(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
– fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou, em
dezembro passado, que é contra a violência, mas que considera inadmissível a
interferência do Estado em “assuntos de família”. Dmitry Peskov, porta-voz do
Kremlin, disse que conflitos familiares “não constituem, necessariamente,
violência doméstica”. A Igreja Ortodoxa apoia ambos, alegando que a
criminalização é imposição ocidental sobre a cultura russa (“Se ele te bate,
quer dizer que te ama” é um provérbio russo)! Segundo a deputada Yelena
Mizulina, relatora da lei de descriminalização da violência doméstica,
“agressões físicas sem lesões sérias são apenas brigas familiares”. Não é
efeito de Orloff, é de vodca falsificada!
(Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin)
(O patriarca Alexis II, da Igreja Ortodoxa Russa)
Há informações de que, na Rússia, a cada 40 minutos,
morre uma mulher vítima de violência doméstica; dados do governo informam que
40% de todos os crimes violentos são cometidos no “lar, doce lar”; e em torno
de 36 mil mulheres apanham de seus parceiros a cada dia, e 26 mil crianças
apanham de seus pais anualmente.
Somente três países da Europa e da Ásia Central não
possuem leis específicas contra a violência doméstica: Armênia, Rússia e
Uzbequistão. Na Rússia, em julho de 2016, foi aprovada uma lei que criminaliza
a violência contra familiares, o que fez rugir as forças conservadoras que
agora aprovaram a lei que descriminaliza a violência doméstica quando a
agressão não causar danos à saúde da vítima e não houver repetição do ato. Foi
aprovada na Assembleia Federal da Rússia (Duma) por 389 votos favoráveis e
apenas três votos contrários, em 27.1.2017, sancionada por Putin em 8.2.2017.
Na lei sancionada, “danos à saúde” são “impactos
duradouros à saúde da vítima que exijam tratamento hospitalar. Hematomas,
arranhões e sangramentos são classificados como de ‘efeito não duradouro’ e não
serão criminalizados”, além do que “a Justiça russa não atuará de ofício
(iniciativa própria) para investigar as acusações, apenas mediante as provas
coletadas e apresentadas pela vítima”. Trocando em miúdos: na Rússia, a violência
doméstica só será punida com prisão e/ou processo se o agressor repetir
agressões físicas no mesmo familiar no período de um ano, caso a vítima reúna
por si as provas da agressão. Não reconhece que a violência atinge a mulher do
berço ao túmulo (Alex Marshall, in “Estado da População Mundial: Relatório
2000”); e desobriga o Estado à atenção integral à sobrevivente de violência
doméstica.
É de domínio público mundial que no flagelo da
violência doméstica a criminalização é indispensável no combate à violência
intrafamiliar, seja da mulher, de crianças, jovens, pessoas com deficiência e
idosas, porque “a impunidade cultiva a tolerância social com a violência”
(Tracy Robinson, relatora sobre os Direitos das Mulheres da Organização dos
Estados Americanos).
PUBLICADO
EM 14.02.17
FONTE: OTEMPO
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Reflexões sobre o centenário Dia Internacional da Mulher, Fátima Oliveira, OTEMPO 08.03.2011
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