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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Essa Dilma, essa Dilma...



Fátima Oliveira

– Dindinha, chegou o dia da MP 557 caducar... Será que Diiiiiilma?!...
– Ô Estela, a que horas você vai chegar aqui hoje, menina? Estou que nem naquele dia em que foi anunciada a Rede Cegonha... Lembra que fiquei sem chão, sem ar e quase mortinha da silva? Pois estou tal e qual, só que ao contrário. Naquele dia eu estava furiosa de raiva; e hoje, de alegria. “Não sei se chamo uma coletiva de imprensa ou se faço uma cartinha pra Dilma. Ô dilema cruel!”
–...


– Quem comprou Dilma por poste, perdeu dinheiro, na boa! Sabe o que é forja Estela? Dilma é forjada, apurada tinindo nos embates, o resto é firula, minha rosa!
– ...



img3.jpg Criado em 1852, o presídio Tiradentes recebeu no começo escravos recapturados.
A Torre das Donzelas, onde ficaram Dilma e suas companheiras, é a construção redonda ao centro. Todo o complexo foi demolido a partir de 1973, durante a construção do metrô


Companheiras de cadeia. Dilma, Eleonora, Guiomar, Cida e Rose na época em que foram presas. Eleonora é uma das Donzelas da Torre

A torre das donzelas (Luiza Villaméa e Claudio Dantas Sequeira)
Como era a vida de Dilma Rousseff na masmorra que abrigava presas políticas durante o regime militar no presídio Tiradentes


(Presidenta Dilma: “Erramos, vamos retirar a MP”)

– Ela sabe o que é a masmorra, esteve na Torre das Donzelas! Sabe o que é isso Estela? Ela sabe tecer, minha rosa! Oxê, se sabe! Só não entendeu o que ela iria fazer com essa famigerada MP557, quem não quis ler nas entrelinhas...
– ...

 – Mas o certo é que descongelei uma baciada de Cassoulet da Dilma (de fava e carne-de-sol sertaneja)...
 E pucardiquê?!
– Oxê! Que perguntação besta, Estela! Pra comemorar a caducação da MP 557...
– O quê Dindinha?
– Esqueceu Estela que tenho aqui na "Matinha" um freezer só de Cassoulet da Dilma, que descongelo para comemorações especiais?
– Ah, sim! Mas tem usado tão pouco que esqueci por completo...



– Mas ainda vamos comer muito Cassoulet da Dilma, pode esperar! Quem comprou Dilma por poste perdeu dinheiro, minha rosa, já disse!... E se os médicos imitarem a mulherada, e tiverem tutano nas pernas; vão derrubar essa MPV 568/2012, que isso é outra derrapada feia do governo: cortar pela metade salário de 48mil médicos de serviços federais? A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, tem muito a explicar... Ela pode ser o Padilha da MPV568/2012. É ir pra cima! Vão vendo...
– Mas a senhora é tinhosa, por demais! Eu nem me toquei pucardiquê inventou essa caçulezada hoje, logo numa quinta-feira, e disse a Pedro que a gente tinha de ir, por cima de tudo! Oxê, estou atarentada, nem me toquei! Mas Pedro disse que um pedido seu é sempre uma ordem que a gente tem de cumprir...
– Ah, disse?! Ah, moleque, tá aprendendo a me respeitar, ora se está! Mas também... Cala-te boca!
– Dindinha, certo que a MP557 caducou, com muito suor, gana e garra de um mundaréu degente, mas vamos com calma, senhora. Muita discrição nas comemorações...
– Pucardiquê Estela? Ave, Santíssima, Minha Nossa Senhora das Pernas Grossas, apenas vamos degustar um caçulê da Dilma, mais nada! Ah, e ver Lula no Programa do Ratinho, hoje à noite!



– ...
– Você falou em garra? Pois bem, tirante o simbolismo das garras em verde e amarelo... Mais nada!
– Garras em verde e amarelo? Quêquisso?




 Você vai ver que coisa mais discreta! Pedi à Maria Joana, a manicure, que preparasse umas unhas, das bem grandonas, pintadas com essas cores da moda, escolhi verde e amarelo, pra mulherada colar nas unhas hoje à noite na hora da caçulezada... Mais nada, qual é o espalhafato? Coisinha simples, pra marcar a data do enterro da MP557...
– Dindinha, não precisava! Ai que espalhafato!
– Qual nada, pequena! Apenas um reconhecimento ao feminismo pela garra com que lutou contra essa disgramada de MP557... E bote garra nisso: a mulherada não bateu fofo, não! Entraram com a cara, coragem e as ideias e foram à luta... E venceram! E nós aqui nas brenhas também fizemos a nossa parte.



– ...
– Ora se fizemos! Ficamos “políticas” com o padreco pucardi de Dilma; ademais dissemos ao mundo, como diz Mãe Zefinha: “Aqui ninguém aborta. Agora perder, acontece.Descer a menstruação, à força de chás e garrafadas, não é fazer aborto. A menstruação descer, mesmo depois de um, dois, até três meses de ‘regra atrasada’, acontece, bebendo ou não garrafada! Entonce, tanto faz beber ou não, se descer é o mesmo resultado!”

Chapada do Arapari, 31 de maio de 2012

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segunda-feira, 28 de maio de 2012

O direito de escolha de médico e acomodação em internação SUS


[Lula e Wagner visitam o Hospital da Criança em Feira de Santana (20 de julho de 2011)]

SENDO O SUS DE TODOS, A REGRA É DEMOCRÁTICA OU TOTALITÁRIA?
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Escreverei alguns artigos sobre o direito de escolha de acomodação e de médico em internação SUS. Não vejo o tema como proibido, mas o debate tem sido interditado sob a pecha sectária de "SUS pra pobre e SUS pra rico".





Recentemente, fui abordada pela filha de uma doente, há dias no corredor, que reivindicava para a mãe um lugar decente. Disse-lhe que eu desejava o mesmo, porém não havia vaga para interná-la. Retrucou que, embora não pudesse arcar com internação particular, podia pagar um quarto só para ela. Discorri sobre as bases oficiais da impossibilidade de concretizar seu desejo.
Revoltada, gritou: "Doutora, é um absurdo autoritário o SUS impedir que eu pague, e está dentro de minhas posses, uma acomodação digna para minha mãe, à beira da morte".


 [Os SILVA Pela primeira vez, Jaime (no alto), Marinete, Vavá, Maria, Frei Chico e Tiana revelam o que mudou em suas vidas com a chegada do irmão à Presidência da República (Leia matérias  AQUI e AQUI)]


Relatarei, sucintamente, um fato similar. No começo de 2003, num plantão de domingo, lotado pelas tabelas, até a "maca de parada" ocupada, fui chamada à recepção para atender a duas pessoas que se diziam conhecidas minhas e que se apresentaram como um amigo e um irmão do presidente Lula. Resumindo: eu os conhecia dos meus tempos de Sampa. O amigo era um deputado do PT (SP) e o irmão, o Frei Chico. Após animados "como vai?", passando pelas macas com doentes nos corredores, chegamos à sala de coordenação.
O deputado falou que estavam em BH em visita a um irmão do presidente que estava internado, mas estavam horrorizados com a precariedade da higiene da enfermaria e as dificuldades da família para ficar mais tempo com ele, então, pelo conjunto da obra, desejavam transferi-lo. O doente desejava ser tratado no que considerava o melhor lugar: ali onde eu trabalhava.




Escolher médico
e acomodação de maior conforto
extingue o direito
universal de internação pelo Sistema Único
de Saúde?



  Sem saber por onde começar, mas sem rodeios, falei que, naquele "inferno de Dante" que eles atravessaram, 80% a 90% das pessoas aguardavam internação, algumas há dias. Transferir um doente internado num hospital SUS, onde também havia oncologia, fugia da minha competência, pois o acesso à internação no SUS se dá onde há vaga. Concordaram. E que não havia lógica em desinternar um doente para levá-lo para um pronto-socorro, onde nem maca livre havia! Concordaram.

 



Insistiram. Desejavam que o doente fosse internado numa acomodação com algum conforto e menos sofrimento também para os familiares. Foi especulado o pagamento de "diferença de apartamento". Respondi que tal possibilidade foi extinta quando o Inamps virou SUS. O deputado foi aos finalmente: "Se aqui não há vaga pelo SUS, ele pode ser internado particular?".





Disse-lhe que não sabia, pois no pronto-socorro não havia atendimento particular, mas os acompanharia ao setor de internação para maiores informações. Fomos. Hospital lotado, mas, à tarde, um apartamento estaria vago. O doente foi internado naquela tarde pelo médico escolhido pela família, após o depósito exigido, em cheque, emitido pelo deputado, pelo qual eu me responsabilizei, acho que por escrito, por ser cheque de São Paulo, garantindo, assim, a internação particular.
A história do irmão do presidente internado "particular" virou uma bola de neve. Queriam detalhes. E se o cheque voltar, você vai pagar? Ao que eu respondia tranquilamente que ele fora admitido não no pronto-socorro, mas no hospital, com escolha de médico e acomodações exigidas por quem estava pagando pela internação. E assim foi!
Pergunto: escolher médico(a) e acomodação de maior conforto extingue o direito universal de internação pelo SUS? Sendo o SUS de todos, para pobres e para ricos, a regra é democrática ou totalitária?


  Publicado no Jornal OTEMPO  em 29.05.2012

 LEIA TAMBÉM:
Direitos dos usuários do SUS nos serviços hospitalares (Secretária de Saúde do Rio Grande do Sul)
Justiça reconhece acomodação diferenciada no SUS
O tratamento diferenciado no SUS, Vladimir
Pacientes do SUS podem pagar por acomodações superiores
A novidade: dois SUS – o SUS-PPM  e o SUS-PRN, Gilson Carvalho 
A novidade: dois SUS – O SUS-PPM  e o SUS-PRN, Gilson Carvalho  (revisado com acréscimos) 
Transformações da assistência médica, Henrique Walter Pinotti (Do livro “Filosofia da Cirurgia”)

A desconstrução do SUS: a permissão do Judiciário para tratamento desigual no sistema público de saúde - Lenir Santos
 Leia o SUS em Cordel aqui
* Todas as imagens foram encontradas aleatoriamente na web, logo são de diferentes lugares.

Dona Lô e a Ação Brasil Carinhoso



Fátima Oliveira

– E o Brasil, hein Dona Lô?
  No ritmo e no compasso de espera de Cachoeira... Até quando ele resolver falar, pois como disse Neruda: Não há silêncio que não termine”...
– A senhora acha mesmo?
– Ô, se acho!  E você não Pedro? Com esse furdunço tá tudo parado, tudo espantado, num silêncio que dá pra ouvir folha ciciando...
– É! Eles que são brancos que se entendam, né não Dona Lô?  Senhora, ando desarcoçoado com a política...
– Essa gente que se dane e que se lasque, o povo é que não pode ser prejudicado em seus direitos. É o que importa! O governo não pode se deixar emparedar. Quem dever que pague, oxê! Mas Dilma está indo bem, na medida do possível, e o povo tem reconhecido que está, embora muitas coisas internas ao governo estejam atrapalhando, sobretudo na área de saúde da mulher. Não vê essa famigerada MP557? É uma coisa que o povo ainda não entendeu bem a maldade nela embutida, mas vai acabar entendendo.
– ...
– Acho até que Dilma já entendeu. Ora se entendeu! Tanto que alavancou Eleonora Menicucci à condição de ministra da Mulher; a coisa tá no banho-maria e o prazo de validade da MP557 vence no dia 31 de maio; aí a melhor coisa é Dilma deixar que caduque e ponto final. Mesmo que caduque, fica a mancha das coisas atravessadas e de má-fé... Foi uma coisa estabanada e desnecessária, mas que deu um senhor trabalho, ah isso deu! Principalmente porque esgarçou as relações de confiança do movimento em relação ao governo... Em suma: “Quem não sabe assar, queima”. Foi o que fez o ministro Padilha e sua turma, mas estão aprendendo. Ou deixam de lado a arrogância e calçam as sandálias da humildade, ou não irão muito longe... Porém achavam que sabiam tudo. Ledo engano! Agora estão se dando conta que isso aqui, o Brasil, é um animal grande demais pra ser esquartejado ao primeiro golpe. Há muitas conquistas decorrentes de lutas históricas quanto aos direitos das mulheres, então esquartejar tudo isso e dar o lombo para os fundamentalistas, né fácil, não!
–...
– Mas deixa para lá! Tenho de cuidar de minha vida. Espero que Sarney, como presidente do Senado, abra seu saco de bondades, que ele está a dever, e sente nessa tal de MP557, não levando essa coisa à votação! Como sabemos Sarney prima pelo respeito de “Quem tem com o quê me pague não me deve nada” rsrrsrssr... É mais por aí do que por bondade para com as mulheres. Nem importa, tá valendo... Meu interesse agora é Estela assumir a Matinha de Dona Lô e as obrigações de nossa família aqui na Chapada do Arapari. Mais nada!
– Ai, nem no São João vai vir por aqui?
– Ainda não sei Pedro.  Vou ficar mais tempo lá em São Luís, vindo aqui só pros festejos e em caso de precisão, das grandes. Estou pensando em voltar a escrever. Quero registrar minhas memórias e as da Família Tropeiro, que a rigor, se encerra comigo, por ser a única descendente direta dela. Acho que longe daqui conseguirei escrevê-las. Já tentei dar conta por aqui, mas a inspiração não flui. Mudando de ares, quem sabe, não é? A ideia de ir para São Luís tem mais a ver com a proposta da escrita das memórias do que com Bernardo propriamente, eis a verdade! Antes dele, a ideia da mudança já existia. Não falei antes pra não deixar Estela capionga... Aquilo é arengueira que faz dó. Nem parece, mas é!
–...





– Com o Almoço Comunitário do Dia das Mães, uma invenção de Estela, a sua marca oficial de dona da Matinha, pois foi a primeira vez que fizemos aqui um almoço coletivo na data, vou mais é pegar maresia, que me faz tanto bem... Virei  aqui de visita, sem nenhuma responsabilidade que não seja matar saudades. Cabe à Estela tocar daqui pra frente. Com o dizem os meninos: fui!




– Quer dizer então que está passando o bastão? Por que não faz que nem sua bisavó, sua avó e sua mãe Donana, que tocaram a propriedade dos Tropeiros até na hora do último suspiro?

 (Tropeiro, Cássio Antunes)

[(Rancho Grande (dos Tropeiros), Benedito Calixto)]


–...
  Entendo, elas eram viúvas e lhes cabia tocar a propriedade com a morte do marido. Não é o seu caso. A senhora é filha, não tem descendentes, não tem porque se entonar aqui... Tem sim direito a uma vida fora daqui agora que nem mãe tem mais para cuidar.  Sem falar que já fez muito por todo mundo daqui. Todo mundo já possui anzol, aprendeu a pescar e ainda conta com as políticas sociais do governo. Isso aqui virou um oásis de prosperidade. Ninguém depende mais da Família Tropeiro para sobreviver, não é verdade?


 (Mãe, Romero Brito)


– Isso mesmo! E vem aí a Ação Brasil Carinhoso para coroar o que já está indo bem... Aqui na Chapada do Arapari 100% das famílias que precisam estão no Bolsa Família e a criançada delas na escola! O Grupo Escolar daqui é exemplar, desde os tempos de Donana, que ficava no pé da caboclada para colocar a filharada na escola. Funciona como uma escola urbana das melhores, isto é: tem a turma do pré-escolar, não tem classes multisseriadas, embora só tenhamos aqui até a 5ª. série. Mas há o ônibus escolar, que leva quem precisa terminar o Ensino Fundamental para a escola na cidade, que fica a 25 Km daqui. Falta uma creche, quem sabe ela seja implantada agora com o Brasil Carinhoso, não é? Estela tem de juntar a mulherada daqui para pressionar o prefeito, que é devagar quase parando. E é pra já, no ano corrente ainda!
– Mas esse Brasil Carinhoso tem o quê mesmo?

 – Valei-me Pedro, como você está por fora meu filho! Não viu Dilma na TV no Dia das Mães, não? Agora acreditei que anda desinteressado da política mesmo! A Ação Brasil Carinhoso é um adendo, ou um reforço, ao Brasil Sem Miséria, digamos que é um aprimoramento do Brasil Sem Miséria, focado na faixa etária de 0 a 6 anos, coisa necessária...



 Estou vendo TV muito pouco. Tive overdose de cachoeirices...
– Ah, bem! Estou compreendendo. Tá demais mesmo meu filho, puro mangue podre... Mas escute...
–...
– Ô Maria Helena, por favor, minha filha, traga aquele jornal que está na mesinha de cabeceira de minha cama... E traga uma aguinha também, minha rosa... Pois bem Pedro, o propósito de Dilma é tirar da miséria absoluta as famílias que tenham crianças com até 6 anos de idade”, já que, como disse a presidenta: “a faixa de idade onde o Brasil tem menos conseguido reduzir a pobreza é, infelizmente, a de crianças de 0 a 6 anos ”. A Ação está projetada para beneficiar cerca de 4 milhões de famílias: “garantindo uma renda mínima de R$ 70 a cada membro das famílias extremamente pobres que tenham pelo menos uma criança nessa faixa etária”.





–...

 (Marcha das Vadias 2012)

Enfim, para se assenhorar mais do assunto, leia o jornal. A matéria está bem clara. E leia também o discurso da presidenta no Dia das Mães. Há um porém. Ela, a Dilma, esqueceu de dizer que o Dia das Mães foi oficializado por Getúlio Vargas, em 5 de maio de 1932... E por hoje chega de conversa mole! Tô indo ali no Grupo pra Oficina das Mulheres sobre Remédios do Mato, em comemoração ao Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, que será amanhã, 28 de maio. Viu o sucesso da Marcha das Vadias em muitas partes do Brasil? As mulheres em movimento não param e os governos se quiserem sossego que se espertem!



Chapada do Araapari, 28 de maio de 2012
Dia Internacional de Luta pela saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna
 Decreto nº 21.366, de 5 de Maio de 1932 - Declarando que o segundo domingo de maio é consagrado às mães

O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil:

Considerando que vários dias do ano já foram oficialmente consagrados à lembrança e à comemoração de fatos e sentimentos profundamente gravados no coração humano;
Considerando que um dos sentimentos que mais distinguem e dignificam a espécie humana é o de ternura, respeito e veneração, que evoca o amor materno;
Considerando que o Estado não pode ignorar as legítimas imposições da consciência coletiva, e, embora não intervindo na sua expressão, e do seu dever reconhecê-las e prestar o seu apoio moral a toda obra que tenha por fim cultuar e cultivar os sentimentos que lhes imprimem, força afetiva de cultura e de aperfeiçoamento humano,

DECRETA:
Art. 1º O segundo domingo de maio é consagrado às mães, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento no sentido da bondade e da solidariedade humana.
Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 5 de maio de 1932, 111º da Independência e 44º da República.

GETULIO VARGAS
Francisco Campos
(Publicado no Diário Oficial da União de 09 de maio de 1932)
 (Getúlio Vargas e sua esposa,  Darcy Sarmanho Vargas).

[Tropeiro sertanejo, Nico Rosso (Itália 1901- Brasil 1981)]

terça-feira, 22 de maio de 2012

Vida básica e vida simples como opções filosóficas



CHEGOU MEU TEMPO DE MORAR NUM "LOFT", PARA SIMPLIFICAR A VIDA
Fátima Oliveira
Médica – fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_  

Nem gosto de pão. Sequer consigo comer um pão francês inteiro, apenas a metade, mas devo declarar que não tê-lo fresquinho à mesa no café da manhã me incomoda, pois pão dormido não é pão; e congelado também não é pão. Meras imitações. Meu sonho de consumo é uma entrega de pão fresco cedinho em minha casa.

É um serviço que faz falta, porque levantar num friozinho para buscar um pão, para quem só come meio, beira as raias da insanidade... Fico na vontade e descongelo "minha banda" de pão francês e como aquela coisa quase ogra com manteiga... Como, mas não é pão!
Uma das minhas filhas ficou com ar patético quando falei que odeio não ter quem busque o pão e sonho com a entrega de pão fresco a domicílio... "Como a senhora complica a vida! Vai tomar café lá no Diniz (mercearia/padaria da Cidade Jardim). Eita preguiça! Essa de querer pão fresco delivery é demais! Sua doença é não ter mais a gente aqui pra fazer mandados. Sabia que mandar vicia?". Retruquei: "Saber mandar é uma arte que domino, esqueceu?".

 Tomo café na padaria quando vou trabalhar, mas amo café da manhã em casa, uma zona de conforto e de ternura, como disse em "A mesa posta para o café da manhã é uma cultura de ternura" (O TEMPO, 19.7.2011). Comer bem é um direito humano fundamental. Detesto fast-food, comida "Frankestein". Nunca comi nos Macs da vida! Talvez, ranhetices sertanejas da velhice, mas meu norte é a filosofia "slow food", uma face da ecogastronomia que defende a herança culinária, as tradições e culturas que tornam possível esse prazer.

Carro para mim
não é exibicionismo
de como anda o meu bolso. “Ora, pra ter
um carro melhor!”
Melhor pra quê e
pra quem?

É o tipo da conversa que descamba nos estilos culturais de vida e que viver na cidade grande interdita a adoção filosófica de vida básica e/ou vida simples: a simplicidade voluntária como opção - não é vida da penúria imposta pela pobreza nem de "canhenguices" franciscanas - de estilos de vida: a simplicidade como filosofia, que é um longo caminho, mas não exige viver em bolhas de simplicidade, como ecovilas, que é pra quem pode até dispensar veículos pessoais motorizados. O resto é sectarismo.

(Eco-Aldeias/Eco-Villages)
 (Ecoaldeias, Ecovilas, Permacultura)



Sempre fui criticada por não levar uma vida segundo o "padrão de vida de médico", coisa antiga, antes da proletarização da profissão, sobretudo por passar décadas (isso mesmo!) com o mesmo carro - ora, se eu uso um carro que, depois de mais de dez anos, não chega a 50 mil quilômetros rodados, por qual motivo tenho de trocá-lo, se carro para mim não é um cartão de exibicionismo de como anda o meu bolso? "Ora, pra ter um carro melhor!" Melhor pra quê e pra quem?
Meu carro não é uma moldura de minha vida, ao contrário: eu sou a moldura dele! A diferença é enorme e nada sutil se comparada a uma amiga que troca de carro religiosamente a cada dois anos. Eu a conheço há mais de 20 anos, sempre apertada, "pagando o carro". É que ela diz que só usa "carro, carro, e não carroça!". No sábado à noite, sabendo que ela "precisa" trocar o carro até julho, sugeri que poderia se libertar de passar o resto da vida pagando carro: vender o turbinado dela, que, com quase dois anos de uso, tem preço de mercado de cento e poucos mil, e comprar um Veloster, que é lindo, tem presença e enche os olhos por onde passa... E ainda sobraria um troco.


  Ela: "Imagina eu de repente aparecer num carrinho desses, vão dizer que fali. Minha marca registrada é ter carrão". E quando falei que chegou meu tempo de morar num loft, para simplificar a vida, ela disse: "Ai, que alívio! Pensei que simplificaria para uma quitinete!". Ai, ai...
 (Loft)
 FONTE: Jornal OTEMPO em 22.05.2012