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terça-feira, 23 de novembro de 2010

A dona Lô que aparece em meus escritos da Chapada do Arapari

Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com.br


Era irmã do meu avô Braulino uma tia muito querida, a tia Lô, que me chamava de "Fátia". Era uma sendeira "quieta" - mulher separada do marido que não tem homem. Era uma Bodô (nome do pai dela), mulher de respeito, sem filhos, mas criou a Maria das Graças e o Dé, vaqueiro do meu avô; e eu era uma espécie de adoração dela.
Na casa da tia Lô, havia um copo de alumínio, um prato esmaltado, uma colher e um talher de metal que só eu podia usar. Ai, ai de quem "bulisse" neles, pois tia Lô não deixava e ainda alfinetava: "Não bole nas coisas da Fátia que ali é menina puro entojo!". Naquele tempo, usava-se colheres de cobre, lindamente amareladas, da cor de ouro, mas elas azinhavravam. Eu as odiava, pois, quando não bem lavadas e esfregadas na areia de tabatinga, davam um gosto ruim à comida. Como ela morava na fazenda do meu avô, bem perto do curral, ficava em sua casa também um "copo de asa" (de alumínio) para beber leite mungido, que era só meu.
Eu adorava a comida da tia Lô e nas férias zanzava muito na casa dela. Era costume, em casa de muitas crianças, a comida ser servida numa bacia grande; uma colher pra cada uma, que comiam ali, sentadinhas no chão forrado com uma esteira de palha de palmeira de coco babaçu. Ela fazia assim com os netos, os filhos do Dé, que naquela época eram uns quatro. Mas eu não comia daquele jeito em minha casa. Então, ela fazia o meu prato e o colocava na mesa. De vez em quando, o Rompe-ferro, um cachorro do meu avô, avançava na bacia e devorava a comida das crianças! Pense na choradeira...
Era adolescente quando ela morreu em meus braços. Ela é uma doce e inspiradora recordação. Tia Lali, do meu livro "Reencontros na Travessia: a tradição das carpideiras", é a sua imagem. Ainda sob sua inspiração, criei a dona Lô, em "Tá lubrinando - Escritos da chapada do Arapari", um blog literário: um ponto de publicação de "coisas" escritas em momentos de grandes inspirações, pois a chapada do Arapari é um lugar que existe, mas, ao mesmo tempo, é meu imaginário... http://talubrinandoescritoschapadadoarapari.blogspot.com
Nunca desejei ter um blog e resistia, apesar das cobranças de muita gente que não entendia como uma escritora e livre-pensadora com produção intelectual enorme e intensa não mantivesse um, nem que fosse para ser depositário de crônicas, artigos e ensaios de minha autoria - exatamente uma característica que jamais me fascinou.
Todavia, durante a campanha das últimas eleições presidenciais, aprendi que é vital saber "dar o pulo do gato" para ocupar possíveis vazios da política, dada a receptividade de dois textos meus - "especiais" para o "Viomundo", o popular "blog do Azenha", cujo editor é o jornalista Luiz Carlos Azenha - que dialogavam com um momento político misógino, por haver uma mulher libertária candidata à Presidência da República. Ali foi forte a percepção de que uma presidente com a feição política de Dilma não pode prescindir de demonstrações de apreço das mulheres em luta.
              Tia Lô, que "mandava em sua semana", dizendo que mulher que dá conta de si pode tudo, explodiu em minha memória com sua graça. Sem dúvida, ela seria uma dilmista juramentada. Assim, surgiu o "Tá Lubrinando - Escritos da chapada do Arapari", como um espaço literário de ficção, abrilhantado por dona Lô, que apareceu no episódio "Dona Lô vai a Brasília" colocando na platibanda de sua casa a faixa: "Eu sou é Lula até debaixo d'água! Viva Dilma Rousseff, a primeira presidenta do Brasil!".




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Vacas mestiças EMBRAPA-Brasil

Publicado em O TEMPO, em 26.11.2010
www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=13519

* Foto de Graça Aranha extraída de: Maranhão Notícias
http://maranhaonoticias.zip.net/
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CIDADE DE GRAÇA ARANHA

Primitivamente, seu topônimo era Centro dos Periquitos [que muitos chamavam de Centro do "Priquitos" ou Baixão dos "Priquitos"*], entretanto, com a vinda do padre Eurico Bogéia para celebrar a 1º missa, faz-se uma plebiscito para alteração do nome, cujo resultado foi favorável, procedendo-se, de imediato, a modificação para Palestina.
O cearense Francisco Alves de Oliveira ao se fixar no território, ali encontrou alguns moradores, pioneiros do povoamento que trabalhavam na lavoura, tendo os mesmos informado que localizaram vestígios da presença dos silvícolas na região, sem saberem, contudo, para onde emigraram.
A povoação cresceu bastante, passando a despertar o interesse dos políticos que começaram a pensar na sua emancipação. Tanto é que, em 1959, pela lei nº 06, de 10 de outubro, foi elevado à categoria de município, com o nome de Graça Aranha, desmembrado de São Domingos do Maranhão.


O município recebeu o topônimo de Graça Aranha, em homenagem ao grande poeta maranhense, nascido em São Luís a 20 de julho de 1868. Bacharelando-se aos 18 anos, foi romancista, dramaturgo, jornalista e diplomata e fez parte da Academia no Rio de Janeiro, a 26 de janeiro de 1931.

Formação administrativa
Elevado à categoria de município com a denominação de Graça Aranha, pela lei estadual nº 6, de 10-10-1959, desmembrado de São Domingos do Maranhão. Sede no atual distrito de Graça Aranha ex-povoado. Constituído do distrito sede. Instalado em 18-11-1962.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.
Gentílico: graçaranhense
Aniversário da Cidade: 10 de Outubro

História da cidade
Em 1944, quando ainda estava sob a jurisdição de Caxias, a atual sede do município de Graça Aranha era conhecida como Centro dos Periquitos, em razão da numerosa presença dessas aves nas matas em sua volta. Mais tarde, provavelmente incentivados pelo Padre Eurico Bogéa, seus moradores realizaram plebiscito com vistas à escolha de um novo topônimo, sendo mais sufragado o de Palestina, que lembrava a Terra Santa, enquanto o anterior podia ser interpretado com duplo sentido*. Posteriormente subordinado a Presidente Dutra e São Domingos do Maranhão, tornou-se município a 10 de outubro de 1959, pela Lei Nº 6, com o nome de Graça Aranha, sugerido pelo deputado Manoel de Oliveira Gomes.


* "Priquito" em linguagem chula no Maranhão significa vagina

Atualizado às 12:25 de 23.11.2010

13 comentários:

  1. Uma bela crônica. Parabéns

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  2. Não havia entendido a foto de Graça Aranha. Descobri que Fátima Oliveira nasceu lá e até fala muito nessa cidade em muitas crônicas

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  3. Gente, a crônica é muito bonita. A tia Lô deve ter sido mesmo uma figuraça. Quase morri de rir com a história das crianças comendo na bacia!

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  4. hehehehe... esta tia Lô era porreta hein!!! parabéns pela crônica...

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  5. Achei linda demais. Parabéns também pelo blog

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  6. Letícia Bezerra Freitas25 de novembro de 2010 às 10:42

    Fááááátima, eu conheço Graça Aranha. É uma "currutela, como dizemos aqui no Maranhão. Interessante saber que você nasceu lá. Gostei muito da crônica, da Tia Lô e da personagem que ela inspirou, a Dona Lô, que é linda e sabe o que diz.

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  7. Uma crõnica de lindas memórias. Gostei de saber a inspiraçãod e Dona Lô, mulher porreta

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  8. Fátima eu conheço Graça Aranha. Ter nascido ali já era quase uma sentença de não ir a lugar nenhum. Você venceu as barreiras geográficas para ser uma cidadã do mundo. Parabéns

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  9. Dra. Fátima, meus parabéns pela crônica, pelo blogue e por Dona Lô

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  10. Sou nascido em Graça Aranha e fiquei muito feliz de conhece ruma conterrânea tão ilustre

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  11. Fiquei emocionado. E parabéns pelo seu bonito e criativo blog

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  12. Fátima, tudo em teu blogue emociona

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  13. Que bom você ter resolvido começar o blog. Eu, maranhense desterrada no Rio, adoro ler crônicas, contos e notícias da terrinha! Parabéns!
    E um abraço

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