(PandiniGP)
O grande feito do primeiro ano, não saberia dizer
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
Mais um ano se passou... A impressão que tenho ultimamente é que o tempo passa rápido. Demais. A gente nem vê direito. De repente, lá se foi 2011. E lá se foi um ano de governo Dilma do qual, em termos palpáveis, sou incapaz de dizer qual o grande marco, embora não seja um governo micho, sem élan - conta com 56% de avaliação positiva e a presidente, com 71% e 68% de confiabilidade.
[(Porto Alegre: Dilma recebeu flores e um cartão das crianças que estudam na creche ao lado de seu prédio no dia do seu aniversário 14.12) Foto: Ronaldo Bernardi]
Desassossego há, até demais. A valsa de despedida de ministros - no momento são sete fora, um dentro e outro no pensamento - virou uma rotina sem fim, sem graça, e torra a paciência como cantiga de grilo. Há sempre um ministro na mira da expurgação, que consome o governo na apuração das trepeças denunciadas, um gasto de energia descomunal, que poderia ser empregada em outras coisas... Penso que a tática de "emprenhar o governo pelo ouvido" tem sido a linha de raciocínio vitoriosa da oposição e da mídia que a apoia.
Desvia o governo de efetivamente governar, no sentido de "fazer coisas", ao pautá-lo a jogar na retranca e, assim, nas cordas, diminui o ritmo e até paralisa obras do PAC. Cada novo ministro, além do medo, vai lidar com o desconhecido, montar suas equipes de confiança e, até tomar pé da situação, o tempo perdido é irrecuperável... O dinheiro disponível não é empenhado, nem gasto... Há dinheiro sobrando no paiol esperando cupim.
[Brasil, de Naza Mcfarren [piauiense radicada há 30 anos em Santa Cruz, Califórnia, EUA. (Tela que a presidenta Dilma Rousseff ganhou do presidente Barack Obama)]
O pior é o ouvido de
mercador do governo.
Há exemplos em várias
áreas, mas nos direitos
reprodutivos ele preferiu demonstrarfidelidade à Santa Sé.
DUKE
Não tenho dúvidas do propósito: o governo Dilma tem a trilha popular e democrática como definição de caminho, mas não consegue explicitar em ações e materializar em gestos que reforcem os laços com os movimentos sociais. Não sei dizer exatamente qual é a agenda governista em nenhuma área... Nem naquela à qual dediquei parte substancial da minha vida: a saúde, notadamente saúde da mulher.
Levei muito tempo analisando para escrever sobre o assunto. É surreal. A um ponto que eu, relativamente antenada com a vida política do país, se perguntada sobre o grande feito do primeiro ano do governo Dilma, não saberia dizer. Há um feijão com arroz de bom tempero. Por outro lado, não consigo distinguir com nitidez os rumos na manutenção da consigna de um governo popular e democrático. E fico triste.
(Navegando pelos pensamentos)
O pior é o ouvido de mercador do governo. Há exemplos crassos em várias áreas, mas relembrarei aqui um aparentemente sem importância, sobretudo pela dificuldade de entendimento, da sociedade e do governo, mas é a gota d’água no oceano que pode fazê-lo transbordar. Refiro-me à descomunal derrota política que pesquisadores e ativistas da atenção integral da saúde da mulher, inclusos os aportes dos direitos reprodutivos, tiveram no atual governo, que preferiu demonstrar fidelidade à Santa Sé, como se o Vaticano tivesse pedido um voto sequer para Dilma Rousseff. E não adianta espernear e vociferar que o governo segue impávido, dando as costas a quem suou e sangrou nas eleições. Só não atino o porquê.
Eis aí por que o sociólogo Boaventura de Sousa Santos está com a razão quando discorre sobre a indisponibilidade das esquerdas para a reflexão: "Quando estão no poder, as esquerdas não têm tempo para refletir sobre as transformações que ocorrem nas sociedades e, quando o fazem, é sempre por reação a qualquer acontecimento que perturbe o exercício do poder. A resposta é sempre defensiva. Quando não estão no poder, dividem-se internamente para definir quem vai ser o líder nas próximas eleições, e as reflexões e análises ficam vinculadas a esse objetivo".
Ai, que canseira foi 2011!
Publicado no Jornal OTEMPO em 20.12.2011
Saudades de Nilcea Freire, que não jogava na retranca e fazia tudo pro governo avançar. Lembram? Ireny é uma ministra que não pensa nas brasileiras que precisam abortar e se comporta comos e o aborto não fosse um procedimento médico estabelecido que o SUS nega as brasileiras. Padilha diz o mesmo. E a universalidade do SUS vai pra onde?
ResponderExcluirIreny Repete o que diz Dilma: os compromissos com a Santa Sé. É desgraça demais.
Gente, pra Ireny nem samgue de Jesus resolve. Olhem só que disse a ministra:
ResponderExcluir"A ministra da Secretária de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, alertou que o debate para mudança na lei brasileira para incluir a legalização do aborto deve ser articulado com o Congresso Nacional, e não com o governo federal. Segundo ela, o governo irá respeitar a legislação atual, que considera o aborto crime e o autoriza somente quando há risco de morte para a gestante ou a gravidez ocorreu em decorrência de estupro."
Não sei se estou de acordo com tudo o que disse Fátima Oliveira. Ela tem seus motivos, sobretudo políticos, basta lembrar essa jogada da Rede Cegonha, que foi uma estratégia de mestra para isolar as feministas, enganando todo mundo, menos as feministas e pessoas conscientes.
ResponderExcluirMas o artigo-análise é bom e corajoso. De uma lucidez analítica marxista que doi. Pena que o PCdoB, o partido da autora, não tenha coragem para fazeê-la
Sinceramente? Eu que NUNCA pensei que sentiria saudades de Nilcéa Freire, estou morrendo de saudades dela. Ela era de outro naipe. Sabia o que o estado brasileiro devia às mulheres e nao regateava. Agora, Ireny, não me dá raiva, apenas dó. É uma digna de dó. Não entende o seu papel, fora ficar contra as necessidades da vida desgraçada das mulheres.
ResponderExcluirPrezada,
ResponderExcluirEntendo perfeitamente seu desagrado. O tempo vem passando rápido demais. 2011 passou num tapa e há dinheiro$ que deveriam atingir metas e estão sendo consumidos por cupins.
A Presidenta Dilma está em alta (mais alta que a dos seus dois últimos antecessores) e as ações de governo não deslancharam. Tudo isso compreendo. Sem que possua um décimo do seu conhecimento dos meandros do poder, vamos ver se o que penso faz sentido. Talvez acerte, ainda que num ou noutro ponto e ajude-a nas suas inquietações:
Dilma, ao assumir as funções, deixou claro o tom de ré maior do seu afinamento e da sua personalidade. Disse a que veio e por que aceitou suceder o torneiro mecânico pouco alfabetizado nas letras e o doutor da Sourbonne. Quem pode duvidar disso? Das intrigas e do lamaçal da base de sustentação ela também sabia, certo?
Sabia que sem ela não andaria. Isso é mais que certo. Neste cenário, contorcendo-se entre um povo de pouco caráter, capitaneado por Sarney, Collor de Mello, Romero Jucá , por seu apagado vice e por gente (também de pouco caráter do seu próprio partido), tentou governar.
Foi-se o primeiro pombo-ministro. Sua maior decepção, talvez. Foi-se o segundo e assim por diante, que culminou num dos quadros mais bizarros do poder central - o gaiato e laborioso pedetista Lupi. Há mais gente na agulha... Falta gente? Falta quadros? Ou será que sobra vícios que impedem um poder renovado? Que alterne área técnica e indicações partidárias?
Dilma continua impondo o seu tom de ré maior, mas... Os ministérios dirigicos por mulheres, em função do contingenciamento, ficam apagados por falta de money. E money que é good eles não have!!! Será impressão minha, ou a Maria do Rosário, a Luisa Bairros e a Ana de Holanda brilham em suas pastas?
Da Ireny, pouco sabemos. Ela parece ter ficado com as marcas e os cismas da igreja de Roma. Com ela, atrapalhado o direito da mulher dispor do ser ou não ser mãe.
Destaca-se o Padilha. Nem sei como, mas destaca-se. É o the best de Dilma. Talvez pela premência do setor saúde pública, onde qualquer tiquinho é riqueza. Entretanto, houvesse gente preparada nas três esferas, as ações seriam mais eficazes. Uma ação coordenada entre Ministérios, por certo, somaria muito. Quem seria o responsável pelo estrangulamento? Há coisas que não saíram do lugar!!! Égua!
Não sei se estou equivocada ao dizer que a cultura do roubo instalou-se no país. Num átimo de loucura diria: é mais fácil acabar com o narcotráfico que com o instinto da roubalheira que há impregnado nos homens (eu disse HOMENS) que fazem a política no Brasil.
Para não ficar enfadonha, encerro: Dilma já é grande por ter impresso o seu tom em ré maior contra a corrupção. Deverá, em 2012, achar outras afinações para "arrumar" a casa e "desarrumar" as estruturas dos ministérios com donos, sem desagradar a base de sustentação. Coisas do tipo: o PDT ficará com a cultura e dele será cobrada a implementação de salas de leituras em todos os bairros de todos os municípios do país. E ponto final. Cobrança de metas. Nesses moldes, com a engenhosidade que possui, há de alterar tudo. O Ministério dos Esportes, até a maldita Copa do Mundo, que fique com o PCdoB. Depois dela, que se coloque um educador interessado em esportes que não seja o futebol, apenas. Com ou sem partido. Nada fica simplório quando se acha a pessoa certa. E assim, de retalho em retalho, ela construirá seu trabalho de escultora.
Não houve mensalão no primeiro ano de Dilma. Pode ter havido coisas piores que não ficamos sabendo. Acho difícil existir algo pior que o mensalão e que as nunca reveladas mortes dos prefeitos de Santo André e Campinas.
Torçamos por Dilma. Com paciência e fé!
Sem ser a fé da Santa Sé!
Análise de quem sabe o que diz, porque conhece bem
ResponderExcluirFátima Oliveira está dizendo que o tempo está fechando. Um ano é tempo mais que suficiente para respeitar gente que sempre lutou por um governo popular e democrático. Concordo. Engolir essa ministra Ireny com aquela cara legalista e disposta a não avançar um palmo é dose cavalar
ResponderExcluirFátima o teu artigo dói, pela profundidade das conclusões. É que a gente tem medo de ver as coisas tal como elas são. Também fico triste desse papelão de dizer amém ao Vaticano. Mas a senhora nãos e enganou quando a Rede Cegonha apareceu cantou a pedra. Só achou que não era a submissão total ao Vaticano gente sem visão
ResponderExcluirPrezad@s comentaristas, muito grata pela leitura e pelo tempo empregado para comentar. Aprendo muito quando consigo tocá-l@s e chegam a comentar. Como livre-pensadora tenho o maior respeito por todas as opiniões emitidas, mesmo quando não concordo com elas. Eu falo o que penso, sempre. Também sou muito aberta a aprender e não tenho medo do novo e nem do inusitado.
ResponderExcluirO artigo expressa a minha opinião no momento sobre o governo. Gostaria de ter chegado a conclusões diferentes, mas o andar da carruagem não permite, infelizmente. E sofro. Eu criei a personagem Dona Lô, uma mulher que é Lula “até debaixo d’água” e é uma “mulher com Dilma” e que busca e tece argumentos, dando nó em pingo d’água, para justificá-la e defendê-la sempre. Imaginem as minhas dificuldades, literárias inclusive, para admitir que o governo não é um céu de brigadeiro. Infelizmente. Mas eu não tenho o direito de mentir para mim.
Fátima depois de ler o teu comentário entendi muito mais o artigo. Tens razão de sobra. Agora quero ver é o que Dona Lô tem pra dizer.
ResponderExcluir