(DUKE)
Em 1999, no governo de Tony Blair, o caso foi parar na Justiça
A palavra “Summerhill” significa outeiro de verão e era o nome da casa onde Neill instalara definitivamente a sua “República de crianças”. O método montessoriano e o libertário de Summerhill foram criados para crianças que as escolas tradicionais não queriam e rotulavam de “sem jeito”, as “pestinhas”, os “pra nada”.
Neill bebeu muito na fonte montessoriana. Summerhill se inspira numa abordagem psicanalista. Para Taís Oliveira de Amorim da Silva, “uma explicação possível para tal enfoque é o fato de Neill ter sido também um grande leitor da obra de Melanie Klein e ter tido contato direto com dois psicanalistas não tradicionais, Homer Lane e Wilhelm Reich”.
(Melanie Klein)
Recebi e-mails indagando o que é uma escola democrática, da qual Summerhill é modelo. E fiquei a matutar sobre a peregrinação árdua de escolher escolas, quando possível, pois nem todas as pessoas têm assegurado o direito de escolher escola para sua prole, que em geral estuda onde der, na biboca que tiver vaga.
E rememorei minha vida. Da “Carta de ABC” da escolinha do “professor Izídio” à Escola Rural Humberto de Campos, em Graça Aranha (MA); do Grupo Escolar João Pessoa, em Colinas (MA), com a imponência de sua elegante diretora Maria Brandão, até o Colégio Colinense e a sombra de suas algarobeiras, que, para uma menina da roça, era um sonho com sala de línguas, sala de geografia e sala de ciências, onde havia até um microscópio que eu manuseava como se fosse um Deus. Foi um privilégio que fez de mim o que sou, com um pedacinho de cada lugar por onde passei!
(Grupo Escolar João Pessoa, Colinas-MA)
(Colégio Colinense)
(Reportagem da revista Veja, No. 3, 25 de setembro de 1968 sobre o Colégio Colinense)
Para Neill, “sucesso é ter a habilidade de trabalhar com prazer e viver a vida de uma maneira feliz”. Não é simples, nem fácil. Exige equilíbrio emocional, que muita gente chama de inteligência emocional e que, segundo Richard D. Roberts e Elizabeth do Nascimento, no artigo “Inteligência emocional, um constructo científico?”, “talvez seja o conceito mais popular do final do século XX”, todavia, difícil de descrever e de ser conceituado; apenas sabemos que não é inata, precisa ser estimulada e burilada. Eis a tarefa primordial de Summerhill e o desafio das escolas democráticas que se espelham nela.
Nas democráticas, os
alunos decidem o que
fazer com o seu tempo,
pois nem em todas
há liberdade total de
não assistir às aulas,
como em Summerhill
No mundo, há cerca de 500 escolas que se intitulam democráticas, sendo sete no Brasil, todas no Estado de São Paulo. Summerhill começou exclusivamente como internato. Atualmente, há alunos em tempo integral que, à noite, vão para suas casas. Nas escolas democráticas, os alunos decidem o que fazer com o seu tempo em algum grau, pois nem em todas há liberdade total de não assistir às aulas, como em Summerhill – que continua sendo a mais radical e sempre foi muito perseguida pelas autoridades inglesas. Dizem que o ensino inglês tem a grade curricular mais inflexível do mundo, daí o governo viver às turras com Summerhill.
(Zoë Neill Redhead)
Em 1999, no governo de Tony Blair, a ofensiva foi brutal. Os inspetores escolares concluíram que a liberdade fora substituída pela ociosidade e indicaram aulas obrigatórias ou o fechamento da escola! A questão foi parar na Justiça. Sobre o caso, Zoë Neill Redhead, filha de Neill e atual diretora, em entrevista a Simone Kosog, nos 90 anos de Summerhill, disse: “Aquela época foi terrível! Não sabíamos se iríamos sobreviver àquilo. Recebemos doações do mundo inteiro para que pudéssemos pagar um bom advogado. No fim, os jurados decidiram a nosso favor. Fizemos uma assembleia no salão do fórum, e decidimos aceitar o julgamento. Nunca tínhamos passado por uma situação dessas!”.
Por que perseguem a liberdade?
PUBLICADO EM 03/12/13
FONTE: OTEMPO
feliz fiquei em ver as fotos das escolas das quais eu tbm fui aluna!!!!! Escola João Pessoa e o Colégio Colinense hj CINEC...
ResponderExcluir