(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
A cada publicação do Informe Epidemiológico sobre Microcefalia, do Ministério da Saúde (MS), quedo-me à impotência diante dos
números. Os casos suspeitos só aumentam. Nem sequer temos a dimensão, nem como
estimá-la, do que nos espera num país continental como o Brasil, onde a
subnotificação é a regra!
“Até 5 de dezembro de 2015, foram registrados 1.761
casos suspeitos de microcefalia, em 422 municípios de 14 Estados. Foram
notificados 19 óbitos de bebês com microcefalia e suspeita de infecção pelo
zika vírus”.
(Velório do bebê Victor Hugo com microcefalia no Piauí, em 22.11.2015, em Teresina-PI)
O Brasil, para não variar, é retardatário: não deu
conta do mosquito Aedes aegypti, que aqui aportou com os navios negreiros. Na
década de 50, foi erradicado, mas retornou nos anos 80, com uma epidemia de
dengue em Roraima; em 1986, no Rio de Janeiro e no Nordeste; em 1990, no
Sudeste; e em 1998, uma pandemia, com mais de 500 mil casos!
Como não extirpamos os criatórios de Aedes aegypti,
agora ele exibe todo o seu poder para além da dengue: zika e chikungunya. Todo
mundo sabe que só se previnem tais doenças erradicando-se o mosquito! Sem choro
e sem vela, é o dever de casa de todas as prefeituras do país! E ponto final!
O governo federal respondeu prontamente ao leite
derramado, a epidemia do zika vírus: desde elaborar um protocolo emergencial de
vigilância e resposta aos casos de microcefalia supostamente pela infecção do
zika vírus, passando por definir Situação de Emergência em Saúde Pública de
Importância Nacional no país, até lançar, em 5 de dezembro, o Plano Nacional de
Enfrentamento à Microcefalia – mobilização nacional para conter novos casos
relacionados ao zika vírus, que consta de três eixos de ação: mobilização e
combate ao mosquito; atendimento às pessoas; e desenvolvimento tecnológico,
educação e pesquisa.
Até 7 de dezembro passado, o MS incluía como suspeita
de microcefalia o Perímetro Cefálico (PC) de 33 cm, quando adotou a medida
padrão da OMS, que é de 32 cm. As diretrizes nacionais para a epidemia de
microcefalia estão dadas, resta esperar o protagonismo dos governos locais
(governadores e prefeitos).
[Jovem só descobriu anomalia congênita depois que a filha nasceu. A partir daí, começou a orientar outras mulheres (Foto: Edmar Melo / JC Imagem)
Mãe de bebê com microcefalia transforma dificuldades em palestras e grupo de apoio e e, no Facebook, a página “Mães de Bebês com Microcefalia em Pernambuco”]
Não será fácil. Não é impossível, mas complexo,
concretizar as diretrizes do MS para as grávidas, a quem o ministério recomenda
o uso de repelente e de calças compridas nas áreas de risco. Há discordâncias.
Thomaz Gollop, geneticista, especialista em medicina
fetal, ginecologista e obstetra, diz que “especialistas em reprodução assistida
estão recomendando adiar as transferências de embriões até abril para reduzir a
possível exposição de fetos ao zika vírus!” E arremata: “O que você faria se a
sua irmã ou filha planejasse hoje uma gravidez? Eu, certamente, diria: não
engravide agora de jeito nenhum”.
(Mães de bebês com microcefalia trocam experiências à espera de consulta, Recife-PE)
Manda a prudência que as mulheres não engravidem
agora, embora não saibamos exatamente se o zika vírus é o causador da
microcefalia, pois ainda é uma hipótese a se confirmar! Mesmo assim, o tributo
maior é das mulheres: o adiamento do desejo de engravidar e a imolação diante
da microcefalia. Camilla Costa, em “Mães de bebês com microcefalia enfrentam distância, cansaço e maratona de exames”, exibe o impacto do caos da
peregrinação, ainda inicial, em “lombo de vans” (BBC, 7.12.2015).
Descentralizar o atendimento é indicativo número 1 de humanização da atenção!
Cinthya Leite, em “Mães de bebês com microcefaliaprecisam de apoio psicossocial” (“JC”, 5.12.2015), afirma, com o que concordo,
que o Brasil tem de cuidar de quem nasceu com microcefalia, incluindo as mães,
já que está escrito na pedra, infelizmente, que “Quem pariu Mateus que o
embale!”.
PUBLICADO EM 15.12.2015
FONTE: OTEMPO
(DUKE)
O que faremos com nossas crianças com microcefalia? Por Fátima Oliveira, em O TEMPO, 01.12.2015
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