Não há o que pague o bem que me faz aquele fuzuê!
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Sou fascinada por Carnaval e são João (leia-se quadrilha e bumba-meu-boi). E não sei dançar, para desgosto da vovó Maria, que dizia: "Moça que não dança não gozou a vida". Pode ser. Mas não aprendi, fora os treinos da valsa de formatura em medicina. Ah, sim, dancei, mas fiquei uma semana doente dos pés. O sapato era de "salto alto", o tal Luís XV! Tragédia total. Não sei andar de "salto alto"!
Em suma, adoro pular Carnaval e brincar quadrilha, como se diz no meu sertão: Carnaval pula-se e quadrilha brinca-se. Não é o mesmo que dançar. A minha porção foliona desabrochou no ano seguinte à mudança para Beagá, idos de 1989, quando descobri o Carnaval de Sabará para levar as crianças, que eram "fominhas" pela folia. Às vezes até fico hospedada lá. Só em dois anos não fui. Até conhecer o Carnaval de Sabará eu nem tinha ideia do que era pular Carnaval na rua!

Onde eu nasci - pra quem não sabe ou esqueceu, Graça Aranha, antiga Palestina, médio sertão do Maranhão -, criança inventava "Carnaval de lata", o único possível! Havia apenas duas tradições carnavalescas, só para adultos: o "baile da sociedade", dos remediados do lugar, num salão qualquer, pois nem clube havia naquele cafundó; e o desfile, pelas principais ruas da cidade, das putas do cabaré do Derivaldo, vestidas a rigor: na seda! Saia curtinha pregueada, barriga de fora, sutiã de seda, cara com muito rouge e batom vermelhão cheguei. Um encanto brega! Desfilavam na tarde da terça-feira gorda. Sucesso total! Era comum, durante o dia, duplas de fofões fazendo graça pelas ruas. E mais nada!


E a criançada
fantasiada,
acompanhando os blocos, ao som das
marchinhas de bandinhas que
encantam serpentes...



É o ar de festa do povo do lugar e os homens vestidos de mulher! No centro histórico, nas três praças da muvuca, quase toda casa vira uma venda de água, refrigerante, cerveja e de alguns "comes"; mulheres idosas nas janelas pulando Carnaval dentro de suas casas, na maior animação; e a criançada fantasiada, subindo e descendo as ruas, acompanhando os blocos, ao som das marchinhas de bandinhas que encantam serpentes... E eu lá no meio da folia sinto que todo mundo está ali pelo lúdico da vibração. Em 20 anos, nunca presenciei uma briga. Não há o que pague o bem que me faz aquele fuzuê!

(DUKE)Publicado no Jornal OTEMPO em 21.02.2012
Uma lindeza de crônica carnavalesca
ResponderExcluirAi fiquei com vintade de ir pra Sabará
ResponderExcluirPara quem é de Sabará como eu é uma felicidade ler uam crônica assm
ResponderExcluirPrimeira vez em sabará e adorei, muito bom!!!
ResponderExcluirSabará, tal como descrito por Fátima Oliveira deve ser uma ilha de Carnaval de verdade
ResponderExcluirVisitar Sabará é se deparar com o primeiro povoamento mineiro além de transitar em caminhos feitos pelos bandeirantes Dom Pedro I e Dom Pedro II.
ResponderExcluirÉ se deparar com a desigualdade já existente á 3 séculos e sua hegemonia na qual se origina o brasileiro.
Visitar Sabará é ver de perto as três fases do Barroco e Rococó, além de ficar cara a cara com obras de Antônio Francisco Lisboa, arquiteto, escultor e entalhador, o maior expoente da arte colonial brasileira, conhecido popularmente como Aleijadinho.
Visitar Sabará é simplesmente estar num das cidades mais ricas de Minas, é mergulhar num poço enorme de história, cultura e beleza sem deixar esquecido o nosso presente e nosso futuro.
Visitar Sabará é imortalizar em nós o conhecimento de ver conhecer e conviver de maneira íntima com o nosso passado tão próximo que não deve ser esquecido.
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