"Colo de mãe, agasalho de Amor" (Djalma Britto e sua mãe Zuzu Britto)
Fátima Oliveira
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br @oliveirafatima_
No
dia 10 de maio enterrei meu irmão de alma e compadre Djalma Tenório Britto
Filho, um procurador/artista de muitos dons – o seu Di, Didico, tio Didi e o
vovô “Fidalma”, com quem minha neta Clarinha teve o privilégio de conviver.
É
significativo que faleceu quase no dia da Abolição da Escravatura (13 de maio),
fixação dele quando líamos em “A Pacotilha” os anúncios de fugas de escravos e
ofertas de serviços de escravas (cozinheiras, banqueteiras, lavadeiras,
costureiras, amas de leite...). Nós dois lemos a coleção completa de “A
Pacotilha”!
Seu
Di sabia muito sobre a escravidão e admirava “negros fujões”. Dizia
estarrecido: “Vieram nos navios negreiros, do século XVI ao XIX, cerca de 5
milhões de escravos, e uns 300 mil morreram na travessia”.
Criou
um mantra de duplo sentido: eu estudava medicina, e os negros ficaram ao léu,
tudo por “culpa da princesa” (Isabel)! “Eita, comadre de sorte! Se tivesse
nascido nesse tempo, estava aqui, em ‘A Pacotilha’, nos anúncios de negras
fugidas; danada como és, teria sido uma negra fujona. Agora, está aí toda
‘porloche’ estudando medicina, minha rosa”.
Foi
de beleza única que o cortejo do seu enterro tenha passado onde ele escreveu
que tinha a alma acorrentada: a mansão Serra Negra. Chorei. Ele foi por ali
para desacorrentar a sua alma!
Eis o seu “Canto à Mansão Serra Negra”:
“Daqui, de longe, te vislumbro./ Alquebrado pelo tempo, mas ainda tão imponente
e forte./ A emoção flui, incessantemente, por imaginar que terei que te
abandonar, a contragosto. Daqui, de longe, recordo./ Foste, sempre, o abrigo
seguro de todas as boas e não tão boas, assim, recordações de minha vida./ A
infância magnífica, a adolescência mansa e a fase adulta vitoriosa foram,
contigo, partilhadas./ As brincadeiras, os encontros com amigos, a fase namoradeira,
a chegada do primeiro filho, as festas,/ os bate-papos animados sob a luz da
lua no jardim, sempre por ti acatados, sem reclamações./ Porto seguro quando
batiam as angústias da vida e as vitórias das batalhas diárias. Anos e anos, a
fio, e tu, lá./ Daqui, de longe, te vendo, o silêncio é a melhor frase. A
tristeza em deixar-te./ Fecho o imenso portão de ferro batido. Ao trancar o
cadeado, despeço-me de ti, velho casarão da minha vida”.
Ele
esclareceu: “A mansão Serra Negra foi a morada do meu avô Gonçalo Moreira Lima
e da minha avó Rosila (Lili) Coelho Moreira Lima, em São Luís, que a compraram
do ex-governador Saturnino Belo, nos anos 50. Fica no antigo Campo de Ourique,
hoje Parque Urbano Santos, 541. Posso dizer que fui criado lá, pois lá vivi parte
de minha infância, toda a adolescência e juventude e parte da idade adulta. De
lá só saí para a minha própria casa. Lá foi criado o meu filho Ricardo, desde
que nasceu. Irremediavelmente, tenho a minha alma acorrentada lá, pois eu amo
aquele lugar, a casa, o quintal com suas fruteiras, o jardim... Em cada lugar
há um pedaço do meu coração... (Djalma Britto, São Luís, 27.2.2008)”.
Escrevi
num e-mail: “Seu Di muito amado, a mansão Serra Negra ficará para sempre em
nossos corações... Impossível ter morado ali, como eu, por muitos anos e não
sentir um calafrio no corpo quando se passa pela porta... Fico com um nó na
garganta... Aquela casa também é sagrada para mim...
“Muitas
ambientações em ‘A Hora do Angelus’ foram inspiradas na mansão Serra Negra. É
óbvio, quando a gente escreve ficção, o conhecido e amado sempre está presente,
pois é fonte de inspiração. Meu querido irmão, eu te amo! Beijos, Fátima”.
(DUKE)
FONTE: OTEMPO
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