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terça-feira, 24 de março de 2015

Hora da política estilo mandacaru, que não dá encosto e nem sombra

10 (DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_


Há um ditado popular nordestino que diz: “Mandacaru não dá encosto nem sombra”, já que no lugar de folhas possui espinhos, muito usado para tipificar alguém que não é solidário: “Fulano é igual a mandacaru”.


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   “Mandacaru” (Cereus jamacaru), palavra de origem tupi que significa “árvore ou fruta de espinheiro que se come”, é também chamado de “cacto candelabro”, “cardeiro”, “cardeiro-rajado”, “cardo”, “jamacaru”, “jumacuru”, “mandacaru-de-boi”, “mandacaru-de-feixo”, Pytaia arbóreae e “tuna”.


  É um cacto nativo do Brasil em regiões onde o solo é arenoso ou de clima semiárido. De porte arbóreo, o mandacaru pode crescer até cinco metros; não dá folhas, apenas espinhos de até 20 centímetros; dá flores grandes, que abrem à noite e fecham com o sol, fonte de alimento para abelhas e pássaros; e produz um fruto comestível, tipo baga, de coloração avermelhada, polpa branca e gelatinosa com sementes pretas, de sabor quase doce.


  Para a gente nordestina, o mandacaru é lendário e profético, pois, quando ele floresce, é um aviso, por pior que seja a seca, de que é tempo de plantar porque a chuva virá! É um cacto típico da caatinga – medra até entre rochas, caso exista um pouco de areia. Resiste às secas mais inóspitas e sobrevive a temperaturas superiores a 45°C, além de resistir até -7°C. É o símbolo do Nordeste.
Felipe Araújo destaca: “A identificação do mandacaru com o povo nordestino e sua cultura não está somente relacionada aos períodos de estiagem. Por apresentar características como durabilidade, adaptabilidade e beleza, é comumente identificado com o povo nordestino no folclore popular por sua resistência em áreas de difícil sobrevivência”.

   Xote das Meninas”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, eternizou o mandacaru: “Mandacaru, quando fulora na seca/ É sinal que a chuva chega no sertão/ Toda menina que enjoa da boneca/ É sinal que o amor já chegou no coração”. O cantor e compositor Chico César louvou a beleza ímpar do símbolo da resistência nordestina em “Flor do Mandacaru”: “Manda, caru/ Uma flor dessa do sertão/ Uma flor de cardo/ Pra alegrar meu coração/ ... Manda, caru/ Flor de mandacaru pra mim/ Pelo correio ou de caminhão/ Num barco do São Francisco/ Peço que você se apresse/ Que a saudade é ruim/ Manda, caru/ Flor de mandacaru pra mim”.


  (Cid Gomes, 19.03.2015)
  A analogia da política com o mandacaru só explodiu em minha mente quando vi e ouvi o então ministro da Educação Cid Gomes na Câmara dos Deputados, no último dia 19, desnudando a sua alma e lavando o peito de milhões de brasileiros, que há muito contestam o súbito enriquecimento de muitos parlamentares, cujo único meio de vida é a política. Há algo errado e tenebroso por aí.


Resultado de imagem para Cid Gomes ministro saindo da Câmara dos DeputadosResultado de imagem para pássaro no mandacaru cactusResultado de imagem para pássaro comendo mandacaruResultado de imagem para homem e o pé de mandacaru Aquilo foi uma emboscada de mandacaru, mas, como nordestino experiente, Cid Gomes sabia que “só quem senta em pé de mandacaru é passarinho” e “acunhou”... Não resisti, tuitei: “Não tenho a menor simpatia pelo estilo dos irmãos Gomes (Ciro e Cid), mas tiro meu chapéu pra Cid Gomes hoje! #CidMeRepresenta”.


Resultado de imagem para Cid Gomes ministro saindo da Câmara dos Deputados Cid Gomes não disse, mas decorre da sua contundente fala a compreensão de que, para que parlamentares, nos âmbitos municipais, estaduais e federal, introjetem o republicanismo no cotidiano de suas vidas, a política brasileira tem de adotar o estilo mandacaru: não dar encosto nem sombra.
Tarefa nada fácil, mas possível, como forma necessária para cercear a corrupção típica de achacadores: o “toma lá dá cá!” – um pedágio jagunço.


 
 PUBLICADO EM 24.03.15
 FONTE: OTEMPO

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