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quinta-feira, 31 de março de 2011

Fátima Oliveira sofreu o pão que o diabo amassou para defender Alencar como vice



Fátima Oliveira escreveu este artigo, em 2002, “quando quase todo mundo que  se considerava divindade da esquerda, ficava ‘esquesita’ quando se falava no nome de José Alencar para vice de Lula.”
Em 3 de julho de 2002, com o título, “Coisas de Minas: o caminho da perdição”, foi publicado no Caderno Magazine do jornal OTEMPO. Muita gente torceu cara para ela. Sofreu o pão que o diabo amassou. “Só não fui chamada de bonita rsrsrsrs…”, relembra Fátima numa conversa por e-mail. “Não dei pelota!” 
“Só escrevo o que quero. E quando escrevo digo o que penso. Sempre. Foi como está escrito no artigo que compreendi José Alencar vice de Lula”, orgulha-se. “E não me arrependi. Também não errei em minha análise.” (Conceição Lemes)



BH, MG, 3 de julho de 2002
Coisas de Minas: o caminho da perdição
por Fátima Oliveira, em OTEMPO

Compartilho um monólogo imaginário com o senador José Alencar. Ele mesmo, o vice de Lula. O cenário é a lagoa da Pampulha. Fedida, porém bela. Quando estou “pê” da vida, é para lá que vou. Quando estou zen, também. Uma, duas, três voltas respirando Niemeyer, Portinari… arte e beleza. Desconfie de quem não se encanta com a Pampulha. Sempre levo para “dar uma volta na Pampulha” as pessoas que conheço quando vêm a BH. É um lugar de rara beleza, aprazível e ideal para conversas sérias, definitivas.

Antes, vi o governador Itamar, que precisa pedir perdão ao povo mineiro por ter se alinhado a FHC na defesa dos transgênicos. Até entendo sua postura na sucessão, embora não concorde com parte de sua decisão. É burrice duvidar das lendas. Ainda mais das mineiras. Lenda é lenda. E Itamar Franco é uma. Virar lenda não é para qualquer pessoa. Só as especiais viram lenda. Talvez seja sua missão destucanar “Aecinho”. Uma canseira governador, mas conforme Tancredo: “a gente tem a eternidade para descansar”.

Cara a cara com o senador. O que as feministas esperam de um governo que pretende ser nacional, popular e democrático? Respeito. É bom e nós gostamos. Respeito à pluralidade, à diversidade e ao status laico do Estado brasileiro. Não precisa ser um feminista, apenas referendar a milenar luta das mulheres. Exige-se que seja declaradamente anti-racista. O resto a gente toca. E dança. E bem. Somos decididas. Sabemos o que queremos. Não há o quê negociar. Está escrito na Plataforma Política Feminista. Leia-a e reflita sobre ela. Não temos um projeto de futuro a longo prazo a compartilhar com o senador. Nem ilusões. A luta de classes não acabou. Ficou mais complexa e entremeada por gênero, raça e etnia. Compartilhamos o hoje. Explico-me.

Jamais cogitei um dia ser sua eleitora. Prezo muito o meu voto e o entendo como uma arma de altíssima precisão, definidora de futuro, de vida e de felicidade, mas tenho de falar da minha emoção de vê-lo dizer, repetidas vezes, que mesmo se não fosse o vice de Lula votaria nele e faria campanha. Senti firmeza. Comecei a indagar o que faria um homem das elites, apesar do jeitão de homem simples do povo, um rico industrial de Minas, enfrentar seus pares de classe e de um partido dito liberal, contraditoriamente, abrigo de conservadores de diferentes matizes, dos fundamentalistas aos nem tanto?

O que move um homem do seu naipe dizer “estou com Lula”? É pieguice evocar a sua origem humilde. Cá prá nós, pobre é pobre e rico é rico. O bloco PT-PCdoB-PL não é uma fusão, mas uma aliança que envolve interesses de classes contraditórios (povo versus podres de ricos), logo é pontual e conjuntural – uma coalizão contra a indignidade. E aqui cai como uma luva o que disse o Dr. Caio Rosental: “Abaixo da linha do Equador, para ser um grande estadista, é preciso primeiro tratar as águas, canalizando os córregos e os esgotos, fornecer água potável e trocar o barro das casas pelo tijolo” (A saúde anda para trás. FSP, 28-06-02). Iluminada frase, que em si é uma agenda que prima pela decência ao desnudar o “risco-Brasil real” e consegue, com uma tacada de pena, reduzir a pó a alardeada excelência do senador José Serra no comando do Ministério da Saúde, cuja capacidade até para matar mosquito ficou aquém do necessário.

Via José Dirceu defendendo a aliança com o PL e dizia aos meus botões: “quem te viu e quem te vê”… Madeixas ao vento, megafone em punho… Era belo, radical e inesquecível! O que diria Iara? Iara de Dirceu, assassinada pelo braço fascista da burguesia, a ditadura militar de 1964. Fiquei expectando as encruzilhadas da política senador! Confesso: parecia algo sem eira e nem beira a adesão do PL a uma proposta de governo nacional, popular e democrático. Enxerguei que nem tanto, já que, “no fundo no fundo”, o chamado “projeto do PT” (nacional, popular e democrático) consiste em reformas cabíveis nos marcos capitalistas, pois o “modo petista de governar” nada mais é que execução de políticas de redução de danos da crise do capital. Que seja. Sem ilusões.

Nos basta, nas eleições 2002, que vença a perspectiva de um Estado de bem-estar social. Tolerância zero com o continuísmo de “migalhas ao povo”. Lula não é exatamente TUDO o que o povo sonha e precisa, porém é o que mais se aproxima: a mais completa tradução das necessidades de um país que deve romper com os grilhões da indignidade. Como o Planalto vê uma aliança PT-PCdoB-PL? Como o “caminho da perdição”. Jogaram duro para inviabilizar, ao estilo “veneno para matar Roseana”. Ponderei. Para que serve a radicalidade feminista se não se abre ao novo e ao inusitado? “Nada como um dia depois do outro e uma noite no meio”. Nós e nossas circunstâncias.

A arte da política consiste em entender as circunstâncias e saber fazer alianças. Por que o senador cabe como convidado de um projeto de governo popular e democrático? Porque, como é de domínio público, é um homem de bem. Grande credencial! Ser “pessoa de bem” na política do Brasil de hoje é um atributo valioso e raro. Exige-se dele solidariedade e respeito. Não é o mesmo que pensar igual. Senador, seja bem-vindo à cena da luta contra todas as formas de dominação! Não será fácil. Provará do sal da terra: a dureza e a ternura da luta popular, democrática e feminista.

E-mail: fatimaoliveira@ig.com.br










Corpo de Alencar é transportado em avião da FAB com honras de chefe de Estado. Foto: Agência Brasil

“Eu tenho que fazer isso, porque quero elegê-la” [José Alencar]







Republicado em 31 de março de 2011 às 7:29
Você escreve:
Fátima Oliveira sofreu o pão que o diabo amassou para defender Alencar como vice
Coisas de Minas, o caminho da perdição
FONTE: www.viomundo.com.br/voce-escreve/fatima-oliveira-sofreu-o-pao-que-o-diabo-amassou-para-defender-alencar-como-vice-de-lula.html

Veja vídeos sobre José Alencar

10 comentários:

  1. Analítico, profético e verdadeiro

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  2. Fátima Oliveira ao escrev er o texto em julho de 2002 e ao republicá-lo em março de 2011 nos mostra que é uma analista política com os pés bem no chão.
    O post é muito bonito também

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  3. Prezada Dra. Fátima Oliveira, eu confio muito no qua senhora escreve

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  4. Leilane Ferreira Leite31 de março de 2011 às 11:32

    Maaaaaaaaaaaaassa demais da conta

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  5. Jéssica Moraes Oliveira31 de março de 2011 às 18:29

    Dra. Fátima, eu já era sua fã, agora fiquei muito mais

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  6. Fátima, emocionante seu texto , fotos e vídeos. Linda homenagem grande escritora do Maranhão.
    Nós perdemos mas o céu ganhou José Alencar.

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  7. Fátima é Fátima, a mestra, sempre.Gosto por demais da conta do seu jeito verdadeiro de ser.
    Urivani

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  8. Soraia Ferreira Andrade2 de abril de 2011 às 08:43

    Achei a análise correta e ot exto muito bonito. Gosto de José Alencar, que foi uma patriota. O homem José Alencar no fim da vida deixa a desejar quanto ao não reconhecimento da possível filha. Alguém já disse que rico nunca morre honrado.

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  9. Daniela Vieira Bacelar3 de abril de 2011 às 16:52

    Eu também concordo que "Fátima Oliveira sofreu o pão que o diabo amassou para defender Alencar como vice" e ela estava certa, pois a vida demonstrou que aquela aliança era necessária. Mas creio que depois que Zé Alencar fez das deles para não aceitar uma pessoa que diz ser sua filha, tenho certeza que Fátima Oliveira defende a mesma opinião hoje que o professor José Ribamar Bessa Freire,
    que escreveu: "Faltou alguém no velório do Zé
    ", cujo inteiro teor solicito a Fátima Oliveira que reproduza em seu blog.
    http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=910

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