Fátima Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Sou apaixonada pelos ideais republicanos. Sei quase de
cor o “Manifesto Republicano” – publicado em 1870 no jornal “A República”, cujo
principal redator foi Quintino Bocaiúva (1836-1912). Escrevo com regularidade
sobre a República porque tenho a opinião de que ela tem sido muito
desrespeitada em nosso país.
Sob a democracia (regime político), todo o “fazer
político” e a própria política deveriam se pautar pelo espírito republicano.
Não podemos esquecer que “isto aqui”, o Brasil, é uma República democrática e
laica!
A República aqui ainda está em construção desde que
foi proclamada (15.11.1889) e tem sido, com frequência, solenemente esquecida e
subtraída, seja por gregos, seja por troianos, como já demonstrei em “Quero oaconchego de uma República laica e nada mais” (31.5.2011) e em “Uma República democrática e laica sob o sistema ‘jagunço’” (17.2.2015).
(DUKE)
Tendo os ideais republicanos em mente, quem é
republicano sabe que só é republicano quem defende a República! Não defende a
República quem está estribado no fundamentalismo neopentecostal ou de outras
vertentes, no fascismo e nos corpos das mulheres, como disse em “Sobreviver ao jaguncismo exige arte e muita manha” (O TEMPO, 21.7.2015).
(José Murilo de Carvalho)
Cabe breve explicitação do que é “Ser republicano”, do
historiador José Murilo de Carvalho, tão especial que tem ar de licença
poética: “Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem vela ou trata do bem comum,
senão cada um do bem particular (Simão de Vasconcelos, 1663).
“Ser republicano é crer na igualdade civil de todos,
sem distinção de qualquer natureza.
“É rejeitar hierarquias e privilégios.
“É não perguntar: ‘Você sabe com quem está falando?’ É
responder: ‘Quem você pensa que é?’ É crer na lei como garantia da liberdade.
“É saber que o Estado não é uma extensão da família,
um clube de amigos, um grupo de companheiros.
“É repudiar práticas patrimonialistas, clientelistas,
familistas, paternalistas, nepotistas, corporativistas.
“É acreditar que o Estado não tem dinheiro, que ele
apenas administra o dinheiro pago pelo contribuinte.
“É saber que quem rouba dinheiro público é ladrão do
dinheiro de todos.
“É considerar que a administração eficiente e
transparente do dinheiro público é dever do Estado e direito seu.
“É não praticar nem solicitar jeitinhos, empenhos,
pistolões, favores, proteções.
“Ser republicano, já dizia, há 346 anos, o jesuíta
Simão de Vasconcelos, É NÃO SER BRASILEIRO” (“O Globo”, 6.7.2009).
Discordo do jesuíta. Tanto que estou de acordo com
quem acha que, se há dúvida sobre os rumos da República, que a peleja seja
resolvida em plebiscito. E de plebiscito eu gosto muito, como declarei em “O mistério do plebiscito é ser uma lei romana, percebem?” (O TEMPO, 2.7.2013).
Todavia, “de plebiscito quem entende é meu conterrâneo
Arthur Azevedo (1855-1908), jornalista, teatrólogo, escritor e grande figura da
literatura de humor brasileira. Vide ‘Plebiscito’, em ‘Contos Fora da Moda’
(1894), um dos textos mais adoráveis de meus tempos de ginasiana...” (O TEMPO,
2.7.2013).
Hoje, quase ninguém mais lava a boca para arrotar que
é republicano – vocábulo a que tentam dar um ar polissêmico, mas que tem
significado único: quem defende a República. E ponto final.
(Quintino Bocaiúva (1836-1912)
PUBLICADO EM 03.05.16
FONTE: OTEMPO
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