Fátima
Oliveira
Médica
– fatima.oliveira1953@gmail.com @oliveirafatima_
Ninguém fica indiferente ao lendário revolucionário
cubano Fidel Alejandro Castro Ruz (1926-2016), que governou a República de Cuba
como primeiro-ministro de 1959 a 1976 e como presidente de 1976 a 2008.
Gostar ou não de Fidel Castro nunca é algo inocente.
É, sobretudo, uma questão de classe. Quem o odeia tem muito a ver com um olhar
irreal de que as revoluções não são cruentas, sangrentas. Vamos combinar: todas
são! Não há ruptura nas sociedades de classes que seja como um passeio a um
shopping, um dos templos do capitalismo, até porque nenhuma classe entrega o
poder sem luta.
(Fidel Castro: a entrada vitoriosa em Havana, no início de 1959)
Em Cuba não foi diferente. Para os guerrilheiros do
Movimento 26 de Julho, comandados por Fidel Castro, destronar o ditador
Fulgêncio Batista (1901-1973), em janeiro de 1959, não foi um passeio. Logo, a
condição de herói do povo cubano ninguém poderá usurpar de Fidel Castro, que,
inegavelmente, conduziu seu país a sair da condição de prostíbulo dos Estados
Unidos e construiu uma nação para toda a população com índices de IDH dignos, em
condições materiais dificílimas, contradizendo de algum modo até Marx e Engels,
que afirmavam: “O mais provável era que a revolução proletária viesse a ter
lugar nos países capitalistas mais avançados” (“Problemas da Construção do
Socialismo”, Alberto Anaya Gutiérrez, Alfonso Ríos Vázquez, Arturo López
Cándido, José Roa Rosas).
(Fidel Castro e Ernesto Che Guevara)
Nunca fui a Cuba. Nunca tive vontade. Contavam tanto
miserê das necessidades materiais do povo, parte substancial fruto do embargo
criminoso praticado pelos Estados Unidos, que, para ver miséria, eu optava pelo
Nordeste, mesmo sabendo que, diferentemente de Cuba, na região brasileira não
estava sendo construída nenhuma saída, nem reformista, nem revolucionária, para
combater a miséria fruto de uma herança patrimonialista secular.
(Havana, Cuba)
(Havana, Cuba)
Mas sempre tive um fascínio incomensurável pelo
heroísmo do povo. E foi com emoção que, na Conferência Mundial contra o
Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Outras Formas Conexas de
Intolerância, em Durban, na África do Sul (1º. 9. 2001), ouvi o discurso de Fidel Castro com muita atenção e, emocionada, entrei na fila para
cumprimentá-lo com um aperto de mão.
Fidel Castro foi magistral, começando por enumerar a
herança cultural do povo negro no mundo, do alfabeto à Biblioteca de
Alexandria; e literalmente escrachou a apatia dos governos africanos diante de
suas taxas escandalosas de mortalidade materna, pois tais lideranças se
comportavam como os escravizadores do povo negro!
E disse Fidel: “O racismo, a discriminação racial e a
xenofobia são um fenômeno social, cultural e político, não um instinto natural
dos seres humanos; são filhos diretos das guerras, das conquistas militares, da
escravização e da exploração individual ou coletiva dos mais fracos pelos mais
poderosos ao longo da história das sociedades humanas.
“Ninguém tem direito a sabotar esta conferência, que
tenta aliviar, de alguma maneira, os terríveis sofrimentos e a enorme injustiça
que esses fatos têm significado e ainda significam para a imensa maioria da
humanidade. Nem ao menos alguém tem direito a pôr condições, exigir que nem
sequer se fale de responsabilidade histórica, e indenização justa, ou sobre a
forma com que decidamos qualificar o horrível genocídio que neste mesmo
instante se está cometendo contra o irmão povo palestino por parte de líderes
da extrema direita. Estes, aliados à superpotência hegemônica, hoje atuam em
nome doutro povo que, ao longo de quase 2.000 anos, foi vítima das maiores
perseguições, discriminações e injustiças cometidas na história”.
(Fidel Castro e Nelson Mandela)
PUBLICADO EM 29.11.16
FONTE: OTEMPO
Nenhum comentário:
Postar um comentário