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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O Carnaval de Sabará é mágico, caseiro e descontraído


Não há o que pague o bem que me faz aquele fuzuê!
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Sou fascinada por Carnaval e são João (leia-se quadrilha e bumba-meu-boi). E não sei dançar, para desgosto da vovó Maria, que dizia: "Moça que não dança não gozou a vida". Pode ser. Mas não aprendi, fora os treinos da valsa de formatura em medicina. Ah, sim, dancei, mas fiquei uma semana doente dos pés. O sapato era de "salto alto", o tal Luís XV! Tragédia total. Não sei andar de "salto alto"!

 Em suma, adoro pular Carnaval e brincar quadrilha, como se diz no meu sertão: Carnaval pula-se e quadrilha brinca-se. Não é o mesmo que dançar. A minha porção foliona desabrochou no ano seguinte à mudança para Beagá, idos de 1989, quando descobri o Carnaval de Sabará para levar as crianças, que eram "fominhas" pela folia. Às vezes até fico hospedada lá. Só em dois anos não fui.
Até conhecer o Carnaval de Sabará eu nem tinha ideia do que era pular Carnaval na rua!



 Graça Aranharua da cidade, Por genno Onde eu nasci - pra quem não sabe ou esqueceu, Graça Aranha, antiga Palestina, médio sertão do Maranhão -, criança inventava "Carnaval de lata", o único possível!
Havia apenas duas tradições carnavalescas, só para adultos: o "baile da sociedade", dos remediados do lugar, num salão qualquer, pois nem clube havia naquele cafundó; e o desfile, pelas principais ruas da cidade, das putas do cabaré do Derivaldo, vestidas a rigor: na seda! Saia curtinha pregueada, barriga de fora, sutiã de seda, cara com muito rouge e batom vermelhão cheguei. Um encanto brega! Desfilavam na tarde da terça-feira gorda. Sucesso total! Era comum, durante o dia, duplas de fofões fazendo graça pelas ruas. E mais nada!


Beto Novaes/EM/D.A Press- 15/02/2010sabará  A primeira vez que vi um Carnaval diferente, como aparecia na revista "O Cruzeiro", estava com 14 anos, quando fui estudar em São Luís (1965), pois as aulas começariam na semana seguinte ao tríduo momesco - era assim que se dizia naquele tempo -, então mamãe decidiu que passaríamos o Carnaval lá.

E a criançada
fantasiada, 
acompanhando os blocos, ao som das
marchinhas de bandinhas que
encantam serpentes...


Depois, já médica, morando em Imperatriz, "lugar morto para Carnaval’, anos 1980, não havia Carnaval de rua. Puro medo. Matadores de aluguel zanzavam por todo canto. Nos dois clubes da cidade, Tocantins e Juçara, havia matinês, vesperais e bailes - que eu quase nunca ia, pois gostava de assistir aos desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro, programa que não me apetece mais. Todavia, já fui daquelas que "varava a noite" e só dormia após a última escola passar, aquilo de que Luís da Câmara Cascudo disse tão bem: "O Carnaval de hoje é de desfile, Carnaval assistido, paga-se para ver. O Carnaval, digamos, de 1922, era compartilhado, dançado, pulado, gritado, catucado. Agora não é mais assim, é para ser visto".
 Aprendi a pular Carnaval com minhas crianças nas matinês carnavalescas do Juçara Clube. Era empolgante, desde fazer as fantasias da família, uma para cada dia, e a pulação em si. Mas foi em Sabará que me descobri foliona de rua. Qual é o encanto que tanto mexe comigo no Carnaval de Sabará?

 
 

É o ar de festa do povo do lugar e os homens vestidos de mulher! No centro histórico, nas três praças da muvuca, quase toda casa vira uma venda de água, refrigerante, cerveja e de alguns "comes"; mulheres idosas nas janelas pulando Carnaval dentro de suas casas, na maior animação; e a criançada fantasiada, subindo e descendo as ruas, acompanhando os blocos, ao som das marchinhas de bandinhas que encantam serpentes... E eu lá no meio da folia sinto que todo mundo está ali pelo lúdico da vibração. Em 20 anos, nunca presenciei uma briga.
Não há o que pague o bem que me faz aquele fuzuê!


 

 (DUKE)
Publicado no Jornal OTEMPO em 21.02.2012

6 comentários:

  1. Uma lindeza de crônica carnavalesca

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  2. Ai fiquei com vintade de ir pra Sabará

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  3. Para quem é de Sabará como eu é uma felicidade ler uam crônica assm

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  4. Primeira vez em sabará e adorei, muito bom!!!

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  5. Sabará, tal como descrito por Fátima Oliveira deve ser uma ilha de Carnaval de verdade

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  6. Visitar Sabará é se deparar com o primeiro povoamento mineiro além de transitar em caminhos feitos pelos bandeirantes Dom Pedro I e Dom Pedro II.
    É se deparar com a desigualdade já existente á 3 séculos e sua hegemonia na qual se origina o brasileiro.
    Visitar Sabará é ver de perto as três fases do Barroco e Rococó, além de ficar cara a cara com obras de Antônio Francisco Lisboa, arquiteto, escultor e entalhador, o maior expoente da arte colonial brasileira, conhecido popularmente como Aleijadinho.
    Visitar Sabará é simplesmente estar num das cidades mais ricas de Minas, é mergulhar num poço enorme de história, cultura e beleza sem deixar esquecido o nosso presente e nosso futuro.
    Visitar Sabará é imortalizar em nós o conhecimento de ver conhecer e conviver de maneira íntima com o nosso passado tão próximo que não deve ser esquecido.
    Visite Sabará

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