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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Dona Lô e a Ação Brasil Carinhoso



Fátima Oliveira

– E o Brasil, hein Dona Lô?
  No ritmo e no compasso de espera de Cachoeira... Até quando ele resolver falar, pois como disse Neruda: Não há silêncio que não termine”...
– A senhora acha mesmo?
– Ô, se acho!  E você não Pedro? Com esse furdunço tá tudo parado, tudo espantado, num silêncio que dá pra ouvir folha ciciando...
– É! Eles que são brancos que se entendam, né não Dona Lô?  Senhora, ando desarcoçoado com a política...
– Essa gente que se dane e que se lasque, o povo é que não pode ser prejudicado em seus direitos. É o que importa! O governo não pode se deixar emparedar. Quem dever que pague, oxê! Mas Dilma está indo bem, na medida do possível, e o povo tem reconhecido que está, embora muitas coisas internas ao governo estejam atrapalhando, sobretudo na área de saúde da mulher. Não vê essa famigerada MP557? É uma coisa que o povo ainda não entendeu bem a maldade nela embutida, mas vai acabar entendendo.
– ...
– Acho até que Dilma já entendeu. Ora se entendeu! Tanto que alavancou Eleonora Menicucci à condição de ministra da Mulher; a coisa tá no banho-maria e o prazo de validade da MP557 vence no dia 31 de maio; aí a melhor coisa é Dilma deixar que caduque e ponto final. Mesmo que caduque, fica a mancha das coisas atravessadas e de má-fé... Foi uma coisa estabanada e desnecessária, mas que deu um senhor trabalho, ah isso deu! Principalmente porque esgarçou as relações de confiança do movimento em relação ao governo... Em suma: “Quem não sabe assar, queima”. Foi o que fez o ministro Padilha e sua turma, mas estão aprendendo. Ou deixam de lado a arrogância e calçam as sandálias da humildade, ou não irão muito longe... Porém achavam que sabiam tudo. Ledo engano! Agora estão se dando conta que isso aqui, o Brasil, é um animal grande demais pra ser esquartejado ao primeiro golpe. Há muitas conquistas decorrentes de lutas históricas quanto aos direitos das mulheres, então esquartejar tudo isso e dar o lombo para os fundamentalistas, né fácil, não!
–...
– Mas deixa para lá! Tenho de cuidar de minha vida. Espero que Sarney, como presidente do Senado, abra seu saco de bondades, que ele está a dever, e sente nessa tal de MP557, não levando essa coisa à votação! Como sabemos Sarney prima pelo respeito de “Quem tem com o quê me pague não me deve nada” rsrrsrssr... É mais por aí do que por bondade para com as mulheres. Nem importa, tá valendo... Meu interesse agora é Estela assumir a Matinha de Dona Lô e as obrigações de nossa família aqui na Chapada do Arapari. Mais nada!
– Ai, nem no São João vai vir por aqui?
– Ainda não sei Pedro.  Vou ficar mais tempo lá em São Luís, vindo aqui só pros festejos e em caso de precisão, das grandes. Estou pensando em voltar a escrever. Quero registrar minhas memórias e as da Família Tropeiro, que a rigor, se encerra comigo, por ser a única descendente direta dela. Acho que longe daqui conseguirei escrevê-las. Já tentei dar conta por aqui, mas a inspiração não flui. Mudando de ares, quem sabe, não é? A ideia de ir para São Luís tem mais a ver com a proposta da escrita das memórias do que com Bernardo propriamente, eis a verdade! Antes dele, a ideia da mudança já existia. Não falei antes pra não deixar Estela capionga... Aquilo é arengueira que faz dó. Nem parece, mas é!
–...





– Com o Almoço Comunitário do Dia das Mães, uma invenção de Estela, a sua marca oficial de dona da Matinha, pois foi a primeira vez que fizemos aqui um almoço coletivo na data, vou mais é pegar maresia, que me faz tanto bem... Virei  aqui de visita, sem nenhuma responsabilidade que não seja matar saudades. Cabe à Estela tocar daqui pra frente. Com o dizem os meninos: fui!




– Quer dizer então que está passando o bastão? Por que não faz que nem sua bisavó, sua avó e sua mãe Donana, que tocaram a propriedade dos Tropeiros até na hora do último suspiro?

 (Tropeiro, Cássio Antunes)

[(Rancho Grande (dos Tropeiros), Benedito Calixto)]


–...
  Entendo, elas eram viúvas e lhes cabia tocar a propriedade com a morte do marido. Não é o seu caso. A senhora é filha, não tem descendentes, não tem porque se entonar aqui... Tem sim direito a uma vida fora daqui agora que nem mãe tem mais para cuidar.  Sem falar que já fez muito por todo mundo daqui. Todo mundo já possui anzol, aprendeu a pescar e ainda conta com as políticas sociais do governo. Isso aqui virou um oásis de prosperidade. Ninguém depende mais da Família Tropeiro para sobreviver, não é verdade?


 (Mãe, Romero Brito)


– Isso mesmo! E vem aí a Ação Brasil Carinhoso para coroar o que já está indo bem... Aqui na Chapada do Arapari 100% das famílias que precisam estão no Bolsa Família e a criançada delas na escola! O Grupo Escolar daqui é exemplar, desde os tempos de Donana, que ficava no pé da caboclada para colocar a filharada na escola. Funciona como uma escola urbana das melhores, isto é: tem a turma do pré-escolar, não tem classes multisseriadas, embora só tenhamos aqui até a 5ª. série. Mas há o ônibus escolar, que leva quem precisa terminar o Ensino Fundamental para a escola na cidade, que fica a 25 Km daqui. Falta uma creche, quem sabe ela seja implantada agora com o Brasil Carinhoso, não é? Estela tem de juntar a mulherada daqui para pressionar o prefeito, que é devagar quase parando. E é pra já, no ano corrente ainda!
– Mas esse Brasil Carinhoso tem o quê mesmo?

 – Valei-me Pedro, como você está por fora meu filho! Não viu Dilma na TV no Dia das Mães, não? Agora acreditei que anda desinteressado da política mesmo! A Ação Brasil Carinhoso é um adendo, ou um reforço, ao Brasil Sem Miséria, digamos que é um aprimoramento do Brasil Sem Miséria, focado na faixa etária de 0 a 6 anos, coisa necessária...



 Estou vendo TV muito pouco. Tive overdose de cachoeirices...
– Ah, bem! Estou compreendendo. Tá demais mesmo meu filho, puro mangue podre... Mas escute...
–...
– Ô Maria Helena, por favor, minha filha, traga aquele jornal que está na mesinha de cabeceira de minha cama... E traga uma aguinha também, minha rosa... Pois bem Pedro, o propósito de Dilma é tirar da miséria absoluta as famílias que tenham crianças com até 6 anos de idade”, já que, como disse a presidenta: “a faixa de idade onde o Brasil tem menos conseguido reduzir a pobreza é, infelizmente, a de crianças de 0 a 6 anos ”. A Ação está projetada para beneficiar cerca de 4 milhões de famílias: “garantindo uma renda mínima de R$ 70 a cada membro das famílias extremamente pobres que tenham pelo menos uma criança nessa faixa etária”.





–...

 (Marcha das Vadias 2012)

Enfim, para se assenhorar mais do assunto, leia o jornal. A matéria está bem clara. E leia também o discurso da presidenta no Dia das Mães. Há um porém. Ela, a Dilma, esqueceu de dizer que o Dia das Mães foi oficializado por Getúlio Vargas, em 5 de maio de 1932... E por hoje chega de conversa mole! Tô indo ali no Grupo pra Oficina das Mulheres sobre Remédios do Mato, em comemoração ao Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, que será amanhã, 28 de maio. Viu o sucesso da Marcha das Vadias em muitas partes do Brasil? As mulheres em movimento não param e os governos se quiserem sossego que se espertem!



Chapada do Araapari, 28 de maio de 2012
Dia Internacional de Luta pela saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna
 Decreto nº 21.366, de 5 de Maio de 1932 - Declarando que o segundo domingo de maio é consagrado às mães

O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil:

Considerando que vários dias do ano já foram oficialmente consagrados à lembrança e à comemoração de fatos e sentimentos profundamente gravados no coração humano;
Considerando que um dos sentimentos que mais distinguem e dignificam a espécie humana é o de ternura, respeito e veneração, que evoca o amor materno;
Considerando que o Estado não pode ignorar as legítimas imposições da consciência coletiva, e, embora não intervindo na sua expressão, e do seu dever reconhecê-las e prestar o seu apoio moral a toda obra que tenha por fim cultuar e cultivar os sentimentos que lhes imprimem, força afetiva de cultura e de aperfeiçoamento humano,

DECRETA:
Art. 1º O segundo domingo de maio é consagrado às mães, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento no sentido da bondade e da solidariedade humana.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 5 de maio de 1932, 111º da Independência e 44º da República.

GETULIO VARGAS
Francisco Campos
(Publicado no Diário Oficial da União de 09 de maio de 1932)
 (Getúlio Vargas e sua esposa,  Darcy Sarmanho Vargas).

[Tropeiro sertanejo, Nico Rosso (Itália 1901- Brasil 1981)]

8 comentários:

  1. É isso aí, tá valendo mesmo!

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  2. Amiga, tô contigo na defesa do Brasil Carinhoso e contra a MP 5557

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  3. Mário Bentes de Lima28 de maio de 2012 às 10:40

    Fátima a beleza de Dona Lô é que ela é eminentemente política. E sabe fazer uma crítica política justa. Muito bem!

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  4. Um show de episódio. De fato o papel que o ministro Padilha vem cumprindo é digno de dó e de ódio.

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  5. Como a amiga de DO Naná vou dizer com Dona Lô: EU SABIA DONA NANÁ! Padilha vai levando do cipó de aroeira que mandou dar...

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  6. Fátima você não imagina o quento eu fiquei preocupada quando disseram que Dilma faria um pronunciamento no Dia das Mães e lançaria um Programa, no entanto os meus medos nãos e confirmaram. Concordo com Dona Lô que o Brasil carinhoso está dentro dos conformes e das necessidades.

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  7. Em minha opinião o ministro Padilha induziu a presidenta Dilma ao erro com aquela historia do NASCITURO. E ficou mais feio ainda quando ele declarou que não sabia quem havia enxertado o nascituro na MP. Não entendo como ele continua ministro, já que o e falso erro dele e a indução à presidenta a errar foi de muita gravidade. Tem uma coisa que não bate bem. Dilma mandou retirar o nascituro, que realmente não cabia ali e o Padilha continua ministro.

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  8. Fátima, que belo conto. Parabéns para Dona Lô

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