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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Bete, a manicure que se ufana de ser uma preta racista



A "SORORIDADE" ENTRE NEGROS E DE GÊNERO SÃO FALÁCIAS
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_



"Não gosto de fazer unha de preto. Saí de um salão no Rio porque, lá, só fazia unha de preto". Cochilava. Despertei ao ouvir a frase da manicure Bete (Elizabete da Conceição Vaz Soares) num salão de beleza da avenida Prudente de Morais, bairro Cidade Jardim, do qual sou cliente há cerca de 12 anos. Era 29.11, por volta das 15h. Um susto, pois Bete é preta! Eis trechos do embate.



Sentada ao lado dela, que fazia unhas de uma cliente branca, tive de ouvir das "nojeiras" das unhas de preto, dos pés casquentos, rachados, da sujeira, numa generalização odiosa e falsa. Um protótipo de negação da negritude, a exibição do ódio racial. Sinalizei que a conversa, no mínimo, incomodava: "Bete, você não mora numa terra sem leis; no Brasil, há leis, e o racismo é crime inafiançável. Alguém pode denunciá-la".




 
Primeiro Salão Internacional de Humor Contra o Racismo


Ela tripudiou, desfiando seus ascos das unhas encravadas, das cutículas e dos cascos duros de preto! Pensei em sair. Fiquei. Não permitiria ao racismo levar a melhor. Adverti, mais uma vez, que ela poderia ser presa e processada e que eu não era obrigada a ouvir aquilo, pois meu dinheiro vale tanto quanto o de branco, talvez seja mais valioso do que o de muita gente, preta ou branca, porque é ganho honestamente. 





Irritadíssima, disse que não falava comigo, logo, eu não tinha de me meter. "Não sou surda; aqui é um lugar público, onde há muita gente sendo obrigada a ouvir impropérios racistas". Indaguei se ela se assumia como uma preta racista. Respondeu: "Sim, sou mesmo uma preta racista. Sou mesmo!".
"Então, nunca mais vai fazer minhas unhas". Disse que tudo bem. E, irada, lançou o desafio-ameaça: "Quero é ver quem vai me denunciar!"
"Eu! Vou denunciá-la por racismo! Todo mundo aqui é testemunha. Não aceito ser vítima do seu ódio racial".




Ao sair, de pé, diante dela: "Pra não dizer que sou intransigente, dou a chance de se desculpar, pois, para ofensas públicas, só valem desculpas públicas". Vociferou que não pediria, que não falara comigo, pois eu não era negra, mas morena.
"Oh, eu sou tão preta quanto você, que já comeu muito às custas do meu dinheiro, e eu me beneficiei do seu bom trabalho. Nunca mais vai comer, pois vai fazer unhas agora, se não me pedir desculpas, lá na Nelson Hungria" (não lembrei o nome da penitenciária feminina).
"Vou chamar a polícia, e você sairá algemada daqui". Ela repisava que não pediria desculpas. A turma do deixa-disso: "Pede desculpas, Bete, ela ficou ofendida". Retruquei: "Não é que fiquei ofendida; fui ofendida gratuitamente, e estou sendo caridosíssima, dando-lhe oportunidade de se desculpar!".


 


De modo meia-boca, pediu desculpas: "Eu estava brincando!". Diante dela, por telefone, relatei o ocorrido ao dono do salão, frisando que o salão dele iria fechar, pois, pela segunda vez, eu era vítima de práticas racistas ali: a primeira, há mais de dois anos. Outra manicure, a despeito de eu ter horário marcado e ela ter sido avisada três vezes, pelo caixa do salão, de que o horário era meu, fez ouvidos de mercador: atendeu uma cliente, branca, marcada depois de mim! Foi uma prática racista, mas ela, que não é branca, agiu silenciosamente. Não é possível provar!

  A "sororidade" entre negros e de gênero são falácias. Agirei para que se cumpra a lei e comuniquei à Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte, que tem em mãos fatos suficientes para bancar ações de "tolerância zero contra o racismo" nos salões de beleza belo-horizontinos. Era pra ontem. O racismo é uma abominável fé bandida! E quem cala consente!

04.12.2012
Publicado no Jornal OTEMPO

11 comentários:

  1. Fátima, realmente essa moça dá dó na gente, pois introjetou perfeitamente o que os racistas dizem que ela e os negros em geral são: SUJOS, NOJENTOS. Será que alguém assim muda? Acho que não. Tem de responder por tudo isso. E o dono do salão está dizendo o quê?

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  2. São pessoas como a Bete que incenssam aos racistas a dizerem que há pretos tão racistas quanto os brancos ou até mais. No entanto se esquecem que negros racistas apenas reproduzem a IDEOLOGIA RACISTA DOMINANTE.

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  3. Um choque. É doloroso como a Bete se odeia. Ela se odeia por ser negra, provavelmente. Infelizmente é a crueldade do racismo que faz com que algumas pessoas negras não se aceitem enquanto tal

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  4. Há pouco tempo a Xuxa disse que o pé do Pelé é feio.

    Desconfio que fora justamente o pé do Pelé quem possibilitou a atração da Xuxa por ele.

    @GersonCarneiro

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    Respostas
    1. “Se ela lembra do meu pé, imagina do resto”

      Pelé, respondendo a comentário da ex-namorada, Xuxa , que afirmou que o pé do ex-jogador era feio.

      http://colunas.revistaepoca.globo.com/ofiltro/2011/11/11/dois-pontos-as-frases-da-semana-45/


      Xuxa diz que pé de Pelé era nojento
      Container Conteúdo – dom, 11 de set de 2011 12:47 BRT


      Durante a entrevista com Neymar em seu programa, neste sábado, dia 10, Xuxa confessou que teve nojo dos pés do ex-jogador Pelé, com quem namorou na década de 80.

      "Pé de jogador é muito nojento. Já vi um que tinha unhas pretas, era muito feio. Era uma mistura de roxo com preto, tinha unha que já tinha caído não sei quantas vezes. Vocês já devem imaginar de quem estou falando", contou a apresentadora, enquanto era exibida uma imagem de Pelé.

      Ela disse, ainda, que reclamava com o Rei por causa dos pés. "Ele dizia que esses pés já deram muitas alegrias, e eu respondia: 'mas agora me dá tristeza'".

      http://br.omg.yahoo.com/noticias/xuxa-diz-p%C3%A9-pel%C3%A9-era-nojento-154700149.html

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  5. Estou boquiaberto de uma manicure negra ser racista. Infelizmente os fatos não me dixam duvidar

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  6. Estou boquiaberta pelo racismo e pela demonstração da ignorância da moça. Tem de se ferrar para aprender. Racista só se contém com os rigoresda LEI

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  7. Até chorei de tristeza e de pena da Bete. No entanto ela é adulta e tem de responder pelo racismo verbalizado. Quero saber também o que o proprietário do salão está achando

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  8. Comentário de Flávia, postado por Fátima Oliveira4 de dezembro de 2012 às 21:53

    ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Flávia Pereira Cordeiro
    Data: 4 de dezembro de 2012 18:00
    Assunto: Apoio
    Para: fatimaoliveira@ig.com.br

    Olá Fátima ,
    Meu nome é Flávia e acabei de ler sua matéria no jornal O TEMPO , fiquei indignada com o que a senhora passou e mais ainda triste por ainda ver negros e negras que ao invés de nos ajudar expõe cada vez mais seu ódio pela sua própria raça . Sou negra é também já vivi muito preconceito racial nos salões de beleza , teve uma vez que fui a um que me disseram se eu não queria fazer uma "escova inteligente" para alisar meu cabelo eu respondi que não que preferia ficar com a burra mesmo , que era mais real e mais bonita . Estou junto com você e acredito que seria necessário uma campanha legitimada contra o racismo nos salões de beleza de belo horizonte . Ás vezes acho que as coisas estão melhorando em outros momentos acho que não.

    Abraços
    Flávia

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  9. 04/12/2012 06:13 - Atualizado em 04/12/2012 06:13
    Novo mapa da violência expõe o racismo no Brasil
    Do Hoje em Dia


    Não há como negar: a luta contra o racismo no Brasil, que ficou mais afirmativa a partir do começo deste século, teve efeitos importantes na legislação e gerou mudanças em alguns campos, como na educação. No entanto, o novo mapa da violência, “A cor dos homicídios no Brasil”, chega como um alerta ao governo e aos que defendem que a todos os cidadãos, independentemente da origem étnica e da cor da pele, se garanta um tratamento justo. Essa é uma questão importante em um país com enorme diversidade social.

    Os dados da pesquisa feita pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz não deixam dúvida: é um mito a crença de que não existe racismo no Brasil e que nossas iniquidades se devem tão somente às desigualdades de classe e não a processos estruturais de discriminação racial e étnica. Só vamos resolver a questão quando reconhecermos que temos aqui uma significativa parcela da população racialmente discriminada.

    Os efeitos dessa discriminação podem ser fatais, como revela a pesquisa. De cada cem assassinatos cometidos no Brasil, 65 têm como vítimas os negros, homens e mulheres. A proporção em Belo Horizonte é pior: são assassinados mais do triplo de negros que brancos na capital mineira.

    No Brasil, o número de homicídios de negros cresceu nos últimos oito anos, enquanto diminuía o de brancos. Em 2002, foram assassinados 26.952 negros e 18.867 brancos. Em 2010, o número passou, respectivamente, para 34.983 e 14.047. Ou seja, aumentou em 30% o assassinato de negros e diminuiu em 25% o de brancos.

    Outro dado preocupante da pesquisa é o aumento do assassinato de jovens negros no Brasil. A taxa é de 89,3 mortes a cada 100 mil habitantes negros de 20 anos contra 31 para brancos da mesma idade. Nos últimos oito anos, diminuíram em 33% os assassinatos de jovens brancos, enquanto a taxa aumentava em 23,4% entre os jovens negros. Em Maceió, capital de Alagoas, a taxa é de 328,8.
    É significativo que a violência contra os negros tenha aumentado no momento em que a legislação antidiscriminação racial comece a ter alguns resultados positivos.

    Mas tal fato não deve servir de desestímulo. É preciso continuar criando oportunidades educacionais para a população mais pobre, em especial para jovens negros e índios. O jovem dessas etnias estará assim mais bem preparado para entrar em um mercado de trabalho que é também racista, sexista e discriminador. Não vamos avançar nessa questão, se não pudermos identificá-la.

    http://www.hojeemdia.com.br/novo-mapa-da-violencia-exp-e-o-racismo-no-brasil-1.63868

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  10. Comentário de Artur T Bettencourt , postado por Fátima Oliveira5 de dezembro de 2012 às 22:12

    ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Artur T Bettencourt
    Data: 4 de dezembro de 2012 13:41
    Assunto: Racismo
    Para: fatimaoliveira@ig.com.br


    Cara Fátima.
    Não sou negro mas tenho-lhes o maior apreço, como de resto por todos os demais serem humanos. A propósito, tenho dois filhos negros, legalmente adotados, Luan com 14 anos e Luana com 12. Luan veio pra minha casa com um ano de idade. Luana, irmã biológica dele por parte de mãe, já nasceu aqui.
    Execro, como você, qualquer tipo de discriminação. Dou-lhe, portanto, os parabéns pela atitude corajosa relatada na seção O.PINIÃO do O Tempo de hoje. Na qualidade de juiz de direito aposentado e atualmente advogado militante, ponho-me ao seu dispor aqui em Pouso Alegre para qualquer auxílio que puder lhe prestar na sua gloriosa cruzada.

    Att.
    Artur Tavares Bettencourt

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