(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Não entendo quem não tem uma plantinha para cuidar. A
sensação é de aridez ao entrar em uma casa na qual não há nem uma jiboia num
vidrinho com água dando um toque de verde, nem sequer onze-horas florindo num
vasinho...
A mais remota lembrança que tenho cuidando de plantas
ornamentais é de minhas latinhas no saguão da casa da vovó, onde pontificava um
caramanchão com uma frondosa videira de uvas roxas – fui criada comendo uvas no
médio sertão do Maranhão, lá em Graça Aranha. Um luxo!
Ainda gosto de plantar em latinhas de conservas, até
de sardinha, massa de tomate, leite em pó, por aí. Hoje está na moda ter jardim
de latas – há uma parede de latinhas em meu jardim; e outra de vasinhos de
caixas de leite, de suco e de garrafas PET – lindezas recicladas!
Uma lata no sertão de minha meninice era uma raridade,
a não ser as de querosene, de 20 litros, bem comuns, pois não havia luz
elétrica. Nas vendas, entrava-se numa fila para obter uma lata vazia de
querosene ou de biscoito. Eu estava na fila de vários quitandeiros, e, quando
chegava em casa com uma lata, vovó bradava: “Fátima, olha a água!”. Traduzindo:
eu teria de puxar água no poço para minhas plantas. Era assim a vida no sertão:
para ter um jardinzinho, o trabalho era pesado!
Como escrevi em “A filosofia da arte e o valor terapêutico de cuidar do bonsai”: “Não vivo sem um jardinzinho todo meu. É um
conforto mental regar minhas plantas. Relaxo, renovo... Ora, como não ter uma
planta para cuidar? Eu não consigo. Tê-las é uma terapia, um relax... Na época
do modismo das samambaias, cheguei a ter muito mais de 50 xaxins num
caramanchão diante da minha casa, de fachada mediterrânea, na Quinta de Ouro,
em Imperatriz (MA), sombreados pela trepadeira lágrima-de-cristo. Era um oásis
estender a rede debaixo delas e ficar lendo, lendo... até dormir. Pena que
aproveitei pouco, pois era uma época em que eu trabalhava demais...
(Lágrima-de-cristo branca e lilás)
“Não gosto de comprar plantas ‘prontas’; o meu prazer
é fazer mudas e vê-las crescer, florescer... Não entendo alguém não ter um
vasinho em casa! Casa sem plantas é a imagem do deserto. Acho que, de tanto
furdunço de plantas em casa, fiquei atônita quando fui pela primeira vez às
casas de minhas filhas: nenhum verdinho! Ah, reclamei, pois achei um absurdo!
‘Ah, mãe, aqui é tão minúsculo, e a senhora ainda quer entupir de plantas? Ô
mania de roça!’.
“Não é propriamente mania de roça. Por outro lado, é
mania sertaneja... E as minhas filhas não são sertanejas... Não sabem quanto as
sertanejas correm léguas atrás de qualquer latinha para plantar, ter um pé de
‘fulô’... ‘Mamãe, meus brinquedo/ Meu pé de fulô?/ Meu Deus, meu Deus/ Meu pé
de roseira/ Coitado, ele seca...’ (Patativa do Assaré, na voz de Luiz
Gonzaga)”(O TEMPO, 8.12.2012).
(Fátima Oliveira, Lívia Cristina Oliveira e Rafael C. Barbuto)
Um jardim meu é sempre mutante, porque o meu dom de
paisagista é inquieto demais. Amo jardins com plantas antigas, com ares
rústicos. Agora, em meu cafofo, estou mexendo mais com suculentas e cactos, dos
mini ao mandacaru, e tentando cultivar bonsais, uma paixão!
[Heucilleny (sentada), Valnice (blusa branca) e Nívea]
Pratico jardinagem revolucionária. Criei um jardim em
minha rua, quase meio quarteirão – onde era um lixão e fiz uma matinha de
girassóis. Virou um oásis, onde há desde uma pérgula de amor-agarradinho e
lágrima-de-cristo à Minibiblioteca Livre Inacim & Clarinha – sem falar na
recuperação do ecossistema com abelhas, borboletas, beija-flores e uma
infinidade de passarinhos, até pipira azul! Não há o que pague ouvir crianças
chamando de “pracinha da tia Fátima” e jovens fotografando num lugar tão belo e
aconchegante.
PUBLICADO
EM 15.09.15
FONTE:OTEMPO
nossa! gostei muito!!! muito bonita a "pracinha da tia Fátima", meus parabéns pela iniciativa, bom gosto e sensibilidade, ...também gosto de plantas,flores, é uma terapia que herdei de minha mãe, sou médica trabalho muito, e quando tenho tempo cuido de minhas plantinhas, bjosss
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