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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A beleza da chuva perdeu a poesia e virou infelicidade

12 (DUKE)

A cada ano ficamos mais reféns delas, em toda parte do Brasil
Fátima Oliveira
Médica -
fatimaoliveira@ig.com @oliveirafatima_

 
Cismando sobre o ano que finda e o que entra, descobri que eu, que sempre achei a chuva um dos mais belos fenômenos da natureza e não dispensava um banho de chuva até há bem pouco tempo, passei a ter medo dela! Não sem razão.
Estou impressionada como a cada ano ficamos mais reféns das chuvas, em diferentes partes do Brasil – problema que não é de hoje, mas foi tão olvidado que chuva virou infelicidade anunciada. Há responsáveis por tal estado de coisas e não atendem pelo nome de natureza, mas de governos, estaduais e/ou municipais. Até a última segunda-feira, Minas tinha 59 cidades em emergência e uma em estado de calamidade. Eram 9.205 desalojados, 3.015 desabrigados, 150 feridos e 22 mortes confirmadas oficialmente, segundo dados da Defesa Civil.
 Pense morar em uma cidade em que basta o tempo nublar para a gente ter medo de sair de casa! Está sendo assim nos quatro cantos de Belo Horizonte. É um desmazelo das autoridades municipais, que deixaram a coisa chegar a tal estado de risco!


Chuva causou transtornos para motoristas que enfrentaram alagamentos na capital  (Belo Horizonte, janeiro de 2013)

 
 No último dia 23, Hélio Eustáquio da Silva, 53 anos, morreu afogado em seu carro, num alagamento na avenida Cristiano Machado, na altura do bairro Dona Clara (O TEMPO, 26.12.2013). Ano passado, se não estou enganada, um carro foi tragado pelas águas na avenida Prudente de Moraes, paralela à rua onde moro, e um senhor morreu. Desde então, nublou, que dirá pingou, evito a dita avenida, que até há uns seis anos não era perigosa a ponto de matar. O que aconteceu que ela ficou tão assassina assim?
BH, no período chuvoso, é matadeira, devido aos 80 pontos de alagamentos que, na opinião do prefeito Marcio Lacerda, exigem R$ 4 bilhões em obras para deixar a população segura. E o prefeito acrescentou: “É um investimento muito alto, e a prefeitura não tem recursos. Para ter risco mínimo de inundação na capital e concluir todas essas obras, precisaríamos de cinco a dez anos”. Precisa dizer mais crueldades?

Para ter risco
mínimo de inundação e
concluir todas as obras,
precisaríamos de cinco
a dez anos”. Quer dizer
que, na próxima década,
cabe ao povo se virar!


 
Frederico Haikai/Hoje em Dia/Folhapress  (O Anel Rodoviário, na altura do bairro Universitário, na última segunda (7.12.2013): motoristas presos em meio ao temporal)


Quer dizer que, na próxima década, cabe ao povo se virar! “Para isso, a reportagem de O TEMPO fez um levantamento dos principais pontos de alagamentos em Belo Horizonte, que devem ser evitados em dias de temporal”. São eles: avenidas Heráclito Mourão de Miranda e Prof. Clóvis Salgado; cruzamento da avenida Cristiano Machado com Sebastião de Brito; avenida Bernardo Vasconcelos; avenida Tereza Cristina com Presidente Castelo Branco; avenida Silva Lobo próximo à Barão Homem de Melo; avenida Francisco Sá com rua Erê; cruzamento da avenida Prudente de Morais com rua Joaquim Murtinho; avenida Silviano Brandão com a rua Pitangui e perto do pontilhão do metrô; rua Padre Pedro Pinto, entre o shopping popular O Ponto e a estação do BHBus, no bairro Candelária; avenida Augusto dos Anjos, no bairro Santa Mônica; avenida Tereza Cristina (no Barreiro e na região Oeste); avenida Vilarinho (Venda Nova); avenida Francisco Sá e rua Ituiutaba, no bairro Prado; rua Jaceguai, na região Oeste; Anel Rodoviário, no bairro Betânia; e Via Expressa, próximo ao bairro Vila Oeste. Republico porque acredito ser um presente para quem vive em BH.
 
 Desejo que tenhamos o direito de não morrer tragados pelas águas em 2014 e, como a poeta Cecília Meireles, possamos voltar a sentir que “A chuva é a música de um poema de Verlaine...” (“A Chuva Chove”); e que, diante da chuva, um dia, quem sabe, voltemos a nos alegrar como Guimarães Rosa: “Vai chover chuva de vento./ Já estou sentindo um cheiro d'água,/ que vem do céu cinzento (...) Vai invernar.../ Eu hoje amanheci alegre,/ querendo cantar...” (“Chuva”).
 
PUBLICADO EM 31.12.13
FONTE:
OTEMPO

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