(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
– fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_
“Você é o que come” é uma frase-mantra da nutrição que
encerra verdades científicas e é instigante para quem entende a alimentação
como uma questão cultural, incluindo tabus alimentares e interdições religiosas
temporárias e perenes. Há comidas sagradas, profanas e de preceito!”
Se “você é o que você come”, como dizem nutricionistas
e muitas pesquisas da área, a dieta pode afetar a mente humana também! Vide
gerações perdidas de crianças, no mundo, pela desnutrição!
Sabe-se que “uma dieta rica em azeite de oliva aumenta
a quantidade disponível de serotonina”. “A maioria dos antidepressivos age para
manter mais serotonina no cérebro”. Quando o nível de serotonina aumenta, a
dopamina diminui, e vice-versa. Suplementos nutritivos podem ter efeito
positivo nos níveis de dopamina do cérebro, melhorando o foco, resultando em
melhora da concentração e do controle de impulso...
Pesquisas demonstraram: a depressão é ligada ao baixo
consumo de peixe – rico em ômega 3, essencial para o bom funcionamento do
cérebro; há evidências epidemiológicas de que esquizofrênicos apresentam baixos
níveis de ácidos poli-insaturados, mas não sabemos ainda que mudanças na dieta
seriam necessárias; alguns estudos sugerem que a doença de Alzheimer pode
melhorar com grande consumo de legumes e verduras, que protegem contra
enfermidades cerebrais; e sobre a Síndrome do Déficit de Atenção (SDA) há dados
que mostram que crianças portadoras apresentam baixos níveis de ferro e de
ácidos graxos.
Na Grã-Bretanha, a Sustain e a Fundação de Saúde Mental
estudam os efeitos das mudanças na alimentação sobre o cérebro e o
comportamento humano. Conforme o Relatório Sustain (“Mudança de Dieta, Mudança
nas Mentes”, 2006): “A comida pode ter um efeito imediato e duradouro na saúde
mental e no comportamento pela maneira como afeta a estrutura e a função do
cérebro”.
Sabe-se que as gorduras saturadas, cujo consumo vem
sendo ampliado pela ingestão de comida pronta congelada, deixam os processos
cerebrais mais lentos. E Andrew McCulloch, diretor executivo da Fundação de
Saúde Mental, informa que “as pessoas estão conscientes dos efeitos da dieta na
nossa saúde, mas mal começaram a entender como o cérebro é influenciado pelos
nutrientes (...); o tratamento de doenças mentais a partir de mudanças na
alimentação está mostrando melhores resultados em alguns casos do que drogas ou
terapia”.
Uma pesquisa realizada por cientistas espanhóis, das
universidades de Las Palmas e Navarra, constatou que pessoas que seguem a dieta
mediterrânea têm 30% menos chances de desenvolver depressão. Eles pesquisaram
10.094 adultos saudáveis durante quatro anos.
A dieta mediterrânea consiste de alimentos
tradicionalmente consumidos na região do mar Mediterrâneo: grãos integrais,
hortaliças, oleaginosas, azeitonas, azeite de oliva extravirgem e menos carnes
vermelhas e um consumo maior de peixe. É uma dieta rica em ácidos graxos
monossaturados, como o azeite de oliva; consumo moderado de álcool e
laticínios; e alto consumo de legumes, verduras, frutas, castanhas, cereais e
peixe. Estudos informam que essa dieta “protege contra doenças cardíacas e o
câncer e pode ajudar a prevenir a depressão”.
Sou de uma família que preserva a gastronomia
religiosa, as ditas “comidas de preceito”, na Semana Santa, no São João e no
Natal. Defendo a filosofia “slow food”. Comer bem é um direito humano
fundamental, da qual decorre a ecogastronomia – “a responsabilidade de defender
a herança culinária, as tradições culturais que tornam possível esse prazer”.
PUBLICADO
EM 03.01.17
FONTE:
OTEMPO
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A cultura gastronômica expressa vivências, saberes e memórias, Por Fátima Oliveira (27.05.2014)
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