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sábado, 17 de dezembro de 2011

“Carnaval é ópera de rua”. Joãosinho Trinta

 

João Clemente Jorge Trinta, o Joãosinho Trinta, nasceu em São Luís-MA, em 23 de novembro de 1933 e lá faleceu em 17 de dezembro de 2011

Joãosinho Trinta e seu amor pela Ilha da Assombração
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[“O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”. Joãosinho Trinta]



Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com   @oliveirafatima_


Não é propriamente um artigo, apenas uma bricolagem para fazer Joãosinho Trinta presente nos 394 anos de São Luís.
No começo da década de 1990, não recordo o ano, passei uma manhã no grande auditório da PUC-Minas, que estava lotadíssimo, ouvindo Joãosinho Trinta.
O meu marido ficou espantado quando na noite anterior comentei que não iria trabalhar na manhã seguinte porque iria à PUC ver e ouvir Joãosinho Trinta.
Com olhar incrédulo e passando as mãos na cabeça, ele balbuciou rindo, algo mais ou menos como: “Amor, o que poderia interessar a você numa palestra de Joãosinho Trinta, embora eu saiba que você ama ver os desfiles de Escolas de Samba na TV? Você me espanta sempre e todos os dias. Eu não consigo acompanhá-la, por mais que tente entendê-la, em todas as dimensões de suas excentricidades, que são muitas e se renovam!”
Fui. Não sei nem mesmo a exata razão de porque fui. Mas quando li, muitos dias antes, que ele faria uma palestra na PUC-Minas, tive vontade de vê-lo, ouvi-lo e abraçá-lo. Brotou. Do nada. Era um desejo assim muito fraterno e carinhoso de dizer: Bravo, cara! E foi o que fiz. E foi docemente gratificante porque Joãosinho Trinta ficou sensivelmente emocionado com a minha presença e queria prolongar a celebração do nosso encontro num almoço.
Mas eu não podia, pois à tarde no ambulatório do Hospital da Baleia estavam à minha espera 20 pessoas. É, 20 consultas.
Era uma palestra de “variedades”, pela qual ele cobrava a preço de quilate de ouro, para as obras sociais da Beija-Flor, segundo todas as boas e más línguas da mídia, na qual aquele maranhense pequenino e atarracado, de bela voz, olhos muito brilhantes e de imaginação fértil e pensamentos a mil por hora relatava a sua vida de bailarino e de carnavalesco. Foi pura emoção!
E Joãosinho Trinta tripudiou o que pode com boas e hilárias tiradas filosóficas, bem naquele estilo fashion dele: “O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”. Um escândalo filosófico atrás do outro e eu vibrava!
Ele prende a nossa atenção por tudo o que diz, mas o que mais me impactou foi a sua menção amorosa e quase lacrimejante sobre o enredo do Salgueiro de 1974: O Rei de França na Ilha da Assombração (Incredo incriuz).
Outro susto, foi quando ele afirmou que, por uma concepção naturista de vida, não usa sabão em sua pele, jamais. Isto é, havia anos não usava qualquer tipo de sabão no banho para não “estragar” e não agredir a oleosidade natural de sua pele. Só água. Achei estranho.
Mais estranho ainda foi ele dizer que não sabia qual era o seu salário na Beija-Flor. Nunca definiu. Apenas disse que tudo o que ele precisava a Beija-Flor supria. Casa, comida, roupa e viagens.
E destacou que era um homem que precisava de muito pouco para viver, que levava uma vida quase franciscana. Mas que poderia acordar um belo dia e desejar ir para qualquer lugar do mundo, a qualquer hora. O seu desejo se realizava num passe de mágica. E que gostava de viver assim.
Ao término da palestra fui falar com ele e me apresentei como sua conterrânea. Ele ficou encantado com a minha presença e pelo fato de que eu sendo médica estivesse ali num gesto carinhoso apenas para prestigiá-lo.
Como meu marido de então, ele se disse espantado de uma médica, mesmo sendo sua conterrânea, achar que poderia aprender algo com ele. Quanta subestimação! E como não é um aprendizado ouvir as histórias de vida das pessoas e ainda mais de alguém cuja vida é pura garra, doação aos outros e determinação?
E disse-me algo como: “Não há nada que pague uma conterrânea como você, que é médica, morando noutro Estado, e sendo uma pessoa muito ocupada, num dia de semana, se organizar para poder estar aqui me ouvindo e me prestigiando.”
Nunca mais nos vimos. Mas eu guardo um carinho singular pelo jeito de ser de Joãosinho Trinta. Sei que Joãosinho Trinta está muito doente, praticamente sofrendo quase à míngua. É uma notícia velha de mais de dois meses. Não sei mais nada sobre ele.
Hoje, sem condições físicas e mentais e sem tempo para escrever, chegando em casa depois de 24 horas de plantão, achei que seria uma absurda omissão nas comemorações dos 394 anos de São Luís não se falar nada sobre Joãosinho Trinta e o seu amor por São Luís: a sua Ilha da Assombração.
Então, decidi dar uma “sapeada” rápida pela internet e ver o que havia de mais significativo sobre Joãoosinho Trinta e o carnaval de 1974. Não é propriamente um artigo, apenas uma bricolagem para fazer Joãosinho Trinta presente nos 394 anos de São Luís.


Belo Horizonte, 10.09.2006, às 11:10
   "A vitória é de todo mundo, mas, quando a escola perde, a culpa é do carnavalesco". Joãosinho Trinta


Que assim se recordem de mim"
  "Que assim se recordem de mim"




 
Entrevista exclusiva com Joãosinho Trinta em maio deste ano
FOTOS:
CARNAVAIS DE ANTIGAMENTE

 Joãosinho Trinta e Marisa Letícia, 2007







AS VITÓRIAS DE JOÃOSINHO TRINTA NO CARNAVAL

O Rei de França na Ilha da Assombração, 1974, Salgueiro.
As Minas do Rei Salomão, 1975, bicampeonato no Salgueiro.
Sonhar com Rei Dá Leão, 1976, tricampeonato conquistado na Beija-Flor.

Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana, 1977. Segunda vitória na Beija-Flor e a quarta consecutiva.
Criação do Mundo Segundo a Tradição Nagô, 1978, tricampeonato da Beija-Flor.
O Sol da Meia-Noite, uma Viagem ao País das Maravilhas, 1980, vitória dividida com Imperatriz Leopoldinense e Portela.
A Grande Constelação de Estrelas Negras, 1983, Beija-Flor.
Trevas, Luz! A Explosão do Universo (ou Big-Bang), 1997, Viradouro.


Joãosinho Trinta assume a frente da escola como carnavalesco, o enredo escolhido para 1974 foi O Rei de França na Ilha da Assombração, um tema que trouxe o imaginário para a avenida, o que contribuiu para modificar definitivamente a tônica dos enredos das escolas de samba.
Para 1974, o enredo escolhido foi O Rei de França na Ilha da Assombração, um tema que trouxe o imaginário como uma nova contribuição para o carnaval e modificou de uma vez a tônica para os enredos das escolas de samba. Apesar das dificuldades financeiras, no barracão, Joãosinho Trinta e sua equipe iam transformando em realidade o sonho do menino Luís XIII, que, vendo os preparativos de uma esquadra para invadir terras indígenas, imaginou um Reino de França no Maranhão. Quando a escola entrou na avenida, alguma coisa mudou no carnaval carioca. Todos os detalhes estavam cuidados. O luxo, feito de isopor, papel alumínio, feltro e madeira, mostrava com minúcias, mas sem excessos, o sonho de menino e as lendas do Maranhão. Dias depois, na abertura dos envelopes, o favoritismo da avenida foi confirmado: Salgueiro campeão mais uma vez!

FONTE: http://vagalume.uol.com.br/salgueiro/biografia/



E TUDO ACABOU EM SAMBA
Joãosinho e a imaginação do príncipe



O desfile mais marcante inspirado na presença francesa no Maranhão não se baseou nos livros, e sim em histórias de fantasma contadas pelas lavadeiras de São Luís. Mérito do menino que sentava-se à beira do rio para ouvi-las: o maranhense Joãosinho Trinta, autor de "O Rei de França na Ilha da Assombração", enredo campeão do Salgueiro em 1974.
A trama é original: criança, o rei Luís XIII ouvia falar que a França, sob o reinado de sua mãe, Maria de Médicis, dominava o Maranhão, e imaginava como seria aquela terra exótica. O carnavalesco então juntou as referências visuais familiares ao príncipe com o cenário do Maranhão.
Os dados históricos foram detalhe. Joãosinho registrou sobretudo traços da presença dos franceses na imaginação maranhense e aproveitou para contar outras lendas. Uma das alegorias foi o touro negro coroado, que, contava-se, aparecia em noite de lua cheia na Praia dos Lençóis e se transformava em d. Sebastião, o mítico rei português que morreu jovem.
Hoje o desfile nada teria de excepcional. Joãosinho jamais se baseia apenas nos livros. Mas naquela época foi uma surpresa a primeira vitória individual do carnavalesco, que seria bicampeão no Salgueiro em 1975 ("O segredo das minas do rei Salomão").

FONTE: Tribuna do Norte



1974Enredo: O REI DE FRANÇA NA ILHA DA ASSOMBRAÇÃO
(INCREDO INCRIUZ)
Zé Di  e Malandro


 
In credo in cruz, ê ê, Vige Maria
As preta véia se benze, me arrepia

 Ô ô ô Xangô
As preta véia não mente, não sinhô (bis)

Não cantaram em vão
O poeta e o sabiá
Na fonte do Ribeirão
Lenda e assombração
Contam que o rei criança
Viu o reino de França no Maranhão
Das matas fez o salão dos espelhos
Em candelabros palmeiras
Da gente índia a corte real
De ouro e prata um mundo irreal

Na imaginação do rei mimado
A Rainha era deusa (bis)

No reino encantado
Na Praia dos Lençóis
Areia, assombração
O touro negro coroado
É Dom Sebastião
É meia-noite, Nhá Jança vem
Desce do além na carruagem
Do fogo vivo, luz da nobreza
Saem azulejos, sua riqueza
E a escrava, que maravilha
É a serpente de prata
Que rodeia a ilha


In credo in cruz, ê ê, Vige Maria
As preta véia se benze, me arrepia...


 (Vídeo aqui)

 (Fonte do Ribeirão, São Luís-MA)
 [Nha Jança (Ana Jansen)]


GÊNIO DO CARNAVAL - Edney Silvestre
"Sábado que vem, o Rio estará mergulhado no espírito de carnaval, uma festa que veio do povo para a alegria do povo. Mas das origens até hoje, a festa mudou muito. Daqueles desfiles simples de antigamente, em que as pessoas usavam as roupas feitas em casa mesmo, o carnaval virou o maior espetáculo da Terra.
E um dos transformadores dessa festa veio de longe, veio do Nordeste e ralou muito no Rio antes de se tornar o mito que é: Joãosinho Trinta


Américo VermelhoAg. o GloboEd Viggiani GENTE FORA DE SÉRIE. Joãosinho Trinta - Luís Edmundo Araújo"Quando só tinha restos de arroz, achava tão gostoso que não sentia a tragédia"  Joasinho Trinta


 Joãosinho Trinta é velado no Museu Histórico e Artístico do Maranhão
Corpo do carnavalesco será levado em cortejo ao Teatro Arthur Azevedo neste domingo; enterro acontece na segunda-feira, no Cemitério do Gavião.
 

 (Teatro Arthur Azevedo) 

1974: O SALGUEIRO DESFILA O SONHO E O LUXO, com o enredo: O Rei de França na Ilha da Assombração (Incredo incriuz)

 Matéria publicada no Site Lima Coelho em 2007: 
Enredo: O Rei de França na Ilha da Assombração (Incredo incriuz) - Zé Di e Malandro
(22.08.2007) 

Joãosinho Trinta e seu amor pela Ilha da Assombração - Fátima Oliveira (23.08.2007)

6 comentários:

  1. Esta é uma perda que me deixou emocionada. Aliás, as três perdas de hoje, deixarão vazios. Três artistas de peso.
    É a vida...
    Leila

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  2. Também acho Joãosinho Trinta um ser humano especial

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  3. Só tristeza... Joãosinho Trinta era uma rtista completo, não apenas caranavalesco

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  4. Um grande artista, um grande carnavalesco! Fez carnavais inesquecíveis e emocionantes, no Rio de Janeiro! Um mestre!

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  5. Lourdes Moreira da Costa20 de dezembro de 2011 às 15:24

    Joãosinho Trinta escolheu passar o fim dos seus dias em sua terra, apenas por amor a ela.

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  6. Joãosinho Trinta nasceu com o dom de artista. Inesquecível

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