem sempre faz o que deseja, mas o que é permitido no cargo em que ocupa. Viu onde deu a proposta dele de reforma da saúde? Vontade teve até demais, mas não pode. Não teve força política para universalizar a atenção à saúde. E nem terá! O Governo Obama é um governo acuado pela Tea Party*, a direita mais ranzinza e truculenta dos grotões estadunidenses, aquilo que se conhece por Estados Unidos profundo. O Tea Party é integrado por gente ultradireitista; nem partido político é, mas seus integrantes só votam nos republicanos mais conservadores e racistas! Enquanto que o Governo Dilma, é um governo em disputa. Temos de disputá-lo. Ah, deixa pra lá! “Ema, ema cada um com seus problemas”...
– E a popularidade de Dilma, lá nas alturas, hein?
– Rapaz, por onde passei senti que Dilma está virando o quindim de Iaiá do povo... É só elogios. Acho bom. Muito bom. Talvez tenha um pouco de sossego pra fazer o bom governo que precisamos. E que ela também deseja... A oposição está que nem boca de siri... Fechadinha, fechadinha. Sem discurso e se esfacelando. Até o Menino do Rio baixou o facho...
– Conforme o Data Folha “A presidenta Dilma Rousseff se igualou a Luiz Inácio Lula da Silva em popularidade no início do governo. Passados três meses desde que assumiu o comando do País, ela é aprovada por 47% dos brasileiros, segundo a pesquisa Datafolha, realizada em 15 e 16 de março. Em 2007, quando estava na mesma época de seu segundo mandato, Lula registrou 48% pontos. Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, os dois governantes estão tecnicamente empatados”.
– Rapaz, Dilma né brinquedo, não! Disso eu sabia muito bem. Ela sabe transformar sua competência técnica em excelência política, apenas e tão-somente porque competência técnica para ela faz parte da sua visão de política! Foi isso que Lula viu nela. Nem mais, nem menos. E acertou!


Matinha de Dona Lô, Chapada do Arapari, 22 de março de 2011
Café com a presidenta* “O nome de Tea Party é uma referência ao Boston Tea Party de 1773 (Festa do Chá de Boston), ou o Manifesto do Chá de Boston, uma ação direta dos colonos americanos de Boston, contra o governo britânico e a Companhia das Índias Ocidentais, que detinha o monopólio do chá que entrava nas colônias. No porto de Boston, um grupo de colonos abordou os navios carregados de chá e atirou a carga às águas, em protesto contra o monopólio e o imposto sobre o chá, que consideravam abusivo”. http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Tea_Party


Quindim de Iaiá

Ingredientes:
12 gemas

450 g de açúcar
1 colher de sopa de manteiga
1 coco ralado
Gotas de limão para a calda


Modo de fazer: Rale o coco e não retire o leite. Coloque o açúcar numa panela com um pouco de água e umas gotas de limão e leve ao fogo para obter uma calda grossa. Passe as gemas por uma peneira (não de metal). Deixe esfriar a calda e junte as gemas peneiradas, o coco ralado e a manteiga, mexendo bastante. Despeje em forminhas untadas com manteiga e leve ao forno quente, em banho-maria, para assar.
(Dá 15 porções)

Caldeirada de camarão maranhense


A "Caldeirada de camarão" é prato tradicional do Maranhão, mais especificamente da Ilha de São Luís, que se tornou célebre como o prato principal da Base do Germano. Corre a lenda que ele, o Germano, jamais deu a receitas para alguém. Portanto a famosa "Caldeirada do Germano", ninguém mais sabe fazer, pois ele já faleceu e não deixou herdeiros de sua receita.



Caldeirada de camarão
Ingredientes:
- 1 ½ kg de camarão lagosta fresco (camarão graúda) sem as pernas e sem as cabeças. Reserve as cabeças para fazer um caldo com 1 litro de água
- 2 dentes de alho descascados e amassados
- 3 tomates sem pele e sem sementes picados
- 2 cebolas médias picadas
- 1 pimentão verde sem sementes picado
- 1 maço de cheiro verde picado (salsa, cebolinha e coentro)
- ½ xícara (chá) de extrato de tomate
- ¼ xícara (chá) de azeite de oliva
- Caldo de 1 limão
- ½ xícara (chá) de creme de leite
- ½ xícara (chá) de leite de coco
- 1 litro de água fervente
- Sal a gosto

Ingredientes para o pirão:
- 1 xícara (chá) de farinha branca de mandioca peneirada e umedecida com água
- 1 litro do caldo do cozimento
- 1 colher (sopa) de manteiga
- Sal a gosto


Modo de fazer:
Bata as cabeças dos camarões no liquidificador com 1 litro de água. Coe e reserve. Faça um refogado com camarão, alho, tomates, cebola, pimentão, cheiro verde, extrato de tomate e caldo do limão. Junte o caldo reservado e deixe cozinhar por 5 min. Retire a metade e coloque em outra panela para fazer o pirão. Adicione creme de leite e leite de coco. Cozinhe em fogo baixo por mais 1 minuto.
Modo de fazer o pirão:
Misture a farinha ao caldo com manteiga e sal. Se necessário, mexa até engrossar.


Caldeirada requintada
(Receita de Admée Duailibe)

Ingredientes:
- 3 quilos de camarão lagosta
- 4 tomates maduros
- 4 cebolas
- 4 maços de cheiro verde
- 2 cabeças de alho
- 1 lata de extrato de tomate
- 1 vidro de cat-chup apimentado
- 1 lata pequena de azeite doce
- 500 gramas de manteiga
- 2 garrafas de leite de côco
- 3 latas de creme de leite
- 4 colheres de maizena
- Vinagre para lavar os camarões
- Sal, limão e pimenta à gosto.

Modo de fazer a caldeirada:
Lave muito bem o camarão com casca, em água pura e por último com vinagre. Escorra a água.
Corte a cabeça do camarão no encontro do tronco e vá colocando em duas bacias para temperar (tronco e cabeça).
Coloque nas duas bacias os temperos igualmente (2 tomates, 2 cebolas, 2 pimentões, 2 cheiros verdes, 1 cabeça de alho socado com sal, pimenta e limão à gosto, 1/2 lata de extrato de tomate, 1/2 vidro de cat-chup) e ponha para refogar no azeite doce, um em cada panela.
Quando começar a refogar ponha o leite de côco nos dois, antes de colocar a água.
Deixe cozinhar um pouco. A cabeça leva mais água e o camarão menos. Passe no liqüidificador as cabeças com o caldo, peneire e reserve. Reserve também os camarões.
Passemos agora para o pirão. Vá molhando com água fria aos poucos a farinha seca e deixe o caldo esquentando. Coloque a farinha molhada dentro do caldo e vá mexendo até cozinhar bem. Não é para ficar muito grosso. Quando notar que já está cozinhando, acrescente 1 lata de creme de leite e a metade da manteiga e deixe ferver mais um pouco até ficar bem homogêneo e cremoso.
Voltemos agora para a terminação do camarão. Ponha novamente no fogo já com a as 2 latas de creme de leite misturadas com a maizena e a outra metade de manteiga. Vá mexendo levemente até engrossar um pouco o caldo do camarão.
Caso não tenha prática de cozinha faça este processo só com o caldo em outra panela e depois junte.
Está pronta a caldeirada.

domingo, 20 de março de 2011

Retrato, de Cecília Meireles

Cecília Meireles


RETRATO
Cecília Meireles


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?







Declaração da presidenta Dilma Rousseff na recepção a Barack Obama

Dilma recebeu o presidente dos EUA por volta de 10h30 deste sábado
Dilma recebeu o presidente dos EUA por volta de 10h30 deste sábado

A presidenta Dilma Rousseff e o presidente dos EUA, Barack Obama, fizeram neste sábado a primeira declaração oficial após o encontro entre os dois chefes de governo, em Brasília. Veja abaixo a íntegra do depoimento da presidenta brasileira.


Excelentíssimo senhor Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América,
Senhoras e senhores integrantes das delegações dos Estados Unidos da América e do Brasil,
Senhoras e senhores jornalistas,
Senhoras e senhores,
Senhor presidente Obama,


A sua visita ao meu país me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos de nosso povo e honra a histórica relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Carrega também um forte valor simbólico.
Os povos de nossos países ergueram as duas maiores democracias das Américas. Ousaram também levar aos seus mais altos postos um afrodescendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas.
Aqui, senhor presidente Obama, sucedo a um homem do povo, meu querido companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tive a honra de trabalhar. Seu legado mais nobre, Presidente, foi trazer à cena política e social milhões de homens e mulheres que viviam à margem dos mais elementares direitos de cidadania.
Dos nove chefes de Estado norte-americanos que visitaram oficialmente o Brasil, o senhor é aquele que encontra o nosso país em um momento mais vibrante.
A combinação de uma política econômica séria com fundamentos sólidos e uma estratégia consistente de inclusão fez do nosso país um dos mais dinâmicos mercados do mundo. Fortalecemos o conteúdo renovável da nossa matriz energética e avançamos em políticas ambientais protetoras de nossas importantes reservas florestais e de nossa rica biodiversidade.
Todo esse esforço, presidente Obama, criou milhões de empregos e dinamizou regiões inteiras antes marginalizadas do processo econômico. Permitiu ao Brasil superar, com êxito, a mais profunda crise econômica da história recente, mantendo, até os dias atuais, níveis recordes de geração de postos de trabalho.
Mas são ainda enormes os nossos desafios. Meu governo, neste momento, se concentra nas tarefas necessárias para aperfeiçoar nosso processo de crescimento e garantir um longo período de prosperidade para o nosso povo.
Meu compromisso essencial é com a construção de uma sociedade de renda média, assegurando oportunidades educacionais e profissionais para os trabalhadores e para a nossa imensa juventude, garantindo também um ambiente institucional que impulsione o empreendedorismo e favoreça o investimento produtivo.
O meu governo trabalhará com dedicação para superar as deficiências de infraestrutura, e não pouparemos esforços para consolidar nossa energia limpa, ativo fundamental do Brasil.
Enfim, daremos os passos necessários para alcançar nosso lugar entre as nações com desenvolvimento pleno, forte democracia e ampla justiça social.
É aqui, senhor presidente Obama, que enxergo as melhores oportunidades para o avanço das relações entre nossos países. Acompanho com atenção e a melhor expectativa seus enormes esforços para recuperar a vitalidade da economia americana.
Temos assim, como o mundo todo, uma única certeza: a de que o povo americano, sob a sua liderança, saberá encontrar os melhores caminhos para o futuro dessa grande nação.
A gentileza da sua visita, logo no início do meu governo, e o longo histórico de amizade entre nossos povos me permitem avançar sobre dois temas que considero centrais nas futuras parcerias que fizermos: a educação e a inovação.
Aproximar e avançar em nossas experiências educacionais, ampliando nosso intercâmbio e construindo progresso em todas as áreas do conhecimento é uma questão chave para o futuro dos nossos países.
Na pesquisa e inovação, os Estados Unidos alcançaram as mais extraordinárias conquistas nas últimas décadas, favorecendo a produtividade em diferentes setores econômicos. O Brasil, senhor presidente Obama, está na fronteira tecnológica em algumas importantes áreas, como a genética, a biotecnologia, as fontes renováveis de energia e a exploração do petróleo em águas profundas.
Combinar as nossas mais avançadas capacidades no campo da pesquisa e da inovação certamente trará os melhores frutos para as nossas sociedades. Tomo como exemplo o pré-sal, a mais recente fronteira alcançada pela tecnologia brasileira. Acreditamos que os enormes desafios de cada etapa da exploração dessas riquezas poderão reunir uma inédita conjunção do conhecimento acumulado pelos nossos melhores centros de pesquisa.
Mas, senhor Presidente, se queremos construir uma relação de maior profundidade é preciso também, com a mesma franqueza, tratar de nossas contradições.
Preocupam-me em especial os efeitos agudos decorrentes dos desequilíbrios econômicos gerados pela crise recente. Compreendemos o contexto do esforço empreendido por seu governo para a retomada da economia americana, algo tão importante para o mundo. Porém, todos sabem que medidas de grande vulto provocam mudanças importantes nas relações entre as moedas de todo o mundo. Este processo desgasta as boas práticas econômicas e empurra países para ações protecionistas e defensivas de toda natureza.
Somos um país que se esforça por sair de anos de baixo desenvolvimento, por isso buscamos relações comerciais mais justas e equilibradas. Para nós é fundamental que sejam rompidas as barreiras que se erguem contra nossos produtos – etanol, carne bovina, algodão, suco de laranja, aço, por exemplo. Para nós é fundamental que se alarguem as parcerias tecnológicas e educacionais, portadoras de futuro.
Preocupa-me igualmente a lentidão das reformas nas instituições multilaterais que ainda refletem um mundo antigo. Trabalhamos incansavelmente pela reforma na governança do Banco Mundial e do FMI. Isso foi feito pelos Estados Unidos e pelo Brasil, em conjunto com outros países. E saudamos o início das mudanças empreendidas nestas instituições, embora ainda que limitadas e tardias, quando olhada a crise econômica. Temos propugnado por uma reforma fundamental no desenho da governança global: a ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
Aqui, senhor Presidente, não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é a certeza que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e a harmonia entre os povos.
Mais ainda, senhor Presidente, nos interessa aprender com os nossos próprios erros. Foi preciso uma gravíssima crise econômica para mover o conservadorismo que bloqueava a reforma das instituições financeiras. No caso da reforma da ONU, temos a oportunidade de nos antecipar.
Este país, o Brasil, tem compromisso com a paz, com a democracia, com o consenso. Esse compromisso não é algo conjuntural, mas é integrante dos nossos valores: tolerância, diálogo, flexibilidade. É princípio inscrito na nossa Constituição, na nossa história, na própria natureza do povo brasileiro. Temos orgulho de viver em paz com os nossos dez vizinhos há mais de um século, agora.
Há uma semana, senhor Presidente, entrou em vigor o Tratado Constitutivo da Unasul, que deverá reforçar ainda mais a unidade no nosso continente. O Brasil está empenhado na consolidação de um entorno de paz, segurança, democracia, cooperação e crescimento com justiça social. Neste ambiente é que deve frutificar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos.
Senhor Presidente, quero dizer-lhe que vejo com muito otimismo nosso futuro comum.
No passado, esse relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma retórica vazia, que eludia o que estava verdadeiramente em jogo entre nós, entre Estados Unidos e Brasil.
Uma aliança entre os nossos dois países – sobretudo se ela se pretende estratégica – é uma construção. Uma construção comum, aliás, como o senhor mesmo disse no seu pronunciamento sobre o Estado da Nação.
Mas ela tem de ser uma construção entre iguais, por mais distintos que sejam esses países em território, população, capacidade produtiva ou poderio militar.
Somos países de dimensões continentais, que trilham o caminho da democracia. Somos multiétnicos e em nossos territórios convivem distintas e ricas culturas.
Cada um, a sua maneira, temos o que um poeta brasileiro chamou de “sentimento do mundo”.
Sua presença no Brasil, senhor Presidente, será de enorme valia nessa construção que queremos juntos realizar.
Uma vez mais, presidente Obama, bem-vindo ao Brasil."



Obama, Dilma e Michelle Obama visitam a exposição Mulheres Artistas e Brasileiras, no Palácio do Planalto, e posam ao lado do quadro Abapuru, de Tarsila do Amaral
Obama, Dilma e Michelle Obama visitam a exposição Mulheres Artistas e Brasileiras, no Palácio do Planalto, e posam ao lado do quadro Abapuru, de Tarsila do Amaral

Presidente do EUA desembarca ao lado da mulher, Michelle, e das filhas Malia e Sasha
Presidente do EUA desembarca ao lado da mulher, Michelle, e das filhas Malia e Sasha
Dilma Rousseff e Barack Obama cumprimentam crianças que se emocionaram na cerimônia oficial


Dilma Rousseff e Barack Obama discursaram novamente antes do almoço e finalizaram com um brinde




sábado, 19 de março de 2011

Dilma garante guerra à inflação (entrevista)



Claudia Safatle, do VALOR (17.03.2011)
"Temos que apostar que o pré-sal é um passaporte para o futuro. Não vamos explorar para usar, mas para exportar. Queremos nossa matriz energética limpa e queremos, também, ter ganhos na cadeia industrial do petróleo", disse a presidente Dilma Rousseff ao Valor, na primeira entrevista exclusiva concedida a um jornal brasileiro.

A presidente Dilma Rousseff anunciou que vai abrir os aeroportos do país ao regime de concessões para exploração do setor privado. Disse, também, que é preciso acabar com o incentivo fiscal dado por vários Estados que reduziram para apenas 3% a alíquota do ICMS para bens importados que chegam ao país por seus portos. "Estão entrando no Brasil produtos importados com o ICMS lá embaixo. É uma guerra fiscal que detona toda a cadeia produtiva daquele setor", comentou a presidente, citando proposta de projeto de lei que já se encontra no Senado para acabar com essa distorção.
Dilma já definiu as propostas que enviará ao Congresso ainda neste semestre: a criação do Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec) e do Programa de Erradicação da Pobreza, além de medidas específicas que alteram alguns tributos (e não uma proposta de reforma tributária). Ela admitiu, também, concluir a regulamentação da reforma da previdência do servidor público, com a aprovação da proposta que institui os fundos de pensão complementar. "Mas não vamos tirar direitos do trabalhador, não", assegurou.
Em entrevista ao Valor, a primeira concedida a um jornal brasileiro, a presidente adiantou: "Agora nós estamos nos preparando para fazer uma forte intervenção nos aeroportos. Vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam adequados aos planos de expansão necessários. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias." Até o fim do mês ela deve enviar ao Congresso a medida provisória que cria a Secretaria de Aviação Civil com status de ministério, que agregará a Anac, a Infraero e toda a estrutura para fazer a política de aviação.
Diante da falta de mão de obra tecnicamente qualificada para atender à demanda de uma economia que cresce, o governo está concluindo o desenho do Pronatec, programa de pretende garantir que o ensino médio tenha um componente complementar profissionalizante. Promessa de campanha, o projeto de erradicação da pobreza terá como meta retirar o máximo possível dos 19 milhões de brasileiros da situação de miséria que ainda se encontram.
Desta vez, porém, o programa virá acompanhado de portas de saída, disse. A erradicação da pobreza usará o instrumental reformulado do Bolsa Família e terá tanto no Pronatec, quanto nos mecanismos do microcrédito e de novos incentivo à agricultura familiar, as portas de saída da mera assistência social. "Estamos passando as tropas em revista e mudando muita coisa", comentou a presidente. Nada disso, porém, prescinde do crescimento da economia. A seguir, a entrevista:



Valor: Qual o impacto do desastre no Japão sobre a economia mundial e sobre o Brasil?
Dilma Rousseff: Primeiro, acho que ficamos todos muito impactados. A comunicação global em tempo real cria em nós uma sensação como se o terremoto seguido do tsunami estivessem na porta de nossas casas. Nunca vi ondas daquele tamanho, aquele barco girando no redemoinho, a quantidade de carros que pareciam de brinquedo! Inexoravelmente, a comunicação faz com que você se coloque no lugar das pessoas! Essa é a primeira reação humana. Acredito, numa reflexão mais fria depois do evento, se é que podemos chamar alguma coisa de fria no Japão, acho que um dos efeitos será sobre o petróleo.


"Não há inconsistência em cortar R$ 50 bilhões do Orçamento e repassar R$ 55 bilhões para o BNDES investir"


Valor: Aumento de preço?
Dilma: Vai ampliar muito a demanda de petróleo ou de gás para substituir a energia nuclear. Pelo que li, 40% da energia de base do Japão é nuclear. Os substitutos mais rápidos e efetivos são o gás natural ou petróleo. Acredito que esse será um impacto imediato. Nós sempre esquecemos da diferença substantiva entre nós e os outros países.


Valor: Qual?
Dilma: Água. Nesse aspecto somos um país abençoado. Não tenho ideia de qual vai ser a política de substituição de energia. Não sei como a Alemanha, por exemplo, vai fazer. Os Estados Unidos já declararam que não vão interromper o programa nuclear. Nós não temos a mesma dependência. Temos um elenco de alternativas que os outros países não têm. A Europa já usou todo o seu potencial hídrico. Energia é algo que define o ritmo de crescimento dos países e o Brasil tem na energia uma diferença estratégica e competitiva.


Valor: E tem o pré-sal. O governo poderia acelerar o programa de exploração?
Dilma: Não. Vamos seguir num ritmo que não transforma o petróleo em uma maldição. Queremos ter uma indústria de petróleo, desenvolver pesquisas, produzir bens e serviços e exportar para o mundo. Não podemos apostar em ganhos fáceis. Temos que apostar que o pré-sal é um passaporte para o futuro. Não vamos explorar para usar, mas para exportar. Queremos nossa matriz energética limpa e queremos, também, ter ganhos na cadeia industrial do petróleo. Esse é um país continental com uma indústria sofisticada e uma das maiores democracias do mundo. Não somos um paisinho.


Valor: A sra. acha que a tragédia no Japão vai atrasar a recuperação da economia mundial?
Dilma: Acredito que atrasa um pouco, mas também tem um efeito recuperador, de reconstrução. O Japão vai ter que ser reconstruído. É impressionante o que é natureza. Nem nos piores pesadelos conseguimos saber o que é uma onda de dez metros.


Valor: O esforço de reconstrução de uma parte do Japão deve demandar grandes somas de recursos. Isso pode reduzir o fluxo de capitais para o Brasil?
Dilma: Pode ter um efeito desses. Acho que vai haver um maior fluxo de dinheiro para lá e isso não é maléfico. Tem dinheiro sobrando para tudo no mundo. Para a reconstrução do Japão, para investir aqui e para especular.


Valor: O governo, preocupado com a taxa de câmbio, tem mencionado a necessidade de novas medidas. Uma delas seria encarecer os empréstimos externos para frear o processo de endividamento de bancos e empresas? A sra. já aprovou essas medidas?
Dilma: Primeiro, é preciso distinguir o que é dívida para investimentos do que é dívida de curto prazo. Imagino que quem está se endividando esteja fazendo "hedge". Todo mundo aí é adulto.


Valor: Mas o governo prepara um pacote de medidas cambiais?
Dilma: Tem uma coisa que acho fantástica. Às vezes abro o jornal e leio que a presidenta disse isso, pensa aquilo, e eu nunca abri minha santa boca para dizer nada daquilo. Tem avaliações de que um ministro subiu, outro desceu, que são absurdas. Absurdas! Falam que tais ministros estão desvalorizadíssimos na bolsa de apostas. Acho que o governo não pode se pautar por esse tipo de avaliação. Nenhum presidente avalia seus ministros dessa forma. E nenhum presidente pode fazer pacotes de acordo com o flutuar das coisas. Toma-se medidas que tem a ver com o que se está fazendo. Mas posso lhe adiantar algumas coisas.


Valor: Quais?
Dilma: Eu não vou permitir que a inflação volte no Brasil. Não permitirei que a inflação, sob qualquer circunstância, volte. Também não acredito nas regras que falam, em março, que o Brasil não crescerá este ano. Tenho certeza que o Brasil vai crescer entre 4,5% e 5% este ano. Não tem nenhuma inconsistência em cortar R$ 50 bilhões no Orçamento e repassar R$ 55 bilhões para o BNDES garantir os financiamentos do programa de sustentação do investimento. Não tem nenhuma inconsistência com o fato de que o país pode aumentar a sua oferta de bens e serviços aumentando seus investimentos. E ao fazê-lo vai contribuir para diminuir qualquer pressão de demanda. Hoje, eu acho que aquela velha discussão sobre qual é o potencial de crescimento do país tem que ser revista.


Valor: Revista como?
Dilma: Você se lembra que diziam que o PIB potencial era de 3,5%? Depois aumentou, e baixou novamente durante a crise global, pela queda dos investimentos, não? E aumentou em 2010, com crescimento de 7,5% puxado pelo aumento de bens de capital. Então, isso não é consistente.


Valor: A sra. comunga ou não da ideia de que é possível ter um pouquinho mais de inflação para obter um pouco mais de crescimento?
Dilma: Isso não funciona. É aquela velha imagem da pequena gravidez. Não tem uma pequena gravidez. Ou tem gravidez ou não tem. Agora, não farei qualquer negociação com a taxa de inflação. Não farei. E não acho que a inflação no Brasil seja de demanda.


Valor: Não?
Dilma: Pode ser que essa seja a divergência que nós temos com alguns segmentos. Nós não achamos que ela é de demanda. Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores, mas é inequívoco que houve nos últimos tempos um crescimento dos preços dos alimentos, que já reduziu. Teve aumento do preço do material escolar, dos transportes urbanos, que são sazonais.


Valor: E a inflação de serviços que já passa de 8%?
Dilma: Há crescimento da inflação de serviços e isso temos que acompanhar. Mas o que não é possível é falar que o Brasil está crescendo além da sua capacidade e que, portanto, tem um crescimento pressionando a inflação. O mundo inteiro, na área dos emergentes, está passando por isso. Houve um processo de pressão inflacionária que tem componente ligado às commodities e, no Brasil, tem o fator inercial. Mas é compatível segurar a inflação e ter uma taxa de crescimento sustentável para o país. Caso contrário, é aquela velha tese: tem que derrubar a economia brasileira.


Valor: Derrubar o crescimento?
Dilma: Nós não vamos fazer isso. Não vamos e não estamos fazendo. Estamos tomando as medidas sérias e sóbrias. Estamos contendo os gastos públicos. Tanto estamos que os resultados do superávit primário de janeiro e fevereiro vão fechar de forma significativa para o que queremos. Vamos conter o custeio do governo. Estamos esfriando ao máximo a expansão do custeio. Agora, não precisamos expandir o investimento para além do maior investimento que tivemos, que foi o do ano passado. Vamos mantê-lo alto. Olhe quanto investimos em janeiro: R$ 2,5 bilhões pagos. O pessoal fala dos restos a pagar. Ninguém faz plano de investimento de longo prazo no Brasil sem fazer restos a pagar.


Valor: São mais de R$ 120 bilhões. Não está muito alto?
Dilma: Por quê? Ou nosso investimento é baixo ou é alto. Eu levei dois anos - 2007 e 2008 - brigando para fazer a BR-163, entre o Paraná e o Mato Grosso. É todo o escoamento da nossa produção e agora ela decolou. Está em regime de cruzeiro. Estamos nos preparando para ter uma forte intervenção nos aeroportos.


Valor: Intervenção como?
Dilma: Vamos fazer concessões, aceitar investimentos da iniciativa privada que sejam adequados aos planos de expansão necessários. Vamos articular a expansão de aeroportos com recursos públicos e fazer concessões ao setor privado. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias. Porque não fizemos a BR-163 quando eu era chefe da Casa Civil?


Valor: Por quê?
Dilma: Quando cheguei na Casa Civil havia um projeto para privatizá-la completamente. Esse projeto virou projeto de concessão e eu o recebi assim. Fomos olhá-lo e sabe quanto era o cálculo da tarifa média? R$ 900. Isso mostra que essa rodovia não era compatível com concessão. Talvez no futuro, quando tivesse que duplicar, fosse por concessão porque ela já teria se desenvolvido e criado fontes geradoras para si mesma. A Regis Bittencourt dá para fazer concessão, pois ela se mantém. O que não é possível é usar o mesmo remédio para todos os problemas.


Valor: E como será para os aeroportos?
Dilma: Vamos fazer concessão do que existe - fazer um novo terminal, por exemplo. Posso fazer concessão administrativa com cláusula de expansão. Posso fazer concessão onde nada existe, como a construção de um aeroporto da mesma forma que se faz numa hidrelétrica. É possível que haja necessidade de investimentos públicos em alguns aeroportos. O Brasil terá que ter aeroportos regionais. Nós vamos criar a Secretaria de Aviação Civil com status de ministério, porque queremos uma verdadeira transformação nessa área. Para ela irá a Anac, a Infraero e toda a estrutura para fazer a política.


"Nós não achamos que ela [a inflação] é de demanda. Achamos que há alguns desequilíbrios em alguns setores."


Valor: Quando a sra. vai mandar para o Congresso a medida provisória que cria a secretaria?
Dilma: Estou pensando em mandar até o fim deste mês.


Valor: Quem vai ocupar a pasta da Aviação?
Dilma: Ainda estamos discutindo em várias esferas um nome para a aviação civil.


Valor: O nome do Rossano Maranhão não está confirmado?
Dilma: Nós sempre pensamos no Rossano para várias coisas. Não só eu. O presidente Lula também. Nós o consideramos um excepcional executivo.


Valor: Eu gostaria de voltar à questão da inflação. A sra. disse que não vai derrubar a economia e vai derrubar a inflação. É isso?
Dilma: Não é só isso. Eu não negocio com inflação.


Valor: Há quem argumente, na ponta do lápis, que não é possível reduzir a inflação de 6% para 4,5% e crescer 4,5% a 5% ao ano.
Dilma: Você pode fazer várias contas. É só fazer um modelo matemático. Agora, se ela é real...


Valor: Mesmo com o corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos, a política fiscal do governo não é contracionista de demanda. Ela é menos expansionista do que foi no ano passado.
Dilma: Ela é uma política de consolidação fiscal.


Valor: O que significa isso?
Dilma: É porque achamos que o que estamos fazendo não é... É como cortar as unhas. Vamos ter que fazer sempre a consolidação fiscal. Na verdade, temos que fazer isso todos os anos, pois se você não olhar alguns gastos, eles explodem. Se libera os gastos de custeio, um dia você acorda e ele está imenso. Então, você tem que cortar as unhas, sempre. Nós estamos cortando as unhas do custeio, vamos cortar mais e vamos fazer uma política de gerenciar esse governo. Estamos passando em revista tudo o que pode ser cortado e isso tem que ser feito todos os anos.


Valor: O que significa não negociar com a inflação do ponto de vista de cumprimento da meta?
Dilma: Significa que a meta é de 4,5% e nós vamos perseguir 4,5%. Tem banda para cima, banda para baixo (margem de tolerância de 2 pontos percentuais), mas nós sempre tentamos, apesar da banda, forçar a inflação para a meta até tê-la no centro.


Valor: Os mercados não estão acreditando nisso. Acham que o Banco Central foi frouxo no aumento dos juros, até porque o Palácio do Planalto teria autorizado um aumento de 0,75 ponto percentual e o presidente do BC (Alexandre Tombini) não usou essa autorização...
Dilma: Eu não vejo o Tombini há um mês, não vejo e não falo. Aproximadamente... eu lembro uma vez que ele viajou e a última vez que falei com ele foi antes dessa viagem.


Valor: O Tombini é "dovish" [neologismo inglês derivado de 'dove', pombo, que indica um defensor de juros mais baixas e com postura mais tolerante com a inflação]?
Dilma: E eu sou arara (risos).


Valor: Preocupa a descrença dos mercados na política antiinflacionária?
Dilma: O mercado todo apostou que esse país ia para o beleléu em 2009. E no fim de 2009 a economia já tinha começado a se recuperar. O mercado apostou numa taxa de juro elevadíssima quando o mundo já estava em recessão. Então eu acho que o mercado acerta, erra, acerta, erra, acerta. Não acho que temos que desconsiderar o mercado, não. A gente tem que sempre estar atento à opinião dele, que integra um dos elementos importantes da realidade. Um dos principais, mas não o único. Eu vou considerar essa história de "dovish" e "hawkish" (pombo ou falcão) uma brincadeira, um anglicismo.



"Eu acredito num Banco Central extremamente profissional e autônomo. E esse Banco Central será profissional e autônomo."


Valor: Mas o BC, no seu governo, tem autonomia?
Dilma: O Banco Central tem autonomia para fazer a política dele e está fazendo. Tenho tranquilidade de dizer que em nenhum momento eu tergiverso com inflação. E não acredito que o Banco Central o faça. Eu acredito num Banco Central extremamente profissional e autônomo. E esse Banco Central será profissional e autônomo. Não sei se não estão tentando diminuir a importância desse BC.


Valor: Por quê?
Dilma: Porque não tem gente do mercado na sua diretoria.


Valor: Mas pode vir a ter?
Dilma: Pode ter, sim. Falar que tem que ser assim ou assado é um besteirol. Desde que seja um nome bom, ele pode vir de onde vier.


Valor: A opção por fazer uma política monetária diferente, mesclada de juros e medidas prudenciais, pode estar criando um mal-estar?
Dilma: O mercado tem os seus instrumentos tradicionais, mas tem também os incorporados recentemente, no pós-crise. Você tem que fazer essa combinação. Não pode ser fundamentalista, não é bom. Conte com os dois que o efeito ocorre.


Valor: A sra. reiterou a meta de inflação de 4,5%, mas não mais para este ano, não é?
Dilma: Sobre isso, tem um artigo interessante escrito pelo Delfim (na edição de terça-feira do Valor), a respeito de que não existe uma lei divina que diz que a taxa de crescimento será de 3% e que a inflação será de 6%. Eu acho que isso é adivinhação.


Valor: As condições para o ano de 2011 não estão dadas?
Dilma: Não, depende da gente. Nós mostramos que não estava dado na hora da crise e vamos mostrar que não está dado também na hora da inflação e do crescimento sustentado da economia brasileira. Quando eu digo que tenho firme convicção de que não se negocia com a inflação, é para você saber que nós passamos todo o tempo olhando isso. Por isso eu acredito no que faz o Banco Central, no que faz o Ministério da Fazenda.


Valor: Tem um elemento já dado para 2012 que preocupa os analistas: a superindexação do salário mínimo no momento em que o país estará em plena luta antiinflacionária. Não seria hora, depois de 17 anos de plano de estabilização, de se desindexar tudo?
Dilma: No futuro nós vamos ter uma menor preocupação com a valorização do salário mínimo. Quando? Quando houver um crescimento sustentado nesse país.


Valor: Isso não dificulta o combate à inflação?
Dilma: O que aconteceu com o salário mínimo ao longo do tempo? Uma baita desvalorização. Seja porque ele não ganhava sequer a correção inflacionária, seja porque vinha de patamares muito baixos. Acho que o processo de valorização do salário mínimo ainda não se esgotou. Foi isso que nós sinalizamos aquele dia na Câmara (na votação da proposta de correção pela inflação e pelo PIB até 2015). Nós não fazemos qualquer negócio. Quando a economia vai mal, nós não vamos dar reajuste, ele será zero. Vamos dar a inflação. Quando a economia vai bem, com um atraso de um ano, nós damos o que a economia ganhou ali, porque acreditamos que houve um ganho global de produtividade e de crescimento sistêmico. O prazo de um ano (o reajuste é dado pelo PIB de dois anos anteriores) amortece, mas transfere ao trabalhador um ganho que é dele, é da economia como um todo.


Valor: Esse é um assunto resolvido até 2015, portanto?
Dilma: Dar ao trabalhador o direito de receber o ganho decorrente do crescimento do país, com o cuidado de não ser automático para você poder ter acomodação necessária, é fundamental. Acho que o acordo feito entre as centrais e o governo do presidente Lula dá conta dessa época que estamos vivendo, em que estamos valorizando o salário mínimo.


Valor: E depois, negocia-se outra regra?
Dilma: É, porque esta não vai dar conta de uma época futura neste país, onde teremos mantido uma taxa de crescimento sistemática, durante um período mais longo, mais de cinco anos, por exemplo. Aí, sim, você terá tido um nível de recuperação da renda que justifica você ter outra meta. Agora, o que nós fizemos e explicamos para as centrais foi manter o acordo que tinha uma sustentação política, uma sustentação de visão econômica da questão do salário mínimo.


Valor: O reajuste de 13,9% de 2012 corrigirá também as aposentadorias?
Dilma: Esse aumento vai para 70% dos aposentados que ganham salário mínimo. Quem ganha mais do que um mínimo não tem indexação. Em 2014 nós teremos que apresentar uma política para os anos seguintes.


Valor: Nessa ocasião ele poderá ser atrelado à produtividade?
Dilma: Não sei. Não acho que isso (a regra atual) seja uma indexação e quem está falando que é uma indexação tem imensa má vontade com o trabalhador brasileiro. Temos que fazer com que algumas regiões do país e alguns setores da sociedade cresçam a uma taxa maior do que a média para reduzir as desigualdades. Isso vale para o Nordeste, para o Norte, para a metade sul do Rio Grande do Sul, para o Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais e o Vale do Ribeira, em São Paulo. O mesmo se aplica a alguns setores da sociedade. Há, aí, uma estratégia que olha para o Brasil. O país não pode ser tão desigual. Isso não é bom politicamente, socialmente, e não é bom para a economia. O que nos aproxima da Índia, da Rússia e da China, os Bric, não é tanto o fato de sermos emergentes.


Valor: O que é?
Dilma: É o fato de que países que têm a oportunidade histórica de dar um salto para a frente, países continentais com toda a sorte de riquezas, quando sua população desperta e passa a incorporar o mercado, isso acelera o crescimento. É o que explica que o nosso crescimento pode ser maior do que o crescimento dos países desenvolvidos. Outro fator é se conseguirmos criar massivamente um processo de educação em todos os níveis para a população, e formação de pessoas ligadas à ciência e tecnologia que permita que o país comece a gerar inovação. Essas três coisas explicam muito os Estados Unidos e é nelas que temos que apostar para o Brasil dar um salto. Nós temos hoje uma janela de oportunidade única. Além disso temos petróleo, biocombustível, hidrelétrica, minério e somos uma potência alimentar. Não queremos ser só "commoditizados". Queremos agregar valor. Por isso insistimos em parcerias estratégicas com outros países. Agora mesmo vamos propor uma para os Estados Unidos.


"Vamos mandar medidas tributárias e não uma reforma. Vamos mandar várias para ter pelo menos uma parte aprovada."


Valor: Na visita do presidente Obama? Qual?
Dilma: Na área de satélites, especialmente para avaliação do clima, e parcerias em algumas outras áreas. Vou lhe dar um exemplo: acho fundamental o Brasil apostar na formação no exterior. Todos os países que deram um salto apostaram na formação de profissionais fora. Queremos isso nas ciências exatas - matemática, química, física, biologia e engenharia. Queremos parceria do governo americano em garantia de vagas nas melhores escolas. Nós damos bolsa. Vamos buscar fazer isso não só nos Estados Unidos, e de forma sistemática.


Valor: O que a sra. espera de fato dessa visita?
Dilma: Acho que tanto para nós quanto para os Estados Unidos o grande sumo disso tudo, o que fica, é a progressiva consciência de que o Brasil é um país que assumiu seu papel internacional e que pode, pelos seus vínculos históricos com os Estados Unidos e por estarmos na mesma região, ser um parceiro importantíssimo. Isso a gente constrói. Agora, essa consciência é importante. Nós não somos mais um país da época da "Aliança para o Progresso", um país que precisa desse tipo de ajuda. Não que a aliança para o progresso não tenha tido seus méritos, agora não é isso mais que o Brasil é. O Brasil é um país que os EUA tem que olhar de forma muito circunstanciada.


Valor: Como assim?
Dilma: Que outro país no mundo tem a reserva de petróleo que temos, que não tem guerra, não tem conflito étnico, respeita contratos, tem princípios democráticos extremamente claros e uma forma de visão do mundo tão generosa e pró-paz? Uma questão é fundamental: um país democrático ocidental como nós tem que ser um país que tenha perfeita consciência da questão dos direitos humanos. E isso vale para todos.


Valor: Para o Irã e para os EUA?
Dilma: Se não concordo com o apedrejamento de mulheres, eu também não posso concordar com gente presa a vida inteira sem julgamento (na base de Guantânamo). Isso vale para o Irã, vale para os Estados Unidos e vale para o Brasil. Também não posso dar uma de bacana e achar que o Brasil pode ficar dando cartas e não olhar para suas próprias mazelas, para o seu sistema carcerário, por exemplo, sua política com relação aos presos. E isso chega ao direito de uma criança comer, das pessoas estudarem. Isso é direito humano. Mas é também, no sentido amplo da palavra, o respeito à liberdade, a capacidade de conviver com as diferenças, a tolerância. Um país com as raízes culturais que nós temos, que tem uma cultura tão múltipla, e que tem esse gosto pelo consenso, pela conversa, tudo isso caracteriza uma contribuição que o Brasil pode dar para a construção da paz no mundo. Acho que o mundo nos vê como um país amigável.


Valor: A sra. disse recentemente que não fará reforma da previdência social. Mas a regulamentação da reforma da previdência do setor público que está parada no Congresso, será feita?
Dilma: Isso é outra coisa. Já está no Congresso e vamos tentar ver se ele vota. Mas não vamos tirar direitos do trabalhador, não. Nem vem que não tem!.


Valor: A regulamentação da previdência pública, com a criação dos fundos de previdência complementar, não seria apenas para os novos funcionários?
Dilma: É. Mas aí temos que ver como será feito. Não estamos ainda discutindo isso.


Valor: E a reforma tributária? Há informações que a sra. enviará quatro projetos distintos, mudando determinados tributos. É isso mesmo?
Dilma: Estão entrando no Brasil produtos importados com o ICMS lá embaixo. É uma guerra fiscal que detona toda a cadeia produtiva daquele setor. Mas não vou adiantar o que vamos enviar ao Congresso porque não está maduro ainda. Vamos mandar medidas tributárias e não uma reforma. Vamos mandar várias para ter pelo menos uma parte aprovada. Mandaremos também o Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec) e o programa de Erradicação da Pobreza.


Valor: Como serão esses dois?
Dilma: Não posso lhe adiantar porque também não estão fechados. O Pronatec vai garantir que o ensino médio tenha um componente complementar profissional, de um lado, e, de outro lado, garantir que tenha uma formação para os trabalhadores brasileiros de forma que não sobre trabalhador numa área e falte em uma outra. Isso é um pouco mais complicado e não posso dar todas as medidas por que elas interferem em outros setores. Já a questão do ICMS é uma regulamentação que já está no Senado.


Valor: E a desoneração de folha salarial sai?
Dilma: Não posso lhe falar sobre as medidas tributárias.


Valor: São para este ano?
Dilma: Na nossa agenda é para este semestre.


Valor: Qual a proposta para a erradicação da pobreza?
Dilma: É chegar ao fim de quatro anos mais próximo de retirar da pobreza os 19 milhões de brasileiros que ainda faltam.


Valor: O instrumental é o Bolsa Família?
Dilma: Nos já começamos a mexer no Bolsa Família, aumentando a parte de crianças. É com isso, com uma parte do Pronatec, que vai ajudar, é com microcrédito, incentivo à agricultura familiar de uma outra forma. Estamos passando as tropas em revista e mudando muita coisa. E tem que ter sintonia fina. Há profissionais dedicados ao estudo da pobreza que diz que se você não focar, olhando a cara dela, você não consegue tirar as pessoas. E nós queremos, desta vez, estruturar portas de saída.


Valor: Para todos e não só para os 19 milhões a que a sra se referiu?
Dilma: Para todo mundo.


Valor: Uma porta de saída será o Pronatec?
Dilma: Também. As saídas estão aí e estão em manter a economia crescendo.


Valor: A reunião anual da Assembleia de Acionistas da Vale será dia 19 de abril. Nessa reunião deve se decidir sobre a permanência ou não do presidente Roger Agnelli, cujo contrato de trabalho termina dia 30 de abril. Ele será substituído ou pode ser reconduzido?
Dilma: Não sei.


Valor: A sra. não sabe?
Dilma: Você vai ficar estarrecida, mas não sei.
 
FONTE: www.valoronline.com.br/impresso/primeira-pagina/3021/398421/dilma-garante-guerra-a-inflacao