Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
As festas de fim de ano lembram-me muito minha avó
materna, Maria Andrelina, e sua mala de “cortes de tecidos”. Além de
previdente, era uma sábia de nascença e com certeza jamais entupiria um
shopping atrás de presentes no Natal.
Quando eu era criança, as “roupas de carregação” eram
roupas baratas, compradas feitas. Diante de uma roupa mal-ajambrada, vovó não
se calava: “Isso é roupa de carregação”, que hoje são as “sulancas” – baratas,
feitas de aproveitamento de sobras de tecidos, inicialmente de helanca (vinda
do Sul) na década de 60, em Santa Cruz do Capibaribe, no agreste de Pernambuco.
Vovó mantinha uma mala especial para guardar cortes de
tecidos – da chita à seda pura e “outras sedinhas”, passando pelas musselines e
pelos “chiffons”, de seda e de algodão, tafetá, brocado, organza e “pele de
ovo”. Eu era fascinada por aquela mala trancada à chave! Era nela que vovó
encontrava que presente dar a alguém e também era o celeiro para fazer uma
roupa às pressas.
Talvez imitando vovó, durante anos mantive uma mala de
livros escolhidos a dedo, a que recorria quando queria presentear alguém. Até
hoje sou compradora quase compulsiva de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine
Saint-Exupèry – uma alegoria em prosa-poema sobre a amizade e a transcendência
dela; sobre a sofrença e o encanto do amor e seu entorno filosófico; e que nos
ensina o valor da ética da responsabilidade e das coisas que não estão à vista,
mas no horizonte: “O que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em
algum lugar”... (“Do tempo em que ler ‘O Pequeno Príncipe’ era obrigação”, O
TEMPO, 8.2.2011).
Quando dou um presente, estou dando também um pedaço
de mim. Há algum tempo, seja para criança ou adulto, só presenteio com cacto
e/ou até um pequeno jardim de minicactos, cultivados por mim. Não conheço quem
não se derreta diante do encanto de um minicacto, objeto de decoração que dá
uma personalidade especial a qualquer ambiente.
De acordo com a sabedoria feng shui – “ciência e arte
chinesas, de origem filosófica taoista, que têm por objetivo organizar os
espaços com o fim de atrair influências benéficas da natureza” –, cactos são
guardiões da casa e purificadores do ambiente – alguns cientistas dizem que
formam uma barreira contra as ondas emitidas por aparelhos eletrônicos. Para o
feng shui, “o nosso ambiente conta uma história. Então, se mudarmos os
elementos desse ambiente de forma correta, poderemos mudar a nossa história de
forma positiva” (Portal Feng Shui).
Especula-se que o poder da energia dos cactos muda
ambientes positivamente. Ademais, um cacto, para mim puro sertão, é companhia
de fácil cuidado e quase não exige nada: pouquíssima água – basta regar uma vez
por semana no verão e uma por mês no inverno; gosta de quietude, pois é
bastante sensível, portanto evite manusear muito ou até mesmo balançá-lo para
não prejudicar o seu ciclo vital. Boa luminosidade é essencial para a
sobrevivência de um cacto, então, se dentro de casa, é necessário colocá-lo
perto de janelas.
A terra ideal para plantar um cacto é quase inóspita –
uma camada de um terço de pedrisco, incluindo pedacinhos de telhas ou tijolos e
carvão vegetal triturado, mais mistura para cactos (proporção de duas partes de
areia grossa para uma parte de terra adubada). Recomenda-se a cada um ano e
meio trocar a terra do vaso, com bastante cuidado para preservar as raízes.
Quando damos um ser vivo a alguém, estamos dando uma
companhia. No caso dos cactos, nativos de regiões áridas, estamos presenteando
com exemplares de perseverança, adaptabilidade e integração.
(DUKE)
PUBLICADO EM 22.12.15
FONTE: OTEMPO
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