Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Márcio Jerry Saraiva Barroso, colinense, jornalista,
presidente do PCdoB do Maranhão e secretário estadual de Assuntos Políticos e
Comunicação do governo do comunista Flávio Dino, em entrevista a ClodoaldoCorrêa e Leandro Miranda, foi magistral ao abordar o bairrismo/provincianismo
incrustado na cultura ludovicense, espraiado em todas as classes sociais, que é
uma postura de que tudo o que não é ludovicense é de segunda categoria, até as
pessoas!
É tão forte que basta você abrir a boca para a pessoa
indagar: “És de qual interior?”. Há um linguajar ludovicense ou da ilha de São
Luís que é considerado o único português letrado do Maranhão. E tal visão é uma
praga na política maranhense.
Vide a expressão “fulano é do interior”, marca eterna,
mesmo se morarmos a vida inteira em São Luís! Semana passada, entrei num
estúdio/galeria na Praia Grande e fiquei a admirar as várias pinturas,
expressivamente belas, em diferentes tamanhos, do beco Catarina Mina, quando um
dos pintores deixou sua tela e aproximou-se de onde eu estava. Elogiei as
pinturas e indaguei se sabia onde ainda encontraria uma tela de Ambrósio Amorim
(1922-2003).
(Ambrósio Amorim. Beco da Barraquinhas. Óleo sobre Tela)
“A senhora é de onde? Turista?”.
Respondi: “Sou do sertão, seu moço! Médio sertão do
Maranhão. De Graça Aranha. Conheci Ambrósio Amorim porque morávamos no mesmo
pensionato na praça da Alegria, no começo da década de 70”.
“Os pensionatos ali não eram só de moças?”.
Retruquei: “Era amigo da dona. Tinha um quarto lá. Era
o único homem! Quero comprar um quadro dele. Ele tem um filho, mas perdi o
contato...”
“Então
a senhora não é daqui, é do interior...”. Emendei: “E com uma fala que não é de
lugar nenhum!”. E rimos.
Entendo a fixação de em São Luís se entender onde a
pessoa nasceu como uma “marca de gado”, desde tempos ancestrais, numa cidade que
já foi francesa (1612-1615), holandesa (1641-1644) e portuguesa também! Algo
pertinente à territorialidade. Sim, uma demarcação de território!
Disse Márcio Jerry: “Vejo preconceitos espalhados em
alguns órgãos de comunicação, do grupo Sarney, espelhando uma visão
extremamente elitista da política. No começo do ano, li no jornal que era um
absurdo eu vir trabalhar no Palácio dos Leões porque aqui não era para qualquer
um. Por si só, isso já diz o grau de atraso, medievalismo, dessa afirmação.
Depois, no fim do ano, para coroar essas aleivosias conservadoras, outra
afirmação questionando o que justificava as minhas pretensões, afinal eu era
‘apenas uma pessoa simples do sertão maranhense’”.
(Professora Maria das Graças Graça Saraiva Barroso)
(Dona Graça, presente! Por Flávio Dino)
(Maria das Graças Saraiva Barroso e o marido João Francisco Barroso)
Márcio Jerry arrematou: “Governo popular precisa
sempre buscar caminhos de empoderamento do povo”. Eu, cria do Colégio
Colinense, uma das mais conceituadas escolas do Maranhão de todos os tempos,
fui colega de escola de Graça Saraiva, a mãe dele, e compreendo perfeitamente o
que ele diz e de onde fala.
(Colégio Colinense/CINEC, Colinas-MA)
No fundamental, somos crias de um sonho “macediano”, e
nosso lugar é o mundo. Recebemos uma educação para o bem comum e para a
liberdade numa escola incrustada nos confins do sertão maranhense pelo
visionário padre Macedo (José Manuel de Macedo Costa, nascido em Colinas, em 1930).
Há algum tempo, sempre que leio sobre Maria Montessori
(1870-1952), tenho a sensação da sertaneidade do que se conhece como método
montessoriano. E sinto-me cada vez mais próxima dela, porque o sonho
“macediano” é, na essência, montessoriano, e como disse Gabriel García Márquez:
“Não creio que haja método melhor que o montessoriano para sensibilizar as
crianças nas belezas do mundo e para lhes despertar a curiosidade para os
segredos da vida”. E é assim que estamos no mundo.
Padre Macedo (José Manuel de Macedo Costa) casou com Maria da Paz Porto em 1968. Tem dois filhos: Alessandra, médica e José Manoel, advogado.
PUBLICADO
EM 26.01.16
FONTE:
O TEMPO
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