(DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
A
esfera privada/doméstica – o pessoal e a intimidade das pessoas – é a essência
do que ela é para além de discursos e imagem pública.
O
que queremos dizer com “o pessoal é político”? É um conforto mental ouvir Susan
Moller Okin (1946-2004), uma das filósofas políticas mais importantes do
Ocidente: “Primeiramente, que o que acontece na vida pessoal, particularmente
nas relações entre os sexos, não é imune em relação à dinâmica de poder, que
tem tipicamente sido vista como a face distintiva do político. E nós também
queremos dizer que nem o domínio da vida doméstica, pessoal, nem aquele da vida
não doméstica, econômica e política, podem ser interpretados isolados um do
outro” (“Gênero, o Público e o Privado”, 2007).
Consta
na Constituição Federal de 1988 que “são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas” (Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, art. 5º, X). No Brasil, as bases legais da autonomia ou o
respeito à pessoa consideram que “o ser humano tem o direito de ser responsável
por seus atos, de exercer o direito de escolha”.
(DUKE)
São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
“Pelo
exposto, conclui-se que a autonomia, no Brasil, alicerça dois direitos
constitucionais: a dignidade da pessoa e a inviolabilidade da intimidade, da
vida privada, da honra e da imagem, mesmo quando titulares de tais direitos são
figuras públicas. Como pode uma ‘pessoa pública’ – a exemplo de parlamentares e
governantes – ter direito a tais inviolabilidades?
Ora,
ser uma ‘pessoa pública’ não é condição para perder direitos, embora incorpore
mais deveres. Uma pessoa pública em exercício de mandato eletivo deve
explicações dos seus atos ao povo. Elementar: foi eleita para representar o
povo ou governá-lo. E como tal está obrigada a prestar contas do que diz
respeito a sua vida pública, ainda que seja na esfera privada, se repercutir na
esfera pública” (Oliveira, Fátima, in “São invioláveis a intimidade, a vidaprivada, a honra e a imagem”, O TEMPO, 8.11.2011).
Diante
do que é um despudor que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso esteja
melindrado e diga que “lamenta uso político de questão pessoal” no caso FHC XMirian Dutra. Não tem razão para tanto! A vida privada/doméstica está estribada
na moralidade da pessoa, e a pública deveria ser na ética.
Reavivando
a memória: moral é uma coisa e ética, outra. “Etimologicamente, as palavras
‘ética’ (de origem grega) e ‘moral’ (de origem latina) possuem conotação
similar. Ambas significam costumes, e estes, por sua vez, são os valores
relativos a determinado agrupamento social, em algum momento de sua história.
“Embora
indiquem a mesma coisa, usa-se o termo ‘moral’ para fazer referência tanto aos
costumes ou comportamentos socialmente aceitos quanto aos valores restritos à
pessoa ou a grupos com unidade ideológica, étnica, racial ou sexual. Por isso
se diz moral burguesa, moral proletária, moral feminista, moral machista, moral
cristã etc.
“A
ética nomeia costumes ou comportamentos relativos ao mundo macro, ao conjunto
da sociedade, dos povos, que são mundos inerentemente pluralistas. Ela é,
portanto, forjada com as contribuições dos valores morais de cada agrupamento
social. Resulta da negociação, do processo de pressões e contrapressões
imprimidas pelos vários valores morais” (Oliveira, Fátima, in “Engenharia
Genética: o Sétimo Dia da Criação”, Moderna, 1995).
É
a vida privada/doméstica que expressa com fidelidade a moralidade-guia da vida
de alguém. Se a imagem pública não coincide com o que a pessoa é na vida
privada, estamos diante de uma enganação social e política, uma fraude!
PUBLICADO EM 01.03.16
FONTE: OTEMPO
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