(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Gosto de eleições. Desde criança. Com o passar dos
anos, o gosto só foi aumentando pari passu o maior entendimento do processo
político.
O período eleitoral é momento especial para aumentar a
consciência política do povo, discutir a importância e o valor do voto na
aquisição e manutenção da cidadania, do bem comum, bem como colocar em debate a
cidade, o Estado e o país que queremos.
Quando da escolha de um prefeito ou uma prefeita, o
que faz sentido é indagar o que queremos da futura administração da cidade,
pois todo município é, no mínimo, dois, e o caminho da cidadania implica
diminuir o fosso que separa um do outro, adotando a equidade: mais para quem
precisa de mais.
As eleições municipais são mais intimistas, logo, mais
apropriadas para diálogos. O financiamento empresarial para as candidaturas nos
últimos 20 anos torna até as eleições municipais um espetáculo deprimente, de
performances hollywoodianas, que suplantavam a possibilidade do debate de
aspirações e ideias.
Esperei as eleições municipais de 2016, as primeiras
após a proibição do financiamento empresarial, sonhando que elas estabelecessem
um novo patamar, sob o concurso das novas tecnologias de informação, para as
eleições como momento cívico solene: das andanças, das conversas, da busca do voto
pelo convencimento presencial das candidaturas. E sonhei até que quem se
elegesse mostrasse os sapatos gastos nas perambulações pelo voto!
Do que tenho lido, ouvido e visto na TV, a maioria
expressiva das candidaturas às prefeituras e à vereança está perdida e sem
saber como fazer uma campanha pé no chão, sem dinheiro a rodo! As candidaturas
parecem morar numa bolha de vidro, num país das maravilhas, nada a ver com a
atual conjuntura brasileira de perda de direitos, como se mudar o mundo hoje,
mesmo o microcosmo municipal, e o futuro só dependesse da bondade de cada um
deles. Para pedir voto, todo mundo é igualmente santo e tenta nos impingir que
suas vitórias seriam privilégios de cada um de nós!
Com raras exceções, nem sequer dão ideia de que sabem qual é o papel de um
vereador, de um prefeito, até confundem o que é da alçada do Parlamento e do
Executivo! Ao fim de cada programa eleitoral, quedo-me a indagar de qual país
são as figuras que pedem o meu voto.
O cenário é de enormes dificuldades, com quase todos
os governadores de Estado que nem sequer se preocupam em responder aos casos de
síndrome de zika congênita; antes, com prefeitos que nem dão conta de matar
mosquito – em geral por negligência; com as ameaças à universalidade do Sistema
Único de Saúde (“Saúde, direito de todos, dever do Estado”); o fato de que,
pela primeira vez em 13 anos, o reajuste do salário mínimo será menor do que a
inflação; com anúncios de cerceamento ao acesso ao Bolsa Família, que hoje
abriga 50 milhões de pessoas e é o maior programa do mundo de distribuição de
renda; sem falar na síndrome de terror de mudança nas regras das
aposentadorias, até naquelas em vigor; e o congelamento dos investimentos (que
estão chamando de gastos!) em saúde e educação por 20 anos!
Num cenário assim, seria bastante salutar que
candidaturas à vereança e às prefeituras assumissem compromissos da defesa dos
direitos que correm riscos, sobretudo na saúde e na educação; de apoio às lutas
pela manutenção dos direitos; e de revitalização dos conselhos locais e
municipais de saúde, como trincheiras excepcionais de luta popular, tendo o
controle social como polo de aglutinação, sobretudo contra a “prefeiturização”
deles, como tem sido a regra geral pelo país afora!
PUBLICADO
EM 06.09.16
FONTE:
OTEMPO
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