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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Zica, microcefalia e o aborto no Ano Santo da Misericórdia

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Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_


Ainda bem que dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, não foi sagrado papa! Em entrevista à BBC em 4 de fevereiro passado, ele declarou que “os bispos ainda não se reuniram para discutir o tema”, mas que gestantes de fetos com microcefalia “devem encará-los como uma missão”.


 Dom Odilo está de conluio com o Estado brasileiro, já que acha que as mulheres devem ser imoladas no altar da epidemia de microcefalia para que fiquem “ad aeternum” responsáveis, sozinhas – pois um salário mínimo mensal (Benefício de Prestação Continuada – BPC) nem abana as necessidades de cuidados especiais de uma criança com microcefalia! Após a instituição do BPC pelo governo federal para família de criança com microcefalia, quase 100% dos governos estaduais lavaram as mãos.


Governador Flávio Dino na ação nacional de combate ao mosquito Aedes aegypti (13.02.2016). Foto: Divulgação/Secom
  A exceção é Flávio Dino, governador do Maranhão, que, de modo pioneiro, em novembro de 2015, criou a rede de assistência a bebês commicrocefalia, já realidade nos dois maiores hospitais estaduais: Hospital Materno Infantil de Imperatriz e Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos, em São Luís, com integração do Hospital Materno Infantil, Hospital da Criança Odorico Amaral de Matos, Centro Estadual de Reabilitação do Olho d’Água e Apaes.
Há intenções e gestos alvissareiros no Maranhão! Dia 13 passado, Flávio Dino anunciou a criação de um Centro Especializado emMicrocefalia, com foco na atenção a pacientes e suas mães, sediado no Hospital Benedito Leite, em São Luís.
           Voltando a dom Odilo, ele está de conluio mesmo, já que afirmou: “Não se pode culpar o Estado pelo fato de haver o mosquito... O mosquito apareceu e se prolifera. Mesmo que o governo faça talvez sua parte, o mosquito vai continuar existindo... A culpa não pode ser atribuída ao Estado simplesmente. Muito menos ainda isso pode ser argumento em favor de um suposto direito que está sendo lesado”. Ninguém merece! Será que ele está atribuindo a culpa a Deus?


   Dos males, o menor. O papa é Francisco, que até agora não abriu a boca para pronunciar as palavra “zika” e “microcefalia” nem sobre o fato inconteste de que, via de regra, desde dezembro de 2015, no Brasil, só as mulheres pobres estão levando adiante uma gravidez com esse diagnóstico. Não exatamente como a opção defendida por dom Odilo, inspirado nos versos do maranhense Coelho Neto: “Ser mãe é desdobrar fibra por fibra/ o coração!/... Ser mãe é padecer num paraíso”, mas porque não acessaram os meios de abortar nas condições da clandestinidade.
Na epidemia de microcefalia, as mulheres nem sequer lembram que a Igreja Católica Apostólica Romana considera o aborto um pecado! E, para quem lembrar, podemos dizer que quem abortar na vigência do Ano Santo da Misericórdia (8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016) está perdoada. Quem disse? O papa Francisco! Na tradição católica, num ano santo, “se concedem indulgências aos fiéis que cumprem certas disposições eclesiais estabelecidas pelo Vaticano”.


Resultado de imagem para Igreja católica de Colinas-ma (Igreja de Nossa Senhora da Consolação, Colinas-MA)
Nossa Sra da Consolação Em “Os bilhetinhos aos pés da santa que protege asmulheres”, escrevi: “Recordo que a Igreja Católica Apostólica Romana tipifica o aborto como um pecado passível de excomunhão automática... A decisão papal vigorará durante o Ano Santo e confere a qualquer padre o poder de perdão! Ainda que seja fundamentalista, o padre, após uma confissão de aborto, terá de perdoar, e não chamar a polícia! Eis a ordem papal. Não sabemos é se dá pra confiar” (O TEMPO, 8.9.2015).
Está valendo é o que disse o papa! Agora, se dom Odilo e os bispos brasileiros acham que podem desobedecer ao papa, é outro assunto!



PUBLICADO EM 16.02.16
FONTE: OTEMPO


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