(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Aconteceu há 30 anos e reavivou os riscos da energia nuclear. Na
madrugada de 26.4.1986, um acidente destruiu o reator número 4 da Usina Nuclear
de Chernobyl, nos arredores de Pripyat, com 45 mil habitantes, na Ucrânia, que
até 1991 integrou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Foi considerado o maior acidente nuclear da história, com uma “poeira
de contaminação radioativa” 400 vezes maior do que nos “crimes atômicos” de
Hiroshima (bomba de urânio, 6.8.1945) e Nagasaki (bomba de plutônio, 8.8.1945),
na Segunda Guerra Mundial! Em 6.5.1986, a emissão radioativa e o fogo de
Chernobyl foram controlados.
No dia do acidente, morreram 31 pessoas. No dia seguinte, mil
trabalhadores foram declarados contaminados por radiação, problema que se
alastrou. Morreram 30 bombeiros por radiação excessiva. Cerca de 6.000 crianças
à época tiveram câncer na tireoide na adolescência e na idade adulta. Desde
1986, milhares de pessoas tiveram câncer de tireoide, que é tratável, cuja taxa
de sobrevivência na Ucrânia é de 99%.
“Além da Bielorrússia, país que faz fronteira com a Ucrânia, nos anos
seguintes, a nuvem de radiação pode ser notada em outros países da Europa e de
outros continentes. Índices de radiação foram detectados na Suécia, na
Escandinávia, nos Países Baixos, na Bélgica, no Reino Unido, na Eslováquia, na
Romênia, na Bulgária, na Grécia, na Turquia e na Polônia” (Douglas Ciriaco, “25 Anos do Desastre de Chernobyl: Mitos e Verdades da Energia Atômica”).
Foi construído um sarcófago ao redor do reator 4 e definida uma área de
isolamento, a Zona de Exclusão de Chernobyl, com mais de 1.500 km², na qual é
proibida a moradia porque o solo, a água e o ar são contaminados – hoje, a zona
de exclusão é de “cerca de 2.500 km² cercada por seguranças e permanente controle
de radiação”.
Pripyat, Chernobyl e arredores viraram locais-fantasma. Foram removidas
210 mil pessoas – um êxodo forçado, por biossegurança, que gerou danos sociais
e emocionais, com impactos relevantes na vida das mulheres.
Muitos não se adaptaram aos novos locais de moradia, e cerca de 1.200
retornaram. A maioria foi expulsa. Umas 200 pessoas resistiram, os autocolonos,
como as cem mulheres idosas, as “babushkas” (vovós), a maioria hoje viúva,
cujas histórias estão no documentário de Holly Morris e Anne Bogart “As
‘Babushkas’ de Chernobyl” – mulheres que “conseguiram, por sua conta e risco,
convencer o governo a deixá-las em paz por lá”, onde criam galinhas e porcos;
plantam legumes e verduras; colhem frutas e cogumelos na floresta; pescam e
bebem água de poço!
É uma vida difícil, e muitas dependem do apoio financeiro de parentes
que moram fora da zona de exclusão. Sabem dos riscos e perigos da radiação, mas
desafiam as pesquisas que afirmam que Chernobyl ainda é uma ameaça à natureza.
(Anne Bogart Holly Morris)
Em “Idosas vivem na zona de exclusão de Chernobyl, evacuada em 1986”,
George Johnson fala sobre elas e o documentário. Valentyna Ivanivna, 75, disse:
“Em Kiev, eu já teria morrido há muito tempo, já teria morrido cinco vezes.
Todos os carros lançam a tabela periódica inteira no ar, e você coloca tudo
aquilo para dentro do pulmão”.
Uma mulher, que estava sendo retirada pela segunda vez, disse a Holly
Morris que enfrentou o soldado: “Atire em mim e cave a cova. Senão, vou voltarpara casa”. Os soldados começaram a desistir sob o argumento humanitário de que
“eles vão morrer, vamos deixar que morram felizes, que morram em suas casas”.
A desobediência civil das “babushkas” evidencia o valor do lar como uma
parte da gente.
PUBLICADO EM 29.03.16
FONTE: OTEMPO
uau
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