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terça-feira, 22 de maio de 2012

Vida básica e vida simples como opções filosóficas



CHEGOU MEU TEMPO DE MORAR NUM "LOFT", PARA SIMPLIFICAR A VIDA
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_  

Nem gosto de pão. Sequer consigo comer um pão francês inteiro, apenas a metade, mas devo declarar que não tê-lo fresquinho à mesa no café da manhã me incomoda, pois pão dormido não é pão; e congelado também não é pão. Meras imitações. Meu sonho de consumo é uma entrega de pão fresco cedinho em minha casa.

É um serviço que faz falta, porque levantar num friozinho para buscar um pão, para quem só come meio, beira as raias da insanidade... Fico na vontade e descongelo "minha banda" de pão francês e como aquela coisa quase ogra com manteiga... Como, mas não é pão!
Uma das minhas filhas ficou com ar patético quando falei que odeio não ter quem busque o pão e sonho com a entrega de pão fresco a domicílio... "Como a senhora complica a vida! Vai tomar café lá no Diniz (mercearia/padaria da Cidade Jardim). Eita preguiça! Essa de querer pão fresco delivery é demais! Sua doença é não ter mais a gente aqui pra fazer mandados. Sabia que mandar vicia?". Retruquei: "Saber mandar é uma arte que domino, esqueceu?".

 Tomo café na padaria quando vou trabalhar, mas amo café da manhã em casa, uma zona de conforto e de ternura, como disse em "A mesa posta para o café da manhã é uma cultura de ternura" (O TEMPO, 19.7.2011). Comer bem é um direito humano fundamental. Detesto fast-food, comida "Frankestein". Nunca comi nos Macs da vida! Talvez, ranhetices sertanejas da velhice, mas meu norte é a filosofia "slow food", uma face da ecogastronomia que defende a herança culinária, as tradições e culturas que tornam possível esse prazer.

Carro para mim
não é exibicionismo
de como anda o meu bolso. “Ora, pra ter
um carro melhor!”
Melhor pra quê e
pra quem?

É o tipo da conversa que descamba nos estilos culturais de vida e que viver na cidade grande interdita a adoção filosófica de vida básica e/ou vida simples: a simplicidade voluntária como opção - não é vida da penúria imposta pela pobreza nem de "canhenguices" franciscanas - de estilos de vida: a simplicidade como filosofia, que é um longo caminho, mas não exige viver em bolhas de simplicidade, como ecovilas, que é pra quem pode até dispensar veículos pessoais motorizados. O resto é sectarismo.

(Eco-Aldeias/Eco-Villages)
 (Ecoaldeias, Ecovilas, Permacultura)



Sempre fui criticada por não levar uma vida segundo o "padrão de vida de médico", coisa antiga, antes da proletarização da profissão, sobretudo por passar décadas (isso mesmo!) com o mesmo carro - ora, se eu uso um carro que, depois de mais de dez anos, não chega a 50 mil quilômetros rodados, por qual motivo tenho de trocá-lo, se carro para mim não é um cartão de exibicionismo de como anda o meu bolso? "Ora, pra ter um carro melhor!" Melhor pra quê e pra quem?
Meu carro não é uma moldura de minha vida, ao contrário: eu sou a moldura dele! A diferença é enorme e nada sutil se comparada a uma amiga que troca de carro religiosamente a cada dois anos. Eu a conheço há mais de 20 anos, sempre apertada, "pagando o carro". É que ela diz que só usa "carro, carro, e não carroça!". No sábado à noite, sabendo que ela "precisa" trocar o carro até julho, sugeri que poderia se libertar de passar o resto da vida pagando carro: vender o turbinado dela, que, com quase dois anos de uso, tem preço de mercado de cento e poucos mil, e comprar um Veloster, que é lindo, tem presença e enche os olhos por onde passa... E ainda sobraria um troco.


  Ela: "Imagina eu de repente aparecer num carrinho desses, vão dizer que fali. Minha marca registrada é ter carrão". E quando falei que chegou meu tempo de morar num loft, para simplificar a vida, ela disse: "Ai, que alívio! Pensei que simplificaria para uma quitinete!". Ai, ai...
 (Loft)
 FONTE: Jornal OTEMPO em 22.05.2012

12 comentários:

  1. Humhum, cheirinho de café fresco... Adorei! Sim o Veloster é maravilhoso de verdade, cheira a modernidade

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  2. OI Fátima, adorei. Eu também estou tentando ser adepta da simplicidade voluntária como norma de bem viver

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  3. Sem dúvida um belo depoimento e muitas dicas para quem quer adotar a simplicidade voluntária como eixo de vida

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  4. Fátima, uma frase do grande Mark Twain: "A civilização é uma multiplicação ilimitada de necessidades desnecessárias."

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  5. Sômos gêmeas, Fátima! A pequena diferença é que adoro pão. Manual, de preferfência. Sem bromato, com certeza!
    Não gosto de carro. Prefiro os taxistas. Uma exigência, porém: carro limpo e refrigeração. Até posso confessar uma "ignorança": só conheço duas marcas de carros - o grande e o pequeno. O pequeno é fusca e o grande é caminhão. E tá demais de bom!
    Pessoas como nós, morar em loft é sinal de inteligência. Poucas paredes, cômodos integrados, ajustados ao nosso tamanho. Vou fazer de tudo para fazer ou comprar o meu. Antes disso devo me livrar dos cacarecos e móveis inúteis.
    Belo artigo!

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  6. Elias Ferreira da Costa22 de maio de 2012 às 11:16

    Fátima, tenho me entusiasmado com a filosofia da simplicidade voluntária, meus parabéns pela beleza de tua crônica e tudo o mais, com veloster e tudo, que sei que não é um merchandising e se fosse não haveria problemas porque merchandising nunca foi crime, além do que o veloster é muito bonito mesmo e o belo é pra ser admirado

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  7. Mário Bentes de Lima22 de maio de 2012 às 14:38

    Cara Dra. Fátima Oliveira, fiquei em estado de alfa com a sua crônica, que a gente sinceridade e , confesso, fiquei bastante tocado

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  8. Maria Inês Soares de Abreu22 de maio de 2012 às 22:17

    Fátima, realmente para quem mora bem que nem você, se mudar para um loft é simplificar a vida. Entendi que assim minimiza a trabalheira de um apartamento enorme. Mas onde vai receber a netaiada? eheheheheheh
    Achei os teus desejos por pão fresco a coisa mais linda do mundo.

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  9. ..É vovó, esta é com certeza, uma das grandes lições que irei aprender com você!
    Não vejo a hora de ganhar os seus "cheirim" e comer suas comidinhas "slow food"..
    Já tô até vendo que mamãe vai brigar com você pra não me dar "chá e água" antes dos 6 meses. Afinal, minha "personal nutri" (sou chique!rs..)- minha tia Lívia - disse que até 6 meses, só leite da mamãe!
    Mas se eu bem já conheço você vovó, vai ficar com "peninha" de mim e vai me dar escondido que eu bem sei.hehe..
    Com amor e
    Contando os dias pra te ver,
    Inácio Oliveira Fernandes.

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  10. Comentário de Maria das Graças Reis (VI O MUNDO)23 de maio de 2012 às 23:21

    Maria das Graças Reis disse:

    23 de maio de 2012 às 17:50

    Diferença entre JK, Quitinete, flat e loft?

    JK é um apartamento de 3 peças: sala/quarto em um espaço só, banheiro e cozinha (com área junto ou aberta).

    QUITINETE é um apartamento em que somente o banheiro é separado. A sala e dormitório e a cozinha é integrada isto é, não a porta separando-a(tipo americana a separação é com o balcão). Geralmente não tem área externa.

    FLAT é um apartamento em condomínio que oferece serviço de hotel (paga-se o condomínio) e há no prédio lavanderia, camareira, faxineira, cozinheiro, enfim é como se você morasse em um hotel, só que o apartamento é seu.

    LOFT é um imóvel com pé direito duplo (em torno de 6 metros de altura do piso ao teto). No conceito criado pelos americanos no loft não há paredes; os ambientes são integrados e a divisão é feita com os móveis delimitando cada área. A cozinha é tipo americano integrada a sala. O quarto fica no andar superior tipo um mezanino, sem paredes (pode ser no térreo). O único local que há terá parede e porta é no banheiro.
    Não esquecer que no Brasil há as imitações de loft, muitas até grotescas e mais caras que apartamentos comuns, que são os: loft-fake ou loft-inspired (pé-direito duplo, muita iluminação natural porém com divisórias para os banheiros e quartos).

    Escrito por Maria Ângela
    http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080507181424AAsiOuL

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  11. Comentários de Milton Ferreira (VI O MUNDO)23 de maio de 2012 às 23:23

    Milton Ferreira disse:

    23 de maio de 2012 às 15:16

    No sentido de esclarecer que loft não tem nada a ver com moradia luxuosa e tem uma origem popular

    “O nome loft se refere a água furtada, mezanino, mansarda, sótão ou espaço semelhante (geralmente usado para armazenagem) sem repartições, situado logo abaixo do teto de uma casa, fábrica, celeiro, galpão ou armazém. Seu uso na arquitetura, pode ser encontrado desde o século XIII, na expressão hayloft, onde é um depósito de feno situado em mezanino de celeiros, sendo também usado como alojamento de empregados da fazenda”.

    .....

    Milton Ferreira disse:

    23 de maio de 2012 às 15:21

    ORIGEM E SITUAÇÃO ATUAL DOS LOFTS NO BRASIL

    Os lofts foram criados pelo arquiteto e urbanista francês Le Corbusier, na década de 1920, as Ville Contemporaine, depois nas não concretizadas Ville Radieuse ou Cité Radieuse (Cidade Radiante), em 1924 e, em 1925, no Plan Voisin.
    No final da década de 60 e início da década de 70, houve a explosão dos lofts urbanos contemporâneos em Nova Iorque e só eram conceituados de lofts, somente os grandes espaços convertidos, situados nos andares superiores de industriais, galpões e armazéns abandonados viravam moradias amplas sem paredes dividindo os ambientes, sala e cozinha integrados, com mezaninos de madeira ou ferro e seus grandes elevadores de carga, além de pés-direitos altos e grandes janelas envidraçadas.
    Os lofts contemporâneos têm projetos arquitetônicos inspirados no estilo de morar que nasceu em Nova York na década de 1970. Lá, velhos galpões e armazéns de edifícios foram reformados para servir de moradia para profissionais liberais, artistas, publicitários e executivos. Os lofts de Nova York eram conhecidos por não terem paredes dividindo os ambientes, pelos mezaninos de madeira ou ferro e seus grandes elevadores de carga, além de pés-direitos altos e grandes janelas.
    Hoje no Brasil LOFT é uma moradia que simplifica a vida por ser um espaço amplo e único, sem paredes divisórias, com um banheiro e um mezanino para dormitório, mesmo que seja uma construção nova.

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  12. Gostei doa rtigo e dos comentários também

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