(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Foi com arte e manha que a negra feminista Áurea
Carolina, 32, cientista política e especialista em gênero e igualdade, em Belo
Horizonte, pelo PSOL, e o negro Domingos Dutra, 60, advogado, nascido no
Quilombo Saco das Almas (Brejo-MA), em Paço do Lumiar (MA), pelo PCdoB, foram
vitoriosos nas eleições de 2016 e entraram de cabeça erguida para a história de
suas cidades.
Ela, a vereadora mais votada da história de BH; e ele,
o primeiro prefeito de esquerda de Paço do Lumiar, na ilha de São Luís, a
quarta cidade mais antiga do Maranhão (22.5.1625) – pertenceu a São Luís e a
São José de Ribamar. Virou município em 1959. Desde 1965 era dominada por
apadrinhados do Futi (como ele chama Sarney): dois condenados por corrupção
quando prefeitos, Bia Venâncio (2012) e Gilberto Arôso (2016), um dos
adversários que Dutra derrotou!
O Tribunal de Justiça do Maranhão legalizou um
ficha-suja candidato, que levou taca, taca, taca... O jogo foi bruto. Pense num
Velho Oeste... É aqui!
São
duas vitórias brilhantemente expressivas, considerando-se o que disse Mauro
Lopes em “A Vitória dos Ricos”: “O resultado das eleições é desastroso para os
pobres... Os ricos venceram...” (Outras Palavras, 4.10.2016).
(Pierre-Auguste Renoir, O baile no moulin de la galette, 1876)
No último dia 3, cedo, em meu e-mail, a filha Débora,
de Porto Alegre: “Mãe, a minha amiga linda” e a matéria: “Pela primeira vez nahistória de Belo Horizonte, uma candidata a vereadora conquistou o apoio demais de 17 mil pessoas nas urnas”. Era uma cara conhecida, mas eu não sabia de
onde. Débora relembrou: “Ela foi lá em casa em BH quando levei Inácio bebezinho
com 4 meses. Você a conheceu. Ela ficou horas na rede com ele lá fora”.
Fucei o Google. Em seu Facebook: “Sou da selva e não
tenho nada a temer. Há um par de anos, venho amadurecendo a ideia de me
candidatar a um cargo eletivo, incentivada por companheiras com as quais
construo importantes lutas e em resposta à necessidade de que mulheres como eu
ocupem os espaços de poder”. No início de 2015, com várias pessoas, desenhou a
iniciativa que originou as Muitas pela Cidade que Queremos BH, tentando ocupar
as eleições com cidadania e ousadia, transbordar partidos e produzir ruídos nas
instituições para que BH seja mais democrática e acolhedora”. Filiou-se ao PSOL
em outubro de 2015 e estabeleceu uma plataforma colaborativa na web
(www.muitas.org).
Domingos Dutra, no PCdoB desde setembro de 2015,
petista histórico (1980-2013), presidiu o PT de São Luís e o do Maranhão,
exerceu vários mandatos de deputado estadual e federal e foi vice-prefeito de
Jackson Lago (1996).
Dutra
fez os “Diálogos por Paço” (caminho vitorioso percorrido pelo governador Flávio
Dino nos “Diálogos pelo Maranhão”) e uma campanha franciscana, de rua em rua, a
pé, de microfone em punho, sob o mote “Vamos juntos tirar Paço do Lumiar da
escuridão”, e, durante a noite, a militância que o acompanhava portava tochas
de fogo... Era difícil acompanhar aquela energia toda do Dutra.
Na primeira e única caminhada a que fui, passei dois
dias deitada, sem poder andar! Decidi fazer o que fiz para Flávio Dino e Dilma
(2014): visitar as mesmas 500 casas das imediações de onde moro e pedir o voto
em Dutra, que andou mais de 200 km a pé, de microfone em punho; e não fez site
nem perfil no Facebook, apenas um Twitter, que usou pouquíssimo!
Áurea e Dutra responderam com sucesso, à maneira de
cada um, à pergunta de um militante ao governador maranhense: “Como vamos fazer
campanha sem dinheiro?” Flávio Dino respondeu algo assim: “Ah, pois são dois
que não sabem! Vai ter de ser assim. Vamos ter de aprender e vencer!”
PUBLICADO
EM 11.10.16
FONTE:
OTEMPO
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