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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

No sertão sem Missa do Galo e sem ceia no Dia do Nascimento


1  (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica – fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_ 


Na Palestina, onde nasci, hoje Graça Aranha (MA), não falávamos Dia de Natal, mas Dia do Nascimento. Após ler “Um Cântico de Natal” (1843), de Charles Dickens (1812-1870), vi que a data era a mesma. Ter lido um clássico natalino universal num lugar no meio do nada, onde quase ninguém sabia ler, há quase meio século, deixa-me emocionada.


 “Um Cântico de Natal” não é a rigor um livro infantil, mas é encantador. Charles Dickens conta que o avarento Ebenezer Scrooge detestava o Natal. Mudou de ideia depois das visitas do Espírito dos Natais Passados; do Espírito dos Natais Presentes; e do Espírito dos Natais Futuros.
Na Palestina do meu tempo de criança, nada de Missa do Galo (não havia padre!) e ceia de Natal. Nem presentes. No Ano-Novo havia o pagamento de alvíssaras: prenda que se dá a quem traz boas novas. O almoço do Dia do Nascimento na casa dos meus avós maternos era um banquete com leitoa e peru devidamente engordados em casa.


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Resultado de imagem para presépio    No sertão, “o centro da comemoração era o Menino Jesus, daí a imperiosa presença dos presépios e da ‘tiração de reis’ – apresentação de reisados, autos natalinos de uma beleza indescritível... Não havia a cultura de Papai Noel nem de presentes. Isso era lá no sertaozão bravo, porque na capital, São Luís do Maranhão, o Natal já era infestado de Papai Noel, ceia de Natal e que tais, embora até hoje os presépios sejam venerados” (“Os rituais gastronômicos do Natal celebram o Menino Jesus?”, O TEMPO, 22.12.2009).
Na adolescência, li sobre os mercados de Natal na Alemanha e fiquei fascinada. Quando morei em São Paulo, tive uma vizinha alemã cujo maior desejo era voltar à Alemanha para visitar os mercados de Natal, que ela descrevia como um mundo mágico, relembrando que, anualmente, sua família visitava três mercados, que em nada se pareciam com a comercialização do Natal a que assistimos hoje. No sul da Alemanha, recebem o nome de Mercado de Natal do Menino Jesus; no essencial, “nada mais é do que uma feira ao ar livre com comidas e bebidas típicas. Também tem artesanato, uma árvore de Natal bem grande e um presépio em tamanho real” (Maracy, do blog “Pequenos pelo Mundo”).
O Mercado de Natal é tradição cristã alemã que remonta à Idade Média. Em 2013, foram realizados 1.450 em toda a Alemanha, instalados pouco antes do Domingo do Advento e encerrados no dia 23 ou 24 de dezembro. O mercado de Frankfurt existe desde 1393; o Striezelmarkt, em Dresden, desde 1434; o de Nuremberg, o mais famoso, desde 1628. Há mercados de Natal de grande expressão em Copenhague, Dinamarca; Bolzano, Itália; Helsinque, Finlândia; Talin, Estónia; e Barcelona, Espanha.


Resultado de imagem para Mercado de Natal em Berlim  (Mercado de Natal, em Berlim)
Mercado de Natal em Frankfurt (Mercado de Natal de Frankfurt)Mercado de Natal de Nurnberg (Mercado de Natal de Nuremberg)


Nos centros urbanos brasileiros há algo similar: bazar de Natal, sem a dimensão de feira/mercado de Natal, com produtos a preços baixos; e, em geral, são eventos cuja renda tem fins caritativos. “O bazar teve origem em tempos antigos, chegando a se tornar cenário de muitas histórias clássicas, como em ‘As Mil e Uma Noites’”.


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Quando li que um caminhão carregado de aço atingiu intencionalmente uma multidão no mercado de Natal em Berlim (19.12), no qual morreram 12 pessoas e 48 ficaram feridas, senti um misto de espanto e dor. E de imediato entendi que o que restava de espírito natalino seria enterrado com as vítimas. Dizem que o atentado não tem sentido religioso, porém a escolha da data e do evento dizem muito.
Cada atentado com a marca do terror é um escárnio à visão de paz, que não prescinde da compreensão de que a Terra e tudo que nela há nos foi dada para usufruto coletivo; logo, a paz não será alcançada num mundo de desigualdades sociais.



Resultado de imagem para Mercado de Natal em Berlim  (Mercado de Natal em Desdrem)
PUBLICADO EM 27.12.16
default  [Por volta das 20h (hora local) de 19/12 um caminhão avançou contra uma feira de Natal na praça Breitscheidplatz, no bairro de Charlottenburg, em Berlim]
Resultado de imagem para presépio rústico   FONTE: OTEMPO

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Aleppo é a expressão cruenta e sangrenta da brutalidade humana

w  (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica – fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_ 


Para entender Aleppo e a guerra civil na Síria, que, segundo a ONU, ceifou a vida de mais de 400 mil pessoas e obrigou mais de 4,5 milhões a fugir, localizemos a “República Árabe da Síria, no Oriente Médio, no Sudoeste da Ásia, com fronteiras com o Líbano e o mar Mediterrâneo a oeste, a Jordânia no sul, Israel a sudoeste, Iraque no leste e Turquia ao norte. Em 2013, a Síria contava com 22,85 milhões de habitantes.


Resultado de imagem para damasco siria  “Damasco é a cidade mais importante e capital do país. Aleppo é a segunda mais significativa. Os sírios não cultivam a religião islâmica e o governo é laico. A maioria do povo é muçulmana, particularmente sunitas, embora não seja difícil encontrar grupos de cristãos ortodoxos” (Ana Lúcia Santana).
A Síria moderna remonta ao pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Os conflitos territoriais, sempre bélicos, datam de séculos, embora a Síria seja um “país-chave do equilíbrio geopolítico do Oriente Médio”. “O Partido Baath comanda esse país desde 1963, cuja liderança é o presidente Bashar al-Assad, 51 anos, filho do antigo líder Hafez al-Assad (1930-2000), que ocupou o poder de 1970 até 2000, quando morreu” (Ana Lúcia Santana).



Resultado de imagem para damasco siria  (Presidente da Síria presidente Bashar al-Assad)


A guerra civil atual na Síria data de janeiro de 2011 e é parte da Primavera Árabe. Desde então, o povo tem sido massacrado impiedosamente. O que mais tocou muita gente, eu inclusive, foi o vídeo recente de um grupo de 47 crianças órfãs pedindo para sair da Síria. O governo diz que até o vídeo das crianças órfãs é obra mentirosa dos “terroristas”, como denomina a todos que se opõem a seu governo. Isto é, há duas versões para a guerra civil na Síria!


Vista aérea de Aleppo Aleppo já foi “a maior cidade da Síria, com 2,3 milhões de habitantes, e o centro financeiro e industrial do país”; é um campo de batalha entre forças do governo e quem luta para depor Assad. Os EUA são contra a permanência de Assad no poder, e a Rússia o apoia. Hoje, “70% da população não tem acesso à água potável, uma em cada três pessoas não consegue suprir as necessidades alimentares básicas, mais de 2 milhões de crianças não vão à escola, e um em cada cinco indivíduos vive na pobreza”. Pagam o maior tributo crianças, mulheres e idosos!


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Resultado de imagem para aleppo   Em todas as guerras, as pessoas mais vulneráveis do ponto de vista da sexualidade são as crianças e as mulheres. Não é à toa que, desde tempos imemoriais, o estupro é uma arma de guerra comum, tanto que devastou a vida de mulheres e famílias em conflitos recentes em Ruanda, Camboja, Libéria, Peru, Somália, Uganda, na ex-Iugoslávia e agora na Síria. Isto é, todas as mulheres, em regiões de guerra, são sobreviventes de violência sexual, de fato ou psicologicamente – um trauma de proporções incomensuráveis.


Resultado de imagem para ‘O Rapto das Sabinas’ (O Rapto das Sabinas, de  Jacques-Louis David)


Garcia, em “O Estupro como Arma de Guerra”, relembra que há a lenda (?) de que “a história de Roma, por exemplo, foi marcada pelo episódio denominado ‘O Rapto das Sabinas’, em que Rômulo, o então governante do Império, determinou o rapto de mulheres sabinas para servirem de esposas aos homens que chegavam para ocupar aquelas terras. Por óbvio, seguido ao rapto veio o estupro, como um instrumento viável e determinante de poder e do povoamento da região”.
Lina Shaikhouni, em “Aleppo antes da guerra: ‘A cidade mais bonita e elegante do mundo’” (BBC, 16.12.2016), evidencia a destruição brutal da cidade, que desde a semana passada é controlada pelo governo. Há frágeis acordos de cessar-fogo, e a Cruz Vermelha realiza o resgate, em ônibus e ambulâncias, previsto para durar dias.
Jamais conhecerei a Aleppo que a brutalidade humana destruiu...


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 PUBLICADO EM 20.12.1
6Resultado de imagem para aleppo  FONTE: OTEMPO