(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Michel Temer, sem nenhum pudor, em seu discurso na
ONU, defendeu o “processo de impeachment de Dilma Rousseff como legal e
legítimo” (20.9.2016). Sem novidades!
Todavia, ele foi mais despudorado no discurso após
almoço com empresários e investidores na sede da American Society/Council of
the Americas (21.9.2016), ao confessar: “Há muitíssimos meses atrás (sic), nós
lançamos um documento chamado ‘Ponte para o Futuro’ porque verificávamos que
seria impossível o governo continuar naquele rumo e até sugerimos que adotasse
as teses que nós apontávamos. Como isso não deu certo, não houve a adoção,
instaurou-se um processo que culminou agora, com a minha efetivação como
presidente da República” (“Temer: impeachment ocorreu porque Dilma recusou
‘Ponte para o Futuro’, “Carta Capital”, 23.9.2016).
Reavivando a memória. Em 10.7.2016, o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apresentou o que dizia ser a salvação
nacional: a Agenda Brasil – alicerçada no neoliberalismo, até propondo “a
possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de
renda” e outras insanidades. Nada vingou!
Voltaram à carga no documento “Uma Ponte para o
Futuro” (Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB). Renan Calheiros disse que ali
estava “o primeiro passo que o PMDB dá no sentido de tirar o país da inércia e
do pessimismo”. “Em linhas gerais, o programa previa menos segurança e direitos
aos trabalhadores, trabalhos por mais anos aos idosos e medidas que, na
prática, poderiam inviabilizar os direitos universais de acesso a serviços
públicos” (programa da lavra do neoliberalismo, doutrina orientadora do ajuste
estrutural, na contramão do programa da eleita Dilma Rousseff).
O PMDB exigia que o governo brasileiro abandonasse a
busca do Estado de bem-estar (“welfare state”) e adotasse, nos planos político,
econômico e social, uma agenda estribada na injustiça social, iniciada em 1979,
sob o governo de Margareth Thatcher na Inglaterra, seguido na década de 80 por
outros países ricos.
Na
América Latina, a implantação de programas neoliberais começou no Chile
(Pinochet). No Brasil, o ajuste estrutural começou tardiamente, em 1989. “No
final do governo Sarney vivíamos o início do ‘desmonte’, porém a grande
inflexão aconteceu com Collor de Melo e se fortaleceu com FHC” (“Ajuste estrutural,pobreza e desigualdades de gênero”, in “Iniciativa de Gênero: CFemea, SOS
Corpo, Articulação de Mulheres Brasileiras”, 2003).
Destaco que os governos Lula e Dilma não romperam com
o receituário neoliberal. Aplicaram os “remédios” do ajuste estrutural em doses
não letais, inclusive porque o sonho do PT era restrito a ser um gestor
humanizado da crise do capitalismo – o que explica a vertente das políticas
sociais que marcam Lula como o melhor presidente do Brasil para o povo.
O capital financeiro, que é apátrida – a ele não
interessa o bem-estar do povo, apenas como se multiplicar e maximizar lucros –,
acionou a vassalagem nacional para fazer valer o ideário neoliberal explícito e
completo tal qual está no “Uma Ponte para o Futuro”!
Para Carlos Rittl, secretário executivo do
Observatório do Clima, o “Uma Ponte para o Futuro” na verdade é uma ponte para
o passado, pois é um “pacote de maldades do PMDB, disfarçado de agenda para
‘reconstruir o Estado’; traz, entre outras, medidas como desvinculação de gastos
da União com saúde e educação, desindexação de salários (inclusive o mínimo),
ajuste fiscal, privatizações e desregulamentação ampla, geral e quase
irrestrita”.
Resta
ao povo reagir.
PUBLICADO
EM 27.09.16
FONTE: OTEMPO
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