Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Em tempo de fascismo e fundamentalismo
explícitos, em que a ressonância das ideias de gente sem repertório humanitário
encontra guarida na mídia conservadora, os versos do poeta russo Vladimir
Maiakóvski (1893-1930) são sempre um norte: “Brilhar para sempre,/ brilhar como
um farol,/ brilhar com brilho eterno./ Gente é pra brilhar/ que tudo mais vá
para o inferno./ Este é o meu slogan/ e o do sol.” (“A extraordinária aventuravivida por Vladimir Maiakóvski no verão na Datcha”).
O verso “Gente é pra brilhar” inspirou
“Gente”, de Caetano Veloso: “Gente é pra brilhar,/não pra morrer de fome”, e
ambos estão no eixo político que inspirou Lula a criar o projeto Fome Zero, em
16.10.2001, pelo Instituto da Cidadania, por ele coordenado. Quando Lula
assumiu a Presidência da República, o projeto virou o programa Fome Zero, que
em 20.10.2003 recebeu um aporte vigoroso: o Bolsa Família, com decisões
visionárias que retiraram o Brasil do Mapa da Fome da ONU em 2014.
É uma expressiva vitória popular e
democrática, como declarou à época a então ministra do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Tereza Campello: “Superar a fome era uma das principais metas
do Estado brasileiro, e isso foi possível (...) graças a um conjunto de
políticas públicas que garantiram o aumento de renda dos mais pobres e um
aumento da oferta de alimentos, que consolidaram a rede de proteção social”.
Conforme relatório da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional
de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA):
“Nos últimos 10 anos, o Brasil reduziu pela metade a parcela da população que
sofre com a fome. Com isso, alcançou um dos oito objetivos de desenvolvimento
do milênio que as Nações Unidas estabeleceram até 2015; a taxa de desnutrição
no Brasil caiu de 10,7% para menos de 5% desde 2003; e a pobreza no país foi
reduzida de 24,3% para 8,4% entre 2001 e 2012, enquanto a pobreza extrema
também caiu de 14% para 3,5%” (“Sair do Mapa de Fome da ONU é histórico, diz
governo”, revista “Exame”, 16.9.2014).
Diante da atual satanização das
conquistas democráticas do PT no poder no campo do “gente é pra brilhar”,
considerando que o Bolsa Família investe apenas 0,8% do PIB e contempla 50
milhões de brasileiros (um em cada quatro cidadãos está no Bolsa Família) e que
sem tal dinheiro mais de 25% dos brasileiros ainda estariam passando fome,
relembro, dois anos depois, que continuam atuais as reflexões que expus em “Porque o Bolsa Família desperta tanto ódio de classe?”, exatamente porque ele, o
ódio de classe, está na base das ideias que tentam expurgar da Presidência da
República quem nela está, legitimamente eleita pelo voto popular, por meio do
que Leonardo Boff tipificou como “O persistente bullying midiático sobre o PT”
(“Carta Capital”, 9.8.2015).
“Eu não tinha a dimensão do ódio de
classe contra o Bolsa Família. Supunha que era apenas uma birra de
conservadores contra o PT e quem criticava o Bolsa Família o fazia por rancor
de classe a Lula, ou algo do gênero, jamais por ser contra pobre matar a sua
fome com dinheiro público”.
Como disse a minha personagem dona Lô:
“Coisa de gente má, que nunca soube o que é comer pastel de imaginação”, e
evidencia que “há gente que não se importa e até gosta de viver num mundo em
que, como escreveu Josué de Castro, em “Geografia da Fome” (1984): ‘Metade da
humanidade não come, e a outra não dorme com medo da que não come’”. (O TEMPO,13.6.2013).
Sim, “gente é pra brilhar”!
(DUKE)
PUBLICADO EM 11.08.15
FONTE: OTEMPO
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