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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Que 2016 seja alvissareiro para o povo brasileiro

  (Maria Clara e o Governador Flávio Dino na solenidade de entrega do Prêmio José Augusto Mochel, 18.12.2015)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


A chegada de um novo ano marca o alvorecer de um novo tempo e a possibilidade de melhores dias, nem sempre concretizáveis, mas a esperança é daquele tipo “vai que acontece”!
No geral, acho que há o que comemorar ter “rompido” o Ano-Novo. Em linguajar do sertão maranhense, “romper o Ano-Novo” é a dádiva de estar vivo, logo, nem sempre a alegria é babaquice, a não ser quando as comemorações excedem os limites da diversão: “Beber daquela vez como se fosse a última”...




Os rituais de Ano-Novo são compostos por diferentes ritos, pois, em geral, em cada país a chegada do Ano-Novo é celebrada de uma maneira. Num mesmo país, os rituais podem ser diferentes, a depender se é praia, montanha ou roça.


Depois das alvíssaras da Maria Clara, que venha 2010!
Depois das alvíssaras da Maria Clara, que venha 2010!


Escrevi em “Depois das alvíssaras da Maria Clara, que venha 2010!” que “é difícil não se contagiar com a iminência de um ‘ano que entra’. Quem vivenciou um ano ruim, espera um melhor; e quem navegou em alegrias, agradece as graças recebidas. Se para alguns celebrar o Ano-Novo é uma chatura, para a maioria não o é. Em algumas regiões do Brasil, alvíssaras são mimos recebidos no ‘Dia de Ano’, que é um costume lindo!
Recebi minhas alvíssaras antecipadamente. Em 30 de dezembro passado nasceu a minha neta Maria Clara, que reverberou em mim como um sentimento de eternidade. Ouvir o seu choro ao nascer foi mágico.
Nem cortar o cordão umbilical eu queria, de tão emocionada, mas a dra. Myrian Celani, que tem o dom de obstetra, nem quis saber e colocou a tesoura em minha mão e... clic, nem vi direito, cortei! Estava embevecida, olhando-a e constatando que era a cara da mãe, da tia e do tio quando bebês – o milagre genético da natureza em toda a sua exuberância, parido do meu ventre!
Foi só ver Maria Clara sobre a sua mãe, Lívia Cristina, pra não perder o costume de filosofar e arengar. Indaguei em que mundo gostaria que ela vivesse” (O TEMPO, 12.1.2010). O tempo passa numa celeridade impressionante! Amanhã, dia 30, Maria Clara, completará seis anos e, como ela diz, “Já me formei no ABC!”.


 (Maria Clara)


É para essa gente pequena que já se formou no ABC, pra quem ainda vai se formar no ABC e para toda a meninada, adolescentes e jovens que estão na luta por um futuro radiante, pelos que se perderam pelo caminho e podem ser recuperados, que nós, adultos de várias gerações, precisamos legar um futuro de oportunidades e dignidade, numa República laica e democrática, com liberdade de opinião e também a liberdade de ter ou não uma religião.
Para quem tem a solidariedade como um valor, a luta é por um mundo acolhedor para todas as pessoas, logo, um desafio é compreender, introjetar e cumprir o dito pela geneticista francesa Claudine Guérrin-Marchand, autora do livro “Manipulações Genéticas”: “A Terra nos foi dada em usufruto, e é nosso dever legá-la saudável para as futuras gerações”. É o mínimo que se espera como demonstração de consciência ecológica e como expressão da ética da responsabilidade.
Entendo que legar uma Terra ecologicamente saudável para as futuras gerações é partilhar riquezas e tem a exata dimensão do que nos diz Flávio Dino, governador do Maranhão, um obcecado, como eu, pelo bem-estar do nosso povo. Em “Governo de todos nós, um ano” (27.12.2015): “No ano que se inaugura, vamos continuar a lutar para superar o quadro de extrema dificuldade econômica que vive o nosso país para realizar o sentido máximo de nossa gestão, qual seja, fazer com que as riquezas do Maranhão sejam capazes de levar benefícios para todos”.


 
PUBLICADO EM 29.12.15
10  (DUKE)
 FONTE: OTEMPO


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O cacto é exemplar de integração, perseverança e adaptabilidade

  

Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


As festas de fim de ano lembram-me muito minha avó materna, Maria Andrelina, e sua mala de “cortes de tecidos”. Além de previdente, era uma sábia de nascença e com certeza jamais entupiria um shopping atrás de presentes no Natal.
Quando eu era criança, as “roupas de carregação” eram roupas baratas, compradas feitas. Diante de uma roupa mal-ajambrada, vovó não se calava: “Isso é roupa de carregação”, que hoje são as “sulancas” – baratas, feitas de aproveitamento de sobras de tecidos, inicialmente de helanca (vinda do Sul) na década de 60, em Santa Cruz do Capibaribe, no agreste de Pernambuco.




Vovó mantinha uma mala especial para guardar cortes de tecidos – da chita à seda pura e “outras sedinhas”, passando pelas musselines e pelos “chiffons”, de seda e de algodão, tafetá, brocado, organza e “pele de ovo”. Eu era fascinada por aquela mala trancada à chave! Era nela que vovó encontrava que presente dar a alguém e também era o celeiro para fazer uma roupa às pressas.

 Talvez imitando vovó, durante anos mantive uma mala de livros escolhidos a dedo, a que recorria quando queria presentear alguém. Até hoje sou compradora quase compulsiva de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupèry – uma alegoria em prosa-poema sobre a amizade e a transcendência dela; sobre a sofrença e o encanto do amor e seu entorno filosófico; e que nos ensina o valor da ética da responsabilidade e das coisas que não estão à vista, mas no horizonte: “O que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em algum lugar”... (“Do tempo em que ler ‘O Pequeno Príncipe’ era obrigação”, O TEMPO, 8.2.2011).



Quando dou um presente, estou dando também um pedaço de mim. Há algum tempo, seja para criança ou adulto, só presenteio com cacto e/ou até um pequeno jardim de minicactos, cultivados por mim. Não conheço quem não se derreta diante do encanto de um minicacto, objeto de decoração que dá uma personalidade especial a qualquer ambiente.


 De acordo com a sabedoria feng shui – “ciência e arte chinesas, de origem filosófica taoista, que têm por objetivo organizar os espaços com o fim de atrair influências benéficas da natureza” –, cactos são guardiões da casa e purificadores do ambiente – alguns cientistas dizem que formam uma barreira contra as ondas emitidas por aparelhos eletrônicos. Para o feng shui, “o nosso ambiente conta uma história. Então, se mudarmos os elementos desse ambiente de forma correta, poderemos mudar a nossa história de forma positiva” (Portal Feng Shui).




Especula-se que o poder da energia dos cactos muda ambientes positivamente. Ademais, um cacto, para mim puro sertão, é companhia de fácil cuidado e quase não exige nada: pouquíssima água – basta regar uma vez por semana no verão e uma por mês no inverno; gosta de quietude, pois é bastante sensível, portanto evite manusear muito ou até mesmo balançá-lo para não prejudicar o seu ciclo vital. Boa luminosidade é essencial para a sobrevivência de um cacto, então, se dentro de casa, é necessário colocá-lo perto de janelas.


   A terra ideal para plantar um cacto é quase inóspita – uma camada de um terço de pedrisco, incluindo pedacinhos de telhas ou tijolos e carvão vegetal triturado, mais mistura para cactos (proporção de duas partes de areia grossa para uma parte de terra adubada). Recomenda-se a cada um ano e meio trocar a terra do vaso, com bastante cuidado para preservar as raízes.
Quando damos um ser vivo a alguém, estamos dando uma companhia. No caso dos cactos, nativos de regiões áridas, estamos presenteando com exemplares de perseverança, adaptabilidade e integração.


01  (DUKE)
PUBLICADO EM 22.12.15
 FONTE: OTEMPO


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Desafios ambientais, médicos e psicossociais e microcefalia

OPINIAO15-12-15-  (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


A cada publicação do Informe Epidemiológico sobre Microcefalia, do Ministério da Saúde (MS), quedo-me à impotência diante dos números. Os casos suspeitos só aumentam. Nem sequer temos a dimensão, nem como estimá-la, do que nos espera num país continental como o Brasil, onde a subnotificação é a regra!
“Até 5 de dezembro de 2015, foram registrados 1.761 casos suspeitos de microcefalia, em 422 municípios de 14 Estados. Foram notificados 19 óbitos de bebês com microcefalia e suspeita de infecção pelo zika vírus”.




O Brasil, para não variar, é retardatário: não deu conta do mosquito Aedes aegypti, que aqui aportou com os navios negreiros. Na década de 50, foi erradicado, mas retornou nos anos 80, com uma epidemia de dengue em Roraima; em 1986, no Rio de Janeiro e no Nordeste; em 1990, no Sudeste; e em 1998, uma pandemia, com mais de 500 mil casos!


(AFP)(Thinkstock)  


Como não extirpamos os criatórios de Aedes aegypti, agora ele exibe todo o seu poder para além da dengue: zika e chikungunya. Todo mundo sabe que só se previnem tais doenças erradicando-se o mosquito! Sem choro e sem vela, é o dever de casa de todas as prefeituras do país! E ponto final!




Resultado de imagem para Mães de Bebês com Microcefalia em Pernambuco    O governo federal respondeu prontamente ao leite derramado, a epidemia do zika vírus: desde elaborar um protocolo emergencial de vigilância e resposta aos casos de microcefalia supostamente pela infecção do zika vírus, passando por definir Situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional no país, até lançar, em 5 de dezembro, o Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia – mobilização nacional para conter novos casos relacionados ao zika vírus, que consta de três eixos de ação: mobilização e combate ao mosquito; atendimento às pessoas; e desenvolvimento tecnológico, educação e pesquisa.
Até 7 de dezembro passado, o MS incluía como suspeita de microcefalia o Perímetro Cefálico (PC) de 33 cm, quando adotou a medida padrão da OMS, que é de 32 cm. As diretrizes nacionais para a epidemia de microcefalia estão dadas, resta esperar o protagonismo dos governos locais (governadores e prefeitos).


Imagem de Bruna Gabrielly, 19 anos, beijando a filha Anne Beatrys, diagnosticada com microcefalia (Foto: Edmar Melo / JC Imagem)
Mãe de bebê com microcefalia transforma dificuldades em palestras e grupo de apoio e e, no Facebook, a página “Mães de Bebês com Microcefalia em Pernambuco”]


Não será fácil. Não é impossível, mas complexo, concretizar as diretrizes do MS para as grávidas, a quem o ministério recomenda o uso de repelente e de calças compridas nas áreas de risco. Há discordâncias.
Thomaz Gollop, geneticista, especialista em medicina fetal, ginecologista e obstetra, diz que “especialistas em reprodução assistida estão recomendando adiar as transferências de embriões até abril para reduzir a possível exposição de fetos ao zika vírus!” E arremata: “O que você faria se a sua irmã ou filha planejasse hoje uma gravidez? Eu, certamente, diria: não engravide agora de jeito nenhum”.


BBC
(Mães de bebês com microcefalia trocam experiências à espera de consulta, Recife-PE)


Manda a prudência que as mulheres não engravidem agora, embora não saibamos exatamente se o zika vírus é o causador da microcefalia, pois ainda é uma hipótese a se confirmar! Mesmo assim, o tributo maior é das mulheres: o adiamento do desejo de engravidar e a imolação diante da microcefalia. Camilla Costa, em “Mães de bebês com microcefalia enfrentam  distância, cansaço e maratona de exames”, exibe o impacto do caos da peregrinação, ainda inicial, em “lombo de vans” (BBC, 7.12.2015). Descentralizar o atendimento é indicativo número 1 de humanização da atenção!
Cinthya Leite, em “Mães de bebês com microcefaliaprecisam de apoio psicossocial” (“JC”, 5.12.2015), afirma, com o que concordo, que o Brasil tem de cuidar de quem nasceu com microcefalia, incluindo as mães, já que está escrito na pedra, infelizmente, que “Quem pariu Mateus que o embale!”.

 
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PUBLICADO EM 15.12.2015
 FONTE: OTEMPO

12 (DUKE)
O que faremos com nossas crianças com microcefalia? Por Fátima Oliveira, em O TEMPO, 01.12.2015

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sinto falta uma “mesa de comer” para discutir política

sala de jantar
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Há gente declamando Marina Colasanti: “Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia. A gente se acostuma para poupar a vida, que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma” (“Eu Sei, Mas Não Devia”, 1972).




E também “O Bicho”, de Manuel Bandeira: “Vi ontem um bicho/ Na imundície do pátio/ Catando comida entre os detritos./Quando achava alguma coisa,/ Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade/ O bicho não era um cão,/ Não era um gato,/ Não era um rato./ O bicho, meu Deus, era um homem”. Retrato do tempo FHC.





E a gente jogando conversa fora na “mesa de comer”. Há uma saladinha verde salpicada de tomate vermelho picadinho – bem frugal –, que acompanha uma carne judia, e um vinho tinto chileno resfriado... As crianças comendo vorazmente, pois querem ver desenho na TV... Parece que foi ontem, mas não há mais crianças!


 E alguém relembra: “Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases/ falam. E desfilam de tal modo nuas/ que mesmo um cego pode ver/ a verdade em trapos pelas ruas” (“A Implosão da Mentira”, de Affonso Romano de Sant’Anna).



O novo presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, comemora junto a outros deputados a sua vitória  Foto: Agência Brasil
   


Assuntos complexos e difíceis adquirem um tom mais ameno e são mais digeríveis na mesa de comer. E relembramos que escrevi: “Como em 2005, em 2015 foi a política que saiu perdendo, com o agravante de que, se Severino era um misógino ‘católico roxo’, Eduardo Cunha é fundamentalista roxo, orgânico e militante, o que faz toda a diferença, vide o sistema ‘jagunço’ de fazer política, um sistema de poder que ele implementa com ares e desenvoltura de presidente do Brasil.
“Se Severino Cavalcanti tinha aquele olhar de paspalhão, o de Cunha é puro Hermógenes, um chefe jagunço de ‘Grande Sertão: Veredas’, de Guimarães Rosa, que nem sequer respeitava as normas/ leis da jagunçagem, como disse Riobaldo Tatarana: ‘O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado’” (“Uma república democrática e laica sob o ‘sistema jagunço’”, O TEMPO, 17.2.2015).

01  (DUKE)


Reafirmo: “Sim, ‘Hermógenes é fel dormido’. Até porque Hermógenes não precisa ‘impor-se mau’, pois ele assim o é por si mesmo (e por resultado do pacto que fez). Hermógenes aparece-nos como a excrescência do ambiente do sertão, pois estão nele concentradas, justamente, todas as características que aparecem, por vezes isoladamente, em cada homem da jagunçagem”. (“Sobreviver ao jaguncismo exige arte e muita manha”, O TEMPO, 21.7.2015).

02  (DUKE)
A presidente Dilma Rousseff durante pronunciamento após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceitar pedido de impeachment   Volto a repetir: “O que vivenciamos de janeiro até agora encerra muitas lições para quem quer aprender. Uma delas é que a luta de classes está viva, se move para manter o status quo de exploração/opressões e pode se apresentar em qualquer de suas múltiplas faces. É essencial que saibamos reconhecê-la” (“É um alento respirar democracia e derrotar ojaguncismo”, (1.9.2015).


Resultado de imagem para grande sertão veredas     E “o fel dormido” encenou uma presepada, embora renomados juristas digam à exaustão que não há crime que justifique tão insano desejo! Faço meu o dito por Fernando Morais em “O dia da infâmia”: “No crepúsculo desse 2 de dezembro, um patético descendente dos golpistas de 64 deu início ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A natureza do golpe é a mesma, embora os interesses, no caso os do deputado Eduardo Cunha, sejam ainda mais torpes. (...) E veremos quem se alia ao oportunismo, ao gangsterismo, ao vale-tudo pelo poder. Não tenho dúvidas: a presidente Dilma sairá maior dessa guerra, mais uma entre tantas que enfrentou, sem jamais ter se ajoelhado diante de seus algozes (“FSP”, 6.12.2015).
A vida segue, e nos cabe defender a democracia.

01 (DUKE) 
PUBLICADO EM 08.12.15
  (Severino Cavalcanti foi fisgado pela comida. No caso, pela acusação de cobrar propina do restaurante da Câmara dos Deputados.  Na imagem, o retrato oficial de Severino montado sobre pintura portuguesa do início do século XX).
FONTE: OTEMPO