O espaço de escuta que faltava ao feminismo no governo
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
"Pela primeira vez, a Secretaria de Políticas para as Mulheres será ocupada por uma feminista histórica, comprometida com as lutas populares e democráticas. Eleonora foi uma das mulheres que ajudaram a construir a política brasileira de atenção integral à saúde da mulher. Axé, Eleonora! Temos certeza de que você saberá levar adiante as nossas batalhas, considerando todas as necessidades das brasileiras, porque é incansável e do tempo do ‘caminhando e cantando e seguindo a canção’. A presidenta Dilma acerta e nos acena com grandes esperanças". Declaração que fiz ao "Vi o Mundo" ao saber que Eleonora Menicucci de Oliveira seria ministra (7.2.2012).
[Foto: DUKE]
Desde então, Eleonora tem "bombado". Era esperado o chão fundamentalista tremer. Numa linguagem "boieira": "Sabiá/já mostrou seu canto... Chão tremeu quem fez?/ Foi Maracanã/ Êh boi!/ Chegou batalhão da mata..." ("Boi de Lágrimas"). "En passant", a mídia jamais deu tanta boa e má atenção a alguém ministeriável. A ministra deu um "nó" nas mentes conservadoras - a mais cristalina tradução do significado de sua pasta: visibilizar a mulher em toda a sua concretude, fugindo do suposto padrão da mulher universal, tão ao estilo do fundamentalismo cristão: santa ou satânica.
[Eleonora Menicucci e Iriny Lopes, na posse da nova ministra da SPM. Foto de Thayz Athayde/Blogueiras Feministas]
[Da esquerda para direita: Natalia Silveira, Lia Padilha, Suely Oliveira, a Ministra Eleonora Menicucci e Thayz Athayde. Foto de Thayz Athayde/Blogueiras Feministas.]
Eleonora já disse de onde fala. E eu não esperava menos... Ela conhece o seu papel na atual conjuntura e saberá estabelecer o espaço de escuta que faltava ao feminismo no governo Dilma. Ela no seu lugar e nós no nosso. Nem mais, nem menos. A sua incomensurável gana de trabalho e bom humor são contagiantes. Muitas vezes, eu a olhava incrédula e indagava aos meus botões: "Como quem passou o que ela passou consegue continuar inteira nas lutas?".
E o fiz inúmeras vezes, quando ela foi perseguida titanicamente pelo teor contundente do documento que produziu como relatora de saúde da Plataforma Dhesca (direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais), indicada pela Rede Feminista de Saúde, quando fui secretária executiva da referida articulação política. Uma das missões por ela realizada repautou para o mundo o caso da contaminação ambiental da Shell Química no Recanto dos Pássaros, em Paulínia, em São Paulo ("Caso Shell será levado à Corte Internacional da ONU", Vilma Gasques, 24.2.2003).
[Passeata realizada pelos ex-trabalhadores da Shell Basf no centro de Paulínia, em fevereiro de 2003, exigindo punição pelo crime de contaminação praticado pelas duas multinacionais no município]
Quando a indicamos para a Dhesca, o seu tino de pesquisadora deu o tom. Não trastejou. Estava às ordens. Não era pouco, pois fazia parte da tarefa, como primeira relatora de saúde da Plataforma Dhesca, construir aquele lugar: dar nome e sentido... Escrevi, em "A vida continua": "Semana passada, recebemos em Beagá a relatora de saúde da Plataforma Dhesca, Eleonora Menicucci, que, sob a chancela do voluntariado da ONU, avaliou a atenção ao abortamento inseguro na rede pública de saúde e ouviu empregadas domésticas sobre as doenças de trabalho da categoria" (O TEMPO, 31.3.2004).
Sobre Eleonora, eu poderia escrever páginas e páginas dignificantes e edificantes. O espaço é exíguo. Contento-me com um resumo de Paulo Henrique Amorim ("Tortura: ministra Menicucci desafia Supremo", 11.2.2012): "A ministra Menicucci foi torturada na mesma época e pelos mesmos torturadores da presidenta Dilma (hoje, anistiados pelo Supremo). A presidenta deve saber o que ela pensa. E, por isso, levou-a para o ministério. Portanto, sua opinião sobre o papelão do Eros Grau e seus companheiros de toga deve ser do conhecimento da presidenta. Como também a presidenta deve saber o que ela pensa sobre o aborto". Em suma: "Pra quem sabe ler, um pingo é letra".
[Companheiras de cadeia. Dilma, Eleonora, Guiomar, Cida e Rose na época em que foram presas. Eleonora é uma das Donzelas da Torre ( A Torre das donzelas)]
[Eleonora com a presidenta Dilma em janeiro de 2011 (posse da presidenta)]
Publicado no Jornal OTEMPO em 14.02.2012
[Eleonora Menicucci toma posse como ministra da secretaria das mulheres (10.02.2012)] |
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1. Discurso de posse da ministra Eleonora Menicucci da Secretaria de Políticas para as Mulheres
2. EM DECISÃO HISTÓRICA NO TRT, 1ª SDI CONDENA SHELL E BASF A CUSTEAR DESPESAS MÉDICAS DE EX-EMPREGADOS - Decisão alcança também trabalhadores terceirizados e autônomos que prestaram serviços na unidade mantida pelas empresas no Recanto dos Pássaros, em Paulínia, filhos dos trabalhadores, nascidos durante e depois do período de prestação de serviços, também serão beneficiados.
Por Luiz Manoel Guimarães (Com informações da Assessoria de Imprensa da Procuradoria Regional do . Trabalho da 15ª Região Extraído de: Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região - 07 de Abril de 2010).3.Blog Caso Shell Paulínia - tento descrever o que é (ou foi) viver ao lado de uma multinacional; vivi e convivi com o que ela chama de transparência e respeito ao meio ambiente e ao próximo. Vivi, convivi e sobrevivo sob a tutela de uma predadora. Não sei o que me espera e nem o que posso esperar do meu futuro, da minha vida e da minha saúde (eu e minha família) sou alguém que quer falar coisas que todos devem saber e que não agrada a muitos que sejam ditas...
Saiba mais:
Juíza obriga Shell e Basf a pagarem plano de saúde vitalício para ex-trabalhadores
CLIQUE AQUI para ler no site do Sindicato Químicos Unificados toda a história da contaminação ambiental e humana produzida pela Shell e pela Basf nos ex-trabalhadores e no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia, onde estava estabelecida a planta industrial.
É preciso mostrar a OBRA da ministra Eleonora Menicucci. Muito bem!
ResponderExcluirA Dra. Eleonora Menicucci é uma mulher sem medos e de muita luta
ResponderExcluirParabéns Fátima Oliveira
ResponderExcluirPura cintilância de bumba-meu-boi para celebrar Eleonora Menecucci
ResponderExcluirFátima que bom que vcs estão escrevendo para ampliar a visibilidade do trabalho da ministra Eleonora porque o tal do Reinaldo Azevedo está só na esculhambação total, até já saiu uma nOTA da SPM desmentindo um monte de coisas que esse carinha publicou:
ResponderExcluirEleonora nega ter feito treinamento na Colômbia
A ministra Eleonora Menicucci (Secretaria de Política para as Mulheres) afirmou, por intermédio de curta nota divulgada na noite de ontem, com três itens, que nunca esteve na Colômbia. Disse ainda, no mesmo documento, que a entrevista em que teria dito até que fez curso de aborto no país vizinho 'contém imprecisões que a levaram a requerer, em 2010, a sua retirada do site (da Universidade de Santa Catarina)'.
Por fim, na nota, a ministra reafirmou que mantém suas convicções, 'expressas em entrevista coletiva realizada em 7 de fevereiro de 2012', e reitera que, como integrante do governo federal, 'defende integralmente as posições do governo'.
Horas antes, a orientação do ministério era não polemizar e não comentar o assunto. A ministra, antes da divulgação da nota, teria orientado a assessoria a dizer que 'no governo, cumpre as orientações do governo', conforme entrevista que concedeu após a posse, semana passada. Ainda de acordo com a assessoria da ministra, 'ela sabe diferenciar suas convicções pessoais da função que ocupa no governo'.
No Palácio do Planalto, há a certeza de que Eleonora vai se enquadrar e evitar declarações polêmicas sobre a questão do aborto, passando a defender posições de governo, como na primeira entrevista coletiva. O governo tem consciência de que poderá enfrentar pressões e muitos ataques das alas mais conservadoras do Congresso e da sociedade, por causa das posições pessoais de Eleonora, e até por ter assumido que fez aborto. O entendimento é de que a presidente, ao fazer seu discurso na posse da ministra, deu o recado, que foi entendido pela amiga. / JOÃO DOMINGOS e TÂNIA MONTEIRO
http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/eleonora-nega-ter-feito-treinamento-na-col%C3%B4mbia
Fátima estou espantada com essa campanha dos pró-vida com mandatoe sem mandato contra a ministra Eleonora Menicucci.
ResponderExcluirAinda bem que teu artigo nos mostra de verdade quem ela é. Tenho recebido cada email, tipo aqueles do Serra contra a Dilma na campanha. Um horror
Dra. Fátima Oliveira, as feministas precisam divulgar mais comoa profa. Dra. Eleonora Menecucci realmente é. Vocês estão numa guerra e uma das batalhas a vencer é a que os fundamentalistas estão impobndo, a desqualificação moral da ministra. Só as feministas podem vencê-la
ResponderExcluirSe o Governo Dilma tivesse dado conta do assunto mulher no primeiro ano de governo não precisa Eleonora ter passado tanto sufoco na ONU, ainda que as manchetes digam que
ResponderExcluir"Posição do governo brasileiro quanto ao aborto diverge da grande maioria da população"
Matthew Cullinan Hoffman
14 de fevereiro de 2012 (LifeSiteNews.com) — Num relatório que está apresentando a um comitê da ONU nesta semana na Suíça, o governo brasileiro lamenta que “O afastamento de posições conservadoras em relação ao papel de homens e mulheres em nossa sociedade está ocorrendo mais lentamente do que se desejaria”.
O relatório, que será apresentado ao Comitê para a Eliminação de Discriminações contra as Mulheres pela recém-nomeada ministra pró-aborto de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, também explicará a tentativa do governo de esmagar um projeto de lei que defende a vida chamado Estatuto do Nascituro, que proibiria o assassinato de crianças em gestação em todas as circunstâncias.
“É fundamental que o projeto seja rejeitado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania”, escreve o governo de Dilma.
O Comitê para a Eliminação de Discriminações contra as Mulheres, que é conhecido por pressionar os países a legalizar o aborto, solicitou que o Brasil prestasse contas de “medidas específicas adotadas para lidar com o problema dos abortos inseguros”, ao que o governo responde em parte que realizou abortos em 60 mulheres que foram estupradas em 2010.
O conteúdo do relatório é visto como outro sinal de que a “oposição” da presidente brasileira Dilma Rousseff ao aborto, “oposição” que ela proclamou durante a eleição presidencial de 2010, não era séria.
Dilma, ex-membro de uma organização terrorista comunista que lutava para derrubar o governo do Brasil nas décadas de 1960 e 1970, tem um histórico de apoio à descriminalização do aborto antes de sua corrida presidencial.
Contudo, Dilma se viu forçada a assinar um documento de compromisso de não apresentar legislação abortista ou homossexualista durante seu mandato presidencial para elevar seus números cada vez mais baixos nas pesquisas eleitorais depois que evangélicos e católicos começaram a alertar seus fiéis sobre o histórico dela.
www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=49636