(Igreja Matriz de Graça Aranha-MA)
NO MUNICÍPIO, GOVERNO DE COALIZÃO É FRACASSO
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
As últimas eleições pautaram discussões acirradas sobre a política de alianças, ou coligações eleitorais. Relembrando que partidos políticos são partes do que pensa uma sociedade, jamais significam ou representam o todo. Nunca é demais refrescar a memória sobre a política de alianças eleitorais ser legítima na democracia. Logo, fazer alianças não é crime.
Criticar alianças é um direito, mas condená-las em si é desconhecer que elas não são um fim, mas um meio para, pois aliança é "ato ou efeito de aliar-se pontualmente para um fim específico e imediato". Em uma aliança, nenhum partido abre mão do seu programa, pois o acordo é temporário, conjuntural: indicar uma mesma candidatura e eventualmente estabelecer um governo, paritário ou não, de coalizão - acordo político para um fim comum, como governar juntos.
Um governo de coalizão nacional, como pretendeu ser o governo Lula, por exemplo, é desafio inerentemente complicado no presidencialismo brasileiro, em que o cargo de presidir a República assume ares de poder imperial, de reinado e de divindade. No âmbito do município um governo de coalizão é tarefa fadada ao fracasso, por conta das miudezas do cotidiano local e da história de vida de cada ser político.
(Graça Aranha-MA)
O "conversê" acima introduz uma memória pessoal. Na noite de 7 de outubro passado, o meu irmão Gil, que mora em Imperatriz (MA), era só alegria ao telefone: "Aqui, o Madeira foi reeleito. A melhor é que, meio século depois, ganhamos as eleições em Graça Aranha: o prefeito é Nilton, filho de Crezo e de Ana". Retruquei: "Então, não ganhamos. Dona Terezinha Damasceno, a mãe de Crezo, não era do nosso lado; era do povo lá de cima!". Ele: "Agora é do povo lá de baixo". Meu irmão saiu de Graça Aranha criança; não entendia o que eu dizia. Lamentei com meus botões: "Esperar tanto para eleger um prefeito e nem é um legítimo do povo lá de baixo!".
Nilton 12
Pense numa longa espera: Graça Aranha virou município em 10 de outubro de 1959. Eu estava com 6 anos, mas a nitidez do foguetório à alta madrugada é como se tivesse sido ontem: a notícia foi trazida pelo padrinho Beleza, o chefe político "do povo lá de baixo", que foi candidato a prefeito na primeira eleição e a perdeu para Nacor Rolim, "do povo lá de cima" - acho que em 1962, já que o município só foi instalado em 18.11.1962. Desde então, "o povo lá de cima" não perdeu eleição para prefeito até 2012, com a eleição de Josenewton Guimarães Damasceno, vulgo Nilton, do PDT, da coligação Agora é a vez do Povo (faltou o "lá de baixo"!), formada por PRB/PDT/DEM/PSB/PSDB/PCdoB/PTdoB).
(Vista áerea de Graça Aranha-MA)
Traduzindo: no fim da década de 50, a rigor, em Graça Aranha, havia uma rua, a do Comércio (o resto era chamado de "ponta de rua"), onde moravam as pessoas remediadas, dividida politicamente em "lá de cima" e "lá de baixo", a um ponto que até as crianças eram ensinadas a nem pisar na calçada dos "contras"! Nem namoro era permitido entre os "lá de cima" e os "lá de baixo"! É irracional, mas, há poucos anos, uma sobrinha, que nem conhecia Graça Aranha, chegou toda melosa: "Tia, tô namorando fulano de tal, de Graça Aranha". Não titubeei: "Essa gente não presta! É o que seu avô diria se fosse vivo!". Meses depois: "Tia, o vovô estava certo: esse povo lá de cima não presta".
Na cultura política local, pouca coisa deve ter mudado, independentemente de qual partido, pois, lá, partido é mero detalhe sem valor: vota-se, em Graça Aranha, ainda no "povo lá de cima" e "no povo lá de baixo".
Publicado no Jornal OTEMPO em 30.10.2012
É de matar de rir. Parabéns
ResponderExcluireheheheeh adorei, em Graça Aranha é assm mesmo
ResponderExcluirGracinha de memórias
ResponderExcluirCara Fátima, a sua cidadezinha continua a mesma do ponto de vista da cultura; até parece que o tempo não passsou
ResponderExcluirMuito bem escrita e bonita
ResponderExcluirFiquei decepcionado com o texto. Fala de um tempo muito atrasado e ainda cultua o atraso
ResponderExcluirNestor Aquino, penso que o senhor fez que nem analfabeto funcional: ler, leu, poirém não entendeu o que leu. A crônica aborda memórias da autora. Nem mais e nem menos. Na crônica ela conta como era a vida política da cidade há cinquenta anos e diz como é hoje. Por acaso o senhor conhece Graça Aranha e acompanhou a vida da cidade nos últimos 50 anos? Não sabia que a vitória do prefeito eleito foi comemorada pelo povo de lá como uma surra no povo lá de cima depois de 50 anos? Pois lá é assm, mudam as siglas partidárias, no entanto os dois partidos originais se mantém: o povo lá de cima e o povo lá de baixo. Há uma cultura do lugar, que o senhor pode chamar
ResponderExcluirde atraso, fique à vontade, mas deve respeitar como vive aquele povo