Fátima Oliveira
Autor de marcos e cartões postais na arquitetura mundial, o carioca Oscar Niemeyer fez cem anos em 15 de dezembro. Com lucidez perigosa e refinada pelo gostar de filosofia, disse: "A gente quer se informar melhor sobre tudo, aprender outras coisas. O importante é a pessoa ser curiosa. Não é o interesse de um intelectual, é o interesse de um sujeito normal que sente a vida, que é solidário e que acha que o mundo pode ser melhor".
O que dizer de quem, aos cem anos, idealiza e vibra com uma nova revista, a "Nosso Caminho"? "É uma revista assim, aberta para o conhecimento... A idéia que dá é o nosso caminho para frente. Nessa revista, a arquitetura tem uma terça parte, o resto são artigos variados, filosofia, história, letras."
Na entrevista a Paulo Henrique Amorim (PHA), na biblioteca do arquiteto, está dito que, "diante da cadeira dele, há uma fotografia de um amigo francês e três mulheres nuas, numa praia no sul da França. Duas de barriga para cima e uma de barriga para baixo. Quando PHA lhe perguntou sobre a foto, Niemeyer falou: ’É uma beleza’".
Niemeyer arquiteta apologia às femininas curvas do seu tripé de inspiração: mulher, biologia e natureza, e verbaliza poesia: "Como é mágico ver surgir na folha branca de papel um palácio, um museu, uma bela figura de mulher! Como as desejo e gosto de desenhá-las! Como as sinto nas curvas de minha arquitetura". Há cintilante erotismo brechtiniano na obra de Niemeyer: "Diz que ousar na queda lhe é permitido/ Desde que entre o céu e a terra flutue" ("Da sedução dos anjos", in "Da Sedução - Poemas Eróticos de Bertolt Brecht").
Para o arquiteto italiano Renzo Piano, a arquitetura de Niemeyer "canta, tem voz e as cidades necessitam de edifícios que cantem". O arquiteto Ítalo Campofiorito disse: "Ele faz obras tão grandes que acabam se tornando a marca, a cara, a personalidade de uma cidade". Na entrevista a PHA, Niemeyer ousou dizer: "Se você concordar que nós fazemos arquitetura para o poder, a arquitetura não chega aos barracos. Então, a arquitetura que deve crescer em função da técnica e da sociedade, está faltando essa parte. Ela evoluiu, a arquitetura hoje é mais rica, imensamente mais rica, como solução técnica do que antigamente. Mas continua voltada para os que têm direitos à arquitetura, às classes mais favorecidas. O pobre está na favela olhando os palácios".
(Aan Hess)
Desejei, com ardor, uma "casa Niemeyer", com a qual ainda sonho. Quando fui morar em São Luís do Maranhão, certa vez, no ônibus, nas imediações do Canto da Fabril, a mulher do meu tio, simples donade- casa de pouco estudo, disse-me: "Presta atenção! Vamos passar na frente da casa feita por Oscar Niemeyer, aquele que fez Brasília". Era 1968. A "casa Niemeyer", referência do belo e do inusitado, tem os fundos, ao contrário das demais, para a avenida Getúlio Vargas! Eu a amo, só de ouvir dizer como é. Jamais entrei nela. Em São Luís, também de sua lavra, há uma ode à liberdade, o Memorial Maria Aragão.
(1959)
(JK e Niemeyer)
AE
Morando em Belo Horizonte desde 1988, apreciar o conjunto arquitetônico da lagoa da Pampulha virou mania necessária para renovar energias e inspiração. Uma vez por mês, pelo menos, reservo um fim de tarde para uma "volta completa na lagoa", com direito a paradinhas e descidas na Casa do Baile e na igreja de São Francisco, onde bebo também Portinari... Minha prole, incluindo o neto e a neta, amam! E depois? Páro no Redondo para uma cervejinha de frente pra lagoa, que ninguém é de ferro!
A médica Fátima Oliveira escreve neste espaço às terças-feiras.
Publicado no Jornal OTEMPO em 18.12.2007
Casa das Canoas, por Oscar Niemeyer
A casa situada no meio da mata da Tijuca, no Rio de Janeiro, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer
em 1951 para sua própria moradia, é hoje um patrimônio tombado pelo
IPHAN, junto com outras 34 obras de sua autoria. O projeto da casa foi
e ainda é um marco na história da arquitetura brasileira, assim como na
de Niemeyer, como monumento modernista, notoriamente reconhecida por
especialistas e críticos de arte, hoje serve como patrimônio histórico e
está aberta para visitantes.
Respeitando os limites do terreno, explorando suas curvas, a vista para a mata nativa a casa se mantém equilibrada e suas visuais alcançando o mar na linha do horizonte, fornecem uma sensação de liberdade, dada de fora da casa, quanto internamente, onde o arquiteto buscou trabalhar com a laje avançando sobre a casa, de forma que não tivesse a necessidade do uso de cortinas nas janelas que circundam a residência, mantendo sempre conforto térmico e excesso de luz, como se a casa fizesse parte da vegetação que a rodeia, como por exemplo, a pedra que invade a área interna da casa, que parece determinar os contornos da piscina, contrastando e ao mesmo tempo, tornando-a leve e volumetricamente adequada ao projeto.
Site Casa das Canoas: www.casadascanoas.com.br
É um texto lindo Fátima. Perfeito
ResponderExcluirUm texto que lava a alma da gente
ResponderExcluirUm texto lindo Fátima
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