(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
– fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_
Tenho
indagado amiúde sobre as causas do esgarçamento do tecido político no Brasil,
caracterizado, sobretudo, por atitudes intolerantes no cotidiano das redes
sociais e na prática política. São posturas inegavelmente fascistas!
Chego à
conclusão de que a falta de civilidade a que assistimos agora não é tão recente
assim; no entanto, ela vivia mascarada. Isto é, muitas pessoas sentiam algum
pudor em declarar que odeiam o povo e todo e qualquer progresso social
destinado a combater as mazelas mais evidentes, tais como o machismo, o
racismo, a homofobia e a pobreza. E hoje não há mais limites que as impeçam de
verbalizar que adversário político é o inimigo a ser esculhambado, até porque o
fascismo é terrorismo político!
O
esgarçamento do tecido político que vivenciamos é uma das muitas facetas da
luta de classes, mais acirrado pelo ideário fascista, que é um componente de
todos os partidos conservadores e de extrema direita na Europa. Podemos falar
que no Brasil a direita agora não esconde mais que se pauta por ele!
“O
fascismo crê que há seres humanos melhores e com mais direitos do que outros e
que só alguns podem ser usufrutuários da Terra e de tudo o que nela há! O
fascismo, que aprofunda as opressões de gênero, racial/étnica e de classe, é
uma irracionalidade!” (“É melhor morrer em pé do que viver de joelhos”, O
TEMPO, 12.4.2016).
(Madrid, 1937)
Uma pergunta que martela meu juízo é:
qual a dose de responsabilidade que o PT, partido de esquerda que governou o
Brasil por 13 anos, tem em tal situação? Ampliando: qual a responsabilidade da
esquerda brasileira? Muita gente acha que nenhuma! Penso diferente. Há bastante
tempo, escrevi “A pequena burguesia ‘viajou’ na onda da alta burguesia” (O
TEMPO, 19.10.2010), logo após o primeiro turno das eleições presidenciais de
2010, no qual disse que, “sob domínio ideológico da burguesia, a democracia
como realidade não é fácil de ser fortalecida e consolidada”, e que o PT no
governo não deu a menor pelota “para a elevação da consciência política e sua
decorrência direta, o pensamento crítico”.
Ora,
mesmo se no governo a esquerda destaque as preocupações ditas sociais e se
empenhe em melhorar a qualidade de vida do povo, se não fizer nada para elevar
a consciência política, erra fragorosamente e abre caminho para seu suicídio
político! Foi o que sucedeu em meio ao aparato ideológico forte e cotidiano dos
“contras”, que contava com todo poder de fogo em termos de formação de opinião,
de jornais a rádios e TVs! É um engano achar que ganhar uma, duas, três, quatro
ou mais eleições presidenciais em sequência é chegar ao poder. Apenas chegou ao
governo pelo voto popular! Chegar ao poder são outros quinhentos sob a batuta
da luta de classes!
O PT é
um partido reformista de esquerda, cuja maior aspiração era gerenciar a crise
do capitalismo no Brasil. Foi vitorioso. Pelo voto popular ganhou,
seguidamente, quatro eleições presidenciais e sobreviveu em meio ao fogo
cruzado do combate ideológico de todos os meios de comunicação do país, sem se
dar conta de que, como Minas são muitas, no Brasil os Poderes são três:
Executivo, Legislativo e Judiciário! Sem falar que a burguesia brasileira não
tem interesse no progresso social nem em defender as riquezas nacionais.
O caldo
de cultura para ideias de direita extremistas estava pronto e só foi
engrossando e aumentando em vitalidade! E não fizemos praticamente nada,
ideologicamente falando, para exterminá-lo, além da ressurreição de que o
petismo é republicano, que deu no que está aí.
PUBLICADO EM 28.02.17
FONTE: OTEMPO
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