(DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Após ler a entrevista do sociólogo polaco Zygmunt
Bauman concedida a Ricardo de Querol, “As redes sociais são uma armadilha”
(“El País”, 8.1.2016), decidi reler “Tecnopólio: A Rendição da Cultura à
Tecnologia”, de Neil Postman (Nobel, 1994), que li em 1995 e revisito muito,
por considerá-lo ainda atual, embora seja, a rigor, uma análise escrita quando
a internet engatinhava.
(Zygmunt Bauman)
A precursora da internet, a Arpanet, foi criada em
1969 e pertencia ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos; só interligava
laboratórios de pesquisa no país. A liberação comercial ocorreu em 1987. Em
1992, o Laboratório Europeu de Física de Partículas inventou a World Wide Web,
que possibilitou o uso por qualquer pessoa. A internet foi liberada no Brasil
em 1995.
Neil Postman (1931-2003), norte-americano, professor e
pesquisador de mídia e educação, dirigiu o Departamento de Comunicação da
Universidade de Nova York e escreveu inúmeros artigos e vários livros com
enfoques na evolução da tecnologia e suas ressonâncias na sociedade.
Conforme a resenha da obra feita por Marcela Lino daSilva, Stephanie Sá Leitão Grimaldi e André Felipe de Albuquerque Fell, “o
tecnopólio passa a ser, então, um estado de cultura, envolto em seus próprios
dogmas e misticismos, impondo o rumo e o ritmo de vida às sociedades”.
Zygmunt Bauman, 90, sociólogo polaco, foi professor da
Universidade de Varsóvia, da qual foi expulso em 1968, quando imigrou para a
Grã-Bretanha, onde tornou-se professor titular da Universidade de Leeds, em
1971. Recebeu os prêmios Amalfi (1989, por sua obra “Modernidade e Holocausto”)
e Adorno (1998, pelo conjunto de sua obra). É professor emérito de sociologia
das universidades de Leeds e Varsóvia.
Zygmunt Bauman, cético sobre o “ativismo de sofá”, é
tido como pessimista e declara que a ideia de progresso é um mito. É criador do
conceito de modernidade líquida – “uma etapa na qual tudo que era sólido se
liquidificou, e em que nossos acordos são temporários, passageiros, válidos
apenas até novo aviso”.
Ricardo de Querol destaca que “ele é a voz dos menos
favorecidos. O sociólogo denuncia a desigualdade e a queda da classe média. E
avisa aos indignados que seu experimento pode ter vida curta”. E que “suas
denúncias sobre a crescente desigualdade, sua análise do descrédito da política
e sua visão nada idealista do que trouxe a revolução digital o transformaram
também em um farol para o movimento global dos indignados, apesar de que não
hesita em pontuar suas debilidades”.
Questionado se, “em vez de um instrumento
revolucionário, como alguns pensam, as redes sociais são o novo ópio do povo”,
eis fragmentos de sua resposta: “A diferença entre a comunidade e a rede é que
você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e
deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. (...) As
redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a
controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus
horizontes, mas, ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de
conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o
único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito
úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha”.
FONTE: OTEMPO
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