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terça-feira, 16 de outubro de 2012

A psicofobia é um crime; e quem é responsável pelo doente mental?


EM GERAL, A JUDICIALIZAÇÃO TRATA AS FAMÍLIAS COMO BANDIDAS
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_


Dia 10 de outubro é Dia Mundial da Saúde Mental, data em que, em 2012, aconteceu a abertura do 30º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, cujo tema foi "Psiquiatria, ciência e prática médica". Pelo que acompanhei no site da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), foi um momento de avaliação da atenção à saúde mental em nosso país e, sobretudo, um espaço para reafirmar a continuidade da campanha "A sociedade contra o preconceito" e o apoio ao projeto de lei "Psicofobia é um crime". De iniciativa do senador Paulo Davim (PV-RN), esse emenda o novo Código Penal, criminalizando a psicofobia, o preconceito contra pessoas com transtorno ou deficiência mental, "punindo com pena de dois a quatro anos de prisão ações motivadas pelo preconceito, como impedir a nomeação em cargo público, demitir de empresa ou vetar acesso a transporte ou estabelecimentos comerciais".


  (Senador Paulo Davim)

Sou uma curiosa da psiquiatria, área do saber médico sobre a qual aprendi a gostar de ler por necessidade familiar, com o intuito de saber mais para não peregrinar à toa nas estradas da vida. Todavia, até hoje peregrino. No entanto, tenho estofo intelectual e científico para discutir, divergir e concordar - uma situação privilegiada, em comparação com o mundaréu de gente que tem de conviver, sem lenço e sem documento, com familiares com transtornos mentais e ainda tem de ouvir de juízes que "as famílias não querem cuidar dos seus doidos", quando busca uma internação necessária. Afirmo, a judicialização da doença mental é uma praga que, em geral, trata as famílias como bandidas!



O problema é que
o sistema de atendimento ao
doente mental não atende às
expectativas dos especialistas
e às necessidades dos pacientes.



Com a palavra, quem entende do assunto por dever de ofício: "Duas em cada dez pessoas em todo o mundo têm ou já tiveram algum transtorno mental. No Brasil, não é diferente. Apesar disso, não há no país políticas públicas satisfatórias em saúde mental (...). Segundo dados do Ministério da Saúde, 3% dos brasileiros sofrem com transtornos mentais severos e persistentes, e mais de 6% da população tem transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e drogas: 12% da população necessita de algum atendimento em saúde mental. O problema é que o sistema de atendimento ao doente mental não atende às expectativas dos especialistas e às necessidades dos pacientes.




A Política Nacional de Saúde Mental foi instituída com o objetivo de consolidar um modelo que garantisse o convívio do doente com a família e a comunidade. As diretrizes procuraram evitar as internações em hospitais psiquiátricos. Com isso, unidades foram fechadas, equipes desestruturadas e leitos desativados. Entre 2002 e 2011, quase 20 mil leitos psiquiátricos foram extintos no SUS. Um dos instrumentos utilizados para promover a reforma foram os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), até hoje insuficientes e sem estrutura física e/ou equipes profissionais de atendimento.
Ao fim de 2011, o Brasil possuía 1.742 Caps. Segundo o Ministério da Saúde, essa quantidade atende 72% da população, mas o que vemos na realidade é bem diferente. Os números trazem outros agravantes. Apenas cinco unidades do total de Caps em funcionamento, em todo o país, estão abertas 24 horas, sete dias por semana, para receber pessoas que fazem uso de álcool e drogas; é precário o tratamento do doente mental na rede de atenção básica à saúde, e poucos são os hospitais que oferecem atendimento ambulatorial" (ABP, www.abp.org.br/portal/archive/8884, 9 de outubro de 2012).


Com a palavra, o ministro da Saúde, que precisa dar uma resposta à altura do caos.
Publicado no Jornal OTEMPO em 16.10.2012

6 comentários:

  1. Entendi o que está falando. Assusta-me serviço de atendimento ao doente mental sem psiquiatra! É um absurdo

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  2. Lamentavelmente o artigo tem um viés muito médico. De resto é muito bom

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  3. Um artigo meio ruim das pernas, reflete a briga de mercado da psicologia com a psiquiatria, sendo que nunca é demais lembrar que a psiquiatria é da área das ciências humanas e não das ciências da saúde! E hoje no Brasil, psicólogos desejam afastar os psiquiatras do atendimento ao doente mental!!!!
    Psicofobia ou psiquiatriafobia?
    http://psicologiadospsicologos.blogspot.com.br/2012/09/psicofobia-ou-psiquiatriafobia.html

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    Respostas
    1. Prezada Joana, sou o autor deste artigo. Gostaria de fazer alguns esclarecimentos. Minha intenção não foi de forma alguma afastar as pessoas dos psiquiatras. Considero estes profissionais (que sim, tem grande relação com as ciências humanas, mas não deixam de ser profissionais da saúde) tão importantes quanto qualquer outro profissional da área da saúde. Neste post, mnhas suspeitas (que não são acusações) foram dirigidas à ABP e não aos psiquiatras de uma forma geral. Da mesma forma que "critiquei" a ABP, em outros momentos do blog, critiquei o CFP. Pode até ser que a "briga" do CFP com a ABP seja devido à questões mercadologicas. Não é o meu caso. Não considero, por exemplo, que terapia é mais efetiva que medicação. Ambos tratamentos podem ajudar muito, conforme o caso. No caso de transtornos podemmentais graves as medicacões são indiscutivelmente úteis e representam um enorme avanço frente aos tratamentos anteriores. Minhas principais críticas no blog são contra a pretensão da psiquiatria biológica de explicar e tratar
      os sofrimentos humanos, reduzindo-os a meras disfunções cerebrais. Esta é uma crítica filosófica, não mercadologica. No caso do post em questão, acho importante ressaltar tratar-se apenas de suspeitas, talvez (e espero que) equivocadas, não de acusações. Um abraço

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  4. Presidenta Dilma Rousseff sobre os Caps: "Você sabia que os CAPs-AD fecham às 18h? Você chega para o drogado e fala: “Drogado, são 18h. Tchau, drogado, volta amanhã!”
    http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/noticia/2011/11/tchau-drogado-volta-amanha.html

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  5. Gosto muito das posições da Fátima Oliveira sobre doença mental. Acho-as firmes e corajosas, a exemplo de
    1. A internação psiquiátrica que é necessária não é crime
    http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=8746,OTE
    2. Se de perto ninguém é normal, o que é loucura?
    http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=8687,OTE

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