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terça-feira, 28 de março de 2017

Angelina Gonçalves, assassinada na luta pelos direitos trabalhistas

tf   DUKE
Fátima Oliveira
Médica – fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima


      Na votação da precarização do trabalho, no dia 22 passado, pelo Projeto de Lei 4.302, a imagem que apareceu em minha mente foi a da operária tecelã gaúcha Angelina Gonçalves, assassinada no dia 1º de maio de 1950, no Rio Grande do Sul, com mais três lideranças operárias – o pedreiro Euclides Pinto, o portuário Honório Alves de Couto e o ferroviário Osvaldino Correia.
      Angelina Gonçalves, 37, foi morta com um tiro no ouvido, abraçada à bandeira do Brasil e ao lado de sua filha Shirley, então com 10 anos, numa caminhada pacífica rumo à sede da Sociedade União Operária, que se encontrava fechada pelo governo. Todavia, foram barrados à bala, por ordem do Departamento da Ordem Política e Social (Dops). O massacre ocorreu após a realização de um churrasco comemorativo do Dia do Trabalho no Cassino dos Pobres, hoje Parque do Trabalhador.


     Resultado de imagem para CLT O governador do Rio Grande do Sul era Walter Só Jobim, e o presidente do Brasil era o marechal Eurico Gaspar Dutra. Na data do assassinato de Angelina Gonçalves, fazia sete anos que o presidente Getúlio Vargas promulgara a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que ainda enfrentava o patronato para que fosse cumprida, daí porque, em geral, comemorar o Dia do Trabalho no Brasil era exigir o cumprimento da CLT. E em nome dela muitas pessoas ficaram mutiladas ou perderam a vida.


Operarios_tarsila_amaral (Operários, Tarsila do Amaral, 1933)


      Quem imaginava que os direitos trabalhistas haviam sido introjetados na mente do patronato brasileiro se enganou, basta lembrar que as investidas explícitas contra eles são antigas e sempre sob a alegação da “modernização” da relação trabalho versus capital, como se o capital fosse passível de modernização. Ao contrário, é cada vez mais espoliador e selvagem com sua ideia imutável, que é explorar cada vez mais! Recordemos que o projeto aprovado agora em 2017 estava mofando no Parlamento desde 1998 – tempos de FHC!


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      Ao fim e ao cabo, o Projeto de Lei 4.302, apresentado em 1998, “que aprova a terceirização generalizada, em todas as atividades das empresas – inclusive na atividade-fim, o que a Justiça do Trabalho veda atualmente –, e também altera regras para o trabalho temporário”, evidencia a voracidade com que o capital vai para cima dos direitos trabalhistas e que o discurso patronal de paz social é oco!


    Resultado de imagem para deputado Daniel Almeida  Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), o 4.302 “é uma tragédia para os trabalhadores, e é mentiroso afirmar que a medida abrirá vagas. Apenas reduzirá a proteção social”. Estudos recentes do Dieese demonstraram que os terceirizados recebem, em média, 30% a menos que os contratados diretos. Eis uma conclusão que lacra qualquer argumento em defesa da terceirização.
      “O massacre de Rio Grande é exemplar de que o capital, historicamente, solapa e usurpa direitos trabalhistas e pode matar para impor sua política de ganância. A terceirização equivale à precarização do trabalho – nociva em todos os aspectos para quem vende sua força de trabalho, com as mulheres pagando o maior tributo” (“A conversa fiada de quem dizia que a luta de classes acabou”, O TEMPO, 21.4.2015).
      Estamos diante de um roubo do futuro do Brasil! “E repito que o título ‘O Futuro Roubado’ hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas” (“‘O Futuro Roubado’ é um livro científico que dói na cidadania”, O TEMPO, 10.5.2016).
      Há muita luta a ser lutada!


 PUBLICADO EM 28.03.17 
Resultado de imagem para direito ao trabalho digno  FONTE: OTEMPO

terça-feira, 21 de março de 2017

Carnes adulteradas, segurança alimentar e recolonização do país

sw  DUKE
Fátima Oliveira
Médica – fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima

      Desconhecemos todos os elementos que originaram a operação da Polícia Federal Carne Fraca, no último dia 17, motivada pela denúncia do auditor fiscal federal agropecuário Daniel Gouvêa Teixeira de que carnes estragadas e fora de padrão eram vendidas por frigoríficos da região de Curitiba, cuja fiscalização está sob comando do PMDB!
       Corrupção no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para fazer “vista grossa” quanto à segurança alimentar é antiga, tanto que o denunciante, declarou: “Não adianta pensarmos que toda carne vendida no Brasil é ruim, que toda a fiscalização é corrupta, porque isso é mentira. Nosso produto é muito bom, e é por isso que somos destaque na importação. Não vamos criar algo que não existe”.
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      Carne fraca, segundo a operação, é carne adulterada pelo uso de carcaça e cartilagem no lugar da carne convencional; e uso de carnes vencidas, chamadas “carnes verdes”, lavadas com produtos químicos em quantidade superior ao permitido por lei, como o ácido ascórbico (vitamina C). A terminologia “carne verde”, no lugar de “carne vencida ou podre” (que não são a mesma coisa), joga por terra um linguajar do médio sertão maranhense, onde “carne verde” significava carne novíssima, fresquinha...


     Imagem relacionada Fiquei chocada com a notícia das carnes podres e demais fraudes por dois motivos. O primeiro, pelo Brasil -- somos o segundo exportador mundial de carnes, logo um setor vital da economia; e o segundo, por mim – sou carnívora habitual e não gosto de carnes velhas (congeladas). Sou bisneta e neta de vaqueiros que se tornaram donos de um gadinho pé-duro no sertão por muitas gerações.


Resultado de imagem para gadopéduroResultado de imagem para gadopéduro  Meu avô virou também açougueiro, depois boiadeiro e, a cada dois meses, matava um garrote para consumo da família. Sem geladeira, a carne virava carne de sol, carne seca e carne de lata – assada ou frita na panela e conservada em latas na gordura de porco, que dura até seis meses, o célebre “confit” dos franceses... Fora as leitoas e os “capados” gordos, cabritos e galinhas do terreiro... Meus hábitos alimentares são muito sertanejos ainda: aprecio as carnes desidratadas e as frescas, sem nem passar pela geladeira! O sabor da carne fresca é um, e o da resfriada ou congelada é outro!

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Resultado de imagem para gadopéduro    Conforme Miguel do Rosário: “Se a PF identificou, há mais de dois anos, que havia problemas no mercado de carne, deveria ter alertado o governo, as empresas e os cidadãos, para que ninguém tivesse prejuízo. A PF encontrou problemas em 21 empresas, num total de quase 5.000, e suspeita de crimes praticados por 33 servidores num universo de 11 mil funcionários do Ministério da Agricultura” (“Considerações e estatísticas sobre a operação Carne Fraca”, 19.3.2017).
      A surreal mistura de “papelão” às carnes foi um “mal-entendido” da PF. Era a fala de um executivo sobre embalagem! E acarretará a perda de “vários bilhões de dólares a nossa economia”. Luis Nassif, em “Ação da PF contra setor de carnes ocorre após Brasil conquistar mercado nos EUA”, destaca a “coincidência” (?) de que a PF investigava havia dois anos e só publicizou “no momento em que o Brasil vinha abrindo mercado no plano internacional” (17.3.2017).


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Resultado de imagem para galinhas no quintal    Os negócios no capitalismo não são oratórios nem casas de caridade, e lançam mão de uma série de artimanhas para dar vazão a suas ganâncias, até mesmo ignorando questões de biossegurança, segurança alimentar e nutricional. Devem ser punidos! Mas até onde as forças interessadas na transformação do Brasil numa colônia norte-americana estão envolvidas na desacreditação da carne brasileira?

Resultado de imagem para carcaça de cabeça de boi  PUBLICADO EM 21.03.17 
Resultado de imagem para cabeça de boi na cerca   FONTE: OTEMPO

terça-feira, 14 de março de 2017

Continua a luta por um mundo de igualdade contra todas as opressões

q  (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica – fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima


A greve geral das mulheres no 8 de Março passado, com a adesão de mais de 60 países, incluindo o Brasil, onde ocorreu mais de uma centena de manifestações, nos dá muitas esperanças na força e no poder do internacionalismo feminista, apesar dos atropelos machistas e misóginos que nos cercaram na data em nosso país.


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Imagem relacionada
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Um deles, o goleiro Bruno, condenado por feminicídio, em 2010, a 22 anos e três meses de prisão, foi solto! “Tirou” apenas seis anos e sete meses de cadeia! Ele recorreu da sentença, e sua condenação virou prisão preventiva, pois o recurso não foi julgado até a data da soltura, 24.2.2017. Todo pimpão, declarou à TV Globo Minas: “Independente do tempo que eu fiquei também, eu queria deixar bem claro, se eu ficasse lá, se tivesse prisão perpétua, por exemplo, no Brasil... não ia trazer a vítima de volta”.

(veja o vídeo onde Eliza diz ter sido agredida por Bruno)
Resultado de imagem para et de varginha Como se cadeia fosse para ressuscitar quem os assassinos mataram! É um assassino tirando onda de filósofo! Em 10 de março, ele foi contratado pelo Boa Esporte, de Varginha (MG), a cidade dos ETs. Faz sentido. É um escárnio, acobertado pela lei. É a segunda vez que o Estado acaricia o criminoso goleiro: Eliza Samudio foi assassinada porque o Estado brasileiro, quando instado por ela a proteger sua vida, se omitiu: não compareceu para dar limites ao agressor, acariciando assim a onipotência dele.


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Resultado de imagem para foto Hospital de clínicas Universidade Federal de Uberlan di


Resultado de imagem para ipês de Belo HorizonteResultado de imagem para ipês de Belo Horizonte Há quase três anos não moro em BH, todavia, na tarde de 7 de março, fui “achada” por uma defensora pública de Uberlândia (MG), que conduz um caso de gravidez pós-estupro e pedia socorro porque não encontrara nas “muitas Minas” quem realizasse o aborto! Conforme relato da defensora pública: “Uma moça de 20 anos está grávida após estupro. Desde então, vem em peregrinação por hospitais da rede pública, para se submeter ao procedimento de interrupção da gravidez, e todos se recusaram.
Ela chegou a ser encaminhada para um hospital em BH, mas foi negado o atendimento porque supostamente este seria atribuição do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, que, por sua vez, já informou que não o faz”.


    imagem de destaque  A valorosa defensora já entrou com uma ação pedindo que o Estado providencie a interrupção da gravidez; no entanto, não conseguiu a informação sobre quais hospitais em Minas Gerais são credenciados para tanto. Cadê o governador de Minas Gerais? Até 2010 havia lista pública de serviços de aborto prevista em lei no Brasil, mas um ministro fundamentalista proibiu a divulgação dela! Só sabemos que são 65 serviços e a lista sumiu!


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Resultado de imagem para frase Temer 8 março A terceira miséria foi o chamado nem tanto subliminar do atual presidente da República à formação das fiscais de Temer, ao dizer: “Ninguém melhor do que a mulher para indicar desajustes de preços no supermercado”, em meio a um discurso das entranhas da Idade Média, bem ao estilo família “comercial de margarina”, ignorando as novas configurações familiares no Brasil, onde 40% dos domicílios têm mulheres como pessoas de referência, conforme a pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, do Ipea. “Tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, do quanto a mulher faz pela casa, pelo lar. Do que faz pelos filhos...” Ninguém merece ser reduzida ao papel de mulher-mala, aquela cujo valor divino são os rebentos que pode carregar na barriga!


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É um atraso que padrões culturais retrógrados dominem mentes que têm poder e que, por dever de ofício, deveriam estar em sintonia com a peleja “por um mundo de igualdade contra todas as opressões”.

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Resultado de imagem para fotos 8 março no mundo PUBLICADO EM 14.03.17
  FONTE: OTEMPO