(DUKE)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
Decidi compartilhar trechos do artigo “EUA: as ilusões do ‘Poder Negro’”, de Keeanga-Yamahtta Taylor, especialista em estudos afro-americanos, da Princeton University (Nova Jersey, EUA), que li no blog Outras Palavras (7.5.2015).
É uma reflexão que encerra muitas lições para a peleja contra o racismo aqui. Está certo Luan Nascimento: “Baltimore é também sua quebrada” (Geledés, 7.5.2015).
Eis o eixo do escrito de Keeanga-Yamahtta Taylor: “O que torna o levante de Baltimore diferente daqueles de uma era anterior é que os ataques perversos aos afro-americanos ocorreram num momento de poder político negro sem precedentes... Nunca houve tantos afro-americanos em postos de governo. Mas a revolta de Baltimore revela que, apesar disso, desigualdade, preconceito e discriminação persistem” e que “os acontecimentos de Baltimore, em Maryland, são dessemelhantes dos ocorridos em Ferguson, no Missouri, no último verão”.
E exibe a ferida que sangra: “Hoje, temos mais governantes negros eleitos nos EUA do que em qualquer outro momento da história. Ainda assim, para a ampla maioria da população negra, a vida mudou muito pouco... E governantes negros eleitos tanto criam quanto ampliam o espaço para brancos questionarem os hábitos morais dos negros comuns. Quando o presidente Obama, a prefeita Rawlings-Blake e o procurador geral Lynch se referem aos manifestantes negros como ‘arruaceiros’ e ‘criminosos’, os republicanos brancos não precisam dizer nada”.
E complementa: “A menos de 60 quilômetros de Baltimore, na capital da nação, reside o primeiro presidente afro-americano do país. Há 43 membros do Congresso e dois senadores negros – o mais alto número de parlamentares negros da história norte-americana. E exatamente quando a parte oeste de Baltimore explodia contra o assassinato de Freddie Gray pela polícia, Loretta Lynch tornava-se a primeira mulher negra indicada como procuradora geral”.
Taylor escreveu mais: “Este não é apenas um fenômeno nacional; ele se reflete também na política local. Em Baltimore, os afro-americanos controlam virtualmente todo o aparato político”. São negros a prefeita Stephanie Rawlings-Blake; o comissário de polícia; oito dos 15 vereadores; o superintendente da rede pública de educação e todos os conselheiros do serviço habitacional do município. “Por todos os EUA, milhares de funcionários negros eleitos estão governando muitas das cidades e subúrbios do país”.
Já Ferguson, o subúrbio ao norte de Saint Louis, é majoritariamente negro, governado por brancos, logo, a “representação política dos negros tornou-se o fio narrativo das explicações populares para o que deu errado”. A gritante dessemelhança entre Baltimore e Ferguson está na representação política. Na primeira, os negros são os donos do poder; na segunda, desempoderados.
Diante do que Taylor sintetiza: “O assassinato de Freddie Gray e o levante de Baltimore são simbólicos do novo poder negro... O levante de Baltimore cristalizou o aprofundamento da divisão política e de classe na América negra... Operadores políticos negros não oferecem aos afro-americanos comuns soluções melhores que qualquer outro governante eleito”.
É tempo de enxergar que, se não soubermos nos mobilizar coerentemente nos entrecruzamentos da velha luta de classes com a opressão racial/étnica e a opressão de gênero, estaremos alimentando as dinâmicas peculiares de todas as opressões.
PUBLICADO EM 12.05.2015
FONTE: OTEMPO
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