(DUKE)
Fátima
Oliveira
Médica
- fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Ainda bem que dom Odilo Scherer, arcebispo de São
Paulo, não foi sagrado papa! Em entrevista à BBC em 4 de fevereiro passado, ele
declarou que “os bispos ainda não se reuniram para discutir o tema”, mas que
gestantes de fetos com microcefalia “devem encará-los como uma missão”.
Dom Odilo está de conluio com o Estado brasileiro, já
que acha que as mulheres devem ser imoladas no altar da epidemia de
microcefalia para que fiquem “ad aeternum” responsáveis, sozinhas – pois um
salário mínimo mensal (Benefício de Prestação Continuada – BPC) nem abana as
necessidades de cuidados especiais de uma criança com microcefalia! Após a
instituição do BPC pelo governo federal para família de criança com
microcefalia, quase 100% dos governos estaduais lavaram as mãos.
Governador Flávio Dino na ação nacional de combate ao mosquito Aedes aegypti (13.02.2016). Foto: Divulgação/Secom
A exceção é Flávio Dino, governador do Maranhão, que,
de modo pioneiro, em novembro de 2015, criou a rede de assistência a bebês commicrocefalia, já realidade nos dois maiores hospitais estaduais: Hospital
Materno Infantil de Imperatriz e Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos, em São
Luís, com integração do Hospital Materno Infantil, Hospital da Criança Odorico
Amaral de Matos, Centro Estadual de Reabilitação do Olho d’Água e Apaes.
Há intenções e gestos alvissareiros no Maranhão! Dia
13 passado, Flávio Dino anunciou a criação de um Centro Especializado emMicrocefalia, com foco na atenção a pacientes e suas mães, sediado no Hospital
Benedito Leite, em São Luís.
Voltando
a dom Odilo, ele está de conluio mesmo, já que afirmou: “Não se pode culpar o
Estado pelo fato de haver o mosquito... O mosquito apareceu e se prolifera.
Mesmo que o governo faça talvez sua parte, o mosquito vai continuar
existindo... A culpa não pode ser atribuída ao Estado simplesmente. Muito menos
ainda isso pode ser argumento em favor de um suposto direito que está sendo
lesado”. Ninguém merece! Será que ele está atribuindo a culpa a Deus?
Dos males, o menor. O papa é Francisco, que até agora
não abriu a boca para pronunciar as palavra “zika” e “microcefalia” nem sobre o
fato inconteste de que, via de regra, desde dezembro de 2015, no Brasil, só as
mulheres pobres estão levando adiante uma gravidez com esse diagnóstico. Não
exatamente como a opção defendida por dom Odilo, inspirado nos versos do
maranhense Coelho Neto: “Ser mãe é desdobrar fibra por fibra/ o coração!/...
Ser mãe é padecer num paraíso”, mas porque não acessaram os meios de abortar
nas condições da clandestinidade.
Na epidemia de microcefalia, as mulheres nem sequer
lembram que a Igreja Católica Apostólica Romana considera o aborto um pecado!
E, para quem lembrar, podemos dizer que quem abortar na vigência do Ano Santo
da Misericórdia (8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016) está perdoada.
Quem disse? O papa Francisco! Na tradição católica, num ano santo, “se concedem
indulgências aos fiéis que cumprem certas disposições eclesiais estabelecidas
pelo Vaticano”.
(Igreja de Nossa Senhora da Consolação, Colinas-MA)
Em “Os bilhetinhos aos pés da santa que protege asmulheres”, escrevi: “Recordo que a Igreja Católica Apostólica Romana tipifica o
aborto como um pecado passível de excomunhão automática... A decisão papal
vigorará durante o Ano Santo e confere a qualquer padre o poder de perdão!
Ainda que seja fundamentalista, o padre, após uma confissão de aborto, terá de
perdoar, e não chamar a polícia! Eis a ordem papal. Não sabemos é se dá pra
confiar” (O TEMPO, 8.9.2015).
Está valendo é o que disse o papa! Agora, se dom Odilo
e os bispos brasileiros acham que podem desobedecer ao papa, é outro assunto!
PUBLICADO
EM 16.02.16
FONTE:
OTEMPO
(DUKE)
Artigos de Fátima Oliveira sobre Microcefalia
O que faremos com nossas crianças com microcefalia? (01.12.2015)
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