Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
A intolerância religiosa, uma modalidade de guerra
religiosa, é um veneno social incompatível com as liberdades democráticas, pois
é um atentado aos direitos humanos num país laico que tem como direito
constitucional a liberdade religiosa.
As religiões e seus fiéis deveriam tomar ciência que o
melhor regime político para praticar suas fés é a democracia. As religiões
cristãs de matriz fundamentalista, seja católica ou evangélica, desconhecem o respeito
a outras religiões e acalentam o sonho de uma sociedade teocrática, na qual
moralidades, costumes, culturas e leis se resumissem ao que acham que é a
maneira única de cultuar Deus: a visão de mundo de cada uma!
Isto é, resistem e não aceitam uma sociedade
multicultural e plurirreligiosa, na qual o dever do Estado é garantir o
exercício de todas as manifestações religiosas e manter a devida equidistância
de cada uma delas, ao mesmo tempo em que protege a quem não professa nenhuma fé
religiosa.
A não aceitação da convivência democrática e o desejo,
in pectoris e/ou manifesto, de impor a sua visão de mundo para o conjunto da
sociedade é o motivo pelo qual as religiões evangélicas da vertente
pentencostalista, a rigor a sua face neopentencostalista, investem pesado em
eleger fiéis orgânicos aos parlamentos municipais, estaduais e federal, só para
fazer leis, segundo a moralidade de cada agrupamento religioso.
Eis o autoritarismo em nome de Deus, o uso do nome de
Deus em vão - uma espécie de coronelismo fundamentalista! Em 2011 as igrejas do
paraíso fiscal Brasil, que não pagam impostos, arrecadaram mais de 20 bilhões
de reais de modo legal.
Tendo Deus como escudo e como disfarce, fundamentalistas
católicos e neopentencostalistas se pautam pelo conservadorismo nas questões
morais e políticas. Fora daí a ordem é prosperar, pois a teologia da
prosperidade, que é um balcão de negócios, tem como mandamento maior acumular
dinheiro, valendo de traficar armas e drogas até cultuar o patrimonialismo! Não
há um caso ruidoso de corrupção no qual não tenhamos religiosos envolvidos!
Vide agora a Operação Lava Jato!
Não é paradoxal que gente seguidora do “Deus da
palavra”, que para alguns não é o mesmo Deus de todo mundo, seja “unha e carne”
com práticas patrimonialistas, a rigor corrupção, sem nenhum drama de
consciência?
Apesar dos escândalos políticos e de ordem ética, neopentecostalistas
crescem como os cogumelos no Brasil. Incursões sociológicas apontam que nas
regiões metropolitanas, onde a presença do Estado é quase nula, as igrejas
evangélicas, as mais descaradamente “balcões de venda de Deus”, cumprem o papel
de substitutas do aconchego familiar, pois são PhD’s (Philosophiæ Doctor/Doutor da Filosofia,) em
acolhimento, a garantia do dízimo!
É uma hipótese plausível. Daí advém o poder de
agregação de tais religiões nas camadas populares, papel que a Igreja Católica
jamais teve acenando com o fogo do inferno. Mesmo o catolicismo popular tem
perdido terreno de modo impressionante.
E arrematou taxativa: “Só ali dentro do Maiobão - conjunto habitacional com 4.666 casas populares - há, por baixo, de 40 a 50 igrejas evangélicas dessas novas. Aqui, no meio do mato, umas 15!”.
18.03.2015
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