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domingo, 17 de junho de 2012

Dona Lô: a encalhada típica, com teia de aranha petrificada...



Fátima Oliveira


Lô e Bernardo estavam numa chaise longue de onde se via o mar, o vai e vem das ondas espumantes e aquele barulho que dá sono... Ela deitada nas pernas dele, que acariciava seus cabelos, jogavam conversa fora e apreciavam o vôo das gaivotas na praia. Ela chegou à ilha um pouco antes do meio-dia e do aeroporto foram direto pra Base de Dona Diquinha, lá no Diamante,  onde comeram cuxá com peixe frito, iguarias que Lô aprecia, tanto quanto comer em “Bases”, segundo ela onde ainda se faz a comida do litoral maranhense de verdade!... 



 [(Vôo das gaivotas na  Praia do Olho d'Água, São Luís, MA (Fotos de Biné Morais)]
 (Praia do Olho d'Água, São Luís, MA)

– Bernardo, meu amor, espie só: a tal de "MP dos médicos" (Medida Provisória 568/2012) tem de estar errada, meu nego! Mas precisam lutar para que o governo reconheça o erro! Olhe o exemplo das feministas na MP 557. É ir pra cima! As feministas foram com gosto de gás. Não deixarm pedra sobre pedra. O Padilha parecia invencível e assim se comportava, mas deu com os burros na lama. Ficou atoladinho, atoladinho... Até hoje não disse como o nascituro foi parar na MP 557, mas isso é o de menos pra nós. Não deveria ser pra Dilma, mas deixe pra lá...
– Sei! Mas você pode dar uma cochichada no ouvido da mulher, hein? Certo que estou quase aposentando, originalmente sou médico concursado do antigo INAMPS, mas com o golpe dessa tal de MP a coisa ficou feia mesmo...
–...
– Entendeu o que falei, Lô? Todo mundo fala que você é unha e carne com a mulher...
– Vou fazer de conta que não ouvi... Entendeu o que quero dizer?
– ...






– Pois bem, não estou dando lugar pra esse tipo de conversa. Mas adianto-lhe que nunca vi um governo se enredar tanto em bobices como o de Dilma! Eita povo sem critério pra certas coisas. Não é maldade, que é o que lhes falta, mas falta de de... digamos, tirocínio mesmo. Ela precisa passar a régua mais amiúde nessa gente... Com amigos atabalhoados assim, quem precisa de inimigo? Me diga! Erro não é álibi; erro é erro, oxê!
– ...
–  Miriam Belchior, a ministra do Planejamento, que se explique direitim e bonitim... Ela é o Padilha da MP 568. Iscritim o Padilha na MP 557. Ela não sabe de nada, não viu nada e deixa a presidenta no fogaréu das fogueiras de São João e de São Pedro! Colocam a presidenta na fogueira como se fosse batata assando! É fazer barulho. Ir pra cima da ministra. Ela que dê seus pulos. Num assunto assim Jandira Feghali é o baluarte. Não duvide.
– Entendi Lô. Estamos lutando. Médicos do Brasil inteiro estão mobilizados. Estou muito atarefado. Tô na briga, com firmeza. Gostaria de ter ido passar o Dia dos Namorados na Matinha de Dona Lô, mas não deu! Tudo por causa da maldita MP!
–  Eu sei. Estou qui, não?


 
   – É, mas vai perder a sardinhada da Festa Portuguesa de Tonico, que tanto gosta. Sei que queria ficar lá, levar Estela para entregar-lhe pessoalmente a mesa de Donana...
Mesa de Donana na festa portuguesa de Tonico.





–  É verdade! Mas ela não é quadrada. Vai se virar lá com Cesinha, que sabe bem como é a festa, pois foi minha companhia nela por muitos anos... Deixe pra lá...
– Como está vendo o caso do casal Yoki?
– Assustada. E com pena. Era um casal jovem, com uma filha pra criar... Mas só Elize sabe os porquês do que fez e como fez. O que vai n’alma de uma mulher que se virou nos trinta para ter uma família diante da ameaça de perdê-la, só Freud explica porque uma pessoa assim arrisca o muito do que possuía pelo nada da prisão. Não arrisca, conscientemente, porque age de modo impetuoso e impensado, a tal da violenta emoção, sob frontais sem censura. Você é médico, sabe bem melhor do que eu o que são os frontais sem censura...
– ...
–  Um crime midático por excelência, pelos lances da vida privada do casal, sobretudo e pela posição social, a riqueza do falecido. Ainda vai correr muita água debaixo da ponte.  Ela vai ser condenada, tem de pagar pelo crime cometido, mas até lá muito podre vai deliciar a mídia. O advogado da família do morto quer condená-la antecipadamente. Busca a condenação pública sem dó. E o dela, corre atrás de atenuantes, coisa que há, aos montes, desde ter confessado voluntariamente o crime... Briga de cachorro grande... É isso!



No dia 19 de maio, Marcos Matsunaga foi ao aeroporto buscar a mulher, Elize, a fi lha do casal e a babá, que voltavam de uma visita à família dela, no Paraná. Os quatro chegaram ao apartamento do casal, na Vila Leopoldina, bairro nobre de São Paulo, às 18h40. Subiram juntos, pelo elevador social, para a cobertura, de mais de 500 metros quadrados. A babá foi embora pouco tempo depois e o bebê foi colocado para dormir no 2º andar do apartamento.  (19 de maio de 2012 - Família no elevador chegando em casa: Marcos, Elize, a filha do casal e a babá)


– Também penso mais ou menos assim... Tem razão, muita coisa ainda vai boiar... Faltam muitos elementos para compor o quadro do tiro e do esquartejamento. Só posso imaginar que a Elize era um poço transbordando de mágoas, no mínimo, pois agiu totalmente movida pela raiva, pelo ódio, perdeu o controle... E aí, está pensando em dar um pulinho na Rio+20? Estela disse-me que você esteve na ECO-92
– Sim, participei da ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento); fui à Rio +10, em 2002, em Joannesburgo, na África do Sul (Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável). É um fuzuê inesquecível, mas cansei! Deixa essa gente nova queimar pestanas.
– ...



  – O que eu tinha de aprender para fazer a minha parte em defesa do Planeta, já aprendi e estou fazendo... A Matinha de Dona Lô hoje em dia é mais que um santuário ecológico... A minha criação de gado pé-duro, ou melhor, o meu zoológico de gado pé-duro, é uma demonstração de fé, não acha? Sem falar em meus jumentinhos abandonados, que vão para mais de cem...  Zé Vaqueiro reclama que nem um condenando e vive a perguntar o que vou fazer com aquela jumentaiada que só cresce... rsrsrsrs... e aumentando despesa. Digo-lhe sempre que capim é de graça, que deixe meus jeguinhos quietos...  Quase ninguém quer mais saber de jumentos, não é?  Pouca gente mesmo, como Gilles Lapouge, que escreveu recentemente "Ao jegue, com carinho", no Estadão. Se depender de mim, nem o pé-duro e nem os jegues serão extintos, nem que eu gaste “meus cofos e cofos de dinheiro” da família Tropeiro, que o povo não se cansa de dizer que eu tenho... rsrsrsrsr...






– E nós, vamos fazer o que hoje, hein? Disse-me que ficaríamos em casa à noite, mas já abri a geladeira e não vi nem sinal de nada para comermos...
Bernardo havia preparado uma surpresa para a namorada.  Mas antes que respondesse, a campainha tocou e ele foi correndo atender o interfone... “Podem subir...” E se dirigiu à porta para abri-la...
–  Aqui mora Lô  Tropeiro?
Ela, espantada, sem nada entender e olhando espantada para aquele carteiro de libré estilizada, com galões e botões dourados, em sua frente, observava o loft que era enorme, mas parecia pequeno para tanta gente que chegava...




  Suas observações foram interrompidas pela música suave de um violino tocando Capri C’est Fini!, de Hervé Vilard, que ela lembra de ter dito a Bernardo que adorava... Ainda cantaram, com vozes maviosas, A Majestade o Sabiá...
Finda a música, Bernardo aponta para o telão e diz: “Veja Hervé Vilard dans la tournée des idoles 2012”.

Ainda embasbacada, Lô balbucia, encostando a cabeça no ombro dele: realmente uma surpresa adorável! E o que teremos para o jantar?
– Caaaaaaaaalma, termina de ver o vídeo... Uma comidinha que é a sua cara, advinha?
– Aqui? Comer uma caldeirada é igual fazer uma oração...”

– Advinhona...


caldeirada de camarão1 – Humhumhum... cheirinho booooom... Caldeirada de camarão é uma iguaria  sublime! Comi muito na Base do Germano, quando era lá na Macaúba... Passei o exílio todo babando de vontade de comer caldeirada lá naquele pé sujo que tanto espantou Tancredo... A comida era limpa, de primeira, mas na rua havia esgoto a céu aberto... Quem fez a caldeirada?
– Dona Alice, é a especialidade dela. Mas que história é essa de Tancredo Neves ficar espantado na Base do Germano?
– Oxente e não sabia, não? Pois foi! Artes de Edson Vidigal, que até escreveu uma crônica a respeito. Gostei tanto que quase decorei. Escute o que ele escreveu:




“A melhor camaroada em São Luis do Maranhão era a do Germano. Quem fosse à Ilha do Amor e voltasse de lá sem poder dizer que não provou da sopa de camarão do Germano seria o equivalente a ir a Roma e não ver o Papa.
A última vez na vida que o doutor Tancredo foi ao Maranhão foi comigo, ele era ainda Senador, mas já sendo chamado de Presidente, e eu o levei à Base do Germano, no bairro da Macaúba.
O Germano era um policial – militar, de bons modos e ao mesmo tempo grosso em alguns repentes, cozinheiro do quartel, que detinha em segredo a fórmula da camaroada, que só ele sabia fazer.
Apresentei o Doutor Tancredo ao Germano como o futuro Presidente da República, ele o cumprimentou educadamente, mas sem botar alguma fé no que falei.
Quando nos sentamos a uma mesa, o restaurante ainda quase vazio, eis que uma sequência de avisos pelas paredes nos chamou a atenção, tipo assim – é proibido tamborilar nas mesas, é proibido cantar, é proibido chamar o garçom batendo com uma faca ou talher na garrafa ou no copo, é proibido gargalhar alto e outras proibições que nem deu para ler todas.
Doutor Tancredo perguntou se aquilo era de brincadeira ou para valer. Era para valer, eu disse. Então, vamos pedir uma mesa lá fora, na calçada e o Germano, gentilmente, nos atendeu. Lá fora corria um vento forte de maresia e porcos fuçavam num esgoto a céu aberto”
(Estatutos, Edson Vidigal, 12.03.2012).

– Muito interessante, Lô! Mas aquelas “bases” ali pras bandas da Macaúba, Lira, Belira, eram em ruas assim mesmo, de esgoto a céu aberto. Aquilo ali já mudou muito.
E, dirigindo-se ao mundaréu de gente que enchia o loft, tanto do Grupo Correio Teatralizado, quanto o entregador da Base de Dona Alice, que preparou o jantar, falou: “Bem gente, o meu muito obrigado por tudo! E vão desculpando qualquer coisa... E vamos saindo que  a dona da festa quer se lambuzar  de Caldeirada de Camarão... O meu muito obrigado a todos, mais uma vez.
– Feliz, meu amor? Fiquei apreensivo com medo de você achar a minha supresa babaca e provinciana demais... Mas foi de coração que preparei nosso primeiro Dia dos Namorados...
– Feliz? Muitão, muitão... Aliás, acho que vai pra mais de 20 anos que não sei o que é Dia dos Namorados... Sou a encalhada típica, com teia de aranha petrificada...



  São Luís, 12 de junho de 2012

6 comentários:

  1. Gracinha de Dona Lô, mesmo amando a língua dela é afiadísisma. E continua dando conta de TUDO!!

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  2. De qualquer modo, Dona Lô não deixa nenhum assunto importante passar batido. Belo episódio

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  3. Antônio José Mcedo Lima18 de junho de 2012 às 09:11

    Parabenizo a autora pela criatividade

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  4. Dizem que dinheiro não compra felicidade, mas no caso de Dona Lô, seus cofos e cofos de dinheiro da Família Tropeiro, ajudam um bocado, até ter um loft na beira da praias, com o um ninho de amor srsrrssr

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  5. Antônio José Macedo Lima18 de junho de 2012 às 11:36

    18/06/2012 11:02
    Elize contesta laudo do Instituto Médico Legal

    Advogado da família de Marcos Matsunaga afirma que a técnica em enfermagem premeditou o crime Fabio Pagotto
    fabio.pagotto@diariosp.com.br

    Matsunaga, de 30 anos, manteve a versão que deu para a polícia


    O advogado da família Matsunaga, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que as informações do laudo do IML (Instituto Médico Legal) comprovam que a técnica em enfermagem Elize Matsunaga, de 30 anos, premeditou a morte do executivo Marcos Matsunaga, de 42 anos. O laudo necroscópico dificultará a defesa de Elize, diz D’Urso.

    O legista que fez a autópsia no corpo de Matsunaga, Jorge Pereira de Oliveira, confirmou na sexta-feira (15) que o executivo respirava quando foi decapitado e que só assim poderia ter aspirado o sangue que o asfixiou, encontrado nos pulmões.

    “O laudo do legista derruba a versão dela de que os dois estavam de pé e ela estava a dois metros dele. Pelo ângulo da bala, ela estava de pé e ele sentado. E o tiro foi encostado”, disse o advogado. “Ele aspira o sangue que jorra do corte no pescoço e morre sufocado”, diz.
    Para D’Urso, o eventual uso da tese de ter agido sob violenta emoção pela defesa de Elize, o que poderia atenuar a pena da técnica em enfermagem, está descartada. “Isso depois desse laudo caiu por terra, porque, da forma como o crime ocorreu, o elemento surpresa está presente. É praticamente uma execução, sem ele perceber”, diz.


    O promotor José Carlos Cosenzo, do 5º Tribunal do Júri da capital, afirmou que irá denunciar Elize por homicídio doloso triplamente qualificado: motivo torpe (vingança), recurso que dificultou a defesa da vítima e meio cruel, o que pode aumentar a pena pelo crime.

    O advogado de Elize Matsunaga, Luciano Santoro, afirmou em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, que Elize contestou o laudo do IML e manteve a versão que deu para a polícia.

    http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/25059/Elize+contesta+laudo+do+Instituto+Medico+Legal

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  6. Dra. Fátima achei a sua criatividade nota dez com Dona Lô

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