(DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
“Tu sabes,/ conheces melhor do que eu/ a velha
história./ Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ do nosso
jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem;/ pisam as
flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./Até que um dia,/ o mais frágil
deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz, e,/ conhecendo nosso
medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada (...)” (“No Caminho com Maiakóvski”, de Eduardo Alves da Costa, poeta fluminense, Niterói, 6.3.1936).
Costumo recorrer à poesia em horas difíceis, quando
quero colo, aconchego... O poeta nicaraguense Ernesto Cardenal (nascido em
20.1.1925) disse que “são os poetas que protegem o povo com a força das palavras”.
Defendo “tolerância zero” para palavras e atos que
visam interditar o direito de ir e vir. Desde a primeira vez em que o
ex-ministro Guido Mantega foi acuado em São Paulo, no Hospital Albert Einstein
(19.2.2015), fiquei zuretada por ele não ter registrado um Boletim de
Ocorrência (BO)!
E cá com meus botões matutava: “Estão esperando o que
para reagir à altura conforme os ditames da democracia? Se demorarem a tomar as
medidas cabíveis, em breve nem sequer poderão aparecer numa janela! Ser
tolerante com práticas fascistas tem resultado: mais fascismo”.
(Guido Mantega é hostilizado no restaurante Trio, em SP)
Acuaram o ex-ministro Alexandre Padilha no restaurante
Varanda Grill, no Itaim Bibi (15.5); depois, novamente Mantega no restaurante
Aguzzo, em Pinheiros (23.5); e, pela terceira vez, Mantega foi sitiado no
restaurante Trio, na Vila Olímpia (28.6)! A calçada de Jô Soares foi pichada
com ameaças de morte após ele entrevistar respeitosamente Dilma Rousseff. Tudo
em Sampa! Como há fascistas declarados na cidade de São Paulo, num é?!
Mantega caiu em si: “Não podemos permitir que se
instaure entre nós esse espírito autoritário. Atitudes como essas são
perniciosas para o convívio democrático” (“Guido Mantega: intolerâncias fascistas”, “FSP”, 5.7.2015). Comenta-se que processará o empresário que o
agrediu no Vila Trio. Espero, porque, como não dissemos nada até agora, os
fascistas do discurso passaram às bombas. É o que exibe o ataque ao Instituto
Lula em 30 de julho passado.
A presidente Dilma tuitou: “A intolerância é o caminho
mais curto para destruir a democracia”. “Jogar uma bomba caseira na sede do
Instituto Lula é uma atitude que não condiz com a cultura de tolerância e de
respeito à diversidade do povo brasileiro”. Foi pouco! A lenda viva do PT,
Lula, reverenciado no mundo inteiro, corre risco de vida por conta do ódio declasse, e o governo do PT economiza palavras?
Nós e Dilma precisamos decorar os versos de “No
Caminho com Maiakóvski” e introjetar os versos do poeta russo em “Adultos”:
“nos demais – eu sei,/ qualquer um o sabe –/ o coração tem domicílio/ no
peito./ Comigo/ a anatomia ficou louca./ Sou todo coração –/ em todas as partes
palpita.” (Vladimir Maiakóvski – 1893-1930).
(Instituto Lula)
Há recrudescimento do ideário fascista com vestes
conservadoras medievais, beatice (católica e evangélica) e dupla moral. Urge
buscar na inspiração dos poetas o poder da iniciativa de se indignar com os
fatos e a interpretação distorcida deles, que registra inegável manipulação
para minimizar o ocorrido: “Instituto Lula diz que foi alvo de ‘ataque político’” (“Estadão”, 31.7.2015).
Não é que o Instituto Lula diz! Em 2015, ocorreram
três atentados com bombas contra o PT no Estado de São Paulo! Na sede do PT em
Jundiaí (15.3) e em São Paulo (26.3); e na sede do Instituto Lula (30.7). Será
que o PT está “Esperando Godot”?
FONTE: OTEMPO
A brava gente brasileira merece a ternura de um país cuidador, Por Fátima Oliveira (O TEMPO, 26.01.2010)
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