Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br
Das aulas de pedagogia do curso normal, antigo curso de formação de professor(a) primário(a), uma figura inesquecível é Maria Montessori (1870-1952), a primeira italiana a se diplomar em medicina (Universidade de Roma, 1896), correndo na raia da transgressão do status quo: por ser mulher, precisou obter autorização do papa Leão XII para cursar medicina, profissão que o diretor da faculdade e a família dela não queriam que adotasse; feminista, participou de congressos feministas em Berlim e em Londres; e foi mãe solteira, do seu único filho, Mario Montessori, em 1900!
(Maria Montessori, 1900)
Fez especialização em psiquiatria com foco em "crianças anormais" - quando criou o método da pedagogia científica, hoje, método Montessori, no ambulatório da Universidade de Roma, para crianças com necessidades especiais, com resultados surpreendentes. Intuiu que o seu método, cujos princípios são a atividade, a individualidade e a liberdade, era replicável em crianças sem comprometimentos mentais.
Em 1898, num congresso médico em Turim, declarou que "deficientes e anormais" necessitavam mais de um bom método pedagógico do que de medicina e que "as esperanças de qualquer desenvolvimento estavam no professor, não no clínico"; concluiu que era contra a internação de "crianças anormais" e propôs escolas para elas, conforme métodos inspirados nos médicos e nos educadores franceses Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), professor de "o garoto selvagem de Aveyron", e Eduard Ségui (1812-1880). Foi um escândalo nos meios médico e educacional.
O ministro da Instrução Pública da Itália à época era Guido Baccelli, ex-professor dela. Encantado com suas ideias, convidou-a para ministrar conferências em Roma sobre "o ensino de anormais", desencadeando um movimento público a favor das ideias montessorianas. Intelectualmente inquieta, Montessori voltou aos bancos escolares para aprender psicologia experimental e pedagogia nas universidades de Roma, Nápoles, Milão, Paris e Londres. Em 1904, foi nomeada para a cadeira de antropologia pedagógica da Universidade de Roma, lugar privilegiado para divulgar suas ideias e preparar educadores para "crianças anormais".
Em 1906, em Roma, foi procurada por uma construtora de prédios para pobres, no bairro San Lourenzo, que buscava socorro para um problema social grave: pais e mães trabalhadores saíam cedo de casa, e as crianças ficavam ao deus-dará e danificavam os prédios! Buscava algo que não fosse uma escola, mas que "tomasse conta da criançada"; para tanto, cederiam uma sala em cada bloco, além de pagar o pessoal necessário para desenvolver um projeto pedagógico de cuidados para crianças de 3 a 7 anos, sem ônus para a família!
("Casa dei Bambini")
(Quarto sem berço)
Publicado no Jornal OTEMPO em 06.11.2012
Muito show. Adorei. Os quartinhos montessorianos foram bem destacados nas imagens, sobretudo. Maria Montessori foi genial
ResponderExcluirFátima Oliveira abordou um tema dos mais importantes e of ez muito bem. Há um blog: Família Montessoriana, que recomendo http://montessoriefamilia.blogspot.com.br/
ResponderExcluirQue belo resgate de Maria Montessori!
ResponderExcluirOs quartinhos montessorianos são uma gracinha, além de serem um bem para as crianças
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