... é um ponto de publicação de "coisas" escritas em momentos de grandes inspirações, pois a Chapada do Arapari é um lugar que existe, mas ao mesmo tempo é meu imaginário...
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Sepultando os meus mortos à sombra das tamareiras
NUM, MEMÓRIAS; NOUTRO, INCURSÃO NO IMAGINÁRIO DO ORIENTE
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_
"Sepultando os Meus Mortos" (memórias, 1935) e "À Sombra das Tamareiras" (contos orientais, 1934), livros do escritor maranhense Humberto de Campos (1886-1934), cuja obra era popular e leitura obrigatória nas escolas maranhenses nos anos 60/70, serviam de deliciosa chacota.
No Maranhão, as tamareiras de Humberto de Campos são tão reais quanto o sabiá de Gonçalves Dias (1823-1864) cantando nas palmeiras... Dizem, e ouço desde criança, que só o sabiá de Gonçalves Dias, em febril delírio de amor por Ana Amélia, sua eterna musa, pousa em palmeiras, pois sabiás voam baixo e só pousam em arbustos! Por aí... Se é verdade, não sei! Jamais vi sabiá em palmeira. Para nós, o nome do livro era "Sepultando os Meus Mortos à Sombra das Tamareiras". Outra versão era usada quando terminávamos um namoro: "Fulano? Morto e Sepultado à Sombra das Tamareiras". Era o fim, fim...
(Tamareiras brotam da areia, dando um toque de vida ao deserto de Ubari, Líbia).
(Tamareiras, próximo ao Mar da Galiléia, Israel).
Em "Sepultando os Meus Mortos", o autor escreveu suas memórias de pessoas com quem conviveu. Sobre "À Sombra das Tamareiras", transcrevo parte do que escreveu Antonio Carlos Secchin (da Academia Brasileira de Letras e professor titular de literatura brasileira da UFRJ): "Na multifacetada obra de Humberto de Campos, À Sombra das Tamareiras representa uma bem-sucedida incursão ao imaginário do Oriente (...). Em meio ao imenso espólio da fabulação oriental, torna-se difícil, na apropriação que dele efetua Humberto de Campos, detectar o que seria criação original e o que seria tradução ou adaptação de histórias alheias. Na divertida apresentação do volume, intitulada As razões do livro, o escritor confessa, não sem ironia, um furto literário e apresenta razões pouco nobres para editá-lo: precisa quitar a dívida contraída com o suposto verdadeiro autor, e, com malícia, insinua não ter certeza de que o tal Mohammed Zolachid haja, de fato, escrito as histórias (...). Ressalte-se a qualidade da escrita de Humberto de Campos: um estilo claro, fluente, a serviço de uma capacidade fabulativa que prende a atenção do leitor, seduzido pelas reviravoltas e as peripécias das bem-urdidas tramas".
Não conheço as obras completas de Humberto de Campos, nem sei o motivo, já que é um autor que acho especial, e a fluência de suas narrativas é, no essencial, agradabilíssima. Todavia, tenho prazer imenso em reler, por pura distração, além dos dois livros mencionados, os minicontos de "Grãos de Mostarda" e "O Brasil Anedótico", um conjunto de historietas das mais engraçadas (segundo o autor, "resumem a crônica do Brasil colônia, do Brasil império e do Brasil república"), como a que se segue, extraída do seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 8 de maio de 1920, na cadeira de número 20, sucedendo ao poeta e jornalista paranaense Emílio de Menezes (1866-1918):
"Em uma roda de literatos, discutia-se, certa vez, metrificação, quando um deles procurou amesquinhar Machado de Assis, observando, leviano: - Era um péssimo poeta. O último verso dos alexandrinos A uma criatura tem 11 sílabas; é um verso de pé quebrado.
Emílio de Menezes, que se achava no grupo e sentia uma religiosa admiração pelo mestre, franziu a testa profética e protestou soturno: - Não pode ser.
E sentencioso: - Os bons versos não têm pés: têm asas!".
O tom sarcástico e humorístico dos seus escritos encantam. Deve ter sido uma pessoa muita engraçada, a ponto que adotou vários pseudônimos: Conselheiro XX, almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios.
Publicado no Jornal OTEMPO em 09.10.2012
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Parabéns Fátima Oliveira
ResponderExcluirGosto muito do autor. Aquele texto dele do cajueiro, que ainda hoje existe lá em Parnaíba, é lindo. Ah, chama-se Um amigo de infância...
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O cajueiro do poeta
O cajueiro de Humberto de Campos vive há 105 anos em Parnaíba, litoral do Piauí.
Francisco Leal
Cajueiro de Humberto de Campos (Foto:Francisco Leal)
Parnaíba, a mais importante cidade do litoral piauiense, com 145 mil habitantes, preserva até hoje um cajueiro plantado há 105 anos pelo escritor Humberto de Campos. A área onde fica a árvore, na Rua Coronel José Narciso, foi tombada como patrimônio histórico municipal.
Humberto de Campos, maranhense da cidade de Miritiba, hoje batizada com o seu nome, chegou a Parnaíba em 1906, plantando o cajueiro logo em seguida. Três anos depois seguiu para São Luís e depois para Belém e Rio de Janeiro.
Foi jornalista e um dos grandes escritores brasileiros no final dos anos 20 e começo dos anos 30. Deixou obra extensa e variada, incluindo crônicas e contos humorísticos, além de sonetos refinados, que o tornaram um dos autores mais populares de sua época. O cajueiro por ele plantado em Parnaíba, serviu de inspiração para o conto “Um amigo de infância” (leia trecho abaixo), considerada como uma de suas grandes obras. Em 1920, foi eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Morreu aos 48 anos de idade, em 1934.
Humberto de Campos, que nunca esqueceu Parnaíba, também foi deputado federal pelo estado do Maranhão, mas teve o mandato cassado pela revolução de 1930.
Residência de Humberto de Campos(Foto: Francisco Leal)
A casa em que o poeta morou, na rua que tem o seu nome, no Centro de Parnaíba, ainda mantém as caraterísticas da época. Embora não seja uma casa de esquina, é avarandada e possui enormes janelas de madeira. O quintal, pequeno, foi separado do cajueiro por um muro construído pela prefeitura municipal, que adquiriu o acervo de Humberto de Campos.
http://www.piaui.pi.gov.br/terra-querida/historia/id/1713
Humberto de Campos ainda é um escritor muito atual
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