(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
– fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_
Alguns episódios da política nacional impeliram-me a
pensar mais sobre a colonização intelectual. E o faço a partir do dito por Karl
Marx e Friedrich Engels em “A Ideologia Alemã” (1847): “Os pensamentos da
classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou
seja, a classe que tem o poder material dominante numa sociedade é também a
potência dominante espiritual”.
Não sou especialista no tema “colonização das ideias”.
Utilizarei “colonização” no sentido de “a ação e o efeito de colonizar – se
fixar num território que não o de origem dos colonizadores”. Consta na
Enciclopédia das Línguas no Brasil que “os efeitos ideológicos de um processo
colonizador materializam-se em consonância com um processo de colonização
linguística, que supõe a imposição de ideias linguísticas vigentes na metrópole
e um ideário colonizador enlaçando língua e nação em um projeto único...”.
Voltando aos episódios que mexeram comigo e fizeram
aflorar a necessidade de entender mais de colonização do pensamento (além dos
inúmeros cerceamentos do direito de ir e vir de políticos de esquerda em
restaurantes): o primeiro, a doença de Lula, em 2011. Adversários políticos,
com o intuito de desmoralizar e vulnerabilizar, criticaram, com má-fé, o
direito de Lula escolher como e onde queria tratar sua doença, segundo suas
posses. O que ocorreu (“Lula, vá se tratar no SUS”) é uma anomalia numa
democracia porque foi baseado num ideário fascista!
“Só o preconceito de classe, uma das
expressões da luta de classes, contra um sertanejo nordestino originariamente
pobre e retirante, que, pelo voto popular, presidiu o Brasil por duas vezes e
ainda elegeu sua sucessora, explica que gente que se diz ‘bem-nascida’ e que,
mesmo quando come sardinha, diz que arrota caviar, exija que Lula vá se tratar
no SUS quando essa não foi a escolha que ele fez! Acessar o SUS é um direito, e
não uma obrigação!” (“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e aimagem”, O TEMPO, 8.11.2011).
O terceiro, em curso. A mulher de Lula, Marisa
Letícia, internada desde 24 de janeiro, após Acidente Vascular Cerebral (AVC)
hemorrágico decorrente de rompimento de um aneurisma. Além das paneleiras em
vigília diante do Hospital Sírio-Libanês e da verbalização de desejos de morte
para ela, a postagem do “conde” Chiquinho Scarpa no Facebook, prenhe de
mentiras, é fiel ao que um fascista pensa, mesmo não desejando a morte dela.
Escreveu o “conde”: “Marisa Letícia, que você serecupere... mas vá se tratar em um dos fantásticos hospitais públicosdestruídos pelo PT nos últimos 13 anos e que o médico seja um cubano que tem osalário tomado por Fidel... E antes que a militância venha me mandar para omesmo hospital... Infelizmente, o PT arrebentou esses hospitais, por isso sou obrigado a usar meu dinheiro, ganho honestamente, para me tratar em hospitaisparticulares, apesar dos impostos absurdos que eu e todos nós pagamos” (25 de
janeiro, às 07h09). Sem palavras!
(Posse de Lula em 2003 e em 2007)
PUBLICADO
EM 31.01.17
FONTE: OTEMPO
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